[Meus
comentários seguem entre colchetes. – MB] Muita gente já perdeu o respeito
pelos dinossauros depois da descoberta de que vários desses bichos eram
cobertos de penas. Mas sugerir que essas plumas teriam a
mesma função “carnavalesca” do rabo dos pavões já é demais, certo? Pode até
ser, mas um novo artigo científico reúne um conjunto considerável de dados para
tentar mostrar que, ao menos entre alguns dinos, a paquera consistia em abanar
longas penas da cauda em leque, tal como fazem os pavões. A hipótese está num
artigo científico assinado por Scott Persons e Philip Currie, da Universidade
de Alberta, no Canadá, e também por Mark Norell, do Museu Americano de História
Natural. O trio de pesquisadores baseia suas conclusões numa análise detalhada
das caudas dos chamados oviraptorossauros, um grupo de dinos bípedes que
lembram vagamente emas ou avestruzes, a julgar pelas patas de corredores e pela
presença de bicos - e, claro, penas.
Essas
características, bem como detalhes mais específicos do esqueleto dos
oviraptorossauros, levou alguns cientistas a considerá-los parentes muito
próximos das aves modernas - as quais, segundo quase todos os paleontólogos,
não passam de um grupo sobrevivente de dinossauros. [Não é porque “quase todos”
os paleontólogos advoguem essa ideia que ela seja necessariamente verdadeira. A
história da ciência mostra que muitas vezes a unanimidade não é sinônimo de verdade
factual. Clique aqui.]
Persons
e companhia, após avaliar cuidadosamente os fósseis de oviraptorossauros, não
concordam com essa ideia - para eles, algumas das semelhanças podem ter surgido
de forma independente nesse grupo de dinos e nos ancestrais das aves modernas,
fenômeno conhecido como evolução convergente. [Gostaria que explicassem
aspectos bem mais complicados dessa tal “evolução convergente”, como, por
exemplo, o desenvolvimento independente de olhos tão parecidos em lulas e em
seres humanos (clique aqui) ou mesmo a capacidade do voo, presente em répteis, mamíferos,
aves e insetos. Isso seria evidência de “evolução” ou a marca do Criador que
teria usado sistemas semelhantes em seres diferentes, mais ou menos como o ser
humano faz com bicicletas, motos e automóveis?]
Uma
dessas convergências tem a ver justamente com o tamanho e a estrutura da cauda.
Tanto os ancestrais diretos das aves quanto os oviraptorossauros sofreram, ao
longo do tempo, a perda de vértebras caudais, de maneira que o rabo foi ficando
mais curto.
Mais
importante ainda, no entanto, foi o aparecimento do chamado pigóstilo - uma
maçaroca de vértebras fundidas na extremidade do rabo, que pode ser vista num
frango assado inteiro, por exemplo - aquele “bumbum” arrebitado da ave. Nos
animais modernos, ambas as características impedem que a cauda atrapalhe o voo,
deixando a anatomia das aves mais aerodinâmica.
Persons
e companhia, depois de confirmarem, com a ajuda de novos fósseis, que os
oviraptorossauros também tinham pigóstilos, puseram-se a usar um programa de
computador para simular a musculatura e a capacidade de movimentação da cauda
dos animais. [Ou seja, um programa de computador alimentado por hipóteses
baseadas num fóssil que dificilmente revelaria os hábitos do espécime.]
Segundo
a reconstrução dos músculos dos bichos que eles fizeram, os oviraptorossauros
teriam caudas curtas, fortes e extremamente flexíveis. “Eles teriam sido
capazes de balançar e torcer suas caudas, para cima e para baixo e de um lado
para o outro, com um grau de destreza muscular acima do que se vê na maioria
dos outros terópodes [os dinos bípedes e carnívoros] e dos répteis modernos”,
escrevem os pesquisadores.
Juntando
esse dado com o dado de que penas caudais já foram descobertas em algumas
espécies de oviraptorossauros (plumas que, aliás, parecem ter sido listradas),
e com o fato de que o pigóstilo poderia servir para “ancorar” leques de penas,
o trio argumenta que a musculatura especializada ajudaria os animais a ondular
os ornamentos e deixá-los eretos para a apreciação de potenciais parceiras, por
exemplo.
Isso,
claro, assumindo que o penacho era um adorno usado por machos para cortejar
fêmeas, tal como acontece com os pavões atuais. Para ter certeza, no entanto,
seria interessante tentar diferenciar os sexos nos fósseis encontrados até hoje
e verificar se, de fato, penas caudais eram mais comuns entre machos. [Depois
de tanta argumentação em favor da tese, a matéria abaixa o tom e alivia nas
tintas. Tudo não passa de mais uma hipótese baseada em dados inconclusivos.
“Ficção pré-histórica” para preencher o espaço nas páginas de editoria de
ciência e garantir verbas para pesquisa.]
Nota:
Conforme me disse um amigo biólogo: “Fico pensando: o caminho da ciência anda
meio chato e permeado de coisas inúteis nos tempos atuais.”