quarta-feira, abril 30, 2008

Escrito nas estrelas?

Qual o seu signo? Esta é uma pergunta comum entre as pessoas, especialmente quando se conhecem e querem saber se têm alguma afinidade astrológica. Chega a ser surpreendente o fato de tanta gente ainda tomar decisões ou decidir o futuro amoroso com base no que estaria escrito nas estrelas, mesmo vivendo numa era de conquistas científicas espetaculares e de grande disseminação do conhecimento.

Esse é o lado irônico da coisa. A despeito da grande evolução científica, nunca se presenciou em toda a história da civilização uma explosão tão grande de misticismo que mistura fantasia e realidade em doses que tendem a trazer de volta um panorama que se pensava sepultado no passado longínquo.

Embora hoje não exista exatamente um culto aos astros, como havia nas civilizações da antiguidade, milhares de pessoas baseiam cruciais decisões médicas, profissionais e pessoais em conselhos recebidos de astrólogos e de publicações dedicadas à astrologia. E mais da metade dessas pessoas é jovem.

A astrologia surgiu numa época em que a visão que a humanidade tinha do mundo era dominada pela magia e pela superstição. Os corpos celestes eram considerados deuses ou "espíritos" importantes, que pareciam passar o tempo mexendo com a vida dos seres humanos.

As pessoas procuravam no céu sinais que lhes permitissem descobrir o que os deuses fariam em seguida. Mesmo na antiga Babilônia já havia a prática da astrologia, conforme registrou o profeta Isaías: "Cansaste-te na multidão dos teus conselhos; levantem-se pois agora e te salvem os astrólogos, que contemplam os astros, e os que nas luas novas prognosticam o que há de vir sobre ti" (Isaías 47:13).

Mas por que a astrologia se mantém até hoje? Tem ela, afinal, alguma base científica? A seguir são analisadas sete questões, baseadas num estudo do astrônomo americano Andrew Franknoi, as quais colocam em xeque a pretensão da astrologia de ser uma ciência, à semelhança da astronomia.

Pirotecnias astrológicas

1. Qual a probabilidade de que 1/12 da população mundial tenha um mesmo tipo de dia? Os astrólogos que publicam horóscopos nos jornais asseguram que se pode saber algo sobre os acontecimentos do dia de uma pessoa simplesmente lendo um dos doze parágrafos da coluna dedicada ao assunto em um jornal.

Uma divisão simples mostra que cerca de 400 milhões de pessoas no mundo teriam o mesmo tipo de dia, todos os dias. "Dada a necessidade de atender a tantas expectativas ao mesmo tempo, torna-se claro o motivo pelo qual as previsões astrológicas vêm acondicionadas em um palavreado o mais vago e genérico possível", analisa Franknoi.

2. A astrologia parece científica para algumas pessoas porque o horóscopo é baseado em um dado exato: o tempo do nascimento de cada um. Quando a astrologia foi estabelecida, há muito tempo, o instante do nascimento era considerado o ponto mágico da criação da vida.

Mas hoje entendemos o nascimento como o ponto culminante de um desenvolvimento de nove meses dentro do útero. Provavelmente o motivo pelo qual os astrólogos se mantêm fiéis ao momento do nascimento tem pouco a ver com a teoria astrológica. Quase todo cliente sabe quando nasceu, mas é difícil identificar o momento da concepção de uma pessoa.

3. Se o útero da mãe pode afastar influências astrológicas até o nascimento, como dizem os astrólogos, será que é possível fazer a mesma coisa com um pedaço de filé? Se forças tão poderosas emanam do céu, por que elas são inibidas antes do nascimento por uma fina camada protetora feita de músculo, carne e pele? Se o horóscopo potencial de um bebê for insatisfatório, seria possível retardar a ação das influências astrológicas circundando imediatamente o recém-nascido com um naco de carne até que os signos celestiais fiquem auspiciosos?

4. Outro aspecto interessante de se notar é que, se os astrólogos são tão bons quanto afirmam, por que eles não ficam mais ricos? Alguns respondem que não podem prever eventos específicos, apenas tendências amplas. Outros alegam ter o poder de prever grandes eventos, mas não pequenos acontecimentos.

Mas, seja como for, os astrólogos poderiam ganhar bilhões prevendo o comportamento geral do mercado de ações ou do mercado futuro do ouro e assim não precisariam cobrar consultas tão caras ou publicar tiras em jornais.

5. Da parte da ciência (a astronomia), a astrologia recebe ainda outro golpe. Alguns astrólogos afirmam que o signo do Sol (a localização do Sol no Zodíaco no instante do nascimento), usado exclusivamente por muitos horóscopos de jornais, é um guia inadequado para os efeitos do cosmos.

Eles insistem que a influência de todos os corpos principais no Sistema Solar deve ser levada em consideração, incluindo Urano, Netuno e Plutão, que somente foram descobertos em 1781, 1846 e 1930, respectivamente.

"E antes de 1930? Estavam erradas todas as previsões astrológicas? E por que as imprecisões dos antigos horóscopos não levaram a deduzir a presença dos três planetas muito antes que os astrônomos os descobrissem? E que aconteceria se fosse descoberto um décimo planeta? E que dizer dos asteróides e das luas do tamanho de planetas, localizados na periferia do Sistema Solar?", questiona Franknoi.

6. A desconsideração desses corpos celestes por parte dos astrólogos leva a outra pergunta: Se a influência astrológica é exercida por alguma força conhecida, por que os planetas dominam? Se os efeitos da astrologia podem ser atribuídos à gravidade, à força das marés ou ao magnetismo, qualquer um poderia realizar os cálculos necessários para ver o que realmente afeta um recém-nascido.

Por exemplo, o obstetra que faz o parto exerce uma força gravitacional cerca de seis vezes superior à de Marte e cerca de dois trilhões de vezes superior à das marés. O médico pode ter muito menos massa que o planeta vermelho, mas está muito mais perto do bebê.

7. Caso os astrólogos digam que a influência astrológica é exercida por uma força desconhecida, por que não depende da distância? Todas as forças de longo alcance conhecidas no Universo ficam mais fracas à medida que os objetos se distanciam, mas as supostas influências astrológicas não dependem da distância.

A importância de Marte em um dado horóscopo é idêntica, esteja o planeta do mesmo lado do Sol que a Terra ou sete vezes mais distante, do outro lado. Uma força independente da distância seria uma descoberta revolucionária. Mas ainda que se admitisse que a influência astrológica não depende da distância, surgiria outra pergunta: Por que não existe astrologia de estrelas, galáxias e quasares?

Para o astrônomo francês Jean-Claude Pecker, os astrólogos parecem ter "uma mente muito estreita" quando limitam seu ofício ao Sistema Solar. "Bilhões de estupendos corpos espalhados por todo o Universo deveriam somar sua força à dos nossos pequenos Sol, Lua e planetas", diz Pecker.

Será que um cliente, cujo horóscopo omite os efeitos de Rigel, do Pulsar do Caranguejo e da Galáxia M31 (Andrômeda), recebeu um mapa astrológico completo?

Várias questões científicas poderiam ser ainda mencionadas, mas encerremos com uma de ordem ética. O cristianismo - e qualquer sociedade civilizada - deplora todos os sistemas que julgam os indivíduos pelo sexo, cor da pele, religião, nacionalidade ou quaisquer outros acasos de nascimento. O próprio Deus "não faz acepção de pessoas" (Atos 10:34). No entanto, os astrólogos alardeiam que podem avaliar as pessoas baseados em outro acaso de nascimento: as posições dos corpos celestes.

Será que a recusa em namorar alguém do signo de Leão ou de empregar alguém de Virgem não é tão condenável quanto a recusa em namorar um negro ou dar emprego a um protestante?

Diante do que foi exposto, continua válido o conselho de Moisés aos antigos israelitas para não levantarem os olhos para o céu e, vendo o Sol, a Lua e as estrelas, todo esse exército do céu, ser levados a se inclinar perante eles (Deuteronômio 4:19).

Melhor do que acreditar na guia dos astros celestes e que o destino humano estaria escrito nas estrelas, é depositar a vida nas mãos do Criador dos planetas, das galáxias, enfim, do Universo.

Michelson Borges

Paz na Terra

A descrição do último dia do planeta Terra que mais me impressiona está escrita no best-seller mundialmente conhecido como O Grande Conflito. Nas páginas 640 e 641, a autora, Ellen G. White, pinta assim a cena: “Surge logo no Oriente uma pequena nuvem negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem. É a nuvem que rodeia o Salvador, e que, à distância, parece estar envolta em trevas. O povo de Deus sabe ser esse o sinal do Filho do homem. Em solene silêncio fitam-na enquanto se aproxima da Terra, mais e mais brilhante e gloriosa, até se tornar grande nuvem branca, mostrando na base uma glória semelhante ao fogo consumidor e encimada pelo arco-íris do concerto. Jesus, na nuvem, avança como poderoso vencedor. ... Com antífonas de melodia celestial, os santos anjos, em vasta e inumerável multidão, acompanham-nO em Seu avanço. ... Nenhuma pena humana pode descrever esta cena, mente alguma mortal é apta para conceber seu esplendor.”

