Ouvi no curso de Jornalismo que o profissional de comunicação deve buscar a imparcialidade. Depois descobri que esse é um alvo praticamente inalcançável. Então aprendi que, pelo menos, o jornalista deve ser honesto e ético. Isso é o que se espera de quem trabalha na imprensa; mas não é o que se vê por aí. Num artigo pertinente publicado no Observatório da Imprensa, o historiador e escritor Guilherme Scalzilli mostra por que deixou de assinar a Folha de S. Paulo e tece críticas que bem poderiam ser aplicadas a vários outros meios de comunicação brasileiros. Leia alguns trechos a seguir:
“Decido cancelar minha assinatura da Folha de S. Paulo depois de quinze anos. Hesitei muito porque ela foi um baluarte jornalístico para minha geração. Ali acompanhei, adolescente, o movimento Diretas-Já. Colecionava encartes, discutia editoriais. Sonhava em fazer parte do quadro de colunistas do jornal. A Folha era bacana, moderna, quase obrigatória. [...]
“A reforma editorial trouxe verniz de imparcialidade à cobertura política. Mas o tratamento dispensado aos candidatos presidenciais de 2010 segue tendencioso, para dizer o mínimo. A Folha demonstraria mais respeito pela inteligência dos leitores se deixasse de lado a hipocrisia apartidária, assumindo suas evidentes preferências eleitorais. Assim não precisaria usar subterfúgios rasteiros para disfarçá-las.
Eu apurei que a divulgação de factoides sem o devido embasamento é o instrumento ideal para destruir reputações e favorecer projetos obscuros. Profissionais ouvidos no meio enxergam na indiscriminada ocultação de fontes um salvo-conduto para qualquer abuso difamatório. [...]
“Os jargões de release escancaram o pendor publicitário dos cadernos de variedades, que repetem pautas convenientes à indústria do entretenimento (basta ver as matérias sobre canais pagos e leis de incentivo). Salvo honrosas exceções, os juízos estéticos de seus repórteres são risíveis.
“Mas não existe decadência mais constrangedora que a dos espaços regulares de opinião. Abandonando qualquer ilusão de pluralidade, o jornal transformou-se em vitrine para um conservadorismo provinciano, medíocre e repetitivo. [...]
“A presunção messiânica e uma lamentável falta de autocrítica impedem os editores de perceber que certas mesquinharias político-eleitorais destroem aos poucos os maiores patrimônios do jornal. Os editoriais são bobinhos, histéricos, esclerosados. As ameaças veladas ao presidente da República (‘fique advertido’), em plena efervescência eleitoral, embutem um espírito autoritário e confrontador que só se viu nos piores momentos da história nacional. [...]
“Imagine receber, toda manhã, a visita de alguém que tenta iludi-lo, repetindo bobagens e distorções. Agora imagine que você paga, e caro, para ser tratado como idiota. Demora, mas chega um momento em que o prejuízo deixa de compensar.”
Nota: Assim como Scalzilli, passei por essa decepção com outros veículos como a Superinteressante (que assinei por cerca de dez anos, desde a primeira edição) e a Veja, cuja assinatura também cancelei faz um bom tempo. Pagar para ser ofendido? Eu não. Cansei de sugerir pautas para fazer contraponto à enxurrada darwinista que tomou conta das semanais e das “revistas científicas”. Cansei de ler entrevistas encomendadas e reportagens enviesadas pintando o darwinismo como ciência incontestável e o criacionismo como mera religião, coisa de ignorantes. Cansei de superficialidade e desonestidade. Aliás, um dos editores da Folha disse num evento: “Para criacionistas não damos espaço” (leia mais aqui). Se não há espaço para pluralidade e honestidade nesses meios, meu dinheiro é que eles não vão levar.[MB]