O bioquímico "crente" Nick Lane |
[Meus comentários seguem entre colchetes. –
MB] Como foi que as pedras, o ar e a água se uniram para formar as primeiras
criaturas vivas na Terra primitiva? Por que a vida complexa como a dos animais
e das plantas surgiu de um só ancestral somente uma vez na História de nosso
planeta? Por que dois sexos e não três, quatro ou 12? Por que envelhecemos e
morremos? No livro The Vital Question:
Energy, Evolution, and the Origins of Complex Life (A questão vital:
energia, evolução e as origens da vida complexa), Nick Lane pretende responder
a essas perguntas e muitas mais com um novo conjunto de ideias sobre o
surgimento e a evolução da vida. Bioquímico da University College London, Lane
sustenta que, com alguns princípios da física, podemos presumir por que a vida é assim – na Terra e no resto do cosmos. O
livro anterior de Lane, Life Ascending:
The Ten Great Inventions of Evolution (Vida ascendente: as dez grandes
invenções da evolução), ganhou o Prêmio da Real Sociedade para livros
científicos, e novamente ele se mostra um guia capaz em meio a terreno
científico traiçoeiro. O autor escreve com prosa lúcida, acessível e, embora a
ciência possa se tornar densa, o leitor será recompensado com uma visão
impressionantemente anticonvencional da biologia.
A ideia mais surpreendente de Lane tem a ver
com como a vida complexa surgiu. Durante a maior parte da História terrestre, a
vida era microbiana: nada de árvores, cogumelos nem mamíferos. Embora os
micróbios exibam diversidade bioquímica espantosa, vivendo em qualquer coisa,
de concreto a ácido de bateria, eles nunca evoluíram para se tornar algo mais
complicado do que uma única célula. Então, o que tornou possível o grande
florescer da biodiversidade? Partindo de ideias desenvolvidas com o biólogo da
evolução William Martin, Lance localiza as origens da vida em um acaso bizarro há bilhões anos, quando
um micróbio passou a viver dentro de outro. Segundo ele, esse evento não foi
uma divisão da árvore evolucionária, mas uma fusão com consequências profundas.
O novo inquilino forneceu energia para o
hospedeiro, pagando aluguel químico em troca de habitação segura. Com a renda
extra, a célula hospedeira pôde se dar ao luxo de fazer investimentos em
comodidades biológicas mais complexas. A união prosperou, replicou e evoluiu.
Hoje, chamamos esses micróbios internos de
mitocôndria; quase toda célula em nosso organismo tem milhares dessas fábricas
energéticas. Lane e Martin argumentam que em função da mitocôndria, células
complexas têm quase 200 mil vezes mais energia por gene, abrindo espaço para
genomas maiores e evolução irrestrita.
Dentro da célula, a mitocôndria guarda seus
próprios anéis minúsculos de DNA, postos genéticos avançados distintos do
centro de comando genético no núcleo da célula. Embora a relação agora seja de
simbiose, no começo o DNA mitocondrial vivia sendo bombardeado pelo genoma
nuclear, provocando mutações frequentes. Sob essas condições, assegura Lane,
somente a evolução do sexo permitiria à seleção natural manter a função de
genes individuais em grandes genomas que sofrem ataques.
Mas por que dois sexos? O índice de mutação
no DNA mitocondrial é elevado, o que pode abalar fatalmente a função celular. O
desafio para qualquer organismo é manter baixo esse índice e, com dois sexos,
argumenta Lane, nos quais somente um deles passa as mitocôndrias à descendência,
o problema é atenuado. Vemos isso em quase todos os organismos complexos. Por
exemplo, os humanos recebem a mitocôndria exclusivamente das mães. [...]
