quarta-feira, outubro 29, 2008

Fórmula derruba teoria da formação das galáxias

A busca pelas verdades fundamentais, pelas explicações mais básicas, pelo entendimento dos mecanismos primordiais da natureza – mais do que o aspecto mais apaixonante da ciência, esta talvez seja a própria essência do modo científico de pensar. Normalmente, quando encontradas, essas explicações traduzem-se em fórmulas matemáticas. O exemplo mais conhecido é a famosa E = mc2, formulada por Einstein. Mas o que fazer quando se encontra uma fórmula matemática, capaz de expressar uma grandeza fundamental, e simplesmente não se sabe do que se trata essa grandeza?

Pois é justamente isso o que acaba de acontecer com os astrônomos que estudam a formação das galáxias. Da mesma forma que a vida, a existência das galáxias é um verdadeiro enigma – elas estão lá, mas como surgiram? A teoria atual estabelece que a gravidade de aglomerados maciços de matéria escura – algo que não sabemos exatamente o que seja – atraiu grandes quantidades de poeira e gases que se espalharam pelo Universo a partir do Big Bang. Ao se aglomerar em quantidades suficientes, as massas de matéria ordinária que se formaram giraram a chave da ignição da fusão nuclear, lançando os primeiros raios de luz no Universo.

Depois de formadas as estrelas, o processo teria prosseguido, aglomerando as próprias estrelas em galáxias pela atração gravitacional, a mesma atração que, ao longo de bilhões de anos, fez com que as galáxias nascentes engolissem as vizinhas ou se mesclassem, o que explica as enormes distâncias atualmente existentes entre elas.

É uma boa teoria, logicamente coesa e que faz sentido. O problema é que há exceções. E não são exceções distantes e longínquas. A nossa própria Via Láctea, como várias outras galáxias semelhantes, parece ser prematura, tendo nascido “cedo demais”, sem que houvesse transcorrido o tempo que essa teoria exige para que sua formação faça sentido.

Uma equipe de astrônomos, coordenada pelo professor Michael Disney, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, resolveu então estudar as galáxias em busca de um elo perdido que pudesse explicar o que elas têm em comum. Ao encontrar essas características unificadoras, os cientistas acreditavam que poderiam descobrir uma regra geral que explicasse sua evolução e resolvesse o mistério da formação aparentemente precoce de algumas galáxias. E eles descobriram algo ainda mais surpreendente. Depois de analisar 200 galáxias, eles verificaram que elas diferem em virtualmente todas as suas características – tais como luminosidade, formato, tamanho e quantidade de gases.

Ocorre que todas essas características são reguladas por um único dado, um número, provavelmente uma quantidade. Se você medir uma das características de uma galáxia em particular, conseguirá calcular todas as outras propriedades fundamentais – luminosidade, formato, tamanho e quantidade de gases – usando esse parâmetro quase mágico.

Mas o que representa esse parâmetro agora descoberto? Bom, isso terá que ficar para o próximo capítulo, porque os cientistas simplesmente não sabem. Há uma verdade fundamental lá, uma solução simples e elegante, como eles gostam de dizer, mas que eles ainda não sabem explicar.

“O que mais nos surpreendeu foi a idéia de que uma população tão diversa é todavia controlada por um único parâmetro, ainda não identificado. Se você quer saber, isso atira toda a problemática teoria da formação das galáxias de volta na panela”, disse Disney à revista Science.

(Inovação Tecnológica)