terça-feira, julho 26, 2011

Fiéis oram por um acordo nos EUA sem cortes sociais

Debaixo de chuva e sob sensação térmica de 40 graus Celsius, um grupo de cerca de 30 pessoas leu ontem os versículos 1 a 12 do capítulo 58 do Livro de Isaías no pequeno jardim em frente da sede de cinco igrejas protestantes em Washington. Entre as orações, os fiéis pediram aos Céus que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e os líderes do Congresso ouçam a palavra de Deus. Desde 11 de julho, todos os dias às 12h30, o grupo reza por um acordo fiscal até 2 de agosto. Porém, sem sacrifícios para os americanos mais pobres e vulneráveis. “Acreditamos que o orçamento federal é um documento moral. Enfatizamos o papel dos governos de servir ao bem comum, e rezamos para que a economia mundial e o orçamento nacional acabem com o jugo da injustiça, da pobreza, da fome e do desemprego em todo mundo”, leu um dos oradores, antes do hino de louvor, acompanhado por uma violonista.

O ponto de encontro está justamente nos fundos do Capitólio, a sede do Legislativo americano e ao lado da Suprema Corte, em frente à chamada “caixa de Deus”, o prédio de quatro andares compartilhado pelos Metodistas Unidos. Mas o pequeno rito é ecumênico. Duas freiras católicas estavam presentes, assim como funcionários públicos de diferentes credos, com o lanche e o celular nas mãos.

A preocupação primária do grupo está no prazo de 2 de agosto, quando um acordo para elevar o teto da dívida pública americana deve ser aprovado, sob risco de provocar a suspensão de pagamentos pelo Tesouro. Mas, em essência, as pessoas temem o “desequilíbrio” do pacote de ajuste das contas dos EUA nos próximos dez anos. Ou seja, que preserve as reduções de impostos dos mais ricos e das grandes empresas e corte despesas com programas de assistência social.

“As isenções para os mais ricos devem acabar. Isso foi criado na época de superávit fiscal, no governo de George W. Bush. Agora, estamos em tempos de déficit profundo”, afirmou Margareth Killmer, mulher de um funcionário publico em serviço em Washington.

Douglas Grace, coordenador da Ecumenical Advocacy Days, disse que a iniciativa é desconectada das propostas partidárias. Porém, as preces sintonizam o grupo de fiéis com as mesmas exigências de Obama e dos democratas. “Vínhamos de um período de abundância. Agora, temos de compartilhar os sacrifícios, e os mais abastados têm obrigação de dar mais, conforme receberam e desfrutaram.”

(Estadão)

Nota: Em tempos de crise, quando as limitações humanas se tornam mais explícitas, as pessoas apelam para a religião. Isso pode ser tornar uma tendência à medida que as nuvens pesadas da crise ameaçam despejar a tempestade sobre nós. O inimigo comum, no caso a crise financeira (ou mesmo as catástrofes “naturais”), tem poder de agregar diferentes e reforçar o espírito ecumênico descrito nas profecias apocalípticas. O que virá a seguir? Esses religiosos estariam oferecendo apoio ao governo em troca de quê? O próximo passo será pedir uma reforma religiosa nacional? A busca de justiça social passaria, também, pelo resgate dos direitos trabalhistas, os valores da família e a preservação do meio ambiente? Uma proposta para isso já está em gestação há muito tempo e se chama “domingo”. Ensaios já estão sendo feitos na Europa. Espere (não de braços cruzados) para ver o que virá.[MB]