quinta-feira, maio 03, 2012

Uma viagem ao paraíso evolucionista

O voo da empresa aérea Taca, número 0138, nos deixou – meu pai e eu – na cidade de Guayaquil, Equador. Uma cidade enorme e movimentada, facilmente comparada a qualquer capital do Brasil, mas em nada comparada com a ilha a 1.255 km de distância, pertencente ao mesmo país e que era nosso destino. Passamos uma noite em Guayaquil e nos preparamos, na manhã seguinte, para embarcar no avião que nos deixaria na maior ilha das que compõem as Ilhas Galápagos: Isabela.

A princípio, esse passeio era para ser exatamente isto: um passeio. Meu pai e eu escolhemos esse lugar por ter sido fortemente recomendado pela minha prima que havia passado um tempo lá. Porém, ao planejar a viagem, muitos me olharam “torto”, e aqueles com um pouco mais de coragem para se manifestar de forma audível perguntaram: “O que você vai fazer lá? Não foi lá que Darwin elaborou a teoria da evolução?” Talvez alguns estivessem querendo dizer que a ilha exala algum tipo de “poção mágica” capaz de fazer com que todos os seus visitantes se convertam ao evolucionismo. Não sei, é apenas um palpite.

Por isso, antes mesmo de ir, a viagem se transformou para mim em mais do que um passeio; tornou-se uma “missão” – a missão de descobrir o que aqueles pequenos pedaços de terra poderiam fazer com minha confiança no criacionismo.

O Beagle, barco em que Charles Darwin fez sua excursão de cinco anos pelo mundo, chegou no dia 15 de setembro de 1835 à Ilha de San Cristóbal, no território dos Galápagos. Foi lá que ele viu a corroboração para sua teoria. Apesar de as ilhas estarem muito próximas umas das outras, há diferenças significativas entre muitas das espécies ali encontradas.

Minha primeira impressão das ilhas foi um pouco diferente daquela que Darwin teve 177 anos antes. De acordo com o diário de bordo dele, “nada poderia ser menos convidativo do que esse primeiro relance”. De acordo com ele, foi o solo todo vulcânico que o desmotivou, talvez porque ele não fosse tão empolgado com águas cristalinas como eu (o que consigo compreender levemente, imaginando o que se passa com uma pessoa que fica cinco anos em um barco!). A vista do alto foi perfeita, como se a chegada fosse no Caribe, só que melhor.

Na chegada, que programa melhor do que visitar um museu? Sobre o quê? A evolução, é claro. Não levo a mal, afinal, se você vai ao “paraíso evolutivo”, esteja preparado pra ouvir MUITO as palavras Darwin e evolução. Tudo aquilo me mantinha com a mente aberta para aprender e comparar as informações que eu estava ouvindo e vendo com o que havia aprendido anteriormente. O pior tipo de criacionista, em minha opinião, é aquele que rejeita qualquer comentário ou ideia que não sejam aqueles que ele já pré-concebeu, e procura mostrar para o mundo inteiro que os demais estão errados. Talvez por isso sejamos tão rejeitados, academicamente falando.

A partir do momento em que descemos do avião, percebi que aquele local tinha algo para me oferecer que eu jamais havia visto em outro lugar. Na calçada: leões marinhos (pra TUDO que é lado). Nas pedras: iguanas e pinguins (sim, pinguins no Equador!). No mar: baleias, arraias, tartarugas e (sim, também) leões marinhos. No ar: as aves mais lindas que você possa imaginar. Na terra: tartarugas gigantes.

 Sinceramente, me senti uma criança numa loja de brinquedos. Parecia que o pescoço não era flexível o bastante para mexer a cabeça em todas as direções, e a memória não era boa o bastante para gravar todas as imagens mentais que eu tentava fazer.

Nas três ilhas que visitamos, tínhamos um naturalista e um guia explicando cada detalhe daquela utopia que estávamos tendo o privilégio de viver. Fiz amizade com os três naturalistas e o guia se tornou um grande parceiro. Então, depois de alguns dias, me senti na liberdade de começar uma conversa que eu sabia que os deixaria extremamente desconfortáveis. A realidade é que não são apenas biólogos fanaticamente evolucionistas, com um binóculo na mão direita e o A Origem das Espécies na mão esquerda, que visitam as Ilhas Galápagos. A maioria dos turistas é... “gente normal”. E provavelmente tão religiosa e criacionista quanto eu. Então, logo de cara, os guias procuram se colocar em uma posição neutra e tentam se esquivar de conversas que pendam para qualquer um dos lados; e, para falar a verdade, saí sem saber qual era a verdadeira posição de qualquer um deles.

Enquanto estávamos numa trilha pelo vulcão de Isabela e eu estava estrategicamente longe do meu pai (evolucionista de carteirinha assinada), perguntei ao naturalista o porquê de eles não mencionarem a diferença entre microevolução e macroevolução. Recebi de volta uma expressão muito diferente da esperada. Apesar de os olhos estarem cobertos pelos óculos escuros (um pouco exagerados para seu rosto pequeno), não dava para negar que a expressão do guia foi de total confusão. “O que é macro e microevolução?”, foi a pergunta dele. Dali em diante, toda vez que parávamos para que algo fosse explicado com o pano de fundo da evolução, uma voz irritante saía do meio do grupo: “Isso é microevolução!”, e eu conseguia ver os olhos do meu pai rolando de vergonha para um lado e para o outro.

Não sou bióloga, naturalista, geóloga, nem faço parte de qualquer tipo área que me dê credibilidade no interminável debate entre criacionismo e evolucionismo, mas algumas coisas não precisam ser compreendidas com um diploma, e sim com a simples lógica. O fato de uma espécie demonstrar significativas diferenças de uma ilha para outra prova que somos seres amplamente adaptáveis (da mesma forma que eu, tão clara quanto a protagonista da Branca de Neve e os Sete Anões, não consigo, nem numa escala muito pequena, ficar levemente bronzeada na praia). Não que essas modificações sejam exatamente uma “evolução” (no sentido como os darwinistas entendem a palavra) e nem que possa se originar uma nova espécie a partir dessas pequenas mudanças.

O que pude experimentar durante aqueles dez dias ali naquelas ilhas, nunca poderá ser explicado em palavras, nem mesmo em fotografias. Apesar de naquele dia 15 de setembro de 1835 Deus ter sido “apagado” da história da criação do mundo, durante meus dias lá, o Deus Criador Se escancarou diante dos meus olhos, mais do que nunca antes. E apesar de não estar com meu amado marido ao meu lado, senti mais verdadeira a trilha sonora do nosso carro, quando colocamos Elvis Presley cantando “How great Thou art”, ou, traduzido para o hino número 34 do Hinário Adventista: “Quão grande és Tu”. Nesse hino, o autor escreve a seguinte manifestação de reverência:

Senhor meu Deus, quando eu, maravilhado, / Fico a pensar nas obras de Tuas mãos, / Estrelas mil a cintilar no espaço, / De Teu poder, em manifestação.

Então minh’alma canta a Ti, Senhor: / Quão grande és Tu! Quão grande és Tu! / Então minh’alma canta a Ti, Senhor: / Quão grande és Tu! Quão grande és Tu!

Desculpe-me, Charles e todos os seus seguidores, mas, diante da beleza única das Ilhas Galápagos, essas são as únicas palavras merecedoras de saírem da minha boca.

(Marina Garner Assis)