terça-feira, outubro 26, 2010

Vivendo a fé em um mundo incerto

O título desta postagem corresponde ao título do capítulo 11 do livro Take the Risk, do neurocirurgião de fama mundial Dr. Ben Carson. Nesse capítulo, Carson conta como integrou sua fé em Deus ao exercício da medicina e partilha algumas experiências pelas quais passou diante de auditórios e cientistas céticos e como foi possível testemunhar consistentemente para essas pessoas. Uma dessas experiências foi o debate em que estava presente o ultradarwinista Richard Dawkins. Carson descreve a cena, mas antes afirma que “algumas pessoas de fé pagam um preço terrivelmente alto por expressá-la. Por estar sempre diante do público, fazendo várias palestras e discursos, ouço alguns cientistas confessarem que partilham de minha fé cristã, mas não se sentem capazes de expressá-la abertamente. É arriscado demais ir contra as conveniências politicamente corretas da comunidade científica. Não posso deixar de desejar que mais pessoas criem coragem e se lembrem das palavras do apóstolo Paulo, registradas no oitavo capítulo do livro de Romanos: ‘Que diremos, pois, à vista destas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós?’ (verso 31).” Segue a descrição do debate:
“Esse é exatamente o tipo de coragem da qual precisei na ocasião em que a Academy of Achievement convidou-me para participar de outro painel de discussão sobre o mesmo tema [Fé e Ciência], em 2006. Baseado na reação positiva que obtive no ano anterior, não precisei pensar duas vezes. Não há dúvida de que o segundo painel foi ainda mais formidável do que o primeiro. Dividi o palco com mais três cientistas famosos: o companheiro de fé Dr. Francis Collins, diretor do Projeto Genoma Humano, um dos maiores empreendimentos de pesquisa da história da Ciência; o Dr. Daniel Dennett, que sintetizou pesquisas modernas no campo da Neurologia, da Linguística, da Ciência da Computação e da Inteligência Artificial a fim de construir um protótipo para explicar a sua teoria quanto à base neurológica evolucionária da consciência e da religião como um ‘fenômeno natural’; e o Dr. Richard Dawkins, que recebeu, por seu empenho em defender a teoria da evolução ao longo de sua carreira, o apelido de ‘Rottweiler de Darwin’. Dawkins expressou publicamente sua censura à fé religiosa e ao papel da religião na História no documentário televisivo ‘A raiz de todo mal’ e lançou recentemente um livro intitulado Deus, um Delírio. Sabia muito bem o que enfrentaria.

“A discussão provou ser divertida em todos os aspectos, assim como no ano anterior. Sempre que um dos cientistas presentes se referia à evolução como um fato e apontava algumas semelhanças entre espécies diferentes como uma evidência, parecia um pouco chocado ao me ouvir dizer que não acreditava na evolução e que cria ser possível que dois indivíduos imparciais olhassem para a mesma ‘evidência’ e chegassem a conclusões diferentes. Por exemplo, pedi para que imaginassem que a vida neste planeta tivesse chegado ao fim e que já se tivessem passado milhões de anos antes que exploradores de outra galáxia visitassem a Terra. Em meio à exploração, escavaram e encontram um Fusca e um Rolls-Royce. Os alienígenas, a princípio, notaram as diferenças, mas depois perceberam que os dois automóveis possuíam um motor e uma transmissão que serviam praticamente para a mesma função. Assim, será que chegariam à conclusão lógica de que o espécime mais complexo surgiu a partir do modelo mais simples? Ou seria mais lógico deduzir que o mesmo criador pensante do primeiro automóvel viu que o projeto básico para um sistema de locomoção – um motor e uma transmissão – poderia ser aperfeiçoado até chegar a uma versão mais sofisticada como o segundo automóvel? Às vezes, as conclusões que tiramos dependem completamente das hipóteses que tínhamos no início.

“Lembrei aos participantes do painel e aos ouvintes que passo muito tempo e gasto muita energia, estudando e lidando com o cérebro humano e o sistema nervoso. Quanto mais aprendo, mais impressionado fico com sua complexidade. Lido também com crianças e tenho motivos para levar em consideração o mistério do potencial humano. Cheguei à conclusão de que há um desenvolvimento adicional, uma dimensão extra, uma percepção mais profunda que distingue os seres humanos de todas as outras criaturas. Chamo isso de espiritualidade.

