segunda-feira, abril 13, 2015

Sábado, saúde e longevidade

Adequação ao plano de Deus
Um ano após a proclamação da república francesa, em 20 de setembro de 1793, um matemático chamado Gilbert Romme apresentou sua proposta para um calendário totalmente novo. Foi posto em prática durante 13 anos e é conhecido como o “Calendário Revolucionário Francês”. Cada mês tinha 30 dias, divididos em três décadas (semanas) de 10 dias cada uma. Cada dia “métrico” estava dividido em 10 horas que tinham 100 minutos de 100 segundos cada um. Os 10 dias da década chamavam-se: primidi, duodi, tridi, quartidi, quintidi, sextidi, septidi, octidi, nonidi e décadi. O décadi era o dia de descanso dos trabalhadores. Esse calendário tinha características marcadamente antirreligiosas e passou a se basear apenas nos fenômenos da natureza. A revolução desejava retirar todo e qualquer vínculo com as coisas de Deus na vida dos franceses.

O povo francês teve grande dificuldade para se adaptar ao novo calendário, especialmente à semana de 10 dias. A produtividade diminuía ao final da longa “semana” e os problemas de saúde física e mental aumentavam. O projeto foi abolido em 1805. O povo não aguentava mais!

Os historiadores mencionam muitos calendários fracassados, utilizados por povos ao longo da história. Existiram as “semanas” de três dias (Bascos), de quatro dias (Nigéria), de cinco dias (União Soviética), de seis dias (África Ocidental), de dez dias (China, Egito, França), de treze dias (Maias e Astecas), entre outras. Por isso é considerado que a semana (de sete dias) seja o agrupamento de dias mais persistente de todos os calendários da história. Deus nos criou e nos condicionou para um ciclo de sete dias. Muitos médicos afirmam que no sábado o efeito de certos medicamentos e o resultado de cirurgias são menores que o esperado. O corpo humano está preparado para “descansar”.

Descanso semanal

“Em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” (Êx 20:11). Deus descansou no sétimo dia, depois de completar o trabalho da criação. O verbo hebraico “descansar” vem da mesma palavra sábado (shabbat). Esse fato mostra como o sábado faz parte do processo da criação e o descanso que ele realmente oferece.

Jesus disse que “o sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Mc 2:27), e não devemos nos esquecer de que o sábado é um dia para nosso benefício. É para reflexão e deleite dos dons maravilhosos que Deus nos deu. É um tempo para contemplar a bondade de Deus. Esse dia é um sinal perpétuo para reconhecermos Seu amor. As boas-novas do sábado são que, ao guardá-lo, não só falamos a respeito do “descanso em Cristo”, mas, de modo muito real e tangível, expressamos esse descanso, mostrando que confiamos nas obras de Cristo por nós, e não em nossas próprias obras como meio de salvação.

Além de todos os benefícios espirituais, o sábado nos provê um tempo para que nos afastemos das labutas, tensões e fadigas da semana. É o meio que Deus tem para nos permitir descansar, relaxar, acalmar-nos e desprender-nos. O sábado provê uma forma de obter o descanso de que o corpo e a mente precisam tão frequentemente.

“Os que fazem grande esforço para realizar tanto trabalho em determinado tempo, e continuam a trabalhar quando seu juízo lhes diz que deviam descansar, jamais lucram. Estão vivendo de capital emprestado. Estão gastando a energia vital de que necessitarão num tempo futuro. Seu tempo de necessidade chegou, mas os recursos físicos estão esgotados. Todo aquele que viola as leis da saúde, em algum tempo sofrerá perda, em maior ou menor escala” (Ellen G. White, Orientação da Criança, p. 397, 398).

Jesus nos convida dizendo: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve” (Mt 11:28-30). O descanso que Jesus oferece é mais que apenas físico. É descanso para o ser. Precisamos experimentar o descanso completo que Cristo nos oferece. Um sono profundo basta para o descanso físico. Umas férias podem nos dar descanso emocional. Mas onde podemos encontrar descanso espiritual, alívio para os assuntos mais profundos do coração?

