quinta-feira, abril 30, 2015

Consumidores de pornografia podem ser revelados

Escolhas monitoradas
Trinta milhões de americanos assistem pornografia regularmente, de acordo com o Wall Street Journal. Esse número é muito maior do que a quantidade de pornógrafos assumidos, mesmo em pesquisas anônimas: em 2013, apenas 12% dos entrevistados admitiram assistir pornografia online. Mas graças à onipresente vigilância digital e à identificação de navegadores, os mentirosos dos EUA não poderão controlar o sigilo de seus hábitos pornográficos. Os consumidores de pornografia de todo o mundo estão sendo vigiados, e se o engenheiro de software Brett Thomas estiver certo, seria muito fácil tirá-los do armário, junto com uma lista extensa de todos os vídeos que eles já assistiram.

Thomas, que mora em São Francisco, tomou umas cervejas com um membro da indústria de entretenimento adulto digital. Naturalmente, em algum momento a conversa tomou um rumo econômico. Embora o profissional tenha insistido que coletar e vender os dados pessoais dos visitantes de sites eróticos não era uma prática comum no ramo, Thomas não se convenceu.

“Se você estiver assistindo pornografia online em 2015, mesmo escondido, é bom se acostumar com a ideia de que em algum momento o seu histórico pornô pode ser revelado publicamente, e com seu nome embaixo”, anunciou Thomas em um post intitulado “A pornografia online pode originar o próximo grande escândalo de privacidade”, escrito pouco tempo depois de seu encontro.

A justificativa de Thomas era mais ou menos esta: seu navegador (Chrome, Safari, etc.) tem uma configuração única, e transmite informações que podem ser utilizadas para identificá-lo enquanto você navega pela internet. Você está basicamente deixando “pegadas”, como Thomas as chama (outros preferem “impressões digitais”), por todos os sites que visita. Assim, resta apenas ligar uma pegada a outra – um expert poderia identificar os mesmos sinais em visitas ao Facebook e ao NYTimes.com quanto ao Pornhub e ao XVideos.

Thomas argumenta que “quase todo site tradicional que visitamos salva dados suficientes para ligar sua conta de usuário à identificação do seu navegador, seja diretamente ou por terceiros”. Ele está definitivamente certo quando diz que a maioria das páginas que você visita (não apenas sites pornôs, é claro) possuem programas de rastreamento que mandam seus dados para empresas terceirizadas, muito provavelmente sem sua permissão. Muitas delas, por exemplo, usam o Google Analytics, utilizado para monitorar o tráfego em páginas da web. Outras utilizam botões de “compartilhar” e empresas de propaganda terceirizadas.

Portanto, se, por exemplo, clicássemos no vídeo [xxx], não estaríamos apenas enviando uma solicitação para um site pornô. Estaríamos mandando uma solicitação para o Google, para a empresa AddThis, e também para uma empresa chamada Pornvertising, mesmo se estivéssemos navegando no modo privado. Também estaríamos enviando dados que poderiam ser utilizados para identificar nosso computador, como o endereço IP.

Tudo isso, somado à ascensão dos ataques de hackers, diz Thomas, significa que um catálogo completo dos hábitos pornográficos de cada indivíduo está constantemente em perigo, e pode facilmente vir a público. Thomas acredita que não é apenas possível, mas sim muito provável que um hacker invada o banco de dados que abriga o histórico pornô de toda a internet.

Isso, é claro, tem uma série de implicações perigosas, e que vão muito além da humilhação de um consumidor de pornografia – se você pensa que apagar seu histórico da internet deleta todos os rastros daqueles vídeos de fetiche por pés ou os desenhos de bestialismo, pense de novo. O pior de tudo é que ainda existem muitos lugares onde as pessoas são perseguidas por suas orientações sexuais. Se um governo opressor descobrisse que um de seus cidadãos assistiu a uma série de filmes pornôs gays, essa pessoa estaria correndo um enorme risco. [...]

