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Raramente tenho tempo para ler esses comentários que se estendem ad nauseam depois que um artigo sobre teísmo ou criacionismo é publicado em certos sites e blogs. Mas, quando me deparei com esse de Souza, foi inevitável pensar na atitude de ateus ultradarwinistas como Richard Dawkins e Cia. Em seus livros, Dawkins costuma bater num espantalho a quem chama de Deus. Dawkins afirma que Deus não existe, mas odeia Deus! O Deus de Dawkins é mau e leva os pecadores para um mítico inferno de fogo eterno. Dawkins condena todas as religiões pelo fato de ter havido barbaridades como a Inquisição e estar havendo atrocidades como atentados terroristas. Tomando a parte pelo todo, Dawkins sugere que todo religioso é um torturador ou assassino em potencial.
O que Dawkins e seus seguidores fazem é trombetear que Papai Noel não existe (e não existe mesmo) passando por alto o fato de que São Nicolau (esse sim) existiu. Afirmam que o Deus tirano (estereotipado graças à má compreensão da Bíblia e da cultura judaico-cristã) não deve existir (não pode existir), ao passo que se recusam a conferir o benefício da dúvida àqueles que sustentam que existe um Deus justo e amoroso, além de todo-poderoso, capaz de dar uma boa explicação para aquelas questões que nos parecem incompreensíveis – como a existência do mal e da morte, por exemplo. É como disse Millor Fernandes: “Os ateus têm um deus em que nem eles acreditam.”
O problema é este: acreditar num deus que não existe – e otras cositas más, que também não existem. No artigo “Fé na verdade”, o filósofo ateu Daniel Dennett escreve que “os cientistas têm fé na verdade, mas não uma fé cega. Não é como a fé que os pais têm na honestidade dos filhos, ou a fé que os adeptos desportivos têm na capacidade dos seus heróis para ganhar. É antes como a fé que qualquer pessoa pode ter num resultado a que vários grupos de pessoas chegaram de forma independente”.
Com respeito à ciência experimental, a ideia acima está perfeita. Mas quem disse que o naturalismo filosófico e as ciências históricas contam com dados e resultados testáveis? E quem disse que a fé cristã é “cega” e sem fundamento racional? Será que Dennett acredita em Papai Noel?
Mais à frente, o filósofo acaba misturando crença com realidade objetiva, ao comparar três eventos e afirmar que “são verdades sobre acontecimentos que ocorreram de fato”:
1. A vida surgiu neste planeta há mais de três bilhões de anos.
2. O Holocausto aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial.
3. Jack Ruby disparou contra Lee Harvey Oswald às 11h21 (hora de Dallas), no dia 24 de novembro de 1963.
Obviamente que os itens 2 e 3 podem ser forense e documentalmente provados. Há evidências reais. Mas e o Papai Noel do item 1? Evidentemente que a história real existe: a vida “surgiu” neste planeta algum tempo atrás (Nicolau). Mas quem disse que ela simplesmente “surgiu” e que foi efetivamente há três bilhões de anos (Noel), conforme pressupõe o modelo evolucionista?
Dennett depois arremata: “As pessoas não querem muitas vezes saber a verdade. [...] Elas sabem que a verdade está aí, para ser evitada ou abraçada, e sabem que a verdade é importante. É por isso que elas podem muito bem não querer saber a verdade [isso é dissonância cognitiva]. Porque a verdade pode magoar [como descobrir que Papai Noel não existe].”
Naturalistas e teístas têm seus Papais Noeis, aos quais sabem que devem abraçar ou rejeitar. O problema é quando acabam jogando o bebê fora com a água suja do banho. Naturalistas e teístas possuem aspectos factuais da realidade e elementos míticos que precisam ser descartados. Como distinguir entre uma coisa e outra? Seguindo as evidências, levem aonde levar. Abrindo a mente (sem deixar cair o cérebro) para ideias diferentes e para o contraditório. Só assim poderemos saber o que é Papai Noel e o que é São Nicolau.
Mas lembre-se: Papai Noel e o Deus de Dawkins não existem. No entanto, Nicolau e Jesus de Nazaré caminharam neste mundo.
Michelson Borges
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