Jesus está pronto a dar descanso espiritual a todos os que forem até Ele, oferecendo a libertação da dor e da culpa. Podemos descansar na promessa de que somos aceitos por Deus devido às obras perfeitas de Jesus e, certamente, não por nossas próprias obras defeituosas. Por Sua graça e o poder transformador do Espírito, os cristãos podem se render a Jesus, e Ele lhes dará o verdadeiro descanso.

A glória de Deus como alvo

O Dr. Robert M. Johnston, em seu livro La Vida Espiritual: Experimentando a Jesucristo Como Señor, pergunta: “Por que devemos nos ocupar de corpos destinados a morrer”? E a resposta do Dr. Johnston implica tanto em oferecer as condições físicas adequadas para ser habitado pelo Espírito Santo, como em alcançar eficácia no propósito missionário de testemunhar do valor da vida cristã.

Cristãos que desfrutam de saúde corporal, “saúde nos ossos” serão os melhores agentes da construção de um mundo de paz, onde habita a integridade física, moral, social e espiritual. Para isso, devemos apresentar “nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus” (Rm 12:1), ou seja, devemos oferecer a Deus o melhor que podemos tanto em qualidade como em extensão de vida. Bom seria que a descrição dos dias finais de nossa existência terrena pudesse ser como a de Moisés, após 120 anos de vida: “...não se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu o vigor” (Dt 34:7). Não devemos ficar obcecados por alcançar essa marca do patriarca, pois conspiram contra nós variáveis individuais em nossa constituição e herança genética, bem como fatores contrários no próprio ambiente físico em que vivemos. Mas o ponto em questão, dentro de nossa consciente responsabilidade cristã, é fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para atingir o máximo em longevidade e qualidade de vida que exaltem o Criador/Redentor e sirva ao próximo.

Saúde e longevidade

A revista National Geographic, de novembro de 2005, em sua matéria de capa (“Os segredos da longa vida”), afirma que “uma existência longa e saudável não acontece por acaso”. Pesquisadores admitem que, se você tiver bons genes e adotar um estilo de vida correto, tem chances de viver até dez anos mais.

No estudo feito entre os três povos mais longevos da terra – Sardenha na Itália, Okinawa no Japão e Califórnia nos Estados Unidos –, um grupo de adventistas do sétimo dia de Loma Linda se destacou como “os campeões da longevidade na América do Norte”. O local produz centenários em proporção mais alta e que sofrem apenas uma fração das doenças mortais que ocorrem em outras partes do mundo desenvolvido.

Conclusão do estudo: “Os adventistas também guardam o descanso no sábado, dia em que socializam com outros membros da igreja e desfrutam de um período de descanso. A maioria dos adventistas segue esse estilo de vida, demonstrando o poder de combinar vida longa saudável com religião.”

Em outro estudo feito durante seis anos na Duke University, EUA, pesquisadores avaliaram 3.968 pessoas de 64 a 101 anos de idade. Nesse período, 29,7% dos participantes morreram. A mortalidade dos que iam pelo menos uma vez por semana à igreja foi 46% menor do que nos que não iam à igreja.

Conclusão

Jesus é o Senhor do nosso corpo, da nossa vida, do nosso tempo, da nossa vontade e do sábado (Lc 6:5), e deseja que tenhamos um corpo sadio, uma mente bem estruturada, relacionamentos saudáveis, íntima comunhão com Deus e vivamos diariamente a certeza da salvação.

Que alegria poder ouvir alguém nos dizer as mesmas palavras do apóstolo João: “Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma” (3Jo 1:2).

(Orlando Mário Ritter é diretor do Departamento de Saúde da União Central da Igreja Adventista do Sétimo Dia)

Veja também: "O sábado e a genética"