domingo, abril 27, 2014

A ciência responde: a arca de Noé poderia flutuar?

A arca do filme de Aronosfsk
Na história bíblica de Noé, recém-adaptada para o cinema, uma arca gigantesca é construída para abrigar dois animais de cada uma das espécies existentes no planeta e salvá-los de um dilúvio [na verdade, dois pares de animais “impuros” e sete de animais “puros”]. Do ponto de vista científico, essa proeza seria possível? A resposta é sim – mas com ressalvas. As especificações bíblicas para o tamanho da arca – respeitadas no filme Noé – são precisas: 300 côvados de comprimento, 50 de largura e 30 de altura. O côvado é uma unidade de medida arcaica que se baseia no comprimento do antebraço, da ponta do dedo médio até o cotovelo, e cada uma das civilizações antigas adotava uma medida diferente para representá-la. Um grupo de estudantes da Universidade de Leicester, na Inglaterra, que realizou um estudo sobre a arca de Noé, estabeleceu um padrão ao fazer uma média entre o menor valor (44,5 centímetros, adotado pelos hebreus) e o maior (52,3 centímetros, dos egípcios), chegando a 48,2 centímetros. Com base nessa medida, a arca teria 144,6 metros de comprimento (o equivalente a cerca de um quarteirão e meio), 24,1 metros de largura (aproximadamente dez carros, lado a lado) e 14,4 metros de altura (um prédio de quase cinco andares). Curiosamente, as medidas são parecidas com as de um navio de carga atual, e as dimensões ainda correspondem à proporção adotada no presente. “O fato de a arca ter essas dimensões é surpreendente, porque são os parâmetros de um navio da atualidade”, afirma Ricardo Pinto, professor de engenharia naval da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Para saber se a arca flutuaria, é preciso analisar também o material usado na sua fabricação. O texto bíblico menciona a “madeira de gofer”, que, hoje, seria semelhante ao pinheiro ou ao cipreste. Como a densidade dos dois materiais é parecida, os estudiosos ingleses escolheram o cipreste como exemplo. Com essas informações, e assumindo que Noé teria seguido as instruções o mais literalmente possível, construindo uma embarcação retangular, em forma de caixa, é possível concluir que a arca não afundaria na água. “Qualquer objeto, ao ser colocado na água, provoca o deslocamento de certo volume. Para flutuar, o peso do volume da água deslocada pelo corpo deve ser igual ao peso do próprio corpo”, explica Pinto. “Esse tipo de madeira leve faria com que a embarcação flutuasse facilmente.”

Essas estimativas referem-se à arca vazia. Para descobrir o peso que a embarcação teria de suportar, é preciso saber quantos animais seriam colocados dentro. Pesquisadores que estudaram a história de Noé, como John C. Whitcomb e Henry M. Morris, autores do livro The Genesis Flood (O dilúvio de gêneses, em tradução livre), chegaram à conclusão de que cerca de 35 mil animais precisariam entrar na arca para que o Reino Animal fosse salvo. Existe uma discussão sobre o fato de que a expressão “dois animais de cada tipo”, contida na Bíblia, pode não significar exatamente cada espécie, o que reduziria ainda mais o número de eleitos. Whitcomb e Morris estimaram, também, que a ovelha representaria a média de tamanho dos animais. 

A partir desses números, os cientistas da Universidade de Leicester calcularam que a arca suportaria o peso correspondente a 2,15 milhões de ovelhas. “Nós observamos que a arca aguentaria o peso, não como os animais caberiam dentro dela, ou como seriam armazenados alimentos e água fresca”, diz o estudante de física Oliver Youle, principal autor do estudo, publicado em 2013 no periódico Journal of Physics Special Topics, da Universidade de Leicester.

Além da capacidade do barco de suportar o peso, mais fatores precisam ser levados em consideração. “Podemos até assumir que a arca teria flutuabilidade, mas não sabemos sobre sua estabilidade”, afirma Pinto. A estabilidade depende da geometria, ou seja, do formato da embarcação, e da condição em que a carga foi dividida nela. “Se todos os animais pesados, como elefantes e leões, fossem colocados de um lado só, ela provavelmente ficaria desequilibrada.”

Seria necessária uma distribuição de peso cuidadosa para manter a embarcação estável, principalmente devido a seu tamanho. “Quanto mais comprida uma viga, mais fraca ela é. Um navio funciona como uma viga em termos técnicos, então quanto mais comprido, mais bem estruturado precisa ser”, explica o professor. Para ele, a arca seria um navio “muito arrojado” para os padrões da época – uma construção tão surpreendente quanto as pirâmides do Egito.

(Veja)

Nota: Confesso que fiquei surpreso com uma matéria dessa natureza publicada no site de uma revista secular como a Veja. Obviamente, o evento todo do dilúvio teve causas e desdobramentos sobrenaturais (podemos até supor que anjos poderosos ajudaram a preservar a grande embarcação das ondas violentas do dilúvio), mas é surpreendente ver como são tão próximas as medidas da arca em comparação com as de navios cargueiros modernos. É bom lembrar que nem Noé nem qualquer um de seus contemporâneos tinha experiência com navegações no mundo antediluviano. Portanto, essas proporções perfeitas devem mesmo ter sido dadas pelo Criador e ter sido seguidas à risca por Noé. Em meu livro A História da Vida, dedico um capítulo a esse assunto intrigante. [MB]