quarta-feira, maio 02, 2012

O criacionismo o ajudou a reencontrar a fé

Erick (no centro) e Akio e sua namorada (à direita)
Muitos cristãos “de berço” têm dificuldade para explicar o momento de sua conversão. Muitas vezes confundimos convencimento com conversão genuína e isso também foi uma realidade para mim. Mas Deus permite momentos de ruptura, branco no preto e preto no branco, para que as coisas se definam. Eu “nasci na igreja”. Meus pais foram batizados quando eu tinha apenas um mês. Agradeço muito a educação que recebi, mas hoje em dia, quando olho para trás, vejo que muita coisa poderia ter sido diferente, se houvesse conhecimento a respeito. Sempre tive passe-livre pra todo tipo de entretenimento. Quando criança, às vezes, até ficava em casa no sábado de manhã para assistir meus desenhos preferidos. Lição da Escola Sabatina? Fazia tudo na sexta à tarde para não ter que mentir quando meu pai me perguntasse, na sexta à noite.

O resultado é claro: cresci vivendo um cristianismo barato, de autoconvencimento, superficialidade ideológica, comodismo espiritual total. Uma vida cinza, branco e preto misturado, usando a máscara de filho do primeiro-ancião, boa parte do tempo.

Sempre fui muito ligado aos meus primos e conforme fui crescendo acompanhei os gostos e atividades deles. Passei a gostar de heavy metal, sem nem mesmo saber o que era – afinal, divertido era ficar pulando na sala, com aquele som no último volume! Fiquei viciado em videogames (na época, o Super Nintendo e depois o Playstation), seguindo a paixão louca de meu primo pelos RPGs (louco por Final Fantasy!). Alguns anos depois, foram os jogos de cartas (Magic: the gathering) e os desenhos japoneses (Hellsing, Naruto, Full Metal Alchemist, entre outros). Nessa época, eu estudava em uma escola adventista da reforma (Isaac Newton), o que me servia como paliativo, pois não tinha contato com adventistas; a influência cristã propriamente dita era muito discreta, e nada me impedia de continuar vivendo do jeito que vivia.

Mas, aos 14 anos, eu fiz a prova do vestibulinho e entrei na Escola Técnica do Estado de São Paulo. Um universo totalmente diferente se abriu diante dos meus olhos e eu estava totalmente desprotegido. Primeiro efeito? Fui “engolido”. Eu, adventista? Continuei não comendo porco e ,“guardando” o sábado por causa da minha família. De resto...

Mas os questionamentos começaram a vir. Professores ateus, ideias marxistas, conceitos evolucionistas. O mundo que eu conhecia sendo jogado na terra, como um castelo de cartas. Eu? No chão. Por mais que não tivesse comprometimento com o que eu acreditava, ainda assim era o que eu acreditava. Parecia que eu havia entrado numa guerra sem saber e sem fazer ideia de quando e por que havia começado – “o cristão é o exemplo mesmo sem o querer”. Podemos até não ser “exemplos”, mas somos olhados, ah, como somos! Eu vivi isso. E a profundidade de minha imersão no mundo aumentou, mas, ao mesmo tempo, eu também gostava de fazer as coisas da igreja e era muito comovido pela mensagem de um Deus que Se entregou para me salvar – eu estava convencido daquilo que ouvia na igreja, mas não convertido, e isso me causava uma intensa dissonância cognitiva, por conta de uma vida dupla.

(Detalhe: meus pais nunca fizeram ideia do que estava acontecendo comigo, só ficaram sabendo quando eu contei, anos mais tarde. Sempre admirei muito meu pai, mas a amizade nunca foi o forte dele. Começamos a conversar mais como amigos somente depois que eu conheci Jesus, de fato, pois eu gostava de compartilhar meus insights com ele. Bem, pais, fica a dica: teria sido muito mais fácil se eu tivesse um “amigo” [e não uma figura paterna de respeito e temor, somente] para me fortalecer e me orientar. )

O primeiro ano do ensino médio estava passando, e minha cabeça parecia que ia explodir. Eu não aguentava mais as dúvidas que eu carregava, já que não podia contar a ninguém, sem que eu “revelasse” minha situação; sentia que minha fé era “antiquada”, sem fundamentos, totalmente alienada. Eu me sentia um idiota por ter vivido tanto tempo uma coisa irrelevante - era isso que eu pensava.

E meu estilo de vida continuava o mesmo: os jogos, as músicas, a dissonância, o medo de me perder acompanhado de um sentimento de impotência para mudar, e todo o resto.

Mas eu, em minha sinceridade pseudoinocente e meus momentos de proximidade de Deus (graças à minha família), pedia a Deus que me desse sentido à vida e relevância ao que eu cria. E hoje eu creio que cada lágrima que derrubei e cada palavra que proferi foram ouvidas e guardadas no coração do Poderoso Comandante.

Em um determinado ponto daquele ano (2006), houve uma enxurrada de acontecimentos. A menina de quem eu gostava (paixão adolescente e maior fonte das minhas influências) comentou que eu era um “crente diferente”, no sentido de ser mais “liberal”. Aquilo me fez pensar e acabei passando por um terrível mal-estar espiritual por causa aquelas palavras. Ah, sim, não posso esquecer de que logo em seguida eu também levei um “fora” dela, o que contribuiu para o meu vazio e consequente questionamento a respeito de algumas coisas na minha vida. Além disso, meu primo, que guardava minhas cartas de Magic, perdeu todas elas, esquecendo a mala num ônibus, desanimando-me muito a continuar jogando, e eu também estava estudando inglês e piano, não sobrando tempo para me afundar nos jogos de videogame e MMORPGS na internet.