Fantástico demais? Parece apenas um lindo sonho que nunca se realizará? Seriam simbólicas essas palavras, assim como as centenas de citações bíblicas relacionadas com esse evento? Afinal de contas, Cristo voltará mesmo algum dia?

** TEMPO DE PARADOXOS

O fim do século 20 foi caracterizado por grandes paradoxos, que se ampliaram nas últimas décadas. De um lado, os avanços científico-tecnológicos enchem-nos de esperança: realidade virtual, engenharia genética e clonagem, viagens espaciais rotineiras e Internet são palavras que deixaram a ficção para se tornar realidade. De outro, a fome e as epidemias dizimando milhões de seres humanos em vários países; o aquecimento da temperatura global; crianças armadas matando colegas na escola; desastres aéreos, navais e automobilísticos; lixo “cultural” exibido em horários nobres na TV; doenças incuráveis como a Aids levando milhões à sepultura precocemente... Isso sem falar na crise econômica e no desemprego.

Depois da queda do comunismo na ex-União Soviética, as atenções de todo o mundo se voltaram para o capitalismo como “a grande solução”. Entretanto, em anos recentes, constatou-se a ilusão de tal crença. Em outubro de 1997, a crise asiática assustou o mundo e provocou um efeito cascata nas bolsas de valores. Menos de um ano depois (em agosto de 1998), a moratória russa gerou incerteza e derrubou a poderosa Bolsa de Nova Iorque em 4,2%. O desespero dos investidores se estampava nos jornais, cumprindo, em parte, as palavras de Jesus: “Haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo” (Lucas 21:26).

De fato, este início de século e milênio está marcado pelos paradoxos. Boas e más notícias se mesclam nos noticiários diários. Esperança e desespero convivem de mãos dadas. Em quem devemos crer: nos “profetas do fim do mundo”, ou nos pregoeiros da paz e da Nova Era? Existe, afinal, uma boa notícia que seja, acima de tudo, confiável e definitiva? Existe!

** A GRANDE NOTÍCIA

Há quase dois mil anos, Deus assumiu a forma humana e habitou entre os homens (ver João 1:1-3). Jesus – chamado de o Verbo de Deus, a Palavra encarnada – trouxe-nos a maior e melhor notícia de todos os tempos: há salvação para o pecador arrependido e para este mundo enfermo; as desgraças e a miséria humana não durarão para sempre. Veja o que Ele mesmo disse: “Não fiquem tristes e preocupados. Confiem em Deus e confiem também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitos cômodos, e Eu vou preparar um lugar para vocês. ... E, depois que Eu for ... voltarei e os levarei comigo para que vocês estejam onde Eu estiver” (João 14:1 a 3, BLH). Sem dúvida, a segunda vinda de Cristo (prometida por Ele mesmo) é o maior acontecimento da História. Mas como será essa vinda?

Passagens bíblicas como Mateus 24:30; 25:31; Atos 1:11 e outras, deixam claro que a segunda vinda de Cristo à Terra será bem visível, pois Ele virá “sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”. Além disso, junto com Ele virão milhares de anjos. Para que não houvesse nenhuma dúvida, inclusive, Jesus comparou Sua vinda a algo bem visível: um relâmpago que cruza o céu de ponta a ponta (ver Mateus 24:27). A Bíblia diz, também, que todos os povos da Terra verão o Filho do homem descendo nas nuvens, com poder e grande glória (ver Apocalipse 1:7 e Mateus 24:30).

Outro evento espetacular que terá lugar na segunda vinda de Cristo é a ressurreição dos mortos. O apóstolo Paulo deixou palavras muito animadoras a respeito dos que dormem na sepultura. Disse ele que “haverá a ordem de comando, a voz do Arcanjo, o som da trombeta de Deus, e então o próprio Senhor descerá do Céu. Ressuscitarão primeiro aqueles que já morreram crendo em Cristo” (I Tessalonicenses 4:16, BLH). Essa é, sem dúvida, uma feliz notícia para todos os que perderam um amigo ou familiar querido. Pense na possibilidade de rever essa pessoa num mundo onde não haverá mais dor, choro ou morte! (Ver Apocalipse 21:1-4.)

Com relação aos que estiverem vivos na vinda de Cristo, Paulo diz: “Então nós, os que estivermos vivos, seremos todos reunidos com eles [os mortos ressuscitados] nas nuvens, para nos encontrarmos com o Senhor no ar; e assim estaremos sempre com Ele” (I Tessalonicenses 4:17, BLH). Paulo, inspirado por Deus, também disse que os que estiverem vivos por ocasião da segunda vinda, serão transformados, deixarão de ser mortais e ganharão um corpo imortal (ver I Coríntios 15:51 e 52).

Agora pense nisso: se na segunda vinda de Cristo os mortos serão ressuscitados e os vivos transformados serão levados para o Céu, isso quer dizer que não haverá uma outra chance para arrependimento naquele dia. Note o que disse Jesus: “Eu venho logo! Vou trazer comigo as Minhas recompensas, para dá-las de acordo com o que cada um tem feito” (Apocalipse 22:12, BLH). Jesus virá, desta vez, para dar a recompensa: a vida eterna.

A salvação de todo ser humano já foi providenciada quando o Filho de Deus entregou a vida na cruz. Em Sua segunda vinda, Ele virá buscar aqueles que aceitaram essa salvação. “Quando chegou o tempo de mostrar a Minha bondade” – diz Deus – “Eu atendi o seu pedido e o socorri quando chegou o dia da salvação. Escutem! Este é o tempo em que Deus mostra a Sua bondade! Hoje é o dia de ser salvo!” (II Coríntios 6:2, BLH).

Naquele dia, só haverá duas classes de pessoas. Jesus dirá aos que estiverem à Sua direita, aos salvos: “Venham, vocês que são abençoados pelo Meu Pai! Venham e recebam o Reino que, desde a criação do mundo, foi preparado pelo Meu Pai.” Já aos da esquerda, os que rejeitaram todos os apelos do Espírito Santo e não quiseram manter um relacionamento de amizade com Cristo, Ele dirá: “Afastem-se de Mim” (ver Mateus 25:34 e 41, BLH).

** QUANDO VIRÁ JESUS?

“Quanto ao dia e hora ninguém sabe” (Mateus 24:36), mas Cristo deixou algumas profecias cujo cumprimento serviria de sinal para os vigilantes, os que estudam a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Dentre esses sinais, podemos destacar os seguintes:

 Pessoas querendo imitar a vinda de Cristo, dizendo ser Ele e fazendo, inclusive, milagres (Mateus 24:5 e 24);
 Guerras, fomes, pestes, doenças e terremotos em todos os lugares (Mateus 24:7);
 Tempos difíceis (II Timóteo 3:1);
 Homens amantes de si mesmos, ambiciosos, egoístas, blasfemos, orgulhosos, mais amigos de prazeres do que amigos de Deus (II Timóteo 3:1-5);
 Multiplicação do conhecimento das profecias apocalípticas e da ciência (Daniel 12:4).

A freqüência e intensidade com que esses sinais têm ocorrido nos últimos anos apontam para a proximidade da segunda vinda de Jesus Cristo. É verdade que muitas pessoas duvidam desse acontecimento. Alguns até zombam dos que crêem nisso. Sem saber, esses céticos cumprem outro sinal: “Vocês precisam saber que nos últimos dias vão aparecer homens dominados pelas suas próprias paixões. Eles vão zombar de vocês, dizendo: ‘Ele prometeu vir, não foi? Onde está Ele? Os nossos pais morreram, e tudo continua do mesmo jeito que era desde a criação do mundo!’” (II Pedro 3:3 e 4, BLH).

Por isso, um bom conselho bíblico é: “Fiquem vigiando e orando sempre, para poderem escapar de tudo o que vai acontecer e continuarem firmes diante do Filho do homem” (Lucas 21:36, BLH).

Michelson Borges

Desafios globais

Jamais, em toda a história da Terra, as palavras do apóstolo Paulo em Romanos 8:22 estiveram tão corretas. Nesse texto, Paulo diz que “toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora”. Após a queda espiritual de Adão e Eva, e a degradação física, mental e moral que se seguiu, o mundo tomou o rumo da destruição. E isso vem ocorrendo a passos largos ultimamente.

A humanidade está consumindo os recursos da Terra mais rápido do que eles são capazes de se regenerar. Em 1999, a taxa de consumo já era 20% maior que a de recuperação, e essa tendência de aumento está longe de ser contida.

Dados divulgados pela ONG ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (mais conhecida pela sigla em inglês WWF) mostram que há motivos reais para preocupação. “Pela primeira vez conseguimos contabilizar os gastos com energia”, diz Garo Batmanian, secretário-geral do WWF no Brasil. O relatório “Planeta Vivo 2002” usa como principal índice a chamada Pegada Ecológica – uma forma de computar o quanto o consumo de um país exigiria em termos de território para a manutenção do equilíbrio. “Por exemplo, se você emite tanto de gás carbônico na atmosfera para produzir energia, quanta floresta precisaria ter para compensar o dispêndio”, explica Batmanian.

Na média, cada habitante da Terra precisaria, em 1999, de 2,3 hectares para compensar seu consumo. Ocorre que, segundo o WWF, no planeta só há 1,9 hectare para cada um. “É como se estivéssemos usando o cheque especial e gastando 20% a mais do que nosso salário”, diz Batmanian.

