quarta-feira, janeiro 09, 2013

Quando a pistola atira grana

Muito falatório circundou a tragédia de Newtown, mas é interessante notar que muitas vezes a politicagem impede soluções políticas sérias e possíveis para o bem comum. Em seu artigo “The solution to gun violence is clear” ( É óbvio ver a solução para a violência com armas domésticas), o jornalista Fareed Zakaria aponta aquilo que todos sabem. Ele nos relembra de que as três causas da violência são: (1) problemas psicológicos de algumas pessoas, (2) ambiente violento causado pela cultura popular de massa e (3) controle do porte de armas. Ele mostra como o forte controle de armas, como ocorre na maioria dos países industrializados, melhora a situação. O Japão, terra dos videogames violentos, registra praticamente zero homicídios. Na Inglaterra e na Ilha de Wales, ocorrem 50 mortes por armas para cada 100 mil pessoas, contra 1.666/1.000.000 nos EUA (97% a mais). Fareed continua informando que os Estados Unidos possuem 5% da população mundial e 50% das armas de proteção pessoal do globo; e tem 30 vezes mais homicídios com armas de fogo do que a França ou a Austrália.
        
Ele cita no fim de seu artigo que pouco antes da tragédia da escola de Nentown, numa outra escola primária na província de Henan (China), um psicopata machucou 23 crianças com uma faca, sendo contido antes de fazer o pior. A diferença foi clara: lá o psicopata não conseguiu uma semiautomática.
        
Pessoas psicóticas há em todos os lugares, portanto, é impossível eliminar psicopatas até porque muitos normais seriam tidos como tais e presos, ao passo que muitos “normais” podem ter atitudes estranhas e violentas. A cultura violenta é um fenômeno mundial (lamentavelmente). Ela é inevitável porque a liberdade de expressão é intocável, por enquanto; além do fato de essa mesma liberdade ser usada para expressar mensagens cristãs e mensagens nobres. É praxe de regimes autoritários começarem a perseguir aqueles que trazem mensagens questionáveis, mas juntamente perseguirem aqueles que trazem opiniões diferentes, ideias religiosas diferentes do convencional.
        
Mas nada impede os governos de controlar o porte de armas. Nada? Nada deveria, mas aí é que entram os lobbies, os mensalões, a deturpação da democracia que faz da Assembleia Legislativa não uma casa de leis para o bem da população, mas um balcão de negócios que destrói as condições de vida das pessoas e até mesmo as própria vida das pessoas; quando a avareza e a covardia fazem com que legisladores se submetam pelo suborno a interesses mesquinhos de empresários inescrupulosos e ávidos por lucros exorbitantes por quaisquer meios.
        
O caso norte-americano é que, explorando uma cultura individualista, num país em que adquirir uma arma é mais fácil do que tirar carteira de motorista, a NRA (National Rifle Association [Associação Nacional do Rifle]) e outras entidades afins bancam todos os senadores e deputados que podem. Dinheiro eles tem para bancar todos, mas alguns recusam ser bancados. Logo, todas as vezes que um presidente tentar fazer tal controle terá que enfrentar a imensa bancada da bala.

Em 30 de março de 1981, foram baleados por um psicopata o então presidente Ronald Reagan, James Brady (relações públicas de Reagan que ficou imobilizado por causa do atentado), entre outros. Mesmo com a família Brady pressionando por leis para controlar armas, só conseguiram uma lei bem modesta em 1994, 13 anos depois. Aí você vê que antes de os loucos atirarem em criançinhas com uma pistola semiautomática, outras pistolas com a ajuda de outros pistolões já atiraram muita grana no bolso dos “fazedores” de leis.

(Sílvio Motta Costa é professor em duas escolas na Rede Estadual e na Rede Municipal da grande São Paulo)