segunda-feira, maio 21, 2012

Vogue bane modelos anoréxicas

Zegna, Prada, Yves Saint Laurent, Chanel, Jimmy Choo, Versace e Hermès. O que todas essas grifes têm em comum? Além do preço para poucos, todas terão de se enquadrar nas novas normas para modelos anunciadas por 19 edições internacionais da revista Vogue. O pacto entre os editores chefe das versões internacionais de banir as modelos magérrimas e anoréxicas (e jovens demais) foi promovido no editorial da edição de junho da Vogue britânica. “Como uma das vozes mais poderosas da indústria da moda, Vogue tem a oportunidade única de se engajar em temas relevantes onde pensamos que podemos fazer a diferença”, lê-se no editorial da revista desse mês (foto desse artigo).

A “Iniciativa da Saúde”, como está sendo chamada a série de medidas da Vogue, compromete-se a trabalhar com modelos que, na visão da revista, sejam saudáveis e ajudem a promover uma imagem saudável do corpo.

Vogue acredita que boa saúde é beleza”, afirma o presidente da Condé Nast International – empresa que gerencia várias revistas de renome, como a The New Yorker e a Wired –, Jonathan Newhouse. “Os editores da revista querem que ela reflita os comprometimentos com a saúde das modelos expostas em suas páginas e com o bem-estar de seus leitores.”

As edições comprometidas com a mudança são: Alemanha, Austrália, Brasil, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Holanda, Itália, Índia, Japão, México, Portugal, Rússia, Reino Unido, Turquia e Taiwan.

A iniciativa das 19 revistas Vogue consiste em seis pontos fundamentais. Confira:

Não trabalharão com modelos abaixo de 16 anos ou que aparentem ter uma desordem alimentar.

Pedirão para os agentes ficarem cientes desse fato e irão solicitar aos diretores de elenco que chequem as identidades das modelos em shows, campanhas ou seções de fotografia.

Ajudarão a estruturar programas de aconselhamento em que modelos maduras possam dar conselhos para garotas mais jovens.

Encorajarão produtores a criar condições de trabalho mais saudáveis nos bastidores, o que inclui respeito pela privacidade e opções saudáveis de comida.

Encorajarão designers a considerar as consequências dos tamanhos irrealistas (extremamente pequenos) de suas amostras de roupas, fato que limita o número de modelos que podem fazer campanhas para suas marcas e que encoraja o uso de modelos extremamente magras.

Serão embaixadores para uma mensagem de saúde.

A decisão da revista Vogue foi bem recebida pela indústria da moda e por seus leitores, mas vale lembrar que essa não é a primeira vez que essa indústria teceu esforços para combater desordens alimentares entre modelos. Em 2007, o Conselho Britânico de Moda recomendou que as modelos fossem escolhidas somente mediante certificado médico que comprovasse que elas não eram anoréxicas.

No mesmo ano, durante a Semana de Moda de Nova York, nos Estados Unidos, o Conselho Norte-Americano de Designers de Moda adotou medidas que restringiam a idade mínima das modelos e sugeriam mudanças no ambiente de trabalho.

Mas todas essas medidas abrem margem para discussão, pois, segundo especialistas, como a médica Cynthia Bulik, da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, não se pode dizer se alguém sofre de uma desordem alimentar somente a olho nu. “A frase ‘que aparente ter uma desordem alimentar’ não é clara o suficiente”, explica Bulik. “Como eles determinarão isso? Quem dará a palavra final? Quem na Vogue é qualificado para fazer esse diagnóstico?”, indaga a médica.

De acordo com a cientista da Carolina do Norte, uma modelo pode ter bulimia e ser completamente normal, inclusive tendo um peso regular.

E ainda existe outro ponto importante para ser levado em consideração. O banimento das modelos magras demais pode ser ilegal. Empregadores, como agências de modelos e revistas de moda, podem ser processados por violar leis federais – dependendo do país –, por discriminação contra pessoas doentes (anoréxicas e bulímicas).

Por isso, apesar da decisão da Vogue ter sido bem intencionada, ainda vai dar o que falar.


Nota: A iniciativa é válida, sem dúvida. Mas essas revistas também poderiam se comprometer com a saúde moral das pessoas, ou seja, promover um estilo de vida não apenas saudável, mas decente, discreto e de bom gosto. Mas aí creio que já é pedir demais...[MB]