Quando vejo uma imagem como esta ao lado, fico pensando se realmente compensa exercitar o senso de patriotismo que desperta cada vez que vemos a seleção canarinho entrar em campo. Depois que o Brasil vence um jogo, as ruas são tomadas por pessoas quase alucinadas, com latas de cerveja na mão e gritando como se amanhã não fosse segunda-feira e a vida tivesse que seguir seu fluxo normal. Para a moça da foto, o que importa é o momento, a suspensão da realidade, a farra justificada em tempos de Copa. O efeito do álcool no cérebro ajuda a garantir o êxtase e o esquecimento da vida que cobra de nós sobriedade e lucidez.
Essa deveria ser a festa do esporte, mas quem corre são apenas os jogadores – os torcedores “se acabam”. A festa deveria celebrar a saúde, mas nossa seleção divulga bebida alcoólica... O espírito de equipe é valorizado em campo, mas do lado de cá o povo não se une para promover valores, educação e consciência política; não se une para tirar do poder aqueles que não correspondem às expectativas e desejos dos que lhes confiaram o voto.
Há quem se lembre de inúmeros lances de Copas passadas, detalhes, nomes, jogadas. Mas quem se recorda dos descalabros desse e daquele político que mais uma vez será eleito por aqueles que têm memória curta e seletiva?
Dedicamos atenção sem pestanejar aos “guerreiros” que correm no gramado e têm a conta bancária recheada, mas pouco valorizamos aqueles que dedicam a vida a pesquisas que salvam vidas ou promovem avanços significativos para a humanidade – na verdade, parece que nem nos importamos com o indecente contraste entre os salários de jogadores famosos e professores universitários, por exemplo (afinal, não são os professores que nos dão pão e circo).
Mas não quero estragar a festa. Viva o Brasil!
Michelson Borges
P.S.: Para mim, boa mesmo foi a Copa de 1994. Clique aqui e saiba por quê.