Primeiramente
veio a notícia de que a Academia Brasileira de Ciências (ABC) publicou, em
março, uma carta repudiando a divulgação de conceitos criacionistas. Agora, um grupo de cientistas está propondo à Universidade
de São Paulo (USP) a criação de um Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP) sobre
Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução Biológica, que ajudaria a
preservar a biologia de questionamentos que, de acordo com eles, não são feitos
com base em argumentos científicos, e sim pressupostos religiosos [clique aqui]. A
discussão não é novidade. Em 2005, a Sociedade Brasileira de Genética já havia
se manifestado formalmente contra o criacionismo. De lá para cá, o assunto
voltou à tona algumas vezes, de modo que há dois meses militantes da genética
no Brasil, membros da ABC, decidiram expor oficialmente o sentimento de afronta
pela “divulgação de conceitos sem fundamentação científica por pesquisadores de
reconhecido saber em outras áreas da Ciência”.
O
pesquisador de saber reconhecido em questão é Marcos Eberlin, bioquímico da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e
membro da ABC. Com um currículo respeitável em sua área, a espectrometria da
massa, Eberlin é notório defensor da Teoria do Design Inteligente (TDI). “Quando venho para a Unicamp deixo minha
filosofia em casa. Não somos o bispo Macedo nem o [ex-presidente dos EUA,
George W.] Bush”, afirma Eberlin. Ele dissocia o chamado DI do criacionismo,
afirmando que o primeiro não parte de nenhum pressuposto ideológico ou
filosófico, enquanto o segundo parte da ideia de que existe um deus e que a
ciência deve buscar evidências dele.
“Acharam
esse nome bonito de design
inteligente, mas no fundo é o criacionismo e são pessoas com criticas que procuram
fazer contraposição a Darwin. Se apresentam como ciência para tenta discutir”,
opina o biólogo e biologista molecular Samuel Goldenberg, um dos articuladores
da carta da ABC. [O esforço para associar DI a criacionismo tem como objetivo
impedir a discussão. Se fazem parecer que DI é religião, acabam com o debate
científico e blindam o darwinismo. Lamentável! – MB]
De
acordo com Goldenberg, a possibilidade de debate científico nem é considerada. “Não
estamos nem contrapondo nenhuma ideia contra criacionismo, não vamos entrar
nesse tipo de discussão, porque é estéril. Nossa preocupação foi o envolvimento
da ABC, porque ela tem um peso muito grande. São acadêmicos de outra área, é
como se eu dissesse agora que a Teoria da Relatividade está errada, sem entender
nada de física”, argumenta. [É bom lembrar que Darwin não era biólogo, era
teólogo...]
“Ele
fala da Academia no site dele e parece indicar, embora não fique explícito, que
a ABC estaria apoiando o criacionismo”, reforça o geneticista Francisco Salzano,
pesquisador e professor da UFRG e também acadêmico. “Não há intenção de entrar
em polêmica com ele porque isso poderia até ser contraproducente, mas achamos
que não se poderia deixar em branco. Essa foi a razão de fazer uma manifestação
bem geral sobre o assunto”, esclarece.
“Quando
defendo a TDI, meus argumentos são científicos, acadêmicos e racionais, não
misturam teologia nem filosofia. O grande problema é que a questão tem
implicações teológicas e filosóficas fortíssimas”, pondera Eberlin,
acrescentando que os cientistas têm “uma obrigação, que não é nem opção, de
questionar e debater teorias. E o evolucionismo é uma delas”. Em suas palestras
(uma delas já teve mais de 100 mil downloads
na internet), o químico, que é evangélico e afirma conhecer “um pouco” das
ciências biológicas, assegura que, do ponto de vista molecular, seria
impossível evoluir como no darwinismo.
Para
o design inteligente, a vida não se
desenvolveu no planeta de forma natural, mas teria sido projetada por uma “mente”
criadora, que poderia ou não ser o deus criacionista. A grande maioria dos
cientistas acha que o nome design
inteligente foi apenas uma manobra conceitual para continuar pregando o mesmo
[manobra é dizer que DI é criacionismo e, por isso, indigno de dividir espaço
de debate com o darwinismo]. A ideia do DI abarca diversos pensamentos
(inclusive com defensores do darwinismo) e participantes de diferentes
religiões (“e até ateus”, assegura Eberlin). “Minha
única regra é seguir o que os dados me dizem”, pontua.
Goldenberg
conta que a preocupação também gira em torno do fato de que um país como o
Brasil, “que deveria ser laico, onde existe uma profusão de religiões e seitas
e onde existe uma massa importante com pouca cultura”, seria propício para que
acontecesse algo parecido ao que se propôs nos Estados Unidos, “onde a cada
aula de genética dada seria necessário dar uma de criacionismo também” [mais
uma vez confundem laicismo com ateísmo/naturalismo filosófico. O Estado laico
pressupõe a saudável separação entre igreja e Estado e a mais saudável ainda
garantia de liberdade de expressão]. “Não adianta, não são coisas que se podem
contrapor, um é seita, religião, e o outro é ciência”, sentencia. [Numa só
palavra: absurdo!]
O
químico reclama do “rótulo” de religião e de ser chamado de “obscurantista e
medieval” e acusa os cientistas de usarem “a força de um paradigma e o establishment acadêmico”. “Darwin hoje
jamais defenderia sua teoria, tenho certeza absoluta disso”, assegura Eberlin,
em uma declaração que arrepiaria geneticistas. [Sim, porque Darwin era menos
darwinistas do que seus defensores ultradarwinistas de hoje. Em seu tempo, o
naturalista não contava com os potentes microscópios de hoje, nem com os
conhecimentos em bioquímica e biologia molecular que nos fizeram abrir a
caixa-preta chamada célula. – MB]
(Clarissa Vasconcellos,
Jornal da Ciência)
Nota: A
atitude desses geneticistas e biólogos é bem diferente da do biólogo
evolucionista James Shapiro, entre outros
de mente aberta.[MB]