quinta-feira, julho 08, 2010

Homem das cavernas: história mal contada

Em sua obra clássica O Homem Eterno, Gilbert K. Chesterton, com seu estilo humorado, mostra que a história do homem das cavernas é muito mal contada: “Sempre nos dizem, sem explicações ou argumentos e autoridade, que o homem primitivo brandia um porrete e derrubava a mulher antes de levá-la embora. Mas, com base na analogia com todos os animais, pareceria um recato e relutância quase mórbidos, por parte da madame, sempre insistir em ser derrubada antes de consentir em ser levada embora. E repito que nunca consegui compreender por que, quando o macho era tão rude, a fêmea deveria ser assim tão refinada. O homem das cavernas talvez tenha sido um bruto, mas não há motivo para ele ter sido mais bruto que os brutos. E os amores das girafas e os romances fluviais dos hipopótamos ocorrem sem nada desse estardalhaço ou tumulto preliminares. O homem das cavernas talvez não tenha sido melhor que o urso das cavernas; mas a filhotinha do urso, tão celebrada na hinologia, não é treinada com nenhuma dessas tendências para a condição de solteirona. Em resumo, esses detalhes da vida doméstica das cavernas me intrigam tanto com base na hipótese revolucionária quanto com base na hipótese estática; seja como for, gostaria de analisar suas provas, mas infelizmente nunca consegui descobri-las. [...] O que se descobriu na caverna não foi um porrete, o horrível porrete com manchas de sangue e marcas entalhadas indicando o número de mulheres golpeadas por ele na cabeça. A caverna não era um aposento de Barba-azul repleto de esqueletos de mulheres abatidas; não estava repleta de crânios femininos enfileirados e todos rachados como ovos. [...] Os antigos poetas épicos pelo menos sabiam contar uma história, talvez uma história inacreditável, mas nunca uma história distorcida, nunca uma história torturada e deformada para adaptar-se a teorias e filosofias inventadas séculos mais tarde. Seria bom que os investigadores modernos descrevessem suas teorias no despojado estilo narrativo dos primeiros viajantes, sem nenhuma dessas longas palavras alusivas repletas de implicações e sugestões irrelevantes. Então talvez conseguíssemos descobrir o que de fato sabemos sobre o homem das cavernas ou, de qualquer modo, sobre a caverna” (p. 28, 29).