quinta-feira, junho 10, 2010

Robert Boyle, o cientista cristão à frente de seu tempo

Avanços científicos como os submarinos, os aviões, a luz elétrica, a modificação genética e os transplantes de órgãos foram previstos há mais de três séculos pelo químico britânico Robert Boyle, quando eram apenas previsões impossíveis de conceber como factíveis naquele momento. Boyle escreveu em 1660 uma “lista de desejos” na qual refletiu sobre 24 grandes avanços para a humanidade que ocorreriam no futuro. Essa lista agora estará à disposição do público pela primeira vez na história a partir desta segunda-feira, 7, na Royal Society de Londres, em uma exposição que lembra o 350º aniversário da instituição, que teve como membros honoráveis personalidades como Charles Darwin e Isaac Newton.

O extraordinário das revelações de Boyle é que elas foram feitas em uma época dominada pela magia e pelas superstições religiosas. Contrariando a tudo e a todos, naquele período filósofos, advogados, médicos e escritores se propuseram a buscar explicações científicas para o que ocorria no mundo.

No topo da lista de Boyle, estava o “prolongamento da vida”, ou seja, os avanços médicos que estenderam a expectativa de vida, seguida da “recuperação da juventude”, o que se tornou possível por meio da cirurgia plástica, do botox, dos dentes postiços, dos cremes antirrugas e das tinturas para o cabelo.

O químico também predisse a possibilidade de o homem se “igualar aos peixes” - conquista alcançada graças às equipes que desenvolveram os submarinos -, além do invento de navios que pudessem navegar contra o vento e dos telescópios (“óculos parabólicos”, como os chamou).

Em sua lista, somente três “desejos” ficaram pendentes: a cura de ferimentos a distância, como fazem os personagens de “Jornada nas Estrelas”; a transmutação de todos os metais, algo que é possível somente com alguns, mas não com o ouro, por exemplo; e a invenção de um dissolvente universal.

Jonatham Ashmore, membro da Royal Society, assinalou que alguns dos prognósticos de Boyle, como a cura de doenças por transplante, os calmantes para a dor e os soníferos são os pilares da medicina contemporânea. “Esse documento assombroso nos abre uma janela ao entendimento de uma das mentes mais extraordinárias do século XVII”, destacou.

Boyle, conhecido pela famosa Lei de Boyle (sobre o comportamento dos gases) e batizado por isso como “o pai da química”, pertence à geração de filósofos naturalistas anteriores a Christopher Wren e Robert Hooke, que buscaram explicações aos fenômenos da natureza por meio da experiência.

Além da “lista de desejos” de Boyle, a exposição da Royal Society inclui outro fascinante documento: o manuscrito original de Isaac Newton “Princípios matemáticos da história natural” (1685), onde constam as fórmulas matemáticas que dominam as leis do universo e onde também se podem ver anotações, rabiscos e desenhos do próprio autor.

Outros documentos que representam um marco na história da ciência e que serão exibidos em Londres são um exemplar de A Origem das Espécies, de Charles Darwin, germe da teoria da evolução, e o primeiro tratado científico publicado pela Royal Society, no qual estão recompilados os conhecimentos obtidos pela instituição nos três primeiros anos de sua fundação, em 1660.

Será possível ainda contemplar um telescópio desenhado pelo próprio Newton, em 1671 (uma segunda versão melhorada do instrumento fabricado por ele três anos antes), a bomba de ar com a qual Boyle estudou o comportamento dos gases e o certificado da incorporação de Darwin como membro da instituição, em 1839.

(Estadão.com.br)

Nota: Leia de novo o parágrafo em itálico, acima, e leve em conta que Boyle, como outros precursores da ciência moderna, era cristão. Será que, como ocorreu com o estudioso da Bíblia Isaac Newton, Boyle “viu mais longe” por não colocar diante de si barreiras epistêmicas e tapa-olhos naturalistas? Creio que sim.[MB]