Outro fator que continua preocupando é o velho conhecido efeito estufa. Hoje se sabe que a temperatura da Terra continuará aumentando independentemente dos esforços que as nações fizerem para reduzir a emissão de gases estufa. Mesmo assim, essa ainda é a única solução para impedir um desastre climático.

Essa é a conclusão de um estudo realizado por 19 instituições nos Estados Unidos – incluindo universidades, agências federais, indústrias privadas e a Nasa (agência espacial norte-americana) –, publicado ano passado pela revista de pesquisa geofísica Atmospheres.

Os pesquisadores utilizaram um modelo climático batizado de GISS SI2000 para simular o clima global nos últimos 50 anos. O modelo apontou que, entre 1951 e 2000, a superfície terrestre teve um aquecimento de cerca de 0,5 grau Celsius, enquanto a atmosfera superior sofreu um esfriamento de aproximadamente 1 grau.

A precisão das observações, que foi atestada pelos dados de referência, animou a equipe a simular o clima para os próximos 50 anos. A análise foi feita com base em duas hipóteses diferentes. A primeira levava em conta que a emissão de gases estufa continuaria crescendo na proporção atual; esse cenário conduziria a um aumento acelerado do aquecimento global, elevando a temperatura média em até 2 graus Celsius e atingindo níveis inéditos nos últimos séculos.

Em uma situação alternativa, em que a poluição do ar fosse reduzida e a emissão de gás carbônico pela queima de combustíveis fósseis se estabilizasse, o aumento da temperatura não passaria de 0,75 grau Celsius no mesmo período. Esse cenário, porém, não é fácil de ser alcançado.

Os resultados da conferência mundial Rio + 10, realizada de 26 de agosto a 4 de setembro do ano passado em Johanesburgo, África do Sul, confirmam a previsão pessimista. “Essa conferência é uma reprise malfeita da de 92. Eu acho que a marca dessa conferência certamente não será o sucesso. Ela está correndo o risco de ser uma Rio menos 10 ou Rio menos 20”, comparou Fábio Feldmann, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, resumindo o pensamento de muitos dos participantes do encontro.

Ao mesmo tempo que há maior consciência do papel humano na conservação da vida (ou em sua aniquilação), não há tanta disposição, especialmente por parte de países desenvolvidos, de reduzir a poluição, uma vez que isso represente algum prejuízo no bolso.

Robert Kurz, sociólogo alemão e autor dos livros Os Últimos Combates e O Colapso da Modernização, diz que o resultado dessas conferências de cúpula sobre o meio ambiente (Rio 92, Rio + 10 e Kioto) já era previsível. “Todas essas conferências fracassaram de forma lamentável, e a resistência ‘sustentável’ dos Estados Unidos, que não querem perder a alegria de seu consumo de potência mundial, não foi a última das razões. Uma vez que o reequipamento perfeitamente possível com outras tecnologias pesaria nos cálculos da economia industrial e estreitaria os lucros, ele é recusado, e o gás estufa continua a ser emitido em grandes quantidades; da mesma forma, o desgaste do ambiente segue desenfreado”, diz o sociólogo.

** NUVEM MORTAL

Em agosto do ano passado, o mundo ficou estarrecido com a imensa nuvem de poluentes que se estendeu do Japão ao Afeganistão, no sentido leste-oeste, e da China à Indonésia, no sentido norte-sul, abrangendo uma região da Ásia em que vive um quinto da humanidade. Como uma mortalha cinzenta, a nuvem do tamanho de três Brasis tinha três quilômetros de espessura e era formada por um coquetel de partículas de carbono, sulfatos e cinzas orgânicas. O mundo nunca havia visto algo nessas proporções.

Como se não bastasse, de julho a agosto ocorreram inundações em todo o planeta, que já figuram na história das catástrofes naturais como um triste recorde. Numa extensão jamais vista desde o início dos registros meteorológicos na modernidade, regiões gigantescas foram inundadas simultaneamente na Europa, na África, na Ásia, na América do Sul e na do Norte.

Chuvas de força extrema com até 600 litros por metro quadrado, deslizamentos de terra e rios transbordando destruíram as infra-estruturas de províncias inteiras, aniquilaram a colheita, causaram dezenas de milhares de mortes e deixaram milhões de pessoas desabrigadas. No leste da Alemanha, uma “enchente do século” quase paralisou toda a economia. Ao mesmo tempo, e exatamente às avessas, outras regiões foram assoladas pela seca.

Como informam as grandes empresas de seguro do mundo, os danos por temporais e inundações aumentam de ano a ano: na Europa, segundo dados do Consórcio Allianz, eles quadruplicaram só na primeira metade de 2002.

De certa forma, essas catástrofes recentes serviram para lembrar, uma vez mais, que o mundo, pela ação do ser humano, pode se tornar um lugar perigoso para se viver, e que florestas, peixes, água e ar limpos estão cada vez mais escassos. Duas das mais importantes fontes de biodiversidade – os recifes de coral e as florestas tropicais – foram tremendamente degradadas. As emissões de carbono, o grande responsável pelas mudanças climáticas e pelo aquecimento global, cresceram 10%. Nos Estados Unidos, que abandonaram o Protocolo de Kioto, o tratado assinado por 178 países para controlar as emissões desse gás, o salto foi de 18%.

** SETE TROVÕES

No livro The Seven Thunders (Os Sete Trovões), o físico nuclear Ron Nielsen, da Austrália, fazendo referência a Apocalipse 10:1-3, alista sete graves problemas pelos quais a humanidade passa atualmente. Segundo ele, os problemas têm pelo menos quatro atributos em comum: (1) estão associados à deterioração acelerada do meio ambiente; (2) mostram que se está chegando aos limites ecológicos do planeta; (3) estão todos ocorrendo na atualidade, tendo começado por volta de 200 anos atrás apenas; e (4) indicam que dentro de pequeno período de tempo haverá um colapso nos sistemas de manutenção da vida. “Todos esses problemas mostram que se está caminhando na direção de uma crise global de magnitude sem precedentes”, afirma Nielsen.

O primeiro dos “trovões” de Nielsen é a deterioração do meio ambiente, causada, entre outros fatores, pela intensificação das atividades industriais e agrícolas. Entre 1990 e 1995, houve um crescimento na produção industrial dos países industrializados na ordem de 2,6% ao ano. Na China, o crescimento foi de 18,1%, e na Ásia oriental, 16%.

No que diz respeito à agricultura, um fator preocupante é o aumento do uso de pesticidas. Em 1960 utilizava-se cerca de 0,4 quilo por hectare. Em 1999 o consumo subiu para 2 quilos. Quando se sabe que a exposição a pesticidas pode causar sérias doenças como linfoma, leucemia e câncer de mama, tem-se idéia da real dimensão do problema. Além disso, os pesticidas e fertilizantes estão destruindo o biossistema vital do solo, acarretando diminuição na eficácia de produção de alimentos. É o tiro saindo pela culatra.

“Pela primeira vez na longa história humana estamos rapidamente destruindo a terra, a água e a atmosfera. Pela primeira vez, também, estamos diante de uma crise energética e à beira da extinção”, avalia Nielsen.

O segundo problema apontado pelo físico é a explosão populacional. A cada segundo cerca de quatro crianças nascem no mundo. São 250 por minuto e 130 milhões por ano. Por outro lado, cerca de 100 pessoas morrem a cada minuto na Terra, o que dá aproximadamente 50 milhões por ano. Fazendo as contas, conclui-se que ocorre um aumento populacional da ordem de 80 milhões por ano. Lamentavelmente, apenas uma pequena fração dessas crianças terá condições razoáveis de vida, levando-se em conta que pode haver um colapso ecológico por volta de 2030. O número de pessoas vivendo no planeta nessa época será em torno de 8 bilhões.

Ao problema da explosão populacional, soma-se a redução dos recursos terrestres – o terceiro “trovão”. Esses recursos estão diminuindo principalmente devido ao aumento da população global. Há 2 mil anos, tinha-se até 59 hectares de terra utilizável por pessoa. Por volta de 1830, já eram 10 hectares. Atualmente, cada pessoa dispõe de menos de 2 hectares. As áreas de terra utilizáveis estão sendo destruídas pela industrialização, pela agricultura intensiva e pelo desmatamento. Entre 1945 e 1990, quase 2 bilhões de hectares foram perdidos.

Perdida está sendo também a biodiversidade global. De acordo com Nielsen, 140 espécies estão se tornando extintas por dia, ou seja, 5% das estimadas 10 milhões de espécies do planeta estão desaparecendo a cada década. Isso significa que, até 2050, aproximadamente um quarto das espécies de plantas e animais será riscado do mapa.

A diminuição das fontes de água potável é outro problema sério. A Organização Mundial da Saúde anunciou recentemente um dado espantoso: mais de 1 bilhão de pessoas não terão acesso à água tratada e 3,4 milhões morrerão anualmente por causa de doenças que poderiam ser facilmente evitadas por cuidados com o saneamento e melhores suprimentos de água. Mesmo com as advertências da ONU, que vêm sendo feitas desde 1992, nada se fez para evitar o agravamento do problema. A não ser que sejam modificadas as atuais práticas de desperdício e degradação dos recursos hídricos, dois terços da população mundial estarão vivendo em condições de escassez de água até 2025.

