Deu na IstoÉ desta semana [e os meus comentários seguem entre colchetes]: "Uma das maiores polêmicas a chacoalhar a sociedade e a comunidade científica dos Estados Unidos nos últimos anos desembarcou no Brasil. Ao longo da semana passada, um ciclo de debates realizado no Colégio Presbiteriano Mackenzie, um dos mais tradicionais da capital paulista, apresentou a teoria do design inteligente a centenas de estudantes. Criada nos Estados Unidos na metade dos anos 80, ela se opõe à teoria da evolução de Charles Darwin – amplamente aceita pela ciência [ciência não "aceita" nada, quem aceita são os cientistas] desde a publicação do clássico A Origem das Espécies (1859) – e se baseia na ideia de que uma entidade superior seria a responsável pela criação de todas as formas de vida do Universo. Para os cientistas que defendem o conceito, tal força criativa é chamada de “designer inteligente”. Para os cristãos fundamentalistas americanos, ela é Deus [na verdade, à semelhança do criacionismo, o design inteligente - DI - se opõe a aspectos do darwinismo que não podem ser cientificamente demonstrados ou sutentados, como a macroevolução. Curiosamente, segundo o Datafolha, 59% dos brasileiros acreditam em Deus como Criador e em Darwin - Seriam eles, também, "fundamentalistas"? Ou apenas os "fundamentalistas" norte-americanos creem que Deus é o Criador?].
"A grande questão envolvendo o design inteligente (DI) é a sua introdução em algumas escolas americanas durante as aulas de biologia, e não nas de religião, que, a exemplo do Brasil, não fazem parte do currículo escolar no ensino público [como a TDI poderá entrar nas aulas de religião se ela não se baseia em argumentos religiosos, nem tampouco está preocupada com a natureza do Designer? O que esta matéria de IstoÉ faz é tentar blindar o darwinismo de discussões mais aprofundadas alegando que a teoria da evolução é ciência e qualquer outra teoria que se lhe oponha é religião. Nada mais falso, conforme o simpósio da Mackenzie demonstrou: a discussão ali foi puramente científica, não religiosa]. Conceitos pseudocientíficos e ainda não aceitos pela maioria da academia, como a chamada complexidade irredutível – que sustenta que certos micro-organismos biológicos são intrincados demais para terem evoluído de formas mais simples de vida –, são usados por biólogos, químicos e filósofos da ciência integrantes do movimento DI em sala de aula como uma alternativa à teoria da evolução. Em 2005, os pais de 11 alunos de uma escola pública de Dover, no Estado da Pensilvânia, entraram na Justiça para tentar impedir o ensino do DI, alegando que, na verdade, ele seria um conceito criacionista e, portanto, religioso. Eles ganharam a disputa judicial e a teoria foi banida da disciplina na escola. [Esses pais estavam errados. DI não é religião, assim como a macroevolução darwinista não é ciência empírica.]
"O evento realizado em São Paulo nos últimos dias trouxe ao Brasil dois dos mais célebres defensores do DI nos Estados Unidos. Stephen C. Meyer, doutor em história e em filosofia da ciência, é um dos criadores do movimento e um de seus mais atuantes portavozes. Autor de três livros, entre os quais o recente Signature in the Cell (Assinatura na Célula, inédito no Brasil), ele afirma que sua missão em terras brasileiras era simples: 'Viemos para suscitar a discussão – nosso trabalho é científico, e não político ou educacional', diz Meyer, um dos membros mais atuantes do Instituto Discovery, centro de pesquisas sem fins lucrativos ligado a setores conservadores da sociedade americana. 'Como eu creio em Deus, acredito que ele é o designer inteligente. Mas existem cientistas ateus que aceitam a teoria de outras formas', completa o pesquisador. [A matéria segue citando o incensado Richard Dawkins, apelando para sua pseudo-autoridade a fim de alfinetar os teóricos do DI. Não precisava ter feito isso. Atitude dispensável...]
"Voltando ao cenário brasileiro [do qual não se deveria ter saído para visitar o ateu e ultradarwinista Dawkins], vale lembrar que o colégio Mackenzie é uma instituição particular, com origens americanas e de cunho religioso desde a sua fundação." [...] [Esse último parágrafo da reportagem foi claramente redigido para induzir o leitor a pensar que a Mackenzie também se trata de uma instituição "fundamentalista" por ter origem norte-americana. Na verdade, a universidade presbiteriana deve ser parabenizada por estar cumprindo o verdadeiro papel da Academia: possibilitar o amplo debate de ideias, o ensino do contraditório e a visão crítica de uma teoria que está longe de ser unanimidade.]
[Como me disse um amigo, com uma reportagem dessas, é de se ficar inclinado a aceitar plenamente a tese de Lakatos de que uma teoria científica aceita consensualmente pela Academia poderá ser criticada e defendida, mas apenas perifericamente, nunca no seu fundamental core. A IstoÉ pegou e destacou as declarações subjetivas de teóricos e proponentes do DI bem como suas implicações ideológicas. Nem parece que o repórter esteve no simpósio; mas, como esteve, podemos concluir que o viés de sua matéria aparentemente já estava planejado. - MB]