Dizem que a Europa é o “berço da civilização ocidental”. Se de lá veio o que de melhor podemos produzir em termos de humanidade, duas notícias me fazem questionar seriamente a capacidade humana de fazer por si mesma o que é bom (não vou nem considerar as terríveis guerras e horrendos regimes políticos que assolaram aquele continente). Segundo o site Controvérsia, a Europa Ocidental tem 140 mil mulheres escravizadas para prostituição, vítimas do tráfico de pessoas com fins de exploração sexual. São na maioria mulheres e garotas que foram enganadas, ou mesmo vendidas, por parentes ou amigos em seus países de origem, para ser prostituídas sob coação na Alemanha, Holanda ou Espanha.
O primeiro relatório da ONU que traça a radiografia desse negócio clandestino na Europa revela que esse mercado - que movimenta pelo menos 2,5 bilhões de euros por ano - em constante mobilidade integra a cada ano 70 mil novas vítimas. Pessoas que passam a substituir aquelas que saldam suas dívidas, saem do negócio ou se transformam elas mesmas em traficantes de pessoas como única alternativa a ser exploradas.
O negócio do sexo é florescente e invariável. Foi o que as organizações criminosas também detectaram. O tráfico de pessoas é o terceiro negócio do crime organizado, e em alguns países se transformou no primeiro. [...] Uma em cada sete prostitutas é vítima do tráfico na Europa, salienta o informe, elaborado pelos relatores da ONU com seus dados e outros recolhidos pelos países, as promotorias, a polícia e as ONGs. Um número muito inferior aos 90% que calcula o Ministério da Igualdade, que inclui mulheres vítimas de exploração e não só de tráfico.
As pessoas obrigadas a exercer a prostituição vêm fundamentalmente dos Bálcãs (32%), sobretudo de países como Romênia e Bulgária. Também da antiga União Soviética (19%) - fundamentalmente da Ucrânia -, da América do Sul (13%), Europa Central (7%), África (5%) e Ásia Oriental (3%). “Foram detectadas vítimas em toda a Europa. O problema é comum a todos os países”, explica Costa, que na terça-feira, junto com as atrizes Mira Sorvino e Belén Rueda e a jornalista mexicana Lydia Cacho apresentou a campanha Coração Azul para sensibilizar contra o tráfico. [...]
As mulheres chegam ao país de destino enganadas e às vezes coagidas, explica a ONU. Quando vêm dos Bálcãs, analisa a instituição, o mais provável é que tenham sido recrutadas com promessas de emprego, de participar de algum concurso de beleza, de um programa de estudos ou por serviços matrimoniais. [...] Muitas delas sofrem violência antes e depois de chegar ao destino. Os mais duros são, segundo a ONU, os traficantes dos Bálcãs ou da antiga União Soviética. Organizações muitas vezes pequenas - de duas ou três pessoas - que antes de oferecer as mulheres a seus clientes as violentam para iniciar os maus-tratos. Algumas são drogadas para que não fujam. [...]
O informe da ONU também fala dos consumidores de serviços sexuais. Entre eles destaca a Espanha. Neste país, 39% dos homens admitem ter pagado por sexo alguma vez na vida, um número “atípico na Europa”, segundo a ONU. Na Suíça são 19% dos homens que afirmam ter feito isso, na Holanda 14% e na Suécia 13%.
A outra notícia dá conta de que o sistema de saúde público da Grã-Bretanha já financiou 116 cirurgias de reconstrução de hímen, a chamada himenoplastia, em quatro anos. A operação, que torna as mulheres “virgens” novamente, se tornou popular entre as imigrantes muçulmanas pela Europa, como forma de garantir a “mancha de sangue” no lençol, no dia seguinte ao casamento – que costuma ser mostrada à comunidade, como sinal de pureza da noiva. [...]
Como se pode ver, há muita podridão por baixo dos lençóis do “berço da civilização ocidental”. Mulheres são traficadas como objetos de prazer de homens inescrupulosos que as alugam para satisfazer seus instintos degradados. Outras mulheres procuram restabelecer a “honra” por meio de cirurgias que recuperam um pedaço de pele, mas que são incapazes de devolver a pureza interior que tem mais importância do que uma mancha de sangue no lençol. Atitude típica de uma sociedade que acha que pode comprar de tudo - inclusive prazer, amor e honra.
No que estamos nos tornando? E ainda falam em evolução...[MB]