quarta-feira, junho 09, 2010

Projeto Atlanta: acidente em Costa Rica

Depois da primeira noite dormindo em barraca, nesta segunda etapa do Projeto Atlanta, acordei disposto a cruzar Costa Rica o quanto antes. Meu alvo hoje è a cidade de Canas. Está a 150 km de Cuatro Cruzes, onde pernoitei. Percurso possível de ser realizado em até oito horas de pedaladas, devido aos planaltos e serras que aparecem sempre por aqui. Meu ânimo não está dos melhores, devido a ter ido dormir sem jantar e aos caminhões e carretas barulhentos que rodavam a noite toda em volta do restaurante no pátio do qual eu estava deitado. Mas conheço meu organismo e sempre estou disposto a forçá-lo para vencer limites. Nisso tenho sido intemperante e reconheço que da maneira como faço evangelismo, ou seja, correndo e pedalando, não iria muito longe se desse trégua aos meus pés.

Porém, há uma passagem bíblica que sempre me estimula a avançar um pouco mais, mesmo sentindo que um passo adiante representaria colapso físico: “Os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Isaías 40:31).

Claro que caminhar e correr o dia todo me deixa exausto, mas, pensando nessa promessa, sempre encontro ânimo para ir além. Por isso, afirmo: corro e pedalo pela Terra, mas os meus passos se dirigem ao Céu. Ou seja, evangelizar por meio do esporte me deixa mais perto de Deus.

Mas, infelizmente, não estou exposto apenas ao perigo de um colapso brusco, desses que às vezes ocorrem com jovens jogadores, levando-os à morte súbita. O pior é o risco de acidentes com carros nas rodovias agitadas.

Nas viagens pelo Brasil, várias vezes caminhões, carretas e até ônibus de passageiros me forçaram bruscamente a sair da pista e do acostamento. Por duas vezes tive choque direto com carros. A primeira foi no Rio de Janeiro, quando uma van lotada passou raspando por mim e me bateu com o retrovisor. O anjo do Senhor arrancou o retrovisor e não deixou que o veículo quebrasse nenhum osso do meu corpo.

A segunda foi em São Paulo, quando um caminhão me bateu pelas costas, atingindo meu ombro esquerdo. Também só posso dizer que outra vez mãos invisíveis me protegeram e não fraturei nenhum osso.

Porém, aqui na Costa Rica, descendo uma ladeira, bem perto do meu alvo, a cidade de Canas, fui acompanhado por um caminhão em alta velocidade. Passando rente à bagagem, ele me desestabilizou e perdi o controle da “gorducha” (bike) e tropecei num desnível da pista. Fomos para o chão, rolando agarrados um ao outro. Gritei alto: “Meu Deus, salve-me. Jesus, socorre-me.”

Quando paramos, eu estava imobilizado com a perna e o cotovelo esquerdos sagrando. Tentei me levantar, mas foi impossível. Sentia dores e perdi o controle da situação. Rapidamente chegaram alguns carros e vários curiosos. Momentos depois, fui transportado por uma ambulância a um hospital de uma cidade chamada Libéria. Estava com suspeita de fraturas na coluna e crânio. Fui atendido na emergência e fiz exames de sangue, urina e radiografias da cabeça, tórax e coluna. Fiquei algum tempo imobilizado. Depois de todo o desespero, veio a ótima notícia de que as lesões não passaram de suspeitas.


Como ocorreu nos outros acidentes, Deus não permitiu que qualquer osso fosse quebrado para que o Projeto Atlanta tenha prosseguimento.

Dei entrada no Hospital Enrique Bartoloto Bricenho, da cidade de Libéria, Costa Rica, às 16h30 e o deixei por volta das 20h30. Recebi duas informações terríveis. Primeira: só poderia deixar Costa Rica após pagar todas as despesas hospitalares (exames, internação e consultas médicas). Segunda: ninguém sabia onde se encontrava a “gorducha” e minhas mochilas de viagem. Apenas me deram uma bolsa pequena com meus documentos pessoais.

Quando sai do hospital, vi uma pousada familiar em frente e fui para lá a fim de encerrar esse dia que até àquele momento estava completamente obscuro. Minha preocupação era: Como chegarei a Atlanta sem a “gorducha”? Como pagar os cuidados hospitalares? E minhas mochilas com todo equipamento? Tudo foi roubado?

O certo é que mesmo acidentado, ferido no corpo e na alma, sigo confiante de que Deus está aqui.

“Alguém” deseja me ver fora deste desafio. Mas meu olhar continua contemplando os Céus, mesmo sofrendo estas dores. Continuarei porque tenho pernas para caminhar, olhos para ver, mente para pensar, ouvidos para ouvir e um desejo tremendo de fazer a vontade daquele que deu Seu amado Filho por mim. Minhas chagas jamais podem ser comparadas sequer àquelas causadas pela coroa de espinhos que foi cravada na fronte do Salvador.

Com a “gorducha” ou sem ela; com equipamentos ou sem nada, continuarei seguindo para Atlanta, porque os olhos de Deus e Sua mão poderosa para me livrar estão aqui. Venha comigo!

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)