Zegna, Prada, Yves Saint
Laurent, Chanel, Jimmy Choo, Versace e Hermès. O que todas
essas grifes têm em comum? Além do preço para poucos, todas terão de se
enquadrar nas novas normas para modelos anunciadas por 19 edições
internacionais da revista Vogue. O
pacto entre os editores chefe das versões internacionais de banir as modelos
magérrimas e anoréxicas (e jovens demais) foi promovido no editorial da edição
de junho da Vogue britânica. “Como
uma das vozes mais poderosas da indústria da moda, Vogue tem a oportunidade única de se engajar em temas relevantes
onde pensamos que podemos fazer a diferença”, lê-se no editorial da revista
desse mês (foto desse artigo).
A
“Iniciativa da Saúde”, como está sendo chamada a série de medidas da Vogue, compromete-se a trabalhar com
modelos que, na visão da revista, sejam saudáveis e ajudem a promover uma
imagem saudável do corpo.
“Vogue acredita que boa saúde é beleza”,
afirma o presidente da Condé Nast International – empresa que gerencia várias
revistas de renome, como a The New Yorker
e a Wired –, Jonathan Newhouse. “Os
editores da revista querem que ela reflita os comprometimentos com a saúde das
modelos expostas em suas páginas e com o bem-estar de seus leitores.”
As
edições comprometidas com a mudança são: Alemanha, Austrália, Brasil, China,
Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Holanda, Itália, Índia,
Japão, México, Portugal, Rússia, Reino Unido, Turquia e Taiwan.
A
iniciativa das 19 revistas Vogue
consiste em seis pontos fundamentais. Confira:
Não
trabalharão com modelos abaixo de 16 anos ou que aparentem ter uma desordem
alimentar.
Pedirão
para os agentes ficarem cientes desse fato e irão solicitar aos diretores de
elenco que chequem as identidades das modelos em shows, campanhas ou seções de fotografia.
Ajudarão
a estruturar programas de aconselhamento em que modelos maduras possam dar
conselhos para garotas mais jovens.
Encorajarão
produtores a criar condições de trabalho mais saudáveis nos bastidores, o que
inclui respeito pela privacidade e opções saudáveis de comida.
Encorajarão
designers a considerar as consequências
dos tamanhos irrealistas (extremamente pequenos) de suas amostras de roupas,
fato que limita o número de modelos que podem fazer campanhas para suas marcas
e que encoraja o uso de modelos extremamente magras.
Serão
embaixadores para uma mensagem de saúde.
A
decisão da revista Vogue foi bem
recebida pela indústria da moda e por seus leitores, mas vale lembrar que essa
não é a primeira vez que essa indústria teceu esforços para combater desordens
alimentares entre modelos. Em 2007, o Conselho Britânico de Moda recomendou que
as modelos fossem escolhidas somente mediante certificado médico que
comprovasse que elas não eram anoréxicas.
No
mesmo ano, durante a Semana de Moda de Nova York, nos Estados Unidos, o
Conselho Norte-Americano de Designers de Moda adotou medidas que restringiam a
idade mínima das modelos e sugeriam mudanças no ambiente de trabalho.
Mas
todas essas medidas abrem margem para discussão, pois, segundo especialistas,
como a médica Cynthia Bulik, da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, não
se pode dizer se alguém sofre de uma desordem alimentar somente a olho nu. “A
frase ‘que aparente ter uma desordem alimentar’ não é clara o suficiente”,
explica Bulik. “Como eles determinarão isso? Quem dará a palavra final? Quem na
Vogue é qualificado para fazer esse
diagnóstico?”, indaga a médica.
De
acordo com a cientista da Carolina do Norte, uma modelo pode ter bulimia e ser
completamente normal, inclusive tendo um peso regular.
E
ainda existe outro ponto importante para ser levado em consideração. O
banimento das modelos magras demais pode ser ilegal. Empregadores, como
agências de modelos e revistas de moda, podem ser processados por violar leis
federais – dependendo do país –, por discriminação contra pessoas doentes
(anoréxicas e bulímicas).
Por
isso, apesar da decisão da Vogue ter
sido bem intencionada, ainda vai dar o que falar.
Nota:
A iniciativa é válida, sem dúvida. Mas essas revistas também poderiam se
comprometer com a saúde moral das pessoas, ou seja, promover um estilo de vida
não apenas saudável, mas decente, discreto e de bom gosto. Mas aí creio que já
é pedir demais...[MB]