quarta-feira, junho 16, 2010

Projeto Atlanta: os maras

“Leva tudo que tens. Eu serei teu guia, escudo e libertador. Nenhum mal te sucederá nestes países.” Em Chinandega, cidade da Nicarágua, quase fronteira com Honduras, eu estava muito preocupado com minha segurança pessoal e com meus equipamentos. Desde o Panamá escutava comentários assustadores sobre Honduras e El Salvador. Referiam-se a extrema pobreza e a desajustes políticos que estavam promovendo ondas de violência, assaltos, assassinatos e roubos. Diziam que o povo fazia as leis com as próprias mãos. A informação mais direta e certa dá conta de que uma facção criminosa conhecida como os “maras”, homens tatuados, comanda o crime nesses países. Acrescentaram também que eles fazem a tatuagem de uma lágrima toda vez que matam alguém, dado o orgulho que sentem disso.

Com todos esses avisos, não podia entrar nesses países sem antes fazer algo ao meu alcance para me resguardar de alguma maneira da ação destes delinquentes. A única ideia em mente era vender meus equipamentos atrativos, sujar toda a bike para que parecesse muito velha e escolher um caminho em que a presença dessas quadrilhas não fosse tão significativa.

Já estava certo de fazer tudo isso quando resolvi consultar meu Pai celeste; aquele a quem conheço como o “Senhor dos Exércitos”. Aquele que promete ser “minha sombra à minha direita”. O Deus que garante me guardar como a “menina dos Seus olhos”. Fiz, numa madrugada de aflição, sete orações contritas e do fundo da alma. Então, invocando aquele que domina sobre todas as coisas neste mundo e em todo o universo, das sete invocações, em quatro Ele me disse: “Leve tudo que tens. Eu serei teu guia, escudo e libertador. Nenhum mal te sucederá nesses países. Não venda nada nem altere coisa alguma na bicicleta.” Ao me levantar da última oração, eu estava como que dotado de um escudo de fé e de uma couraça de coragem, coisa que não sei explicar. Juntei tudo e fui cruzar a fronteira.

Logo ao chegar à alfândega de Honduras, os oficiais me pediram o visto de entrada. Disseram-me que devido à crise diplomática causada pelo fato de o Brasil ter apoiado o presidente deposto, Micheletti, agora todos os brasileiros têm que tirar o visto para ingressar naquele país. Mandaram-me de volta a Nicarágua em busca do Consulado de Honduras, para obter o visto. Voltei outra vez 150 km para trás, a Chinandega, onde após preencher um monte de papeis e pagar uma taxa de 30 dólares, o cônsul rabiscou algo em meu passaporte e assinou, dando-me acesso por 90 dias ao seu país.

Retornei à imigração de Honduras e consegui o ingresso. Comprei um mapa do país e escolhi o caminho mais curto para chegar a El Salvador. Enchi minhas garrafas de água, comprei algum alimento e iniciei a travessia. Viajei o dia inteiro, desde as seis da manhã até as seis da tarde, e consegui ileso cruzar o país. Nas estradas e quando passava por vilas e cidades muito pobres, todos me observavam curiosos. Das casinhas de pau a pique na margem da rodovia, escutava as crianças gritando: “La vai um gringo.”

Em uma descida, após passar uma ponte, vi uns oito rapazes sem camisa e portando facas e facões. Eles impediram minha passagem. Um deles rolava pelo asfalto quente com o facão riscando o chão, e gritava forte: “Fora daqui, gringo! Nós aqui não gostamos de gringos.” Parecia que iam me agarrar e me despedaçar. Porém, quando cheguei no meio o grupo, ao alcance das mãos deles, eles abriram caminho de repente e passei sem dizer palavra. Acelerei e segui confiante de que o anjo do Senhor lhes impediu as más intenções. Continuei cruzando as pequenas cidades e às vezes via homens armados de metralhadora nas esquinas das ruas, sentados em cadeiras, os quais me olhavam e permaneciam estáticos em seus assentos.

Então, por compaixão de Deus, no fim da tarde, estava completando em paz minha saída de Honduras e iniciando as pedaladas em El Salvador, país considerado um dos mais violentos e perigosos do mundo, segundo ouvi de seus próprios habitantes.

Estou viajando para Atlanta. Estou tentando chegar lá com vida, inteiro, salvo de todo mal. Continuo firme e muito mais determinado a concluir este desafio. Mas afirmo categoricamente: sem fé é impossível dar mais um passo neste projeto. Por isso continuo com extrema confiança, certo de que estou agradando ao Deus do impossível e de que Ele esta aqui.

Vamos para Atlanta! Venha comigo! Veremos a face de Deus pelos milagres que Ele faz para guardar a vida deste missionário peregrino.

Até breve.

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)

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