Tão importante quanto a água na manutenção da vida é o ar. No entanto, conforme Nielsen, “sistemática e persistentemente estamos destruindo essa fina camada atmosférica, o ar do qual necessitamos para respirar, para a regulação do clima e proteção contra as mortais radiações ultravioleta”. A menos que se pare com os desmatamentos, se plantem mais árvores e se encontre alguma forma de reduzir a quantidade de carbono lançado na atmosfera, sua concentração nociva continuará aumentando. De acordo com as últimas projeções feitas pela Energy Information Administration, as emissões globais de carbono serão ainda maiores que as do século 20. Haverá um aumento de 52% na emissão de carbono: de 6,6 bilhões de toneladas no ano 2000 para 10 bilhões ao ano. “A menos que se faça algo urgentemente, logo chegaremos ao ponto de não retorno”, prevê o físico.

O quinto “trovão” é a crise energética. Considerando-se que os combustíveis fósseis, como o petróleo e o gás natural, ainda são as principais fontes de energia (86% do consumo global), o aumento na produção de veículos automotores representa outro sério perigo para o meio ambiente. Em 1950, a produção mundial de veículos automotores foi de 8 milhões de unidades. Na média, eram 2 veículos para cada 100 pessoas no mundo. Em 1999, a produção subiu para 39 milhões, elevando a média para 9 veículos para cada 100 pessoas. Em 50 anos a população mundial duplicou, enquanto a produção de automóveis quintuplicou.

As projeções indicam que dentro de 30 anos haverá quase 20 vezes mais veículos nas estradas do que há 50 anos, consumindo as últimas gotas de petróleo ou queimando gás e poluindo ainda mais a atmosfera (os carros são a maior fonte poluidora das cidades). A menos que se desenvolvam fontes de energia alternativa economicamente viáveis e seguras, o problema do aquecimento global e da poluição tende a se agravar.

O sexto e o sétimo “trovões”, na concepção de Nielsen, têm que ver com a degradação da qualidade de vida e com os conflitos armados e o aumento do poder de matar.

Cada vez mais o abismo entre ricos e pobres está se aprofundando. Pouquíssimas pessoas no mundo detêm a maior parte dos recursos econômicos, enquanto a imensa maioria vive abaixo da linha de pobreza.

Das 200 pessoas mais ricas do mundo, 65 vivem nos Estados Unidos e 55 na Europa. O restante está espalhado em várias partes do planeta. Entre 1994 e 1998, eles aumentaram sua riqueza combinada de 440 bilhões de dólares para mais de 1 trilhão de dólares, o que corresponde, na média, a 2 milhões de dólares para cada um, diariamente. É evidente que eles estão ganhando mais do que podem gastar. Quando se sabe que com apenas 1,5% da riqueza combinada desses abastados seria possível prover educação primária para todas as crianças do mundo, percebe-se a dimensão da desigualdade.

Nielsen menciona ainda dados alarmantes sobre o aumento desordenado da urbanização em países em desenvolvimento, a explosão da violência em todo o mundo e o número crescente de mortes (13 milhões por ano) ocasionadas por doenças como a tuberculose, a malária, a Aids e a pneumonia – com a sombria possibilidade do surgimento de “superdoenças”, já que se sabe que os micróbios têm se tornado mais resistentes às drogas.

No que diz respeito às guerras, os números também impressionam. Os conflitos armados cresceram de dez por ano, na década de 1950, para 51 em 1992. Decresceram um pouco entre 1993 e 1997, devido aos esforços da ONU, mas continuam ocorrendo numa média preocupante. Só os Estados Unidos gastam, por ano, mais de 300 bilhões de dólares em assuntos militares. Entre 1990 e 1997, os países industrializados utilizaram, em média, 9% de seus recursos governamentais para investir em equipamentos de defesa. Já regiões em desenvolvimento (como a África subsaariana, o sul e o leste da Ásia) têm gastado até 14% de seu orçamento em armas. Enquanto isso, a fome e a ignorância aumentam.

Com o avanço das tecnologias bélicas, o poder mortal da raça humana cresceu assustadoramente. Um única bomba atômica de 25 megatons é capaz de aniquilar mais de 10 bilhões de pessoas. Ou seja, se a população da Terra fosse agrupada em um local, seria possível extingui-la com uma única bomba.

Segundo estimativas do The National Resources Defense Council, o número de ogivas nucleares construídas entre 1945 e 2000, pelos cinco membros do “clube nuclear”, foi de 128.060 (70 mil dos Estados Unidos, 55 mil da Rússia, 1.200 da Grã-Bretanha, 1.260 da França e 600 da China). As informações sobre Israel, Índia e Paquistão são desconhecidas. Mas talvez o mais preocupante seja a facilidade de se fabricar uma bomba nuclear portátil, além de armas químicas e biológicas, que poderiam ser utilizadas em ataques terroristas suicidas, em qualquer lugar do mundo.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, só o que os Estados Unidos gastam na manutenção de seu arsenal nuclear (4,5 bilhões de dólares por ano) daria para salvar da morte por malária 600 mil crianças e prover vacinas contra sarampo suficientes para salvar mais de 500 mil crianças a cada ano.

Ao analisar todos esses dados sobre a situação mundial, Nielsen conclui: “Como você descreveria um capitão de navio que ordenasse queimar todos os botes salva-vidas, destruir o equipamento de comunicação e furar o casco da embarcação? É isso o que estamos fazendo com nossa espaçonave chamada Terra. Estamos destruindo a terra, a água e a atmosfera.”

** SINAIS DO FIM

Há dez anos, embalada pela Rio 92, a Unesco publicou o que pretendia ser o corolário do futuro: “Cada geração deve deixar os recursos da água, do solo e do ar tão puros e despoluídos como quando apareceram na Terra. Cada geração deve a seus descendentes a mesma quantidade de espécies de animais que encontrou.” A realidade lamentavelmente virou tudo isso pelo avesso. O que se viu nos anos 90 foi um avanço descontrolado sobre ecossistemas frágeis, que não suportam a exploração agrícola intensiva, como as áreas de cerrados, savanas e de vegetação semi-árida. Essas regiões correspondem a quase 40% da superfície total do planeta e respondem por cerca de 22% da produção mundial de alimentos. A superexploração leva o esgotamento do solo ao seu limite, um processo conhecido como desertificação. A FAO, o órgão da ONU para a agricultura, estima que 250 milhões de pessoas em mais de 100 países são afetadas pelo esgotamento do solo.

Esse cenário sombrio serve para reforçar a idéia de que realmente vivemos os últimos dias do planeta Terra. No livro do Apocalipse (11:18) é dito que chegou o tempo determinado para Deus destruir “os que destroem a Terra”.

Às vezes, a luz no fim do túnel pode ser apenas um trem em sentido contrário. E quando se confia somente nos recursos humanos é o que freqüentemente se dá – o choque com o “trem” da impotência e da destruição. Mas a esperança apontada pelas Escrituras é real, e a luz que desponta nas trevas do “túnel” chamado Terra, é a luz da volta de Cristo, que transformará este mundo desgastado em uma nova Terra (Apoc. 21). Essa é a única esperança do ser humano.

** NÚMEROS QUE ASSUSTAM

 A escassez de água potável já atinge 2 bilhões de pessoas. Nesse ritmo, dentro de 25 anos serão 4 bilhões.

 A água contaminada pelo descaso ambiental mata 2,2 milhões de pessoas por ano.

 3 milhões de mortes são causadas anualmente pela poluição do ar.

 As emissões de carbono, o principal poluidor do ar, aumentaram 10% desde 1991.

 2,4% das florestas foram destruídas nos anos 90, uma área equivalente ao território de Mato Grosso.

 30 bilhões de toneladas de lixo são despejadas anualmente no meio ambiente.

 140 espécies de plantas e animais estão se tornando extintas por dia.

 O que os Estados Unidos gastam na manutenção de seu arsenal nuclear (4,5 bilhões de dólares por ano), daria para salvar da morte por malária 600 mil crianças e prover vacinas contra sarampo suficientes para salvar mais de 500 mil crianças a cada ano.

 Segundo o estudo “Mudanças Climáticas e Serviços Financeiros”, publicado em outubro, os problemas ambientais poderiam gerar custos de até 150 bilhões de dólares por ano até 2012.

Michelson Borges

Paradoxo ateístico

“Uma coisa é desejar ter a verdade do nosso lado, outra é desejar sinceramente estar do lado da verdade.” – Richard Whately

O último censo populacional do IBGE mostrou um paradoxo brasileiro: ao mesmo tempo em que o número de evangélicos cresceu, outro grupo apresentou percentuais elevados em relação a anos anteriores – o dos que se declaram sem religião. Mas o que chama mesmo a atenção é o surgimento de uma nova figura no panorama religioso do país: o ateu militante. À semelhança dos religiosos, eles organizam encontros, participam de grupos de discussão na Internet e até fundaram uma ONG, a Sociedade Terra Redonda. O objetivo não é outro senão conclamar as pessoas sem fé religiosa a assumir o próprio ateísmo.

