sexta-feira, novembro 21, 2008

Diga-me o que você assiste e direi quem você é

Um estudo em grande escala mostrou vínculos claros entre violência na mídia e violência real entre adolescentes. O trabalho, de pesquisadores da Rutgers University, em Newark, nos Estados Unidos, concluiu que "você é o que você assiste", pelo menos quando se trata da população jovem. A pesquisa, que será publicada na edição de fevereiro de 2009 da revista científica Journal of Youth and Adolescence, mostra que mesmo levando-se outros fatores em consideração - como talento acadêmico, exposição à violência na comunidade ou problemas emocionais - a "preferência por mídia violenta na infância e adolescência contribuiu significativamente para a previsão de violência e agressão em geral" nos participantes do estudo.

A relação entre violência na mídia e comportamento violento tem sido reconhecida por especialistas nos últimos 40 anos. Entretanto, grande parte das pesquisas sobre o assunto foi feita em laboratório, com pouca ênfase na documentação de vínculos entre a violência na mídia e a prática de atos sérios de violência ou de comportamento anti-social na vida real, diz o pesquisador Paul Boxer, responsável pelo estudo.

Outro problema dos estudos anteriores, segundo Boxer, é que eles não levaram em conta outros fatores que influenciam o comportamento das crianças, como a exposição a comportamento violento ou agressivo na escola, tendências psicopatas ou outros problemas emocionais.

"Mesmo em conjunção com outros fatores, nossa pesquisa mostra que violência na mídia reforça o comportamento violento", disse. "Na média, adolescentes que não foram expostos à violência na mídia não são tão inclinados ao comportamento violento."

Como parte do estudo, Boxer e sua equipe entrevistaram detalhadamente 820 adolescentes do Estado americano de Michigan. Destes, 430 eram alunos do ensino médio de comunidades rurais, suburbanas e urbanas. Outros 390 eram delinqüentes juvenis detidos em instituições municipais e estaduais. Os adolescentes estavam distribuídos de forma equilibrada entre os sexos masculino e feminino.

Pais ou guardiões de 720 deles também foram entrevistados, assim como os professores ou funcionários que lidavam com 717 dos jovens.

Cada participante disse quais eram seus programas favoritos de TV, filmes e jogos de vídeo ou computador durante a infância e a adolescência.

Eles também foram indagados se haviam se comportado de forma anti-social, por exemplo, jogando pedras ou usando armas.

Os pesquisadores investigaram ainda a exposição dos jovens a agressão ou violência, assim como problemas emocionais. Pais, guardiões e professores também foram entrevistados sobre o comportamento que haviam observado nos jovens.

Depois de coletar e analisar os dados, os pesquisadores concluíram que índices altos de exposição a programas violentos "aumentava significativamente a possibilidade de prever tanto violência como agressão em geral".

Além disso, "mesmo aqueles que tinham baixos índices em outros fatores de risco, a preferência pela mídia violenta era uma indicação de comportamento violento e agressão em geral".

Boxer acredita que os resultados do estudo podem ser usados para avaliar, intervir e tratar jovens que demonstram comportamento agressivo. E diz que mais pesquisa é necessária, como analisar o impacto no comportamento quando videogames interativos violentos são banidos.

(BBC Brasil)

Nota: "Não porei coisa má diante dos meus olhos" (Salmo 101:3).