E o que foi crucial: descobri, “por acaso”, o blog criacinismo.com.br, enquanto via algumas coisas na internet. Em um forte momento de dissonância, as ideias, os artigos e tudo o que eu lia eram como um prato cheio para mim. Como assim, pensava eu, tudo isso, relacionado ao que eu acredito? Eu não podia nem imaginar como aqueles artigos simplesmente transformariam drasticamente meu modo de pensar, meus gostos por leitura, minhas ideias – uma cosmovisão! Inacreditável! Palavras que batiam em meu rosto como uma luva de pelica recheada de pedras e eu aceitava o desafio. Considero esse o marco do início do que eu chamo de minha conversão. Passei a ver relevância onde eu não enxergava nada. Escritos que iam totalmente contra o que eu era, a forma como vivia, faziam-me sentir condenado, mas, ao mesmo tempo, com a solução na mão. Fui sacudido. Dúvidas respondidas aumentavam minha sede, cortavam as razões que eu tinha para continuar no muro. Minha vontade de aprender aumentava, assim como a vontade de pular dali...

Passei a viver altos e baixos, mas com uma motivação maior, com vontade de conhecer a Cristo de verdade. Passei a gostar de ler quase que da noite para o dia. Comecei a conhecer quem era aquele que chamavam de Jesus, aquele a quem eu achava que enganava, dizendo que O conhecia por tanto tempo.

Gradualmente, as coisas passaram a fazer sentido e eu sentia vontade de ter algum conteúdo para defender o meu velho e novo Mestre. Foi quando vi a indicação, no blog, do livro Não Tenho Fé Suficiente Para Ser Ateu. O título me encheu os olhos. A descrição, então? Impossível, pensava eu. Juntei minha mesada do mês e comprei-o sem hesitar. Mais um prato cheio, que devorei como um esfomeado que encontra pão. Era como se agora eu estivesse armado naquela guerra, sendo treinado, com vontade de permanecer de pé, ainda que todas as partes do meu corpo fossem penetradas por balas. Concomitantemente, me interessei por outros livros, como Mensagens aos Jovens e O Grande Conflito. Lembro-me das palavras de Edmundo, na obra de C. S. Lewis em As Crônicas de Nárnia, que diziam algo assim: “Precisamos ficar e lutar, eu vi o que a feiticeira (o diabo) pode fazer e eu ajudei a fazer! E não podemos deixar os outros sofrerem mais por isso.” Eu queria lutar essa luta. E sem perceber, sem me dar conta do que havia acontecido, eu queria cada vez mais andar ao lado de Cristo. Passei então a orar por uma companhia, um amigo que compartilhasse aquele estandarte comigo.

Comecei a discutir minhas ideias com meu melhor amigo de escola, o Rafael Akio. Conversávamos sobre mensagens subliminares, criacionismo, a existência da lei moral, relativismo, expliquei para ele a teoria do papa-léguas, entre outras coisas. Entrei no blog Criacionismo e mostrei para ele o que eu encontrava lá. Pouco a pouco, o agnosticismo dele era esmagado. E me lembro como se fosse hoje: um dia, sentado na praça da escola, comecei a falar sobre Jesus, sobre profecias, os últimos acontecimentos antes da volta de Jesus, o sábado e diversas outras coisas. Os olhos dele brilhavam como os de alguém que descobre o pote de ouro no fim do arco-íris.

Convidei-o para ir à igreja comigo. Ele aceitou. As visitas começaram a se tornar frequentes, meus pais o recebiam muito bem, ele se sentia em família conosco. E a essa altura eu já era outra pessoa. Apesar de continuar fazendo muitas coisas que hoje eu não faria, parecia que eu estava começando do começo, de fato, e abraçando a luz conforme eu a recebia. Jesus estava comigo.

Algum tempo passou e o Akio (como eu o chamo) continuou indo à igreja, acompanhando o blog e trocando ideias comigo. Até o dia em que ele foi aprovado na segunda fase das olimpíadas de matemática, que seria num sábado. E ele resolveu ir.

“Eu me senti péssimo lá; mal consegui fazer a prova”, esse foi o comentário dele, quando nos vimos. E ali, transgredindo a lei de Deus, ele se sentiu mal. Era inevitável, ele já amava Jesus. E então, assim como eu, em um momento de crise, ele se decidiu e decidiu fazer o que deveria. Ele foi batizado e aqueles últimos dois anos do ensino médio foram uma época de grandes bênçãos espirituais para nós; muitos fundamentos lançados e um caminho a seguir traçado.

Continuamos amigos, sempre compartilhando ideias, nossos gostos por literatura (autores como Lewis, Chesterton, entre diversos outros que só conhecemos por conta das pérolas postadas no blog), atividades e um estilo de vida que se renova a cada dia resumido na vontade de tornar essa mensagem relevante para mais pessoas, que talvez estejam sofrendo à borda do precipício da vida, como eu sofri. Mas para todas elas resta a esperança que preenche meu coração: ainda que todas as coisas nesta vida sejam somente fumaça, existe algo sólido, relevante, atual e verdadeiro que pode preencher a vida, hoje: Jesus Cristo.

(Erick Costa, estudante do último ano de Marketing na USP-SP)