segunda-feira, outubro 11, 2010

A importância da vida pré-natal

Prevenir doenças sempre foi um dos principais objetivos da medicina. O mais recente avanço nesse sentido é a descoberta, por meio de diversos estudos realizados em todo o mundo, de que as sementes da saúde e da doença são plantadas em uma fase ainda mais precoce do que se imaginava: antes do nascimento, ainda durante a vida intra-uterina. Os cientistas estão cada vez mais convencidos de que os nove meses de gestação são decisivos para a saúde do indivíduo durante toda a sua vida. “A mãe deve ser entendida como o primeiro ambiente ecológico da criança”, considera o ginecologista e obstetra Eliezer Berenstein, um dos autores do livro Gerar e Nascer. “Na gravidez, toda a história física e emocional do bebê estará sendo construída e será influenciada por aquilo que a mãe come, por exemplo, e por seu comportamento emocional durante a gestação”, afirma o ginecologista Márcio Coslovsky, especialista em reprodução humana da Clínica Huntington, do Rio de Janeiro. De fato, as pesquisas já demonstram, entre outras coisas, como doenças infecciosas da mãe, seus níveis de estresse, a qualidade de sua alimentação e até do ar que ela respira podem contribuir para que a criança venha a desenvolver, na infância ou na vida adulta, problemas cardíacos, alergias, asma, obesidade, câncer e outras enfermidades.

Uma das doenças nas quais essa relação encontra-se muito bem estabelecida é a diabetes. Se a mãe for diabética e não controlar a doença durante a gestação, a chance de dar à luz uma criança também portadora é muito alta. [...]

No caso da tendência à obesidade, a confirmação de que ela pode ser adquirida dentro do útero também vem de diversos e consistentes trabalhos. O pesquisador John Kral, da Suny Downstate Medical Center, de Nova York, por exemplo, comparou o peso de adolescentes nascidos de mulheres que engordaram muito durante a gestação com o de seus irmãos, gerados após suas mães terem se submetido a cirurgias bariátricas. O resultado foi impressionante. “Vimos que os irmãos tinham herdado os genes da obesidade, porém a taxa de obesos entre os que nasceram após as mães terem feito a cirurgia para perda de peso foi 52% menor”, disse Kral à IstoÉ. Ele e sua equipe agora investigam os mecanismos intrauterinos atuantes nestes casos. “Uma hipótese é a de que a nutrição exagerada alteraria a função de alguns genes do feto”, diz o especialista.

O excesso de peso materno também pode estar relacionado ao aumento de risco de a criança tornar-se mais vulnerável à alergia, à asma e a doenças neurodegenerativas, como doença de Alzheimer e doença de Parkinson. Essa indicação foi dada por pesquisas com animais feitas na Duke University (EUA). “Nossa esperança é de que estes dados levem as mães a considerarem as consequências do que ingerem não apenas para a própria saúde, mas para a saúde dos filhos e, potencialmente, até dos netos”, afirmou Staci Bilbo, do Departamento de Psicologia e Neurociência da instituição americana e participante do trabalho. “Hoje se estima que a boa alimentação da mãe afeta não apenas o filho como as próximas duas gerações”, diz a nutricionista funcional Patrícia Davidson, do Rio de Janeiro. Diante dessas evidências, os médicos começam a ressaltar a importância do emagrecimento para a mulher que deseja ter filhos e que está acima do peso. [...]

Se o acúmulo de peso é um problema para a criança, o inverso também é verdadeiro. Bebês nascidos com baixo peso têm, por exemplo, um maior risco de apresentar doenças cardíacas na idade adulta. [...] E o que as pesquisas estão demonstrando é que várias das causas para o nascimento de crianças com peso abaixo do normal estão relacionadas às condições da mãe. Fumo e depressão não tratada na gravidez, por exemplo, podem resultar em bebês magros demais. Outra razão é a adoção de uma dieta pobre em nutrientes importantes. Quando isso acontece, o feto deixa de receber ingredientes necessários à formação correta dos tecidos. A consequência é que acabam sendo priorizados o desenvolvimento de alguns órgãos, como o cérebro, em detrimento de outros.

Sabe-se também que a alimentação materna pode ter impacto na chance de a criança vir a desenvolver câncer. “Dependendo de sua qualidade, a nutrição da mãe pode produzir células geneticamente instáveis e propensas à doença”, disse à IstoÉ David Barker, da Universidade de Southampton, na Inglaterra. Um dos principais vilões, neste caso, são os embutidos. “Eles apresentam em sua composição uma substância carcinogênica que pode atuar sobre o feto”, explica a nutricionista Elaine de Pádua, de São Paulo. Porém, o risco para o bebê não está apenas na dieta equivocada. Se a gestante fumar, usar drogas ou tomar antibióticos inadequados, também deixará o feto mais vulnerável à enfermidade. “E há evidências de que a exposição da grávida a inseticidas aumenta as chances de tumores renais”, afirma a oncopediatra Viviane Sonaglio, do Hospital do Câncer de São Paulo.

