Príncipe
não namora cachorra, namora princesa. Este é apenas um dos ensinamentos que o
missionário Claudio Brinco repassa a seus seguidores no que chama de “culto dos
príncipes”. O encontro aconteceu pela segunda vez, na noite de terça-feira
(31), no clube Olympico, em Copacabana, zona sul do Rio. É uma versão masculina
do “culto das princesas”, que já acontece há alguns meses e é liderado por
Sarah Sheeva, cunhada de Brinco e filha da cantora Baby Consuelo. “A ideia é
estimular uma nova cultura comportamental entre os seguidores da Igreja Celular
Internacional (ICI), no que se refere a namoro e, claro, sexo”, explica Brinco.
A adesão surpreende. Mais de duzentos homens lotam o salão.
Há
algumas regras estipuladas por quem quer ser príncipe. A começar pelo próprio
culto: mulher não entra (foi pedido ao iG para que a equipe de reportagem fosse
composta apenas por homens). Para o príncipe solteiro, sexo é proibido.
Qualquer tipo de sexo. Masturbação, nem pensar. O missionário diz que beijo na
boca não está proibido na Bíblia, mas traz problemas aos fieis. “Beijo de
língua não é pecado. Mas comida também não é e te leva à gula. Beijo é igual a
forno elétrico. Liga em cima e esquenta embaixo”, afirma, cheio de gestos.
[...]
[De
seu iPad, o missionário] retira frases como “A merenda é só depois do recreio.
Príncipe aguarda as ordens do Rei”, para pregar a castidade até o casamento.
Todos dizem amém repetidas vezes. O culto é animado, mas é quando vai para o
improviso que Brinco realmente diverte a plateia. Parece um showman. Anda e gesticula o tempo todo
pelo púlpito, coberto por um carpete vermelho e tendo três telões de 50
polegadas nas laterais. [...]
A
maioria dos presentes tem entre 18 e 30 anos. São jovens empregados, vindos de
diferentes bairros da cidade. Poucos namoram. E quando namoram, é com meninas
também evangélicas. “Você nasceu para ser o cabeça, o provedor, o varão da sua
casa. Diga ao príncipe ao seu lado: ‘Você é o varão da sua casa, irmão.’
Queremos uma nação de homens livres da cultura machista, egoísta e demoníaca.
Não ao sexo antes do casamento”, diz no palco o missionário. [...]
Brinco
ensina que as tentações são diárias e é preciso ser forte, é preciso ter força
para suportá-las. “Dia desses andava na calçada quando vi uma morena fenomenal
vindo na minha direção. Eu sou homem, pô! Aqui tem testosterona (diz batendo no
braço). Enquanto todos os caras viraram o pescoço para vê-la melhor, encostei
na parede e comecei a orar ao Senhor. Uma irmã aqui da igreja passou na hora e
perguntou se estava passando mal. Disse para ela que não, só estava afugentando
o demônio”, conta.
Ele
convida o pastor Nelson Júnior, de Vitória, para subir ao altar. Nelson está
vestido com a camisa da campanha “Eu escolhi esperar”, também voltada à
castidade. “Não é fácil ser cristão nos nossos dias. Não é fácil ser homem.
Mais difícil ainda é ser homem e cristão”, diz, recebendo gritos de “aleluia”
como resposta.
Brinco
critica o filme “E aí, comeu?”, sucesso que já levou mais de dois milhões de
espectadores aos cinemas nas últimas semanas. Pede para que os príncipes
perguntem a quem estiver ao seu lado “E aí, comeu?”. Ninguém responde que sim.
“Quando eu servia ao império das selvas, é o que mais se perguntava entre os
homens. É uma cultura mundana que, hoje, até as mulheres aderiram. Não se
pergunta isso, em nome de Jesus!”
Todos
ouvem atentos como diferenciar uma princesa de uma cachorra. Há até explicações
para fugir das cachorras mais perigosas, as “com cara de anjo”. “Não diga nada,
não ofereça ajuda, porque você não vai resistir. Seu cérebro vai emitir sinais
para a cabeça de baixo e aí já era. Recorra a uma pastora. Só uma pastora pode
salvar a cachorra”, diz Brinco, em tom aflito. Muitos anotam as recomendações,
como se estivessem em uma aula.
O
missionário resolve então abrir um pouco de sua intimidade. Ele é casado com a
cantora Nãna Shara. Diz que ficou um ano e oito meses, durante todo o namoro,
sem sexo ou mesmo beijo na boca. Depois que se casou, e lá se vão sete anos, é
tudo “uma maravilha abençoada”. “Por falta de dinheiro, a Light cortou a luz da
minha casa. Quando cheguei, encontrei minha esposa me esperando com um jantar à
luz de velas. Aquela noite foi tremenda! Quase mandei uma carta agradecendo à
Light por ter cortado a luz”, relata ele, povoando a imaginação dos castos que
o ouvem atentamente.
Nem
nas redes sociais os pobres de sexo e ricos de espírito têm sossego. Para a
igreja, não há distinção entre mundo real e virtual. “Padronize o Facebook de
acordo com o reino de Deus. Não adianta ter uma vida regrada na realidade e ser
libertino na vida virtual. Se você é príncipe, não procure mulher no Facebook.
Príncipe não tem álbum no Facebook. Não idolatra a própria imagem”, ensina ele.
Sobra
discurso até para os que se “desviam” da sexualidade de varão. “Antigamente,
criticavam a homossexualidade. Hoje toleram. Amanhã vai ser obrigatório. Temos
que ir na contramão da cultura mundana, irmãos.” Brinco abre seu iPad e recorre
a mais uma de suas pérolas: “A sociedade pode até te chamar de gay, mas Deus
vai te chamar de Príncipe homem.” Abre-se então espaço para perguntas dos
jovens (veja abaixo algumas das dúvidas levantadas). Todas são voltadas para
relacionamentos. As respostas caminham para a missão de se manterem puros.
Custe o que custar. [...]
Nota: Apesar de certos exageros, tanto de Brinco
quanto de Sarah Sheeva (assista entrevista com ela aqui), reconheço que eles falam a linguagem dos jovens e
levantam corajosamente uma bandeira esquecida ou negligenciada por muitas
igrejas: a da pureza sexual. Alguns deixam o assunto pra lá por considerarem-no
anacrônico nestes tempos de “liberação”; outros o evitam para não serem
expostos ou para não serem alvo de reportagens como essa acima, que até se
esforçou para evitar o deboche (muito sutil, nas entrelinhas). De qualquer
forma, é necessário mostrar aos jovens que vale mesmo a pena esperar o momento
certo, a pessoa certa e o contexto certo para a expressão sexual. E que, em
grande parte, nisso reside a felicidade conjugal. É preciso apresentar-lhes também
um Deus comprometido com nossos prazeres sadios (já que os criou para nós) e um
Deus misericordioso, perdoador, capaz de reconstruir vidas e relacionamentos,
caso certas “barreiras” tenham sido ultrapassadas.[MB]