De certa forma, é até compreensível esse empenho ateístico. Durante muitos séculos, descrer em Deus era algo visto com muito preconceito e até perseguição (os inquisidores medievais que o digam). E não custa nada lembrar que em algumas nações (e por parte de algumas pessoas) ainda persiste a intolerância religiosa. A resistência às religiões de cunho sentimentalista e fortemente baseadas em sinais miraculosos também pode ser um motivo para tantos estarem migrando para o extremo oposto.

O psicólogo norte-americano Michael Shermer, diretor da Sociedade dos Céticos e autor do livro Fronteiras da Ciência: Onde o que Faz e o que Não Faz Sentido Se Encontram, aponta ainda outro problema: o aumento do irracionalismo. Pesquisas mostram que cada vez mais se acredita em astrologia, experiências extra-sensoriais, bruxas, alienígenas e discos voadores. Para ele, “o irracionalismo tem aumentado principalmente por culpa da comunicação de massa e da Internet. As pessoas que vivem da exploração dessas crenças são hábeis na utilização desses recursos. As religiões tradicionais vêm perdendo muito espaço nos últimos anos, o que tem deixado um campo aberto para crenças alternativas como paranormalidade e cultos da Nova Era”. O problema é que os ditos céticos acabam colocando no mesmo saco todo tipo de crença, como fez exatamente o engenheiro Daniel Sottomaior, em resposta ao meu artigo “Cristo ainda é manchete”, publicado neste Observatório.

A julgar pelos mais de 800 colaboradores cadastrados na Sociedade Terra Redonda (da qual Sottomaior é membro), cujo site tem mais de 70 mil visitas por mês, a maioria dos ateus brasileiros é jovem e vem da área de Ciências Exatas. “Somos racionalistas, e uma de nossas funções é denunciar falsos milagres”, diz o programador de computadores Leo Vines, de 24 anos. Vines, que é o presidente da Sociedade, afirma ainda que “quem examina a questão da existência de Deus à luz de um método científico chega inevitavelmente à conclusão de que Ele não existe, já que não há nenhuma evidência concreta disso”. Mas será essa uma conclusão correta?

** CIENTISTAS QUE CRÊEM

Em 1916, cientistas americanos participaram de uma pesquisa sobre suas crenças religiosas. A mesma pesquisa foi repetida em 1996. Surpreendentemente houve pouca mudança nesses 80 anos. Em ambos os casos, cerca de 40% dos cientistas disseram acreditar em um Deus pessoal, 45% disseram não acreditar e 15% não responderam. Se o método científico apontado por Vines, pelo qual se orientam os cientistas, demonstrasse realmente a inexistência de Deus, não haveria sequer um cientista crédulo.

O escritor italiano Umberto Eco, reconhecidamente agnóstico, escreve no livro Em que Crêem os que Não Crêem? (Editora Record) que, se a vida de Jesus Cristo for apenas um conto imaginado pela humanidade, o simples fato de o homem ter criado toda uma ideologia sobre o amor baseada numa figura fictícia já seria um mistério insondável. Admissão sincera, que deveria ser levada em conta pelos que se negam a ver a lógica, a coerência e a beleza da religião bíblica.

** RELIGIÃO RACIONAL

“Se você abandona a capacidade crítica de pensar cientificamente, pode acreditar em absolutamente tudo”, diz o psicólogo Michael Shermer. De fato, existe esse perigo, como também há o perigo de descrer de tudo. Talvez por isso o apóstolo Paulo, em Romanos 12:1, classifique o verdadeiro culto como “racional”, nada tendo a ver com a emotividade vazia de muitos cultos sensacionalistas modernos. O Criador é o Deus que convida: “Venham cá, vamos discutir este assunto” (Isaías 1:18, BLH). Deus não é irrazoável. Embora nossa aceitação de Sua existência e das verdades reveladas por Ele se baseiem na fé, há evidências suficientes para o observador atento e livre de preconceitos. Afinal, mesmo quando utilizamos a “capacidade crítica de pensar cientificamente”, chegamos à conclusão de que o Universo é obra de um Planejador inteligente, pois o efeito pressupõe uma causa. O acaso e a não-intencionalidade jamais responderam à pergunta fundamental “de onde viemos?”.

Sottomaior afirma que “a religião é intrinsecamente oposta à contestação”. Mas o apóstolo Paulo dá a entender que não há nada de errado com o emprego da razão na busca de respostas, quando diz que se deve examinar tudo e reter o que é bom (1a Tessalonicenses 5:21). O problema consiste em querer utilizar a razão humana para mensurar o que está além dela. Aliás, diga-se de passagem, a própria razão está além da razão. E julgar a razão pela própria razão é como definir uma palavra usando a própria palavra como sua definição, assim como na tautologia “a casa é vermelha porque é vermelha”. Como se sabe, tautologias nada provam.

Utilizar a ciência, uma ferramenta humana, para determinar a existência ou não de Deus é como tentar medir as distâncias cósmicas com uma fita métrica. Ou, para usar um exemplo mais conhecido, é tentar colocar o oceano em um buraquinho na areia. Eis aqui o paradoxo ateísta.

** CIÊNCIA E RELIGIÃO

Embora em meu artigo anterior eu nada tenha dito a respeito do adventismo e do criacionismo, Sottomaior aproveita a oportunidade para atacar outro ponto de vista com o qual discorda. No entanto, cada vez mais cientistas ao redor do mundo estão concluindo que a idéia de um planejamento inteligente para o Universo é lógica, ainda que nem todos se declarem criacionistas.

No livro Por Que Creio Naquele que Fez o Mundo (Editora Objetiva), o presidente da Federação Mundial de Cientistas, o católico Antonino Zichichi, faz afirmações bastante corajosas e pouco convencionais no mundo científico. Segundo ele, há flagrantes mistificações no edifício cultural moderno e que passam, muitas vezes, despercebidas do público em geral. Eis alguns exemplos: Faz-se com que todos creiam que ciência e fé são inimigas. Que ciência e técnica são a mesma coisa. Que o cientificismo nasceu no coração da ciência. Que a lógica matemática descobriu tudo e que, se a matemática não descobre o “Teorema de Deus”, é porque Deus não existe. Que a ciência descobriu tudo e que, se não descobre Deus, é porque Deus não existe. Que não existem problemas de nenhum tipo na evolução biológica, mas certezas científicas. Que somos filhos do caos, sendo ele a última fronteira da ciência.

Para Zichichi, a verdade é bem diferente. E a maneira de se provar a incoerência das mistificações acima consiste em compreender exatamente o que é ciência.

Foi Galileu Galilei quem lançou as bases da ciência experimental. A grandeza desse físico e astrônomo italiano, para quem “o Universo é um texto escrito em caracteres matemáticos”, não reside tanto em suas extraordinárias descobertas astronômicas, mas na busca de verificar se o resultado de experiências era ou não contrário à validade de determinadas leis. Para Galileu, as teorias deveriam ser testadas e repetidas a fim de serem consideradas verdadeiras. Graças a ele, pôde-se fazer separação entre o imanente e o transcendente. Como dizia um dos pais da física moderna, Niels Bohr, resumindo o pensamento galileano, não existem teorias bonitas e teorias feias. Existem apenas teorias verdadeiras e teorias falsas.

Por isso, Zichichi afirma: “Nem a matemática nem a ciência podem descobrir Deus pelo simples fato de que estas duas conquistas do intelecto humano agem no imanente e jamais poderiam chegar ao Transcendente” (Op. cit., pág. 16).

Uma teoria como a da evolução das espécies, com tantos “elos perdidos”, desenvolvimentos milagrosos (olho, cérebro, DNA, etc.), extinções inexplicáveis e fenômenos irreprodutíveis não é ciência galileana. “Eis porque”, diz Zichichi, “a teoria que deseja colocar o homem na mesma árvore genealógica dos símios está abaixo do nível mais baixo de credibilidade científica. ... Se o homem do nosso tempo tivesse uma cultura verdadeiramente moderna, deveria saber que a teoria evolucionista não faz parte da ciência galileana. Faltam-lhe os dois pilares que permitiriam a grande virada de 1600: a reprodução e o rigor. Em suma, discutir a existência de Deus, com base no que os evolucionistas descobriram até hoje, não tem nada a ver com a ciência. Com o obscurantismo moderno, sim” (Idem, págs. 81 e 82).

** PESQUISAS E PREMISSAS

Por mais que alguns queiram ignorar a realidade, especialmente no que diz respeito ao modelo da evolução, posto que não é fato científico confirmado (embora possua aspectos periféricos com os quais os criacionistas concordam), as premissas e a filosofia de vida dos pesquisadores influem diretamente em suas pesquisas. Bom exemplo é o do geólogo e pensador evolucionista da Universidade de Harvard, Stephen Jay Gould (falecido em 2002). Ele era marxista e é o autor da teoria do equilíbrio pontuado (saltacionismo), que é quase uma transposição literal da idéia da revolução para o mundo natural. Por isso mesmo, embora Gould faça bastante sucesso como escritor, grande parte da comunidade científica rejeita suas idéias “evolucionistas marxistas”.

E a conclusão de José Luiz Goldfarb, presidente da Sociedade Brasileira de História da Ciência, é a de que “nenhum cientista entra no laboratório sem uma visão de mundo mais complexa. O fato de a ciência funcionar em bases experimentais não significa que o cientista não tenha crenças ou pressupostos sobre a realidade” (Época, 27/12/99).

