segunda-feira, agosto 06, 2012

“Atirador do cinema”: violência estimulada

O caso do “atirador do cinema”, termo cunhado pela mídia internacional para se referir ao homem que abriu fogo contra uma plateia durante a exibição do filme “Batman – O Cavaleiro das trevas ressurge”, na cidade de Aurora, Colorado, nos Estados Unidos, foi comentado pela psicóloga Marisa Lobo em seu perfil no Twitter. James Holmes, acusado da morte de 12 pessoas e de ferir outras 58, compareceu ao Tribunal pela primeira vez na última segunda-feira, 23/7, ao lado da advogada de defesa, Tamara Brady, que foi designada pelo Estado para o caso, de acordo com informações do G1. A promotora pública que trabalha no caso afirmou que só decidirá pelo pedido de pena de morte após ouvir os familiares de todas as vítimas.

A defesa alega que Holmes é incapacitado mentalmente e que o ataque se deu por esse motivo. A psicóloga Marisa Lobo, em seu perfil no Twitter, afirmou que “uma pessoa pode permanecer num surto psicótico por muito tempo”, e que, nesse caso, a violência em filmes e jogos de videogame pode ter inspirado o atirador do cinema.

“Filmes e games violentos podem, sim, desencadear surtos psicóticos se essa pessoa se identificar com o personagem e fazer dele seu objeto. O assassino do cinema nos EUA é um caso clássico de loucura e violência estimulada por uma ficção; claro que ele já tinha uma ‘co-morbidade’. Filmes/games podem desencadear surtos psicóticos. Não são a causa, mas em todos os casos como esse do cinema sempre tinha a ficção envolvida”, escreveu Marisa Lobo em seu perfil.

Segundo Marisa Lobo, a realidade fictícia de jogos de videogame pode levar a alterações de personalidade: “Tenho motivos suficiente para acreditar que os jogos violentos também aguçam mudanças de personalidade nas pessoas que se entregam por inteiro a isso. Um jovem que apresenta agressividade por conta dos jogos, está, na realidade, apresentando um sintoma de algo maior, insatisfação consigo e relacional. Os videogames e filmes violentos podem estar formando uma geração de pessoas insensíveis ao sofrimento de humano e de animais em geral.”

Lobo afirma ainda que, dependendo do nível de envolvimento do indivíduo com a ficção, a distinção entre real e fictício pode ficar comprometida: “Há pessoas que não distinguem o tênue limite entre a realidade virtual e violenta do videogame, ou do cinema, com a realidade objetiva, da realidade.”


Nota: Curiosamente, uma história em quadrinhos da década de 1980 (O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller) descrevia cena bem semelhante à da tragédia em Aurora. Teria o assassino lido a história?[MB]