Mas e as origens da vida, antes de existirem
células? Lane também tem algo a dizer a esse respeito. Livros didáticos contam
que a origem da vida tem raízes na especulação
de Darwin de que em algum “laguinho quente” a matéria inanimada, talvez
energizada por um raio de sorte,
formou moléculas complexas que terminaram se replicando sozinhas. Isso faz Lane
pensar para trás. Segundo ele, a matéria inanimada nunca poderia se agrupar em
moléculas maiores com apenas um raio, da mesma forma que uma pilha de tijolos
não poderia se montar como uma casa durante a tempestade. O surgimento da vida
deve ter sido impulsionado por uma fonte de energia confiável e contínua.
[Finalmente um questionamento evolucionista à teoria da abiogênese, mas ele vai
tentar salvar a teoria dos fatos, como se vê a seguir...]
A visão alternativa de Lane se origina com o
geólogo Mike Russell, que décadas atrás propôs que a vida surgiu em formações
rochosas elevadas no leito oceânico, onde a água aquecida e carregada de
minerais era cuspida do centro da Terra por meio de uma rede oca de
compartimentos do tamanho de células. Essas rochas continham os ingredientes
necessários para a vida começar e, o mais importante, sua temperatura natural e
gradientes de energia favoreciam a formação de moléculas maiores. Ao tirar
proveito da energia de uma Terra inquieta, no entender de Lane, uma pilha de
tijolos só pode se tornar uma casa. [Você acredita nisso? Bastam energia e
matéria inanimada para se obter informação genética, proteínas, DNA, membranas
celulares, etc., etc., etc.?]
Esse cenário gera uma previsão inesperada
sobre como os organismos geram energia. Nas células de quase toda criatura,
incluindo os humanos, os prótons estão presos em um dos lados de uma membrana.
A única saída é com a ajuda de proteína notável, com formato de turbina, a ATP
sintase. Os prótons caem pela proteína rotatória, convertendo aquela energia em
um formato útil para a célula, análoga a uma roda d’água.
Esse mecanismo bizarro, tão universal quanto
o DNA, é totalmente inesperado na ciência. Porém, é baseado nas rochas porosas
de Russell, que separam a água pobre em próton de seu interior do oceano rico
em prótons. A vida tirou proveito dessa dinâmica natural do próton, Lane
afirma: os gradientes do próton devem ser uma “propriedade universal da vida no
cosmos”. [Como que a vida tirou proveito de algo se ela não existia? E nem vou
perguntar como surgiu o próton com essa dinâmica...]
A ampla perspectiva de Lane, que tenta
abordar as origens da vida, sexo e morte, é sedutora e muitas vezes
convincente, embora a especulação muitas
vezes supere os fatos em muitas das passagens do livro [mas um
evolucionista pode fazer isso à vontade...]. Todavia, talvez para uma teoria
biológica de tudo, isso é esperado, até mesmo bem-vindo.
Ainda não se sabe se a pesquisa irá confirmar
Lane, mas suas muitas previsões, por mais incríveis que pareçam, podem ser
testadas e poderiam manter os cientistas ocupados durante anos. Como Sherlock
Holmes dizia, “quando se eliminou o impossível, então o que restar, por mais improvável
que seja, deve ser a verdade”. [O impossível é a vida surgir da não vida, como
provou Pasteur, mas com uma hipótese e muita especulação, os evolucionistas
eliminam o impossível e passam a crer no improvável. Isso é fé!]
Nota do químico Marcos Eberlim, da Unicamp: “Quanta fantasia travestida de ciência! Veja
como é fácil argumentar explicando os porquês, mas se esquecendo dos comos.
Claro que com uma ATP sintase eu explico por que a vida teve acesso a mais
energia, mas quero ver explicar como um órgão sofisticadíssimo, espetacularmente
orquestrado, megairredutivelmente complexo, de uma engenharia sem-par no Universo
surgiu, e dentro de verdadeiras “naves celulares high tech”, as mitocôndrias. Como? Sei lá. Mas quando elas
apareceram, por “engulição”, que traduzido é pura enganação, aí a vida
evoluiu... Gente, pode?”