segunda-feira, janeiro 21, 2013

Ativista de 19 anos protesta contra o criacionismo

A história de Zack Kopplin, ativista de 19 anos, começa em 2008. Foi nesse ano que o estado americano da Louisiana, onde ele vive, aprovou a Lei “Louisiana Science Education Act”, que permite que professores levem material suplementar fora do currículo para as salas de aula, dando liberdade para que sejam ensinadas, por exemplo, teorias criacionistas e nada sobre evolução. Na época, Kopplin estava na escola e escreveu uma redação revoltada sobre isso em sua aula de inglês. Hoje, cinco anos depois, ele estuda história na Universidade Rice e é um dos ativistas mais temidos pelos criacionistas. Isso porque na época em que a lei foi aprovada, professores não apenas levavam material extra sobre criacionismo para a aula, mas passaram a substituir livros de ciência por textos religiosos. E, em 2010, o estado precisou decidir quais seriam os novos livros a serem usados em escolas públicas - criacionistas queriam barrar livros baseados em teorias científicas [como sempre, a mídia não deixa claro que macroevolução não se trata de sinônimo de ciência]. “Achei que alguém mais fosse se manifestar sobre isso, que alguém tomaria uma atitude. Mas ninguém fez nada. Então eu agi”, conta Koppling.

Ele criou duas petições para impedir que professores levem material criacionista para as escolas e, com a ajuda da senadora Karen Carter Peterson, pretende criar a terceira.

As suas primeiras tentativas foram derrotadas em votações parlamentares, com o argumento de que muitas escolas que trabalham com material criacionista são privadas. “Eles podem ensinar o que quiserem em escolas particulares, mas o estado usa dinheiro público e deve prestar contas ao público”, argumenta. Zack também conta que não é contra o ensino de religião, mas é contra o ensino de religião em aulas de ciência.

Os esforços de Zack ainda não alcançaram o objetivo esperado, mas eles não passaram despercebidos - fundamentalistas já o acusam de anticristo e, acredite se quiser, ele foi acusado até de causar o furacão Katrina.

Kopplin não se preocupa apenas com o ensino de criacionismo, mas na falta de preparo de crianças americanas. “Aqui negamos conceitos de domínio público, como as mudanças climáticas e vacinas”, explica. Para resolver isso, ele acredita em uma melhor educação e em mais verba para o desenvolvimento científico - segundo ele, os EUA deveriam destinar um trilhão de dólares para a ciência. De acordo com ele, as futuras gerações precisarão cada vez mais da ciência para terem condições de vida melhores.


Nota: Há muitas nuances sutis numa notícia como essa. Primeiramente, Kopplin não está de todo errado em suas reivindicações. O evolucionismo é uma hipótese científica (embora em grande parte possa ser considerado ciência histórica) e merece ser estudado. Há aspectos desse modelo que ajudam a compreender o funcionamento da vida e a adaptação dos seres a ela, como a seleção natural e as mutações, por exemplo. Como fenômeno cultural, o criacionismo bíblico também merece espaço de discussão nas salas de aula, quem sabe em aulas de filosofia ou mesmo de religião. Mas isso dificilmente seria feito de maneira apropriada, afinal, quantos professores realmente sabem o que é criacionismo? Lamentavelmente, essa controvérsia é tratada de maneira muito “apaixonada” nos Estados Unidos e vem misturada com política por lá. As declarações deselegantes de certos religiosos norte-americanos mais exaltados (como a afirmação de que Kopplin seria o anticristo!) apenas denigrem o cristianismo. O ideal mesmo seria treinar os professores (e convencê-los disso) para que sejam capazes de ensinar um evolucionismo crítico, destacando seus aspectos factuais (bastante limitados) e suas insuficiências epistêmicas e aspectos metafísicos (como a macroevolução e o naturalismo ontológico/filosófico). Para encerrar, uma ponderação: Será que a mídia daria o mesmo destaque (ou abordaria o assunto de maneira respeitosa), caso um jovem se insurgisse contra o ensino dogmático da evolução nas escolas? Duvido muito.[MB]