segunda-feira, outubro 27, 2014

Nos passos dos pioneiros: Battle Creek

Casa de Tiago e Ellen White
No ano de 1852, José Bates teve um sonho em que navegava por um porto chamado Battle Creek. Entendeu ser a vontade de Deus que ele fosse para aquela cidade a oeste de onde morava. Quando chegou lá, foi até a agência dos correios e perguntou quem era o homem mais honesto da cidade. Indicaram-lhe David Hewitt, e Bates foi até a casa dele. Identificou-se, foi convidado para o desjejum e disse que tinha uma mensagem a apresentar para a família. Hewitt convidou Bates para dirigir o culto matinal, que acabou durando o dia todo. Resultado: a família se converteu e deu grande impulso à pregação adventista em Battle Creek. Inclusive foi Hewitt quem propôs o nome Adventista do Sétimo Dia para a igreja, numa reunião no primeiro dia de outubro de 1861. 

No quarto dia de nossa viagem cultural/denominacional nos Estados Unidos, passamos boa parte da tarde de sábado na Vila Adventista, onde está a casa em que o casal White morou de 1856 a 1863, e na qual ela escreveu o livro O Grande Conflito. Boa parte da casa e pelo menos a cadeira em que Ellen White escrevia ali são originais. Foi emocionante imaginar o dia a dia dos pioneiros. Ellen escrevendo nas madrugadas, Tiago se dirigindo cedinho de manhã para a editora e as crianças do casal estudando na pequena escola da comunidade, criada para prover educação cristã aos pequenos (aliás, a primeira escola adventista do mundo). Há réplicas de outras casas de pioneiros ali, como a da família Hewitt, e um museu dedicado às invenções impressionantes do Dr. John Kellogg. 

Falando em Kellogg, em Battle Creek está também o sanatório que ele passou a administrar em 1876 e reconstruiu em 1903, e que ainda hoje se trata de um edifício imponente. Bem perto do sanatório (hoje um prédio pertencente ao governo dos Estados Unidos), está um grande templo adventista no exato lugar onde ficava o famoso Tabernáculo Daime, símbolo da concentração adventista na cidade, aspecto que foi seriamente questionando por Ellen White, embora os advertistes insistissem em se manter concentrados ali. 

Detalhe impressionante e que encerra profundas lições: Kellogg se tornou muito egocêntrico e passou a se considerar dono da obra de saúde adventista, tomando uma série de decisões reprovadas por Deus. O primeiro sanatório pegou fogo. Os responsáveis pela editora adventista Review and Herald decidiram publicar o livro The Living Templo, de Kellogg, com conteúdo panteísta. A editora também pegou fogo. Os bombeiros disseram que a água lançada sobre as chamas parecia combustível (aliás, o corpo de bombeiros funciona até hoje no mesmo lugar). E o terceiro lugar que pegou fogo foi o Tabernáculo Dime. O que parecia uma tragédia se revelou uma bênção, pois, depois disso, os advertistas resolveram obedecer à voz de Deus e se espalharam pela nação e pelo mundo. 

No fim da tarde, quase no horário do pôr do sol, visitamos o cemitério Oak Hill, onde estão sepultados muitos dos pioneiros, entre os quais Tiago e Ellen White. Diante do túmulo deles, ouvimos a leitura do último parágrafo do livro O Grande Conflito, lido pelo colega e pastor Wellington Barbosa, com a voz embargada e os olhos marejados. Em seguida, fizemos uma oração em que cada um agradeceu a Deus alguma coisa. Agradeci o fato de a mensagem adventista ter alcançado minha esposa e a mim nos idos anos 1990, mostrando-nos um Jesus real e o caminho que Ele propõe; e agradeci também o privilégio de estar conhecendo lugares tão significativos na história da nossa igreja. Foi outro dos grandes momentos inspiradores e marcantes desta viagem.   

Naquele mesmo local estão sepultados os dois filhos de Tiago e Ellen, que faleceram em tenra idade: John Herbert e Henry, com 12 semanas e 16 anos, respectivamente. Quando estava prestes a morrer, acometido de tuberculose, Tiago pediu para ser enterrado em Oak Hill, a fim de, na volta de Jesus, ser ressuscitado ao lado do irmãozinho. Que fé!

Saímos em silêncio daquele lugar. De alguma forma, aqueles momentos passados ali mexeram com cada um de nós, levando-nos a profundas reflexões. Sentimentos que certamente nunca mais serão esquecidos. 

O sol já havia se posto quando nos dirigimos ao último local histórico que deveríamos visitar naquele dia: o cemitério de Otsego, onde se encontra o túmulo de Dudley Canright, morto em 1919. Pregador talentoso, assim como Kellogg ele se deixou contaminar pelo orgulho e acabou abandonando a fé adventista, tornando-se finalmente grande inimigo da igreja à qual havia servido. 

O sentimento diante daquela lápide era bem diverso do que havíamos sentido em Oak Hill. Lá a esperança vai além da morte. Isso é quase palpável. Em Otsego, a tumba de Canright nos deixa tristes e faz ver que não vale mesmo a pena combater a Deus e Sua igreja. Ali, diante daquela lápide, no meio de um cemitério escuro, o Dr. Aberto Timm conduziu uma reflexão e orou por nós e por nosso ministério.

Voltamos pensativos para o hotel em Benton Harbor, Michigan. A manhã seguinte nos reservava outras surpresas. E, para mim, uma oportunidade jamais imaginada!

Michelson Borges
Historic Adventist Village

Réplica da casa de Hewitt

Quarto de Ellen White

Cadeira original e mesa em que Ellen White escrevia

Réplica da primeira escola adventista

Interior da escola adventista de Battle Creek

Sepulturas e Tiago e Ellen White

Baú que pertenceu a John Andrews

Centro de pesquisas da Universidade Andrews