Hoje está sendo comemorado o “Dia do Orgulho Nerd”. Acho que posso dizer que fui meio nerd em minha infância e adolescência. Nunca gostei de futebol e passava boa parte das férias de verão lendo, escrevendo e desenhando gibis de super-heróis. Minha série de TV favorita sempre foi Jornada nas Estrelas, e não poucas vezes me senti meio deslocado no tempo e no espaço. Lembro-me de que frequentemente me sentia frustrado e deprimido depois de ler uma HQ dos X-Men ou do Quarteto Fantástico, pois pensava que minha vida era chata e sem graça, afinal, eu não tinha poder algum... Vivia pensando que viver no futuro, com todas aquelas naves espaciais, sabres de luz e viagens pelo hiperespaço, isso, sim, seria excitante. Uma vida que valia a pena ser vivida. Por que eu tinha que ter nascido neste tempo? Anos depois, estudando os efeitos dessas produções e dessa cultura sobre o comportamento das pessoas, descobri que as telenovelas e as comédias românticas, por exemplo, exercem influência semelhante, especialmente sobre as moças, que são levadas para um mundo de sonhos, na ilusão de que um dia encontrarão a pessoa perfeita para um relacionamento perfeito.
O fato é que a dita cultura nerd, para mim, revela a insatisfação com a vida deste lado da eternidade (na qual a perfeição não existe), mas propõe substitutos irreais para o vazio que incomoda: vídeo games, histórias em quadrinhos, séries, filmes, etc. Esses entretenimentos apenas distraem e, depois de consumidos, geram frustração. Tiram-nos do rumo e desfocam nossa visão. Em Eclesiastes 3:11, o sábio Salomão afirma que foi Deus quem colocou em nosso coração o anseio pela eternidade. Qualquer coisa que não seja eterna será incapaz de satisfazer esse anseio.
A idolatria gerada por produções como Star Wars, Senhor dos Anéis, Avatar e outras apenas mostra que o ser humano tem um desejo intrínseco por cultuar alguma coisa. Quando Deus, o único digno de ser cultuado, não ocupa o trono do coração, rapidamente encontramos substitutos inadequados. Mas, nesse caso, as “peças” não se encaixam e vivemos sempre à espera do próximo lançamento do nosso produto/personagem/produção predileto.
Um dia aprendi que “os leitores de contos frívolos e excitantes tornam-se inabilitados para os deveres que lhes estão diante. Eles levam uma vida irreal e não têm nenhum desejo de um emprego útil, nenhum desejo de examinar as Escrituras, para alimentar-se do maná celestial. A mente está debilitada e perde a faculdade de contemplar os grandes problemas do dever e do destino” (Ellen G. White, O Colportor Evangelista, p. 143).
Quando comecei a estudar a Bíblia pela primeira vez, considerei-a enfadonha e de difícil compreensão. Claro, meu cérebro estava acostumado às “papinhas midiáticas”. Mas perseverei na leitura da Palavra de Deus e hoje posso dizer que sou apaixonado por ela. Os “contos frívolos” do passado perderam valor, afinal, para que perder tempo com o que não é eterno?
Hoje ainda anseio por um futuro maravilhoso e excitante. A diferença é que esse futuro é real, não calcado em frágeis promessas humanas – e melhor: é eterno. Enquanto vivo minha vida aqui, a promessa desse futuro me inspira, enche-me de esperança e me motiva a prosseguir até o fim. Mantendo o foco nas coisas eternas, a própria existência (ainda) mortal passa a ter sentido. Não preciso de pílulas culturais ilusórias para me distrair. Na verdade, preciso é ter a mente bem desperta para me posicionar adequadamente nesta luta entre o bem e o mal, que se desenvolve especialmente no campo de batalha da mente – às vezes, com nuances bem sutis e insuspeitas.
Cada episódio da série Jornada nas Estrelas começava com a frase clássica “espaço, a fronteira final”. Hoje entendo que a fronteira final será transposta por ocasião da volta de Jesus, quando Ele nos resgatar deste mundo de pecado e nos introduzir na verdadeira vida que nunca deveríamos ter perdido e que para sempre será nossa. Então, conheceremos os planetas, as estrelas, as galáxias e o próprio Criador!
Acho que quase todo mundo tem um lado meio nerd, ou seja, um senso de inadequação à vida ordinária para a qual não fomos criados; um desejo por algo que nunca se realiza. Se você se considera nerd, não me leve a mal. Deixe o mundo de sonhos e fantasias e lembre-se: Deus o ama e quer viver eternamente com você.
Michelson Borges
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