Evidência que é bom, nada |
Desde
1980, alguns cosmologistas têm alegado que um universo multiverso (múltiplos
universos) poderia ter se formado durante um período de inflação cósmica
(expansão) que teria precedido o Big Bang.[1] A hipótese de multiverso sustenta
que todo o nosso universo é apenas um de um número infinito de outros
universos. Dessa forma, todos os parâmetros de construção fundamentais
concebíveis poderiam existir em uma vasta gama de realidades alternativas. Aqueles
que a defendem dizem que, gostem ou não, a hipótese dos multiversos infinitos pode
ser a única explicação não religiosa, porém metafísica, viável para resolver
alguns “problemas” para a ciência, como o “mundo do RNA”, “sistemas complexos”
ou o “ajuste fino”, também conhecido como “princípio antrópico” – observação de
que as leis do Universo parecem ter sido projetadas para favorecer a existência
humana. Bernard Carr, cosmologista da Universidade Queen Mary, de Londres,
disse ao Discover: “Se há apenas um universo, talvez você precise ter um
sintonizador fino. Se você não quer Deus [designer], é melhor você ter um
multiverso.”[2] A hipótese dos multiversos, além de não possuir nenhuma
evidência que a suporte, tem sido utilizada para invocar diversas especulações.
Por
exemplo, Eugene Koonin, biólogo molecular e investigador sênior da National Center for
Biotechnology Information (NCBI), admitiu que a origem química natural da
vida é altamente improvável, se houver apenas um único universo finito.[1] Para
melhor explicar isso, o autor fornece um “modelo de brinquedo” acerca do limite
superior da probabilidade do surgimento de um sistema de replicação e tradução
acoplado em um O-região (“O-região” significa um universo observável, tal como este
em que vivemos). O modelo em si não tem a intenção de ser realista -
é por isso que ele o chama de um modelo de brinquedo -,
mas faz algumas suposições sobre a disponibilidade de RNA na Terra primordial.
O
autor escreve: “O mundo RNA enfrenta seus próprios problemas difíceis, como a
replicação do RNA catalisado por ribozima que continua a ser uma hipótese, e as
pressões seletivas por trás da origem da tradução permanecem misteriosas.”[3: p.
1] Para o autor, até mesmo uma forma de vida muito básica − um sistema de
replicação e tradução acoplado - exigiria, no mínimo, a formação de dois
rRNAs com um tamanho total de pelo menos 1.000 nucleotídeos, 10 adaptadores
primitivos de cerca de 30 nucleotídeos cada um, e um RNA que codifica uma
replicase com cerca de 500 nucleotídeos. Em outras palavras, mesmo nesse modelo
de brinquedo que assume uma taxa deliberadamente inflada da produção de RNA, a
probabilidade de que uma replicação e tradução acoplada surgissem por acaso em
um único universo é P <10 nbsp="" o:p="">10>
Para
fugir das implicações metafísicas de seus cálculos, o Dr. Koonin postula um
multiverso – ou seja, um universo infinito como uma “solução” alternativa (aliás,
repleta de falhas). Para o autor, nesse modelo cosmológico proposto, haveria
chances infinitas para toda a complexidade da vida surgir de uma só forma. A
premissa de Koonin é que, “em contraste com os modelos cosmológicos
tradicionais de um único universo finito, essa visão de mundo prevê a origem de
um número infinito de sistemas complexos por acaso, mesmo quando a
probabilidade de complexidade emergente em qualquer região do multiverso seja
extremamente baixa”.[3: p. 1]
Mais
recentemente, o físico britânico Stephen Hawking usou a hipótese dos
multiversos para dar esperança aos fãs da banda inglesa One Direction.[4]
Segundo ele, em algum universo paralelo é possível que ela [a banda] ainda
esteja em sua formação original. Parece brincadeira, mas diante de uma pergunta
inusitada e, possivelmente, irônica, sobre o efeito cosmológico causado pela saída do cantor Zayn Malik da banda, Hawking aproveitou a oportunidade e fez
um apelo emocional [notem o dogmatismo] aos que ficaram com o coração partido
que prestassem atenção aos estudos de física teórica, pois “um dia haverá provas
concretas da existência de vários universos”, afirmou ele.
Por
outro lado, o astrofísico Laerte Sodré Junior, professor do Departamento de
Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG)
da USP adianta que qualquer hipótese científica de multiverso não passa de mera
especulação, considerando as teorias e a tecnologia que se tem atualmente.[5]
Ele acrescenta: “Neste ano estamos comemorando Galileu, que foi um dos
precursores do método científico, mas o problema da hipótese do multiverso é
justamente o fato de que ela não pode ser comprovada por esse método.” Como
pode ser visto, a hipótese dos multiversos não dispõe de evidências, e o meio
para acreditar nela é somente pela fé [aí entra o dogmatismo naturalista]. Fato
é que uma pesquisa científica publicada na revista Nature já reconheceu que a hipótese do multiverso não é falseável,
portanto “não é ciência”.[1]
Outro
artigo científico apresentado no encontro de cientistas “State of the Universe”
pelo físico cosmólogo Alexander Vilenkin arruinou as três opções possíveis para
múltiplos universos infinitos. Depois de demonstrar as falácias de várias
teorias que tentaram validar um multiverso, Vilenkin resumiu suas conclusões,
dizendo: “Toda a evidência que temos diz que o Universo teve um começo.”[6]
Então,
por que na ausência de evidências alguns cientistas abraçam o multiverso? É
precisamente porque querem evitar a conclusão de um universo preciso, projetado
especialmente para o ser humano.[7] Assim, a ideia de múltiplos universos torna
sem sentido o ajuste fino e, claro, os argumentos de design. Mesmo assim, dada a escolha entre destruir a base lógica
para fazer ciência ou inferir design,
parece que alguns cientistas optam pelo multiverso.
(Everton Alves)
Referências:
[1]
Brumfiel G. “Our Universe: Outrageous fortune.” Nature. 2006; 439(7072):10-2.
[2]
Entrevista concedida por Bernard Carr. “Science’s Alternative to an Intelligent Creator: the
Multiverse Theory” [Nov. 2008]. Entrevistador: Tim
Folger. Discover Magazine, 2008.
Disponível em: http://discovermagazine.com/2008/dec/10-sciences-alternative-to-an-intelligent-creator
[3] Koonin EV. “The
cosmological model of eternal inflation and the transition from chance to
biological evolution in the history of life.” Biol Direct. 2007; 2:15.
[4] Tan M. “Stephen Hawking
tells fans Zayn Malik could still be in a parallel One Direction” [Abr. 2015]. The Guardian newspaper, 2015. Disponível
em:
[5]
Entrevista concedida por Laerte Sodré Junior. “O que um multiverso nos diria
sobre Deus?” [Jun. 2009]. Entrevistador: Marcio Antonio Campo. “Tubo de Ensaio:
ciência e religião.” Jornal Gazeta do
Povo, 2009. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/tubo-de-ensaio/o-que-um-multiverso-nos-diria-sobre-deus/
[6] Grossman L. “Why physicists can’t avoid a creation event” [Jan.
2012]. Physics & Math. New Scientist,
2012. Disponível em:
[7]
Entrevista concedida por Dennis Prager. “Dennis Prager Explains Why Some Scientists Embrace
the Multiverse” [Jun. 2013]. Entrevistador: Casey Luskin. Evolution News and Views, 2013. Disponível em: http://www.evolutionnews.org/2013/06/dennis_prager_e073471.html