Deu no jornal Folha Dirigida do dia 15: “E no início, fez-se o debate. Se antes o antigo conflito entre ciência e religião parecia envolver dois lados completamente antagônicos do conhecimento, hoje ele se faz presente – e de forma saudável – no mais laico dos ambientes modernos: a escola. Enquanto algumas instituições de ensino optam por seguir o modelo tradicional de grade curricular, muitas das que estão originalmente envolvidas (desde sua criação) com religiões encontram grande relevância em não abandonar o Ensino Religioso de seus currículos escolares. ...
“É possível aplicar o Ensino Religioso sem ferir questões e avanços da ciência moderna? Por unanimidade, as escolas católica Marista Arquidiocesano, a Adventista Alvorada e uma profissional de Física formada na USP dizem que não há conflito entre as duas áreas do conhecimento. E, ainda que sejam aplicadas de maneira diferente entre escolas de linhas religiosas distintas, possuem o mesmo objetivo na formação dos alunos: desenvolver a consciência de coletividade e senso moral. ...
“A legitimidade da escola [Marista] consiste em apresentar para os alunos as mais diversas idéias humanas – desde o criacionismo, passando pelo evolucionismo, neo-evolucionismo e também passa pela criação do mundo, além das formas geológicas e geográficas – com uma ligação com as aulas de Ensino Religioso.
“A diversidade de temas presente dentro da matéria também busca abraçar as pessoas de outras crenças que freqüentam a escola. ...
“Na sala de aula com poucas cadeiras, um slideshow e o professor formado em Teologia e pastor da Igreja Adventista do Sétimo Dia, cerca de 18 alunos de 3ª série ficam atentos às palavras e à tecnologia empregada no Ensino Religioso da escola. Seguindo um tema extraído das páginas da Bíblia, que é distribuída em sala de aula, o professor Rafael Cabral, da Escola Adventista Alvorada, no Capão Redondo, faz uma associação direta entre equipamentos modernos e conhecimentos bíblicos.
“Ao problematizar e ilustrar com imagens, perguntas e vídeos, o professor procura fazer com que as crianças, mesmo pequenas e pouco vividas, questionem suas próprias ações e pensamentos. O slide no computador diz ‘Tenho que fazer a minha parte!’, e é a partir dessa idéia que a disciplina busca influenciar o pensamento dos alunos na coletividade.
“O estudo moral de causa e efeito é uma constante nas aulas de Ensino Religioso do ensino adventista, e segue uma metodologia na aplicação: cada tema ocupa quatro aulas da grade curricular, na qual uma delas será de exemplos e reforço do que foi ensinado nas outras três através do livro sagrado.
“E o que é ensinado através dele? Crescimento integral do aluno e a noção de responsabilidade são alguns pontos destacados pelo professor, formado em Teologia e pós-graduado em Educação em Aconselhamento, na Inglaterra. ‘Abraçar áreas além do acadêmico possibilita a formação de um caráter fortalecido nos alunos’, também cita Rafael. O respeito das crianças pelas outras crenças e mesmo por idéias diferentes das suas também é desenvolvido, e auxilia a convivência do aluno dentro da pluralidade de idéias.
“Porém, o também pastor Rafael Cabral se importa em reforçar que ‘não se busca um programa evangelístico’, tanto com aulas, quanto com o contato com a capela da escola. Em todos os momentos, Rafael repete que a importância maior dessas interações é mostrar ao aluno que ele faz parte de um mundo repleto de interações, escolhas e diferenças, e que ele deve saber enxergá-las de modo tolerante.
“Ao não abordar religiões específicas, o Ensino Religioso Adventista também busca evitar a formação de possíveis conflitos entre os próprios estudantes. Essa preocupação se mostra marcante devido aos 70% de alunos da rede no Brasil que não são membros da Igreja. Mas a matéria não é tão simples quanto parece: se até a 4ª série, os alunos só assistem à aula sem nenhum tipo de avaliação, da 5ª a 8ª eles realizam provas e têm seus conhecimentos da Bíblia e das aulas testados através de provas.
“Dentro das demais matérias, também existe uma aplicação do conteúdo religioso, mas não de maneira doutrinária. Também nessa área pedagógica, uma das crenças da Igreja é reforçada no meio didático: o livre-arbítrio. Ainda que a própria lógica religiosa cristã leve a uma afinidade maior pela teoria do criacionismo, nenhuma das formas do pensar é dispensada. Rafael explica que os alunos são independentes para escolher suas crenças diante das possibilidades expostas, e que ‘a obrigação da escola é colocar o aluno em contato com as diferentes teorias do saber – a partir disso eles aprendem a fazer escolhas no ensino e a ter pontos de vista fortes para a vida’.”