Michael Behe, autor do controvertido A Caixa Preta de Darwin (Jorge Zahar), vai na mesma direção, e diz que, “apesar da imagem popular, os cientistas são pessoas normais, com seus próprios preconceitos. Se alguém pretende desafiar uma crença profundamente defendida, pode esperar resistência”.

Em Grandes Debates da Ciência (Editora Unesp), Hal Hellman afirma que, “ao contrário dos erros tecnológicos, erros em ciência raramente são notícia. Em conseqüência, o público poucas vezes toma conhecimento dos caminhos equivocados pelos quais os cientistas muitas vezes enveredam. Mesmo no caso em que se divulga uma idéia científica incorreta, ninguém sabe que ela é incorreta; e quando se chega à idéia correta, ela é apresentada como uma nova descoberta, e a velha idéia é simplesmente esquecida. Mesmo em revistas científicas, relatos de resultados negativos raramente chegam a ser impressos, a despeito do fato de que possam ser muito úteis para os que trabalham na área” (pág. 14).

Hellman lembra ainda que “freqüentemente... o processo de descoberta científica está carregado de emoção. Quando apresenta uma nova idéia, é provável que um cientista esteja pisando nas teorias de outros. Os que sustentam uma idéia mais antiga podem não a abandonar de bom grado. ... É comum que alguma questão sutil, ou não tão sutil, ligada a crenças e valores, esteja subjacente ao debate. ... Os cientistas são suscetíveis de emoções humanas, ... são influenciados pelo orgulho, cobiça, beligerância, ciúme e ambição, assim como por sentimentos religiosos e nacionais; ... eles estão sujeitos às mesmas frustrações, cegueiras e emoções triviais que o resto de nós; ... eles são, na verdade, completamente humanos” (Idem, págs. 14, 16 e 18). Ateus ou não; cientistas ou não; todos agem e tiram conclusões não apenas com base na objetividade racional.

O professor Del Ratzsch, especializado em filosofia da ciência, em seu livro The Battle of Beginnings (sem tradução para o português), também faz algumas reflexões sobre o assunto. Às páginas 122 e 123, ele afirma que “as teorias – principalmente teorias explanatórias – não podem ser geradas por meios puramente lógicos ou puramente mecânicos a partir de dados empíricos. Elas são resultado de criatividade e invenção. ... As teorias não podem ser provadas de maneira conclusiva nem deixar de ser comprovadas exclusivamente com base em dados empíricos. Na verdade, os cientistas freqüentemente continuam a defender firmemente certas teorias mesmo diante de clara evidência contrária. ... A estrutura e natureza de teorias específicas, os conceitos que elas empregam, sua avaliação e o critério que determina sua aceitabilidade ou inaceitabilidade e sua aceitação ou rejeição estão todos ligados não só aos dados mas também aos princípios modeladores que alguém aceita. E esses princípios modeladores também não surgem só de dados empíricos”.

Não é difícil perceber que na ciência, como em qualquer outra área do saber, há mais do observador envolvido na pesquisa do que simplesmente faculdades sensoriais funcionando mecanicamente. Em muitos casos de percepção, o pesquisador inconscientemente “preenche” vários aspectos da própria experiência, geralmente sem perceber, e o formato que esse preenchimento assume é moldado em parte por suas expectativas, seu compromisso intelectual, sua predisposição teórica e até mesmo suas crenças (ou a falta delas).

Uma vez que as teorias são inevitavelmente indeterminadas por dados empíricos, se formos selecionar algumas teorias propostas e reivindicar que elas sejam verdadeiras, então a seleção não pode ser feita com base puramente empírica. Pelo menos algumas considerações não empíricas deverão desempenhar certo papel nessa seleção.

Na verdade, o que se nota é um exagero na objetividade e infalibilidade da ciência. Por mais importante que ela seja, não está imune à subjetividade, uma vez que é uma ferramenta humana.

Um bom exemplo é dado por Thomas Kuhn, em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas. Ele pergunta, à página 76: Um átomo de hélio é ou não uma molécula? Para o químico, é uma molécula porque se comporta como tal do ponto de vista da teoria cinética dos gases. Para o físico, o hélio não é uma molécula porque não apresenta espectro molecular. Portanto, os paradigmas e a formação das pessoas interferem, sim, em seus julgamentos sobre a realidade. E o que ocorre no campo religioso por certo também acontece no que diz respeito à ciência e à chamada racionalidade.

Isso explica por que, entre os cientistas, há crentes e ateus (como entre a população em geral). Se a existência de Deus (ou Sua inexistência) fosse algo demonstrável nos domínios da ciência experimental, só haveria um grupo de cientistas: crédulos (ou incrédulos).

Para Zichichi, Deus transcende a lógica matemática e a ciência. Por isso, “é inconcebível que possa ser descoberto pela lógica matemática ou pela ciência. A lógica matemática pode descobrir tudo aquilo que faz parte da matemática. E a ciência, tudo que faz parte da ciência. ... O ateu, na verdade, diz: ‘Por amor à lógica, não posso aceitar a existência de Deus.’ Mas o rigor lógico não consegue demonstrar que Deus não existe” (Op. cit, págs. 159 e 162). Quando a “ciência” opta por excluir o conceito de um Criador, deixa claro, com isso, que não é uma busca aberta da verdade, como tantas vezes quer parecer ser.

Na verdade, tudo ficaria mais claro (e lógico) se as pessoas admitissem, como fez Galileu, que tanto a natureza quanto as Escrituras Sagradas são obra do mesmo Autor e, embora utilizem linguagem diferente, não estão em contradição para o observador atento. As “contradições” bíblicas apontadas por Sottomaior em seu artigo são apenas aparentes, para o pesquisador isento. Comparando texto com texto, dentro de seus respectivos contextos, pode-se perceber a harmonia do cânon bíblico, a que me referi no artigo “Cristo ainda é manchete”.

“Não sabemos o que e quanto desconhecemos”, escreveu o zoólogo Dr. Ariel Roth, no livro Origens (Casa Publicadora Brasileira). “A verdade precisa ser buscada, e devia fazer sentido em todos os campos. Devido a ser tão ampla, a verdade abrange toda a realidade; e nossos esforços para encontrá-la deveriam também ser amplos” (pág. 51).

Michelson Borges

Amigo animal

Outro dia vi uma cena que me deixou realmente aborrecido. Da sacada de um sobrado de classe média um grupo de adolescentes desocupados fazia pontaria na rolinha, pousada em uma árvore em frente à casa. De repente, ouvi um estampido seco vindo da espingarda de pressão e alguns risos de triunfo. No instante seguinte, o pobre animal indefeso estava no chão, debatendo-se inutilmente contra a morte. Creio ter lançado um olhar gélido e involuntário aos rapazes, pois eles se esconderam dentro da casa, até que eu entrasse em minha residência. A “política da boa vizinhança” me impediu de ir até eles e dizer algumas coisas.

Depois comentei com a Débora, minha esposa, enquanto acariciava nossa cadelinha Laila, contente por ver-me chegar do trabalho: “Como o ser humano se tornou insensível.” Enquanto conversávamos sobre o triste ocorrido, outra cena me veio à mente. Lembrei-me de quando fui visitar uma pessoa considerada um bom cristão, bastante missionário. Ao chegar à casa dele, fui convidado a entrar, mas havia um cachorro distraído obstruindo o acesso. Sem pensar duas vezes, o homem desferiu um pontapé no bicho, expulsando-o do jardim. Engoli em seco e prossegui em minha visita.

O que ocorre conosco? Mesmo pessoas que se dizem religiosas comportam-se, por vezes, de maneira mais selvagem que certos animais. Talvez você esteja pensando: “Por que se preocupar tanto com os bichos, quando há crianças morrendo de fome, sofrendo abusos, e seres humanos sendo brutalmente assassinados a cada dia?” Concordo que deva haver uma hierarquia de preocupações, mas peço-lhe liberdade para usar uma declaração de Jesus, fora de seu contexto (quando Ele conversava com os fariseus a respeito do dízimo, da justiça e do amor de Deus – cf. Luc. 11:42): “Devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.”

** NOSSOS AMIGOS, OS ANIMAIS

Pesquisas recentes indicam que certos animais, como os golfinhos e os chimpanzés, são capazes de se reconhecer no espelho (Istoé, 9/05/2001), o que é um indicativo da consciência animal. As baleias também surpreendem. Houve o caso de uma mergulhadora norte-americana que nadava próximo a um grupo desses grandes cetáceos. Uma das baleias se assustou e agarrou a mulher pela perna, levando-a para o fundo do oceano. De repente, de maneira inexplicável, como se tivesse percebido o apavoramento da mergulhadora, a baleia voltou rapidamente para a superfície, deixando a mulher sã e salva.

Aqueles que têm animais de estimação como cães, por exemplo, volta e meia são surpreendidos com a inteligência e o carinho manifestados por esses animais. A respeito disso Ellen White escreveu: “A inteligência apresentada por muitos mudos animais chega tão perto da inteligência humana, que é um mistério. Os animais vêem e ouvem, amam, temem e sofrem. ... Manifestam simpatia e ternura para com seus companheiros de sofrimento. Muitos animais mostram pelos que deles cuidam uma afeição muito superior à que é manifestada por alguns membros da raça humana. Criam para com o homem apegos que se não rompem senão à custa de grandes sofrimentos de sua parte.” – A Ciência do Bom Viver, págs. 315 e 316.

