Suspeita de doença da vaca louca |
O bovino identificado no Mato
Grosso como um caso suposto de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), doença
conhecida como “Mal da Vaca Louca”, estava pronto para o abate no frigorífico
mantido pela JBS-Friboi em São José dos Quatro Marcos, no sudoeste do Estado. O
animal, uma vaca nelore de 12 anos, foi encaminhado para o frigorífico pela
Fazenda Talismã, localizada no município vizinho de Porto Esperidião, na
fronteira com a Bolívia, como informaram ao Estado
as prefeituras das cidades. Ontem, o Ministério da Agricultura informou que
abateu, no sábado, outros 49 animais que tiveram contato com o bovino suspeito.
A empresa foi procurada pela reportagem, mas disse que não comentaria o caso.
Líder mundial em processamento de carne bovina e principal fornecedora de
grandes redes de varejo no Brasil e em mais 150 países, a JBS-Friboi afirmou
que não foi notificada pelo Ministério da Agricultura de que o animal tratado
como “caso atípico” de EEB passou por sua unidade de Quatro Marcos. O
Ministério não fornece detalhes sobre as empresas envolvidas.
O Estado apurou, porém, que o
bovino fazia parte de um lote de 25 cabeças, com idades de 11 e 12 anos,
enviado pela Talismã à JBS-Friboi para ser comercializado. O animal estava
pronto para abate quando uma equipe de inspeção sanitária do Departamento de
Saúde Animal (DSA) do Ministério, que fazia visita de rotina no local,
constatou que ele estava caído.
O DSA decidiu sacrificar e
incinerar a vaca, após avaliar que a posição poderia ser um sintoma de EEB - o
chamado “decúbito forçado” é o estado do bovino caído, que pode ocorrer tanto
em função de fraqueza muscular quanto de deficiência na coordenação motora
causada por distúrbios neurológicos da encefalopatia.
Outros 49 animais foram abatidos e
incinerados no sábado, segundo a Agricultura, porque tiveram contato com a
fêmea que foi detectada com uma falha em partículas de proteínas importantes
para o desenvolvimento dos neurônios, a chamada marcação priônica.
Os animais estavam confinados separadamente
desde 19 de março, quando os técnicos da DSA colheram material de uma vaca para
exames. Segundo o Ministério, o sacrifício é parte do procedimento adotado pela
defesa sanitária nos casos de suspeita de vaca louca.
A inspeção sanitária da Agricultura
coletou material e enviou para exames na rede estatal Laboratórios Nacionais
Agropecuários (Lanagros). A unidade do Recife identificou que a vaca havia
desenvolvido a marcação priônica.
O material coletado também foi
enviado para avaliação da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, na sigla em
inglês), que faz exames laboratoriais em Weybridge, na Inglaterra, para
confirmar se é efetivamente um caso de EEB. A expectativa é de que a OIE
divulgue o laudo amanhã.
A classificação do caso como
atípico, segundo Agricultura, ocorre porque o animal não desenvolveu a doença
da vaca louca nem morreu em função dela. A marcação priônica se desenvolveu
naturalmente por causa da idade avançada do animal - ela ocorre normalmente em
bovinos acima de dez anos, em função do envelhecimento das células.
O caso clássico da doença ocorre em
rebanhos mais novos, de até sete anos, que é a média de idade limite dos
animais comercializados no mercado. Nesses casos, a enfermidade pode ser
causada pela alimentação a base de farinha de osso e carne.
É proibido alimentar os animais no
Brasil com esse tipo de suplemento, o que ajudou o País a conseguir o nível de “risco
insignificante” de doenças sanitárias conferido pela OIE. A idade ideal,
segundo estudo do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), para o abate bovino
é, no limite, até 2,2 anos de vida, quando a margem de investimento e lucro são
melhores. Analistas de mercado consultados pelo Broadcast, serviço de notícias
em tempo real da Agência Estado, estranharam a idade do animal comprado pela
JBS-Friboi e identificado como suspeito da doença da vaca louca: 12 anos.
Segundo analistas, não é prática do
mercado comprar bovinos acima do décimo ano de criação. Todo o lote de 50
animais adquiridos da Talismã pela JBS-Friboi estava com idade entre 11 e 12
anos, segundo informações da própria fazenda repassadas a órgãos fiscalizadores
do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT).
O presidente da Federação da
Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Rui Prado, ao
contrário, diz que é comum animais nessa idade serem vendidos no Estado. “Animais
velhos também vão para o abate”, afirma.
Nota: Esse foi um caso em que a fiscalização detectou o problema,
e nos inúmeros outros em que não há fiscalização ou em que há irregularidades?
Será que vale a pena correr esse risco? O vegetarianismo ainda é a opção
alimentar mais segura. E a “picanha novinha” da Friboi, pelo jeito, pode não
ser assim tão novinha... [MB]