quarta-feira, julho 06, 2011

O declínio da Europa (e do mundo)

Com o rebaixamento de Portugal pelo Moody’s, a crise econômica europeia vive outro capítulo delicado de uma história tensa agravada pela situação da Grécia. Mesmo diante da perspectiva de dias difíceis, há pessoas (e muitas) que só pensam em “curtir” a vida, como se a realidade fosse uma festa capaz de trazer o esquecimento da dura constatação de que a vida não é fácil e que a esperança parece ter se ausentado faz tempo. O continente europeu, devastado por duas guerras mundiais, viu as promessas do racionalismo serem reduzidas ao pó. O século das luzes se apagou, as revoluções viraram tema de discussão para acadêmicos e restou apenas a sensação de que o futuro não nos pertence e que, por isso, o presente deve ser vivido intensamente – dez anos a mil, como diria o cantor Lobão. A Europa pós-cristã – a mesma Europa que legou ao mundo a Reforma Protestante – vê, junto com sua economia, ruir também os valores morais e religiosos que uma vez lhe foram caros.

A tradicional Festa de São Firmino, realizada todos os anos em Pamplona, na Espanha, é um retrato colorido dessa decadência. Embora tradicionalmente o festejo seja em homenagem ao padroeiro da cidade, São Firmino, o festival é mais conhecido pela bárbara “brincadeira” de se soltarem touros pelas ruas, a fim de que eles possam atropelar os foliões. Depois, os animais são mortos nas sangrentas touradas. As comemorações são abertas com uma grande concentração na Casa Consistorial, quando o prefeito anuncia o início da folia regada a muito vinho (Baco sentiria orgulho disso, como sente da Oktoberfest e afins) e exibições de despudor, como se pode ver nas fotos abaixo. São Firmino que feche os olhos.

Ao mesmo tempo em que a “marcha das vagabundas” ganha as ruas de várias cidades do mundo, incluindo o Brasil do Carnaval, festas tradicionais religiosas são transformadas em bacanais, como se o paganismo tivesse ocupado o vácuo do cristianismo que vem sendo pouco a pouco expulso do Velho Mundo.

O mundo velho, na verdade, é este planeta. E ele precisa ser reconstruído urgentemente.[MB]