Não é por acaso que o ser humano foi encarregado, logo nos primeiros momentos da história deste mundo, de cuidar dos animais. Era essa nossa missão, e não persegui-los e utilizá-los como alimento. Muito menos divertir-nos às custas do sofrimento dessas criaturas com quem dividimos o globo.

Com o pecado, houve separação em todos os níveis de relacionamento: entre o ser humano e Deus, entre o homem e a mulher, e entre os seres humanos e os animais. Os bichos, que antes tinham prazer em estar perto das pessoas, agora fugiam amedrontados daquele que aos poucos tornava-se seu principal predador – o homem. Que tristeza!

O convite do evangelho é para permitirmos que Deus nos transforme, a fim de que sejamos uma vez mais Sua imagem e semelhança. Essa transformação se evidencia, também, pela manifestação do fruto do Espírito, em cujos “gomos” encontramos a bondade. E a bondade dos filhos de Deus deve se manifestar no trato com todas as criaturas.

** O CUIDADO DE DEUS

A Bíblia fala do cuidado protetor de Deus pelos animais (Sal. 104:21; Deut. 22:6 e 7; Mat. 6:26). Se devemos buscar a santidade e permitir que a imagem e semelhança de Deus novamente se reproduzam em nós, devemos imitá-Lo também nesse aspecto. Ellen White comenta: “Os animais domésticos conhecem aquele que os alimenta diariamente. Até os seres irracionais sabem onde encontrar seu alimento, e por isso sentem certo carinho pela pessoa que os sustenta.” – Comentário Bíblico Adventista, vol. 4, pág. 137 (edição em espanhol). Aqueles que reconhecem sua dependência de Deus e fragilidade devem entender um pouco a afeição demonstrada pelos animais e seu desejo de proteção e afeição.

A Escritora e educadora Ellen White dispensava um carinho todo especial, não apenas a seu cãozinho de estimação, como a todos os demais animais com que tinha contato. No livro Histórias de Minha Avó, pág. 17 (Casa), a neta de Ellen, Ella M. Robinson, narra o seguinte: “Independentemente de onde morássemos, se houvesse algum animal doméstico por perto, vovó fazia amizade com ele. Assim que os pés dela tocavam o chão do potreiro, o pônei relinchava as boas-vindas e estendia o pescoço para o afago que ele já sabia que receberia. Vovó não suportava ver os animais sendo maltratados porque, dizia ela, ‘eles não podem contar-nos os seus sofrimentos’.”

Noutra ocasião, Ellen escreveu a seus filhos Edson e Willie: “Uma pessoa não pode ser cristã e permitir que seu mau gênio se acenda diante de qualquer pequeno acidente ou aborrecimento que se lhe depare, pois revela que nela está Satanás em lugar de Jesus Cristo. O colérico espancar de animais ou a tendência de se mostrar como dominador, é freqüentemente exibido nas ruas com animais criados por Deus. Desabafam sua ira ou impaciência sobre objetos indefesos, que mostram serem superiores aos seus donos. Tudo suportam sem represália. Filhos, sejam bondosos com os animais, que não podem falar. Jamais lhes causem desnecessariamente dores. Eduquem-se a si mesmos em hábitos de bondade. Então ela se tornará habitual. Vou mandar para vocês um recorte de jornal, e decidam por vocês mesmos se alguns animais irracionais não são superiores a alguns homens que se permitiram embrutecer-se pelo cruel procedimento com os animais.” – Life Sketches, pág. 26, citado em Perguntas que Eu Faria à Irmã White, pág. 57.

Esse assunto é tão importante que Ellen White recomenda até observar o relacionamento do futuro cônjuge com os animais, a fim de se ter uma idéia de sua sensibilidade e humanidade.

** NA NOVA TERRA

Certa vez, quando ainda lecionava História em Florianópolis, perguntei a uma aluna da pré-escola o que ela mais gostaria de fazer quando chegasse à Nova Terra, e ela me disse: “Escorregar no pescoço da girafa e acariciar a juba do leão.”

Gosto de pensar na harmonia e boa convivência que existirão na Nova Terra. Lá ninguém mais olhará um bezerrinho ou uma ovelhinha como um “suculento churrasco”. A cadeia alimentar na qual existem presas e predadores não mais existirá, pois o “lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos... a vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi ... não se fará mal nem dano algum em todo o Meu santo monte, diz o Senhor” (Isa. 11:6 e 65:25).

Você consegue imaginar esta cena? É bom ir se habituando a ela, pois será assim em nosso novo lar.

Michelson Borges

Além do laboratório

Em sua obra polêmica O Fim da Ciência, o jornalista científico John Horgan entrevista dezenas de cientistas e pensadores, em busca de respostas para uma série de perguntas sobre o futuro da ciência. Mas, no fundo, o que Horgan procura é o Absoluto (confessa mesmo ter passado, ainda nos tempos de estudos literários, por uma “experiência mística”).

Pode parecer estranho Horgan procurar na ciência o que deveria buscar na teologia. Mas ele não é o único pesquisador que tem buscado o transcendente. O físico Marcelo Byrro Ribeiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, arrisca um palpite para o porquê desse interesse. Ele acredita que as leis da ciência são limitadas e incapazes de explicar de maneira completa a constituição e o surgimento do Universo. Elas se sustentam porque explicam melhor um conjunto de fenômenos, e não como evidências absolutas. Nesse sentido, acredita o físico, a ciência presta um desserviço a si própria quando afirma possuir a resposta para tudo.

De fato, a despeito do enorme avanço da ciência e da tecnologia, quando o assunto são as questões fundamentais como a origem da vida e do Universo, grandes e persistentes interrogações se sobrepõem às tentativas de explicação. Um bom exemplo é a teoria do big-bang. Aquela que diz que o Universo começou com uma partícula menor do que um átomo, mas de densidade e temperatura infinitas; e expandiu-se, tornando-se mais tênue e perdendo calor, enquanto se formavam as galáxias, as estrelas e os planetas. Em 1965, a descoberta de uma radiação vinda de todas as direções do espaço ao mesmo tempo parecia confirmar o big-bang. No ano passado, porém, medições mais exatas mostraram inconsistências nesse modelo.

O problema é que foram descobertas galáxias mais antigas que a própria idade convencionada para o Universo, e com formato bastante parecido com o das galáxias atuais. O que os cientistas querem entender é como foi possível haver aglomerações tão complexas num universo recém-formado. Outro detalhe importante: o avanço do mapeamento das galáxias (estimadas recentemente em 125 bilhões) confirmou que sua distribuição é quase regular, o que também não combina com a tese de uma explosão caótica.

** A ORIGEM DA VIDA: ENIGMA PERSISTENTE

Com relação à origem da vida, o problema é ainda maior. Depois de quase um século e meio, os defensores da teoria da evolução biológica continuam se debatendo com problemas gigantescos. Tanto que o prêmio Nobel Francis Crick, depois de identificar a molécula de DNA, chegou a uma espantosa conclusão: “Parece ter sido quase um milagre, tantas são as condições necessárias para que a vida viesse a ocorrer.” Vinda de um agnóstico com tamanho conhecimento da biologia, essa declaração dá uma boa medida da dificuldade que a ciência ainda enfrenta para explicar essa origem.

Para o ex-ministro da Educação José Goldemberg (O Estado de S. Paulo, 19/10/99), os cientistas “estão encontrando problemas tais em entender o Universo e sua origem que alguns julgam que há lugar para um Deus em seus estudos”.

E talvez pelo fato de a ciência não ter todas as respostas é que, séculos depois de Galileu e outros terem desafiado os dogmas da Igreja Católica e o astrônomo francês Pierre Laplace ter descartado Deus como hipótese necessária para explicar o Universo, cientistas como o físico americano Charles Townes (premiado com um Nobel em 1964 pela invenção do laser) estão aceitando a crença cristã da criação do mundo. “É como se as descobertas mais recentes aumentassem a percepção de que o Universo e a vida constituem algo especial”, diz o físico.

Essas muitas perguntas sem resposta no mundo da ciência geram dois tipos de problema. De um lado, aparecem as evidências fraudulentas (veja quadro), como que indicando uma vontade imensa de confirmar teorias. De outro, abre espaço para os místicos introduzirem suas idéias, na tentativa de explicar o que ainda não se pode provar.

** DOS LABORATÓRIOS AO MISTICISMO

Para muitos cientistas, seria necessário fazer valer a paráfrase: “Dê a Deus o que é de Deus e aos laboratórios o que é dos cientistas.” Mas nem sempre é assim. Cada vez mais as limitações da ciência abrem espaço para a ala que aceita o transcendente. É bem verdade que muitos pesquisadores, quando usam o nome de Deus, estão muito mais se valendo de uma metáfora de entendimento imediato do que reverenciando uma figura religiosa. Mesmo os que aceitam Deus, o vêem como um conceito abstrato ou uma forma de energia impessoal, semelhante ao que defendem os adeptos da Nova Era.

