quinta-feira, outubro 09, 2008

A moda que oprime

No badalado mundo da moda, a grife Diesel está preparando uma grande festa que será realizada em 17 cidades do mundo, inclusive São Paulo, que comemora os 30 anos da grife italiana. Um vídeo para internet divulga a iniciativa exibindo filmes pornográficos antigos que ganham nova roupagem, com a sobreposição de desenhos animados que sugerem um ar não tão agressivo, mas, sim, mais irreverente de anunciar a campanha, conforme a empresa divulga. Não muito distante disso, a temática da Coleção Primavera 2008 da grife Colcci tem por referências visuais sex shop, fetiche, cabarés franceses, ciências ocultas, alquimia, xamãs, sendo sempre suas coleções impulsionadas por uma grande top model, em troca de milhões de reais.

Analisando esses fatos, será que a moda é somente algo para vestir, a indústria do belo, do sentir-se bem com determinada roupa que tenha bom caimento, ou algo mais está por detrás dessa indústria poderosa que movimenta e cria riquezas, padrões de consumo e comportamento, e até mesmo filosofias de vida?

Quem sabe, poderíamos aplicar aqui uma frase da estilista Mary Quant, uma das duas pessoas a quem se atribui a criação da mini-saia: “O bom gosto é a morte, a vulgaridade é a vida.”

Quem cria, sempre coloca um pouco de si em sua criação, sua ideologia de vida. Talvez devêssemos pensar mais no que estamos refletindo em nosso ser, em algo que “fala” por nós, sobre quem somos e a quem pertencemos – mesmo antes de pronunciarmos qualquer palavra –, que é o nosso modo de vestir, de nos mostrarmos ao mundo e às pessoas que nos cercam, de respeitarmos nosso corpo, de sermos, sim, indivíduos dignos de respeito e não meros objetos de cobiça e joguete nas mãos de uma indústria do consumo que consome a individualidade e a liberdade de se vestir.

Existe uma frase do poeta britânico Oscar Wilde, que viveu no fim do século 19 e já naquela época dizia: “A moda é uma variação tão intolerável do horror que tem de ser mudada de seis em seis meses.”

Acredito que muitos já pensaram ao assistirem mesmo que de relance desfiles de moda pela TV de modelos anoréxicos, de roupas criadas por estilistas famosos: “Que roupa horrível, quem vestiria tal coisa?” Talvez Wilde tivesse alguma razão em sua frase. A indústria da moda (têxtil, de pigmentos e toda cadeia de fornecedores) precisa sobreviver, gerar consumo e para isso é acionado um aparato de marketing, criando de modo mecânico e capitalista toda uma sorte de “tendências”, desde cor, estilos e releituras de anos passados, por não ter mais o que se criar, diga-se assim. Pseudonecessidades são criadas nos indivíduos para se sentirem frustrados com o que já possuem e partirem num consumismo desenfreado para preencher seu vazio existencial artificialmente criado.

Poderia ainda falar sobre onde os produtos de tais marcas poderosas são fabricados, geralmente às custas de mão-de-obra barata, e em alguns lugares, quase escrava. Essas pessoas jamais poderão adquirir aquilo que elas mesmas, com suas mãos exploradas, produzem. Um triste fato.

Muito se tem falado sobre diferenças de classes sociais. Mas pouco se tem falado sobre bens de consumo como os da moda, alavancados pela poderosa indústria da propaganda, advinda de pesadas pesquisas de comportamento do consumidor que pretendem buscar os vazios existenciais nos indivíduos e gerar neles a necessidade de preencher tal angústia e vazio, com coisas materiais, por meio de infindáveis estratégias de neuromarketing pelas grandes corporações industriais.

Tais mensagens atingem o rico, que tem condições de comprar e exteriorizar a que classe social ele pertence. Atingem também aquele que padece trabalhando para melhorar sua auto-estima e “subir” de classe social, mesmo que só na aparência. Porém, atinge também o que não tem condições de comprar, gerando frustração, baixa auto-estima, insatisfação e, por conseguinte, às vezes, a rebeldia contra um sistema que exclui, podendo fomentar o crime e o roubo para poder ter acesso a tais bens materiais.

A indústria da moda escraviza a quem produz e quem se preocupa com ela, além de não permitir ser ‘diferente’, pelo sentimento de exclusão que transmite a quem não a acompanha. É apenas uma das pontas do cerco que está se formando, de não permitir que um grupo possa ser diferente.

Em minha experiência profissional no segmento da moda, trabalhando com os estilistas mais famosos do País, percebi que nenhum deles vestia o que era “tendência”. Não vestiam o que eles mesmos criavam para ser usado em grande escala por “soldadinhos de chumbo”, por uma simples razão: os estilistas não querem ser pessoas “comuns”! Querem ter seu próprio estilo. Querem ser indivíduos livres para criar e ser o que bem quiserem.

Acredito que, desse modo, os filhos de Deus também devessem ser “estilistas”, mas não seguindo uma tendência ditada por mentes humanas corruptíveis, e sim a tendência orientada por Jesus de olharmos os lírios do campo, que nem mesmo Salomão em sua glória conseguiu igualar; de não andarmos ansiosos pelo que havemos de vestir (Mt 6:28-34). Devemos vestir o estilo dado e orientando por Deus no maior guia de beleza e de felicidade que Ele nos deixou, a Bíblia, Sua Santa Palavra.

Lembremo-nos do que Deus, que quer restaurar para sempre no ser humano a beleza e pureza originais, à Sua semelhança, nos revelou: “Porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (1Sm 16:7).

Que sejamos mais semelhantes a Deus.

(Cristiano James Kleinert atuou como analista de marketing na RenauxView e como designer no grupo AMC Têxtil, detentora das marcas Colcci, Coca-Cola Clothing, Sommer, Carmelitas, Forum e Triton. Atualmente, é designer gráfico na Casa Publicadora Brasileira.)