Uma transição crucial na origem da vida foi o surgimento de um polímero de informações capaz de autorreplicação e sua compartimentalização dentro das estruturas protocelulares. A pesquisa mostra que as propriedades físico-químicas do gelo, um meio simples abundante na Terra primitiva de clima temperado, poderia ter mediado essa transição antes do surgimento das protocélulas membranosas. O gelo não apenas promove a atividade de uma ribozima polimerase do RNA, mas também a protege da degradação hidrolítica, permitindo a síntese de replicação de produtos excepcionalmente extensos. O gelo reduz a dependência da replicação do RNA em concentrações de substratos pré-bioticamente implausíveis, oferecendo uma compartimentalização quasicelular na microestrutura complexa da fase eutética. Já foi demonstrado que as fases de gelo eutético promoveram uma nova síntese de precursores de nucleotídeos, bem como a condensação de nucleotídeos ativados em RNA oligômeros aleatórios. O resultado da pesquisa demonstra um papel mais amplo para o gelo como um ambiente de predisposição, promovendo todas as etapas da síntese pré-biótica para o surgimento da autorreplicação do RNA e a evolução darwiniana pré-celular.
(Attwater, J., Wochner, A., Pinheiro, V., Coulson, A., & Holliger, P. [2010]. “Ice as a protocellular medium for RNA replication.” Nature Communications, 1 [6], 1–8)
Nota: É interessante notar como as teorias sobre a origem e evolução da vida vêm e vão. Pelo visto, a “sopa morna” já foi aposentada (só não avisaram os autores de livros didáticos). A novidade agora é o gelo.[MB]
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