segunda-feira, novembro 24, 2008

Buscando a paz no lugar errado

Deu na Veja desta semana: “A ioga, prática indiana associada à busca da tranqüilidade por meio de exercícios físicos e respiratórios, tornou-se o pano de fundo de um patético incidente policial. Num episódio ocorrido no início do mês e que só veio à tona na semana passada, dezoito jovens foram parar no Hospital e Maternidade Emed, em Caieiras, na Grande São Paulo, com sintomas de desidratação profunda, confusão mental e diarréia. Dois deles entraram em coma pouco depois de chegar ao hospital e um permaneceu por três dias na UTI. Os jovens foram vítimas de intoxicação hídrica causada por uma limpeza intestinal ministrada pelo professor de ioga Cristóvão de Oliveira, de 43 anos, dono do centro Vydia. Eles estavam hospedados no ashram – espécie de estúdio com quartos – mantido por Oliveira na Serra da Cantareira, iniciando um período de trinta dias de retiro espiritual para meditação e desintoxicação. Cada um deles desembolsou 3. 000 reais pela temporada. O professor sugeriu aos alunos uma técnica ‘avançada’ de limpeza corporal, que serviria para tornar os exercícios mais eficientes. Cada um deles tinha de ingerir entre 40 e 60 litros de água com laxante. Além de esdrúxula, a técnica inventada por Oliveira é perigosa. O rim humano tem capacidade para filtrar, no máximo, cerca de 8 litros de água por dia. Na quantidade administrada pelo guru da Cantareira, a água pode causar danos irreversíveis ao rim, lesões cerebrais, e levar à morte.

“Cristóvão de Oliveira, um dos professores de ioga mais badalados do Brasil, que tem entre seus 200 alunos várias celebridades, como Luciana Gimenez e Fernanda Lima, foi indiciado por tráfico de drogas. No dia em que ocorreu a intoxicação, a polícia apreendeu dois frascos no estúdio. Um deles continha chá de sene, laxante encontrado em lojas de produtos naturais. O outro, um chá escuro não identificado. Ambos foram encaminhados para análise no Instituto Adolfo Lutz. A situação de Oliveira pode se complicar ainda mais nesta semana. Oito mulheres que estavam entre as vítimas da intoxicação dizem ter sido vítimas de abuso sexual pelo professor nos últimos dois anos. O advogado delas, Ismar Marcílio de Freitas Júnior, informa que pedirá a abertura de um inquérito policial por abuso sexual e prática ilegal da medicina o mais rápido possível. ‘Estamos colhendo informações para dar início ao processo, inclusive ouvindo os pais das vítimas’, diz o advogado. (...)

“Existem vários tipos de ioga. Oliveira afirma praticar a variedade ashtanga vinyasa, a que tem exercícios mais vigorosos e pesados, popularizada por artistas como Madonna e Sting. A ashtanga do guru da Cantareira, porém, é conhecida nos meios da ioga por ser excessivamente intensa, quase um treinamento militar. Na prática, Oliveira criou uma variedade particular de ioga – que, como agora parece ter sido comprovado, pode ter resultados desastrosos.”

Nota: Essa reportagem mostra como as pessoas estão desesperadas em busca de paz e equilíbrio num mundo complicado (chegam a pagar 3 mil reais por isso). Como atividade física e de relaxamento, não tenho dúvidas de que a ioga tenha lá seus benefícios, mas quando essa e outras práticas se propõem a oferecer respostas para dilemas espirituais, aí começa o problema. Não é se esvaziando ou buscando a si mesmo em seu íntimo que o ser humano vai se encontrar ou se sentir realizado.

Note o que escreveu Chesterton em Ortodoxia, p. 49: "O budismo é centrípeto, mas o cristianismo é centrífugo: ele se propaga. Pois o círculo é perfeito e infinito em sua natureza; mas é fixo para sempre em seu tamanho; ele nunca pode ser maior ou menor. Mas a cruz, embora tendo no seu centro uma colisão e contradição, pode estender seus quatro braços eternamente sem alterar sua forma. Por ter um paradoxo no seu centro ela pode crescer sem mudar. O círculo retorna sobre si mesmo e está encarcerado. A cruz abre seus braços aos quatro ventos; é o poste de sinalização dos viajantes livres."

É na contradição/loucura da cruz que as pessoas encontram a verdadeira paz.