Olhando para a previsão de fim do mundo do sábado 21 de maio, um cristão do Texas disse que muitos dos seguidores de Harold Camping que deixaram seus empregos, casas e gastaram seu dinheiro irão ser devastados espiritualmente ao ponto de provavelmente perder a fé. Como ele sabe? É porque ele teve uma experiência como essa com uma previsão de fim do mundo aproximadamente 23 anos atrás. Ainda jovem, o autor cristão Jason Boyett e seus amigos de juventude acreditaram que seriam engolidos pelo arrebatamento de setembro de 1988, previsto pelo engenheiro da NASA Edgar Whisenant. “Eu acho que a experiência do ‘arrebatamento’ teve um papel real na minha mentalidade cética que começou a se desenvolver.”
Em seu livro O Me of Little Faith (Minha Pouca Fé), ele escreveu como buscou a fé no meio de ceticismo e dúvida. Boyett prevê que as coisas não serão diferentes para os seguidores impressionáveis de Camping. “Você vai encontrar muita gente deixando e perdendo a sua fé”, disse ele ao The Christian Post. Boyett disse que aqueles que dispuseram muito do seu tempo e recursos para difundir essa mensagem do dia do julgamento vão se sentir traídos por seu próprio senso de fé e esperança, de uma forma que será difícil para eles continuarem a acreditar. “As esperanças que depositam nesse evento serão frustradas”, disse ele. [...]
A Family Radio de Camping era simplesmente uma rede de rádio sem fins lucrativos, com 65 estações nos EUA em 1958. Agora é uma organização multimilionária na era digital, onde há muito mais pontos de venda para atingir o público. A CNN informou que o ministério recebeu 80 milhões de dólares em contribuições entre 2005 e 2009 – 18 milhões dessas contribuições foram recebidas só em 2009.
“É fácil para nós sentarmos aqui e zombarmos de Harold Camping... ele vai passar por isso”, disse [Boyett]. “Mas o que nós temos que lembrar é que ele tem um monte de gente cuja vida e fé serão devastadas.” Ele continuou: “Como resultado, muitos deles perderam dinheiro, muitos deles que deixaram seus postos de trabalho estarão em uma situação difícil.”
Assim como ele, Boyett supõe que as crianças cujos pais tomaram decisões com base na previsão cresçam pensando: “Eu não posso confiar no que meus pais me dizem, no que o pregador me diz e no que a Bíblia me diz.” Além disso, a previsão de Camping provavelmente vai alimentar percepções negativas sobre os cristãos.
“O que Harold Camping faz é dar às pessoas do lado de fora munição para dizer: ‘Esse homem é um doido; ele é um cristão. Cristãos são doidos. Se você é cristão, por que eu deveria ouvir o que você está dizendo’”, lamentou.
Boyett alertou os cristãos: “Meu conselho seria que sempre quando você colocar muita fé em um ser humano, você vai se decepcionar.” Ele também espera que aqueles que ficaram desapontados por Camping percebam que “o que Harold Camping disse e ensinou não é a essência do Cristianismo”.
(Christian Post)
Nota: No fim de semana, durante um bom tempo, no Twitter, tópicos como “fimdomundo” e, depois do dia 21, “frasesposfimdomundo” ocuparam os primeiros lugares nos Trending Topics. Infelizmente, o assunto foi motivo de chacota e há quem defenda que Camping deveria vir a público pedir desculpas por ter envergonhado o nome dos cristãos. Alguns blogs até promoveram algum tipo de concurso de fotos debochadas do “arrebatamento”, como esta:
Realmente é lamentável que muita gente ainda acredite nesse tipo de “profecia”, quando a própria Bíblia é bem clara em afirmar que ninguém sabe quando será o dia e a hora da volta de Jesus (Mt 24:36). Alguns mais apressados até já compararam essa falsa previsão de Camping com o desapontamento provocado pela pregação dos mileritas, no século 19, especialmente nos Estados Unidos (leia mais sobre isso aqui). O fato é que o ex-deísta convertido à Igreja Batista Guilherme Miller e seus companheiros de pregação não erraram na data anunciada pela profecia de Daniel 8 e 9. Eles erraram quanto à interpretação do que iria acontecer em 22 de outubro de 1844: o início do chamado juízo investigativo, no Céu, e não a volta de Jesus. Além disso, é bom lembrar que, embora fossem chamados de adventistas os crentes de várias denominações que creram na mensagem de Miller, a Igreja Adventista do Sétimo Dia somente foi formalmente organizada em 1863, portanto, quase 20 anos depois do grande desapontamento. Miller nunca se tornou adventista do sétimo dia, embora tenha permanecido fiel a Deus e a suas convicções até o fim da vida. Além disso, é bom lembrar que esse desapontamento havia sido anunciado pela profecia de Apocalipse 10, e teve, apesar de tudo, efeitos bastante positivos na vida de muita gente, assim como o desapontamento da cruz (a falsa esperança de que o Messias Jesus reinaria na Terra, naquele tempo) ajudou a “peneirar” os crentes que fundariam o movimento cristão. De certa forma, podemos dizer que o cristianismo nasceu do desapontamento da cruz.
Conforme lembra o pastor Sérgio Santeli, do blog Minuto Profético, Ellen White, ex-metodista e uma das pioneiras da Igreja Adventista do Sétimo Dia, advertiu quanto à marcação de datas: “Quanto mais frequentemente se marcar um tempo definido para o segundo advento, e mais amplamente for ele ensinado, tanto mais se satisfazem os propósitos de Satanás. Depois que se passa o tempo, ele provoca o ridículo e o desdém aos seus defensores... Os que persistem neste erro, fixarão finalmente uma data para a vinda de Cristo num futuro demasiado longínquo. Serão levados, assim, a descansar em falsa segurança, e muitos se desenganarão tarde demais” (O Grande Conflito, p. 457).
Ellen foi uma das milhares de pessoas que acreditaram na pregação de Miller, mas, diferentemente da maioria do mileritas, não abandonou a fé. Juntamente com um pequeno grupo de crentes, ela se voltou ao estudo das Escrituras com muita oração, até compreender corretamente o que havia acontecido e o que irá acontecer. Desse grupo de crentes oriundos de várias igrejas, mas unidos no propósito de conhecer e praticar os ensinos bíblicos, Deus deu origem à Igreja Adventista do Sétimo Dia.[MB]
Leia o livro Ninguém Será Deixado Para Trás para saber mais sobre o assunto do “arrebatamento secreto”.