De
48 artistas famosos do gênero sertanejo estudados por Mariana, apenas sete não
possuíam nenhuma música abordando a temática, e 85% das duplas abordam o
assunto em pelo menos uma canção.
Há
outros estudos recentes sobre sertanejo, mas não o bastante, segundo elas. “Encontrei
referências sobre a música sertaneja até a década de 80, mas o sertanejo
universitário ainda é um fenômeno a ser estudado”, diz Mariana Lioto, que
escreveu a dissertação “Felicidade engarrafada: Bebidas alcoólicas nas músicas
sertanejas” (conheça
o trabalho). Já para encontrar exemplos de letras de
sertanejos sobre “bebedeira”, ela não teve dificuldade.
“É
meu defeito, eu bebo mesmo
Beijo mesmo, pego mesmo
E no outro dia nem me lembro.
É tenso demais!”
(Trecho
de “É tenso”, de Fernando & Sorocaba - cena do clipe acima)Beijo mesmo, pego mesmo
E no outro dia nem me lembro.
É tenso demais!”
“Acho
que fui escolhida pelo tema”, diz a paranaense Mariana. “Em minha região a
música sertaneja é muito forte, principalmente entre os mais jovens. Por ter
problemas de alcoolismo na minha família, me incomodava o fato de a versão
sobre o consumo de bebidas alcoólicas apresentado pelas músicas ser muito
diferente da realidade que eu vivi desde a infância.”
“Acredito
que existe um embate de discursos. De um lado temos a esfera médica e religiosa
dizendo que beber causa dependência, gera doenças, etc. É um discurso chato,
difícil de conquistar adesão. De outro lado temos a música falando que beber te
dá amigos, mulheres, sexo, acaba com todos os problemas”, diz.
A
tese do trabalho de Mariana é de que a música sertaneja não só reflete um
comportamento já existente, mas ajuda a “naturalizar” e incentiva o hábito de
beber, fazendo associações positivas com mulheres, festas, fuga do trabalho, e
escondendo os efeitos negativos. [...]
Francismari
Barbi, psicóloga clínica, autora do trabalho “A influência das letras de música
sertaneja no consumo de álcool”, diz que também teve dificuldade de achar
referências sobre sertanejo. “Mas outros estudos comprovam a influencia
relacional entre musica e consumo de alguma substancia psicoativa, ou mesmo a
letras das musicas como forte influencia comportamental entre os jovens”,
completa.
“Eu
queria um tema ainda pouco estudado no Brasil e ao mesmo tempo com importância
clínica e sociocultural. A música possui um elo estreito e forte com a
sociedade e a cultura vigente. Isso pode contribuir para que as pessoas
associem bebida com diversão ou com a ‘cura’ de diversos problemas,
principalmente quando é evidenciado esse apelo em suas letras”, explica a
psicóloga.
“Parece
que a tarefa de mostrar o lado negativo da substância ficou basicamente a cargo
dos técnicos de saúde”, é o lamento conclusivo de Francismari.
“Meu
Deus do céu, onde é que eu tô? / Alguém me explica, me ajuda por favor / Bebi
demais na noite passada / Eu só me lembro do começo da balada [...] / Achei meu
carro, dentro da piscina / E o celular no microondas da cozinha” (trecho de “Balada
louca”, com Munhoz & Mariano e João Neto & Frederico). [...]
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