Presente no cotidiano da maioria dos moradores das grandes cidades, a poluição é considerada um dos maiores inimigos da evolução saudável dos fetos no ambiente uterino. Diversos trabalhos feitos pela equipe do Children’s Environmental Health, da Universidade Colúmbia, nos EUA, mostram que, além de aumentar os riscos de câncer de modo geral, os poluentes emitidos pela queima de combustíveis por veículos, pesticidas ou pelo fumo passivo estão ligados a problemas de desenvolvimento do raciocínio dos pequenos. [...]

Outro fator comum ao estilo de vida atual e extremamente nocivo é o estresse. Há indicativos de que ele seja capaz de produzir sequelas físicas e mentais no ser em formação. Um exemplo é aumentar a predisposição do bebê à asma, como atestou um estudo americano feito com 557 famílias. Os cientistas analisaram o cordão umbilical dos filhos das mulheres submetidas a tensão intensa e contínua com o das crianças geradas por mães mais tranquilas. “Vimos diferenças importantes na produção de substâncias associadas ao risco de asma na vida adulta”, disse Rosalind Wright, uma das autoras da pesquisa. “Nos bebês gerados por mães estressadas, a chance de surgimento da doença era muito maior”, disse a estudiosa.

Tão forte quanto isso é o impacto do estresse da mãe na formação de toda a rede de neurônios do bebê. “As experiências emocionais da mulher durante a gestação ajudam a moldar a arquitetura do cérebro do bebê. Isso, a longo prazo, vai afetar a capacidade de aprendizagem, o comportamento e a saúde mental da criança”, considera a psicóloga Maria Tereza Maldonado, autora do livro Nós Estamos Grávidos.

Um dos assuntos que mais interessam aos pesquisadores nessa área de investigação é entender melhor como o estresse materno pode predispor o bebê a maior chance de vir a sofrer de depressão quando adulto – situação que começa a ser apontada em alguns trabalhos. [...]

Todas essas descobertas têm reforçado a importância do pré-natal como um período fundamental para garantir a saúde futura do bebê que está sendo gerado. De acordo com o ginecologista Nilson Melo, presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, o mínimo necessário são sete consultas, distribuídas do primeiro ao nono mês. “É o melhor investimento na dupla mamãe-bebê e na saúde das fu¬turas gerações”, diz o especialista.

(IstoÉ)

Nota: A pesquisa é muito importante, mas para quem conhece os conselhos de Ellen G. White, não há novidade alguma. Há mais de cem anos, ela escreveu: "É-nos ensinado nas Escrituras o cuidado com que a mãe deve vigiar seus hábitos de vida. Quando o Senhor quis levantar Sansão como libertador de Israel, 'o anjo do Senhor' (Jz 13:13) apareceu à mãe, dando-lhe instruções especiais com relação a seus hábitos, e também quanto ao cuidado da criança. 'Agora, pois, não bebas vinho nem bebida forte e não comas coisa imunda' (Jz 13:7). O efeito das influências pré-natais é olhado por muitos pais como coisa de somenos importância; o Céu, porém, não o considera assim. A mensagem enviada por um anjo de Deus, e duas vezes dada da maneira mais solene, mostra que isso merece nossa mais atenta consideração. Nas palavras dirigidas à mãe hebreia, Deus fala a todas as mães de todas as épocas. 'De tudo quanto Eu disse à mulher se guardará ela' (Jz 13:13). A felicidade da criança será afetada pelos hábitos da mãe. Seus apetites e paixões devem ser regidos por princípios. Existem coisas que lhe convém evitar, coisas a combater, se quer cumprir o desígnio de Deus a seu respeito ao dar-lhe um filho. Se antes do nascimento de seu filho, ela é condescendente consigo mesma, egoísta, impaciente e exigente, esses traços se refletirão na disposição da criança. Assim, muitas crianças têm recebido como herança quase invencíveis tendências para o mal" (A Ciência do Bom Viver, p. 372, 373).

Como se pode ver, não é apenas a saúde física das crianças que acaba afetada pelo estilo de vida dos pais – o caráter delas também o é. Mas, antes que alguém se sinta tentado a desanimar da luta contra as más tendências, é bom ler esta outra citação, também de Ellen White: "Sejam quais forem nossas tendências herdadas ou cultivadas para o erro, podemos vencer, mediante o poder que Ele nos está disposto a comunicar" (A Ciência do Bom Viver, p. 176).

Uma vida de íntima comunhão com Cristo lapida nosso caráter, refina nossos gostos e nos coloca no rumo que Deus planejou para nós.[MB]