Sem
perspectivas, em um país afundado na pior crise de sua história recente, jovens
da Grécia estão recomeçando a vida em sociedades alternativas baseadas em
princípios radicais de sustentabilidade. A comunidade Free and Real (Livre e
Real, em tradução literal), a sigla em inglês para Freedom of Resources for
Everyone, Respect, Equality, Awareness and Learning (Liberdade de Recursos para
Todos, Respeito, Igualdade e Aprendizado - também em tradução literal), foi
fundada há dois anos no sopé do monte Telaithrion, na paradisíaca ilha de Evia,
por quatro jovens de Atenas. Hoje, ela conta com dez moradores em tempo
integral e mais de cem que passam parte do ano no local.
Um
dos fundadores do movimento, o webdesigner Apostolos Sianos, afirma que abriu
mão do emprego e de comodidades da sociedade moderna.
Os
moradores da sociedade alternativa não têm acesso à rede grega de eletricidade,
moram em cabanas comunitárias que eles mesmos construíram e comem a comida que
produzem no local. O excedente da produção é trocado no vilarejo mais próximo
por produtos de que necessitem. “O que outros viram como a crise econômica
global, vimos como crise de civilização”, afirmou Sianos.
Para
ele, tudo parecia em crise: o sistema de saúde, o meio ambiente, a educação. A
semente da ideia foi lançada em um fórum da internet em 2008, mas cresceu até
sair do mundo virtual para o real. “Quando tomei a decisão de abandonar a
cidade e morar neste pedaço de terra, fiquei um pouco nervoso. Mas agora não
consigo me imaginar naquele estilo de vida outra vez.”
Nos
últimos meses, com o agravamento da crise grega, o estilo de vida alternativa
proposto por Sianos vem atraindo cada vez mais interessados. O esvaziamento das
cidades, em um êxodo rumo ao campo, vem sendo registrado em várias regiões.
Muitos agora procuram o Free and Real para se aconselhar sobre técnicas de vida
sustentáveis e de agricultura orgânica. “A crise financeira grega está dando
uma enorme oportunidade às pessoas para verem que o sistema em que vivem não está funcionando, então podem começar a
procurar alternativas”, afirmou Sianos.
Andonis
Karantinakis é uma dessas pessoas. Morador da quarta maior cidade da Grécia,
Heraklion, ele se considera um “trabalhador inseguro”. Desde que se formou em
turismo, trabalhou em bares, restaurantes, lojas, segurança de aeroporto e até
como ajudante arqueológico. Sempre temporariamente e nunca com garantias
formais. Em 2010, Sklavenitis e outros amigos desempregados formaram a primeira
Associação dos Desempregados, com o objetivo de lutar por melhores condições de
emprego e apoio psicológico àqueles que sofrem com o desemprego. [...]