A arca do filme de Aronosfsk |
Na
história bíblica de Noé, recém-adaptada para o cinema, uma arca gigantesca é
construída para abrigar dois animais de cada uma das espécies
existentes no planeta e salvá-los de um dilúvio [na verdade, dois pares de
animais “impuros” e sete de animais “puros”]. Do ponto de vista científico,
essa proeza seria possível? A resposta é sim – mas com ressalvas. As
especificações bíblicas para o tamanho da arca – respeitadas no filme Noé – são
precisas: 300 côvados de comprimento, 50 de largura e 30 de altura. O côvado é
uma unidade de medida arcaica que se baseia no comprimento do antebraço,
da ponta do dedo médio até o cotovelo, e cada uma das civilizações antigas
adotava uma medida diferente para representá-la. Um grupo de estudantes da
Universidade de Leicester, na Inglaterra, que realizou um estudo sobre a arca
de Noé, estabeleceu um padrão ao fazer uma média entre o menor valor (44,5
centímetros, adotado pelos hebreus) e o maior (52,3 centímetros, dos egípcios),
chegando a 48,2 centímetros. Com base nessa medida, a arca teria 144,6 metros
de comprimento (o equivalente a cerca de um quarteirão e meio), 24,1
metros de largura (aproximadamente dez carros, lado a lado) e 14,4
metros de altura (um prédio de quase cinco andares). Curiosamente, as
medidas são parecidas com as de um navio de carga atual, e as dimensões ainda
correspondem à proporção adotada no presente. “O fato de a arca ter essas
dimensões é surpreendente, porque são os parâmetros de um navio da atualidade”,
afirma Ricardo Pinto, professor de engenharia naval da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC).
Para
saber se a arca flutuaria, é preciso analisar também o material usado na
sua fabricação. O texto bíblico menciona a “madeira de gofer”, que, hoje, seria
semelhante ao pinheiro ou ao cipreste. Como a densidade dos dois materiais
é parecida, os estudiosos ingleses escolheram o cipreste como exemplo. Com
essas informações, e assumindo que Noé teria seguido as instruções o mais literalmente
possível, construindo uma embarcação retangular, em forma de caixa, é possível
concluir que a arca não afundaria na água. “Qualquer objeto, ao ser colocado na
água, provoca o deslocamento de certo volume. Para flutuar, o peso do volume da
água deslocada pelo corpo deve ser igual ao peso do próprio corpo”, explica
Pinto. “Esse tipo de madeira leve faria com que a embarcação flutuasse
facilmente.”
Essas
estimativas referem-se à arca vazia. Para descobrir o peso que a embarcação
teria de suportar, é preciso saber quantos animais seriam colocados dentro.
Pesquisadores que estudaram a história de Noé, como John C. Whitcomb e Henry M.
Morris, autores do livro The Genesis
Flood (O dilúvio de gêneses, em tradução livre), chegaram à
conclusão de que cerca de 35 mil animais precisariam entrar na arca para
que o Reino Animal fosse salvo. Existe uma discussão sobre o fato de que a
expressão “dois animais de cada tipo”, contida na Bíblia, pode não significar
exatamente cada espécie, o que reduziria ainda mais o número de
eleitos. Whitcomb e Morris estimaram, também, que a ovelha
representaria a média de tamanho dos animais.
A
partir desses números, os cientistas da Universidade de Leicester calcularam
que a arca suportaria o peso correspondente a 2,15 milhões de ovelhas. “Nós
observamos que a arca aguentaria o peso, não como os animais caberiam dentro
dela, ou como seriam armazenados alimentos e água fresca”, diz o estudante de
física Oliver Youle, principal autor do estudo, publicado em 2013 no periódico Journal of Physics Special Topics, da
Universidade de Leicester.
Além
da capacidade do barco de suportar o peso, mais fatores precisam ser levados em
consideração. “Podemos até assumir que a arca teria flutuabilidade, mas não
sabemos sobre sua estabilidade”, afirma Pinto. A estabilidade depende da
geometria, ou seja, do formato da embarcação, e da condição em que a carga foi
dividida nela. “Se todos os animais pesados, como elefantes e leões, fossem
colocados de um lado só, ela provavelmente ficaria desequilibrada.”
Seria necessária uma distribuição de peso cuidadosa para manter a embarcação estável, principalmente devido a seu tamanho. “Quanto mais comprida uma viga, mais fraca ela é. Um navio funciona como uma viga em termos técnicos, então quanto mais comprido, mais bem estruturado precisa ser”, explica o professor. Para ele, a arca seria um navio “muito arrojado” para os padrões da época – uma construção tão surpreendente quanto as pirâmides do Egito.
Seria necessária uma distribuição de peso cuidadosa para manter a embarcação estável, principalmente devido a seu tamanho. “Quanto mais comprida uma viga, mais fraca ela é. Um navio funciona como uma viga em termos técnicos, então quanto mais comprido, mais bem estruturado precisa ser”, explica o professor. Para ele, a arca seria um navio “muito arrojado” para os padrões da época – uma construção tão surpreendente quanto as pirâmides do Egito.
(Veja)
Nota:
Confesso que fiquei surpreso com uma matéria dessa natureza publicada no site
de uma revista secular como a Veja.
Obviamente, o evento todo do dilúvio teve causas e desdobramentos sobrenaturais
(podemos até supor que anjos poderosos ajudaram a preservar a grande embarcação
das ondas violentas do dilúvio), mas é surpreendente ver como são tão próximas as
medidas da arca em comparação com as de navios cargueiros modernos. É bom
lembrar que nem Noé nem qualquer um de seus contemporâneos tinha experiência
com navegações no mundo antediluviano. Portanto, essas proporções perfeitas
devem mesmo ter sido dadas pelo Criador e ter sido seguidas à risca por Noé. Em
meu livro A História da Vida, dedico
um capítulo a esse assunto intrigante. [MB]