“Durante a discussão, admiti ser impossível provar cientificamente a existência de Deus. Mas concordei com Francis Collins, que lembrou os outros dois participantes de que é impossível provar o contrário. ‘Como’, Collins perguntou, ‘podem afirmar com tanta certeza que não existe Deus? Isso soa como a falácia do mais baixo nível. O agnosticismo é uma abordagem intelectual mais honesta. Já o ateísmo extremo, que afirma que ‘Deus não existe, e ponto final’, contradiz o debate lógico… e realmente deveria ser considerado por si só como uma forma de fé cega.’

“Daniel Dennett retrucou dizendo: ‘Não conheço ninguém que declare seguir o que você chamou de ateísmo extremo.’ Fiquei tão surpreso ao ouvir a resposta de Dennett quanto Francis Collins, que perguntou com incredulidade: ‘Não conhece Deus, um Delírio?’, observou, referindo-se ao título do livro escrito por Richard Dawkins.

“Muitas pessoas na plateia riram. Então eu disse, olhando para Collins: ‘Acho que acabamos de converter uma pessoa!’ A gargalhada da plateia foi tão alta que creio que ninguém ouviu Dawkins gritar: ‘Isso é ridículo!’

“Dawkins começou a argumentar que pelo nosso raciocínio supunha que até mesmo o ‘pastafarianismo fosse possível’. A essa altura, o Dr. Collins e eu respondemos, rindo ainda, que nesse caso nos considerávamos agnósticos. Fiz questão de enfatizar: ‘Por mais sofisticados que sejamos, munidos com nossos aparelhos de tomografia por ressonância magnética e tomografia por emissão de pósitrons, ainda não fomos capazes de descobrir a origem do pensamento. Não sabemos a origem dos sentimentos. Podemos falar sobre reações eletrofisiológicas, mas não podemos levar esse assunto ao próximo nível; não podemos analisar isso nem mesmo através de um aparelho ultramoderno. Penso que isso é uma das coisas que nos torna diferentes.

“Embora eu acredite que a complexidade de nossos pensamentos e sentimentos são evidências de um Deus Criador, admiti que não era capaz de provar minha crença. Mas, de igual modo, os outros membros do painel não podiam provar sua teoria também. Tudo se resume na questão do tamanho de nossa fé e onde escolhemos depositá-la. Afirmei: ‘Simplesmente não tenho fé suficiente para crer que algo tão complexo como a habilidade humana de raciocinar, pensar, planejar e ter um senso moral do que é certo ou errado tenha surgido por força do acaso. [...]

“Foram concedidos 15 segundos a todos os membros do painel para ‘resumir’ a discussão sobre fé e ciência. Acho que todos riram diante do absurdo da exigência.

Usei meus 15 segundos para desafiar a plateia: ‘Façam as seguintes perguntas a si mesmos: Se há um Deus, qual é o risco de não crer versus o risco de crer nEle? Se não há um Deus, qual é o risco de não crer versus o risco de crer nEle? Façam essas perguntas hoje à noite antes de dormir.’ [...]

“Faça a análise. Se há um Deus e você acredita nEle, você sabe que o melhor ainda está por vir. Se há um Deus e você rejeita completamente a ideia e segue a sua vida de maneira contrária, o risco eterno é incalculável. Se não há um Deus e você crê nEle, o pior que pode acontecer é passar a sua vida com alguns níveis elevados de endorfina ao pensar que acredita numa coisa boa. Se não há um Deus e você não acredita nEle, da mesma forma não haverá nenhuma consequência séria.

“Creio – assim como Pascal – que quando paramos para pensar nisso dessa maneira, faz muito mais sentido colocar a fé em Deus do que rejeitá-Lo, simplesmente porque há muito mais a perder se você estiver errado e Ele realmente existir do que se você estiver errado e Ele não existir.”

A propósito, quer uma boa notícia? O livro Take the Risk será lançado em breve pela Casa Publicadora Brasileira, com o título Risco Calculado – Aprenda a decidir com ousadia. Aguarde!