Na virada da década de 80 para os anos 1990, os japoneses fizeram a festa. O país surfava na primeira grande “bolha” imobiliária da história moderna. Os japoneses se sentiam extremamente ricos, tamanha a valorização de suas propriedades. Viajavam com suas câmeras e compravam. Entre eles, a família Yokoi, dona de um império obscuro, saiu pelo mundo atrás de oportunidades. Enquanto grupos compravam imóveis e empresas em vários países, os Yokoi surpreenderam. Se associaram, de forma polêmica, ao maior ícone dos EUA, o Empire State Building, em Manhattan. Foi um choque. Alguns anos depois, a “bolha” imobiliária japonesa explodiu. O crédito barato secou e os preços desabaram. Há quase 15 anos o Japão digere os excessos daquela época. Amarga uma mistura de baixo crescimento e empobrecimento. É isso o que deve acontecer com os EUA.
Até agora, o país mais rico do mundo evitou esse destino. Mas as alternativas chegaram ao fim. Os EUA vivem “de bolha em bolha” desde o início deste século. Quando a “bolha” de preços das ações valorizadas das empresas ponto.com explodiu, em 2000-2001, o Fed (o BC dos EUA) manteve os juros de empréstimos tão baixos que estimularam outra “bolha”, a imobiliária. Quando a “bolha” imobiliária estourou, em 2007-2008, a alternativa do Fed foi baixar ainda mais os juros e inundar o mercado com cerca de US$ 2,3 trilhões (o equivalente ao PIB do Brasil) para expandir a atividade. Visava, assim, criar outra “bolha” que sustentasse a economia. Deu certo. Mas durou pouco.
A terceira “bolha” (seguindo as ponto.com e imobiliária) foi a do endividamento público. Ela jorrou bilhões entre empresas e famílias para que uma depressão econômica fosse evitada em 2008. Mas as intervenções do Tesouro dos EUA multiplicaram por quatro o déficit público americano desde então. Isso tornou insustentável a relação entre o que o país arrecada em impostos e o que gasta.
Resta agora ao governo seguir o exemplo das famílias norte-americanas: cortar gastos; deprimindo mais a economia. A alternativa seria encontrar algum mecanismo para financiar uma nova “bolha”. Mas quem a financiaria? Marte?
O desfecho mais provável para os EUA é o exemplo japonês: estagnação e empobrecimento por vários anos. Com o colapso europeu e muito dinheiro sobrando sem portos seguros, teremos um mundo bem diferente daqui em diante.
E o Brasil com isso? Levando em conta o chamado PIB per capita PPP (que relaciona o tamanho do PIB e o poder aquisitivo anual ao custo de vida local de cada país), temos o seguinte:
Brasil: US$ 11 mil/ano
EUA: US$ 47 mil/ano
Japão: US$ 33 mil/ano
Somos muito pobres ainda. Com nossos índices de corrupção e desvios, é improvável que nós, hoje vivos, duremos tanto tempo para ver o Brasil chegar perto das hoje “decadentes” economias ricas, entulhadas de dívidas.
Só mais uma grande chance desperdiçada.
(Fernando Canzian, Folha.com)
Nota: Que “mundo diferente” é esse que nos espera? Que decisões drásticas terão que ser tomadas nessa nova era de maus agouros e falta de esperança? E se adicionarmos à crise financeira uma catástrofe (ou várias) de grandes dimensões? (Clique aqui.) Medidas extremas costumam ser tomadas em tempos difíceis. Quem viver verá.[MB]