Momento de desconectar |
[...] Em
um post de 2008 em seu blog MediaShift, Mark Glaser observou uma
tendência crescente “entre os blogueiros e pessoas da mídia que se sentem
sobrecarregados com a natureza “sempre online”
da internet de banda larga e dos smartphones.
[E para estes], a sensação é exacerbada por mensagens instantâneas, redes
sociais e serviços como o Twitter, que nos permitem fazer comunicações mais
informais eletronicamente ao invés de pessoalmente”. Observa-se nestes uma
tendência para tirar um “sábado tecnológico” – e não é de surpreender que essa
tendência também tem surgido em círculos de
judeus e cristãos. Em dois anos desde que Glasser escreveu, o círculo desses
sobrecarregados tem quase certamente ampliado. Há uma boa chance de que, ao
falarmos sobre manter um sábado, iremos sugerir um assunto bastante monótono e
sem alegria, uma relíquia de uma era mais cinzenta. Pode-se também evocar
imagens de uma atenção debilitante a inúmeras regras puritanas que regulam a
vida para fora do que seria um dia agradável [embora eu tenha certeza de que
quem guarda o sábado pelos motivos corretos e da forma correta discorda totalmente
disso. – MB]. Temos a tendência, afinal, de equiparar restrição com perda. Mas considere
esta visão alternativa, articulada por estudioso judeu Abraham Heschel, em seu
excelente trabalho O Sábado:
“Observar
o sétimo dia não significa apenas obedecer ou se conformar à rigidez de um
mandamento divino. Observar é celebrar a criação do mundo e recriar o sétimo
dia todo de novo, a majestade da santidade no tempo, um dia de descanso, um dia
de liberdade.”
Heschel
continua até citar uma oração judaica que descreve o sábado como “um dia de
descanso e de santidade, um descanso no amor e generosidade, um verdadeiro e
genuíno descanso, um descanso que produz paz e serenidade, tranquilidade e
segurança, um descanso perfeito com o qual Tu te agradas”.
Essa
visão do sábado deve ressoar com aqueles que podem estar enfrentando fadiga
tecnológica acompanhada por aquela sensação inquietante de que suas ferramentas
estão controlando, ao invés de facilitando sua vida. O sábado foi feito para
nos lembrar de que, embora tenhamos que trabalhar, e trabalho pode ser nobre e
útil, não fomos feitos para o trabalho e o trabalho não é a nossa maior
vocação. Tirar um dia, ou até mesmo algumas horas em um dia, para desligar e
descansar de nossas tecnologias, úteis e nobres como elas podem ser, pode do
mesmo modo nos lembrar de que não fomos feitos para a nossa tecnologia e estar
conectado não é a nossa maior vocação.
A
ideia de um sábado tecnológico oferece muitas vantagens. É simples, prática e
eficaz. Ela reconhece a importância de práticas intencionais para a formação de
nossos hábitos e disposições. Ela evita os extremos e cria um espaço tanto para
o silêncio como para a introspecção, por um lado, e, por outro, a celebração e
alegria na companhia dos amigos e familiares.
Pode
ser que uma desconexão deliberada e regular nos ajude a redescobrir um ritmo
mais humano para a nossa vida – um que esteja em sintonia com as necessidades
de nosso corpo e em sincronia com o mundo que nos rodeia. Se assim for, então
talvez celebração, descanso, liberdade, amor e generosidade, paz, serenidade e
tranquilidade poderiam mais frequentemente caracterizar a nossa experiência.
(Tu Porém)