O problema é mais profundo |
A
palavra inglesa impeachment voltou à
moda. A primeira vez em que a ouvi tantas vezes nos noticiários e na boca do
povo foi em 1992, quando da cassação do cargo do então presidente Fernando
Collor de Mello. Impeachment é
impedimento ou impugnação de mandato do chefe do poder Executivo. Não é
privilégio do Brasil. Aliás, a palavra foi usada pela primeira vez no Reino
Unido, contra William Latimer. Nos Estados Unidos, Andrew Johnson foi o
primeiro a ser “impitimado”, sendo destituído do cargo em 1868. Em 1974,
Richard Nixon renunciou à Presidência para não ser deposto. E em 1999, Bill
Clinton, por causa de suas estripulias sexuais e outros problemas, quase sofreu
processo de impeachment, mas escapou.
Agora
a sombra dessa maldição que de vez em quando desce sobre os supremos
mandatários das nações paira sobre a cabeça da nossa primeira presidente
mulher. Dilma Rousseff vive dias difíceis no começo de seu segundo mandato.
Milhões de pessoas foram às ruas neste domingo para protestar contra ela,
contra seu antecessor, Luís Inácio Lula da Silva, e contra a corrupção. Entre
esses milhões, muitos querem o impeachment
dela e a prisão dele. Outros tantos consideram o impeachment uma medida muito traumática e que poderia aumentar a
instabilidade econômica no país e agravar ainda mais a crise política. Todos
desejam mudança, mas parecem não saber muito bem por onde ela deve começar nem
com quem.
Quando
se investiga a história da humanidade, uma coisa fica evidente: a corrupção sempre
existiu – embora aqui em solo tupiniquim muita gente tenha se tornado
especialista no assunto. Regimes vêm e vão; socialistas cedem a vez aos
capitalistas e vice-versa; monarquias; repúblicas; parlamentarismos;
presidencialismos... Tentativas de melhor gerir os negócios das nações. Embora
haja sempre algumas pessoas honestas e bem-intencionadas no meio de tantos
oportunistas e “fominhas” de poder, não dá para negar que as injustiças
continuam aí – a desigualdade social; a miséria, com tantos ganhando tão pouco
e uma minoria se refestelando com muito; a falta de verdadeiro amor pelos que
sofrem.
A
solução definitiva não virá de um impeachment,
assim como uma revolução social nunca será garantia de igualdade, justiça e
fraternidade. Sabe por quê? Porque o problema não está nos regimes políticos. Eles
são parte de um problema mais profundo. O problema não é social; é individual.
Não há revolução que resolva uma desgraça que está no coração, no DNA humano.
Quem precisa de reforma, de uma recriação somos nós. É o nosso coração que precisa
de um “impeachment”. Precisa ser
deposto para que uma vontade superior, pura e justa assuma o controle. Do
contrário, reis virão; presidentes se sucederão; manifestações, por mais
justificáveis que sejam, encherão as ruas de pessoas que depois voltarão para
casa para assistir às mesmas notícias na TV. E quase nada mudará.
Nós
precisamos de um “impeachment” para
que outro governo assuma logo o poder.
Michelson Borges