terça-feira, julho 19, 2011

A verdadeira busca

Para me tornar criacionista, nos idos anos 1990, tive que pesquisar e ler muito, em várias áreas, como biologia, geologia, arqueologia, teologia e outras (conheça melhor essa história aqui). Naquela época, havia pouco material sobre apologética cristã e criacionismo publicado em língua portuguesa. Jovens estudantes como eu tinham que ir atrás desses raros livros e se virar em busca de material em inglês, comparando tudo com a farta literatura ateísta/darwinista desde então disponível em nosso idioma. Nem o Google existia! Mas a ânsia por conhecer a verdade dos fatos e o desejo de seguir as evidências levassem aonde levassem (isso também pode ser chamado de honestidade intelectual) compensava qualquer esforço. Na verdade, esse é o exercício do verdadeiro e sadio ceticismo que nos leva a duvidar até mesmo do próprio ceticismo. Se eu estava errado, tinha que descobrir. E se estava certo, tinha que saber por que – por mim mesmo.

Anos atrás, conheci um casal de médicos adventistas cujos filhos estavam na universidade e haviam perdido a fé. Segundo os pais, os garotos eram donos de uma mente arguta e alegavam que o mundo acadêmico lhes havia aberto os olhos. Esses pais desesperados queriam que eu fosse visitar os filhos e conversar com eles. Aceitei o convite, mas os garotos não quiseram me receber. Depois, fiquei sabendo que, quando os moços ainda eram crianças, os pais mal tiveram tempo de lhes fornecer conhecimento bíblico sólido, pois viviam para o trabalho. Os meninos foram criados por babás e pela televisão. Quase nunca eram vistos nos cultos jovens e em reuniões de oração. A família não fazia o culto doméstico e a Bíblia era um livro de cabeceira, mas sempre fechado.

Além de orar, o que mais eu podia fazer por aqueles jovens? Infelizmente, os pais se deram conta da gravidade da situação quando era tarde demais (claro que, para Deus, nunca é tarde demais; mas a história daquela família poderia ser bem diferente).

Bem, você deve estar se perguntando (especialmente se não for cristão): O que há de “grave” no fato de dois jovens nascidos em um lar cristão se tornarem ateus? Aparentemente, nada. Assim como não há nada de “grave” em um ateu passar a crer. Cada um faz as escolhas que quer. Cada qual tem o direito de abraçar a cosmovisão que mais lhe agrada. Mas não será honesto para consigo se fizer essa escolha baseado no desconhecimento. Explico com outra história.

Recentemente, apresentei palestras em uma igreja em que havia alguns jovens universitários, também oriundos de lares adventistas, que alegavam estar perdendo a fé. Diziam que a igreja não estava preparada para lidar com dúvidas sinceras e questionamentos profundos. Durante uma das palestras, perguntei (a título de pesquisa) se os presentes haviam lido esse e aquele livro (e fiz uma lista de algumas publicações que considero fundamentais para a compreensão da controvérsia entre o criacionismo e o evolucionismo). Ao mencionar uma dessas obras, apenas uma pessoa levantou a mão – e não foram aqueles estudantes.

Quando converso com cristãos que dizem ter perdido a fé porque ingressaram na universidade, sou tentado a pensar em duas possíveis causas (entre outras, claro): ou não tiveram boa base religiosa (ou bom exemplo) no lar para lhes servir de lastro na vida adulta, ou não conhecem devidamente a fé que professam/professavam. Eu vim de fora do adventismo/criacionismo e posso dizer que li praticamente tudo o que havia à disposição na época sobre o assunto das origens (e de lá para cá não parei de ler e pesquisar). Tornar-me criacionista era uma decisão muito séria e eu precisava ir às últimas consequências nessa busca. Menos do que isso não poderia ser chamado de “busca”. Mas o que dizer de grande parte das pessoas que compõem esta geração, que tem acesso fácil a farto material de pesquisa, mas não se dá ao trabalho de investigar?

Quando alguns jovens me dizem que estão “em busca”, me pergunto se estão mesmo “buscando”... Será que conhecem realmente a cosmovisão cristã? Quantos livros de apologética devem ter lido? Será que sabem por que a Bíblia pode ser considerada a Palavra inspirada de Deus? Ao menos leem as Escrituras? Conseguem defender racionalmente a verdade ou se curvaram ao relativismo influenciados pelos PhDs da vida? Não teria a vaidade acadêmica ofuscado sua visão? Não estariam confundindo as coisas ao permitir que seu espírito contestatório pós-adolescente misture seus sentimentos ambivalentes em relação aos pais e/ou aos líderes da igreja com o que pensam sobre Aquele que nada tem que ver com essa ambivalência?

A verdade é que a vida é uma “eterna” busca de sentido, de verdadeiro conhecimento, de preenchimento e satisfação. Mas precisamos ter humildade para admitir que não podemos assumir essa ou aquela posição enquanto não reunirmos todos os fatos disponíveis e os analisarmos de mente aberta, seguindo o conselho do grande apóstolo e filósofo Paulo de Tarso, registrado em 1 Tessalonicenses 5:21. Lembra-se da sua Bíblia? Vá lá conferir, por favor.

Michelson Borges

“Que os homens aprendam pelo menos qual a fé que rejeitam antes de rejeitá-la.” Blaise Pascal