“Eu acredito que essa é uma preocupação completamente justificada”, disse Justin Brookman, um especialista em privacidade do Centro de Democracia e Tecnologia. “O modo de navegação privada não cancela os mecanismos de monitoramento.” Em outras palavras, mudar o seu navegador para o modo privado e limpar seu histórico não impedem que as empresas de pornografia saibam o que você está fazendo.

Para se ter uma ideia do que é, de fato, esse monitoramento, eu usei um app chamado Ghostery, que identifica e bloqueia programas de monitoramento instalados em páginas da internet, para investigar os cinco maiores sites pornôs da internet [...]. ([Um deles] é o 43º site mais visitado do mundo. Para se ter uma ideia, o Gmail é o 66º. O Netflix, o 53º.)

O Ghostery revelou que todos esses sites possuem programas de monitoramento, e portanto repassam informações para uma série de empresas, incluindo o Google, o Tumblr e serviços de propaganda voltados para a indústria pornô, como o Pornvertising e o DoublePimp. Além disso, a maioria dos grandes sites pornôs expõem com precisão o tema dos vídeos acessados já nas URLs [...].

“A URL é uma das informações básicas de todas as solicitações HTTP”, afirma Tim Libert, um pesquisador de privacidade, “então quem tem acesso ao código [o Google, ou o Tumblr] dessa página consegue essa informação por tabela. Sequências puramente numéricas [por exemplo, ‘?id=123’] podem não revelar as preferências sexuais de ninguém, mas é possível identificar se uma URL vem de um site pornô. URLs muito descritivas, por sua vez, podem revelar os gostos de cada um, e se ela diz algo muito pervertido, bem, isso não é mais um segredo”.

Outro ponto importante, segundo ele, é que o modo privado não faz “absolutamente nada para impedir esse monitoramento; no máximo a sua barra de endereços não irá completar o que você escreve lá com sites vergonhosos, mas os publicitários e os corretores de dados ainda conseguem todas as suas informações. Eu não faço ideia do que eles fazem – ou se eles fazem algo – com esses dados, mas está tudo guardado em algum ligar”.

Isso não é muito surpreendente. Na internet, quase tudo o que fazemos é monitorado. Nem sempre por motivações maléficas, mas sim porque os programadores, e isso inclui os programadores de sites pornôs, dependem dessas ferramentas de monitoramento, muitas das quais “gratuitas”, para aumentar a usabilidade e a popularidade de seus sites. Pesquisas recentes revelaram que 91% dos sites de saúde – que deveriam ser o recanto mais seguro e privado da internet – estão compartilhando nossas pesquisas médicas para empresas terceirizadas. É claro que os sites pornôs estão seguindo o mesmo caminho: Libert fez um teste a meu pedido, e descobriu que 88% dos 500 maiores sites pornôs utilizam programas de monitoramento. [...]

“Creio que é assim que o governo encontra as pessoas que veem e compartilham pornografia infantil”, acrescentou Brookman. Também é provável que o NSA use essas ferramentas para espionar os interesses eróticos de muçulmanos – a agência chegou a considerar um plano estapafúrdio que envolvia deslegitimar possíveis “terroristas” ao revelar seus interesses por pornografia, ferindo, assim, sua credibilidade como adeptos fervorosos do Islã. [...]


Nota: Se seu histórico de navegação fosse revelado, o que você sentiria? Alguém poderia usar esses dados para “ferir sua credibilidade” como adepto do cristianismo? Que rastro você tem deixado em sua vida digital? Que testemunho você tem dado ao seu provedor de internet? Se é cristão, sua crença deve afetar cada área de sua vida, inclusive a online. Além disso, devemos nos lembrar de que não apenas nosso histórico de navegação pode se tornar público, mas que nossos pensamentos e atividades ocultos são totalmente abertos para Deus, e um dia também poderão se tornar evidentes para todo o Universo, no desfecho do juízo. A única solução para isso tudo é mantermos uma vida íntegra, transparente, coerente e santa. Aí não teremos nada a temer – nem de Deus nem de qualquer agência de espionagem ou hacker. [MB]