Entre eles, estão campeões de publicidade como o físico Fritjof Capra, autor do best-seller mundial intitulado O Tao da Física. Capra nasceu em Viena, em 1939. Lá, formou-se em Física Teórica. Como cientista vem tentando estabelecer paralelos entre a física e o misticismo. Em seu livro mais famoso (O Tao da Física), Capra tenta construir uma ponte entre as percepções da mecânica quântica e as das filosofias orientais. Com o estudo do átomo e de suas estruturas, “a ciência ultrapassou os limites de nossa capacidade de percepção sensorial. A partir daí ela não pode mais confiar de forma absoluta na lógica e na razão”, escreveu Capra.

Esse posicionamento de Capra – com excesso de misticismo e contestação da racionalidade – não agrada nem um pouco aos cientistas mais “ortodoxos”, pois fere as bases da ciência experimental (ver quadro). Na opinião de Stephen Hawking, o papa da moderna cosmologia, “cientistas de valor deixaram de pesquisar para tentar chegar à verdade pela meditação oriental. Não produziram mais nada. Esterilizaram-se completamente”.

“Você deve duvidar seriamente de qualquer cientista que tente convencê-lo, baseado em argumentos científicos, da futilidade de sua crença religiosa”, escreveu Marcelo Gleiser, em seu livro A Dança do Universo, pág. 348 (Companhia das Letras). Mas pelo jeito como as coisas vão, devemos duvidar também dos cientistas que querem fazer a ponte entre ciência e misticismo.

** ARMADILHA BEM BOLADA

Para o observador atento e conhecedor das Escrituras Sagradas, salta aos olhos o plano bem elaborado que se revela por trás da aproximação entre a ciência e o misticismo. Basta analisar as seguintes perguntas: De quem é o interesse de que as pessoas se afastem da verdadeira ciência e busquem o misticismo como resposta às suas dúvidas? Quem está interessado em que o ser humano creia que pode se auto-redimir através da “evolução espiritual”, e que o pecado é uma ilusão judaico-cristã?

Satanás, o inimigo de Deus, desde o início do mundo vem contestando a forma como Deus rege no Universo. Desde que perdeu sua posição de anjo mais exaltado no Céu, tenta envolver os seres humanos em sua rebelião, obscurecendo nas mentes a idéia da criação divina e da redenção em Cristo. A teoria da evolução biológica e o misticismo que tem por base a doutrina da reencarnação são suas armas mais eficazes. Com o evolucionismo vieram as dúvidas sobre a criação narrada em Gênesis e houve grande força para o argumento ateísta. E já que Deus “estava morto”, passou-se a ver a ciência como fonte de esperança. O plano estava correndo a contento.

Os anos se passaram e, aos poucos, as pessoas percebiam que a ciência não era esse “deus” tão poderoso. Até mesmo o ateísmo, como instituição, ruiu. E quem poderia ocupar a brecha? A segunda arma satânica: o misticismo. Rendidos à evidência do sobrenatural, muitos cientistas passaram a aceitar e defender idéias que nada têm que ver com os domínios da ciência, e nem tampouco com o que ensina a Bíblia. A armadilha se fechou.

Por isso, o conselho do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo ainda vale: “Guarda o depósito, evita o palavreado vão e ímpio, e as contradições de uma falsa ciência” (1ª Timóteo 6:20, Bíblia de Jerusalém). “Falsa ciência” e “falsa religião” (misticismo) na verdade só servem para afastar os seres humanos de Deus. Por outro lado, a verdadeira ciência e a religião bíblica devem apontar para o Criador pessoal. O único que pode trazer sentido à vida e fornecer aquelas respostas que satisfazem o espírito humano.

** EVIDÊNCIAS FRAUDULENTAS

Elo perdido – O Archaeraptor liaoningensis, fóssil considerado como uma importante evidência da teoria de que os pássaros se desenvolveram dos dinossauros, era na verdade uma mistura de fósseis de duas criaturas diferentes. A revista National Geographic chegou a colocar na capa de uma de suas edições a recriação artística do animal e deu-lhe crédito como o elo perdido entre répteis e aves.

Dinossauro de araque – Um esqueleto de dinossauro exposto havia 116 anos no Museu Nacional do País de Gales era falso. O esqueleto, que seria de um Ichthyosaurus foi montado com diversos tipos de ossos, gesso e tinta.

Múmia falsa – Uma múmia com vestes em estilo egípcio e repousando em caixão de madeira com escrita cuneiforme foi tida como uma princesa que viveu em 600 a.C. Exames revelaram que se tratava do corpo de uma mulher mumificada havia apenas dois anos, e já em estado de decomposição.

** CIÊNCIA EXPERIMENTAL X MISTICISMO "CIENTÍFICO"

“Nem a Matemática nem a Ciência podem descobrir Deus pelo simples fato de que estas duas conquistas do intelecto humano agem no imanente e jamais poderiam chegar ao Transcendente”, diz o presidente da Federação Mundial de Cientistas, Dr. Antônio Zichichi, em seu livro Por Que Acredito Naquele que Fez o Mundo, pág. 16 (Editora Objetiva). Para se fazer ciência, é preciso levar em conta os seguintes aspectos:

1. As evidências devem ser testadas em laboratório.
2. Os experimentos devem ser reproduzíveis.

A crença em Deus, o ateísmo ou as filosofias místicas, portanto, não pertencem aos domínios da ciência. Estão na área do transcendental e, assim, não podem ser provadas ou refutadas do ponto de vista científico.

Michelson Borges

A Caixa-Preta de Darwin

“O desafio da Bioquímica à Teoria da Evolução”. Esse é o subtítulo de um livro publicado pelo professor de bioquímica da Universidade Lehigh (Pensilvânia, EUA), Michael Behe: A Caixa Preta de Darwin (Jorge Zahar Editor, 1997). Nele, o autor desafia a teoria da evolução com o que chama de sistemas de complexidade irredutível.

Usando como exemplo desses sistemas a visão, a coagulação do sangue, o transporte celular e a célula, Behe demonstra convincentemente que o mundo bioquímico forma um arsenal de máquinas químicas, constituídas de peças finamente calibradas e interdependentes. Para que a teoria da evolução fosse verdade, deveria ter havido uma série de mutações, todas e cada uma delas produzindo sua própria maquinaria, o que resultaria na complexidade atual.

Mesmo não sendo um criacionista, o professor Michael Behe argumenta que as máquinas biológicas têm que ter sido planejadas – seja por Deus ou por alguma outra inteligência superior.

Para ilustrar suas idéias, ele usa a analogia da ratoeira: “Suponhamos, por exemplo, que queremos fabricar uma ratoeira. Na garagem, podemos ter uma tábua de madeira velha (para a plataforma ou base), a mola de um velho relógio de corda, uma peça de metal (para servir como martelo) na forma de uma alavanca, uma agulha de cerzir para segurar a barra, e uma tampinha metálica de garrafa, que julgamos poder usar como trava. Essas peças, no entanto, não poderiam formar uma ratoeira funcional sem modificações excessivas e, enquanto elas estivessem sendo feitas, as partes não poderiam funcionar como ratoeira. Suas funções anteriores as teriam tornado impróprias para quase qualquer novo papel como parte de um sistema complexo.”

O autor complica ainda mais as coisas para o darwinismo ao perguntar: como se desenvolveu o centro de reação fotossintético? Como começou o transporte intramolecular? De que modo começou a biossíntese do colesterol? Como foi que a retina passou a fazer parte da visão? De que maneira se desenvolveram as vias de sinalização da fosfoproteína?

“O simples fato de que nenhum desses problemas jamais foi tratado, para não dizer solucionado”, conclui Behe, “constitui uma indicação muito forte de que o darwinismo é um marco de referência inadequado para compreendermos a origem de sistemas bioquímicos complexos”.

Quando o livro Origem das Espécies foi publicado, no século passado, os pesquisadores não imaginavam a enorme complexidade dos sistemas bioquímicos. Esse campo foi aberto em nosso século, quando Watson e Crick descobriram a forma de hélice dupla do ADN (ácido desoxirribonucléico), revelando os segredos da célula. Com isso, os bioquímicos vislumbraram um mundo de cuja complexidade Darwin nem sequer suspeitava.

O lado mais infeliz disso tudo, diz Behe, é o fato de que “numerosos estudantes aprendem em seus livros a ver o mundo através de uma lente evolucionista”, mas “não aprendem como a evolução darwiniana poderia ter produzido qualquer um dos sistemas bioquímicos notavelmente complicados que tais textos descrevem”.
A raiz do preconceito de alguns para com a religião remonta ao século 19, quando o clima do racionalismo e do materialismo acabou implantando uma nova ordem social. As pessoas estavam saturadas de tradicionalismo. Naquele momento, só lhes interessavam novidades, não importando seu fundamento. Assim, o pensamento evolucionista acabou se infiltrando nas demais ciências, e vem sendo amplamente difundido nas escolas e nos meios de comunicação.

Segundo Michael Behe, “a compreensão resultante de que a vida foi planejada por uma inteligência é um choque para nós no século 20, que nos acostumamos a pensar nela como resultado de leis naturais simples”. Porém, ele lembra que outros séculos “também tiveram seus choques, e não há razão para pensar que deveríamos escapar deles”. É tempo de abrir a caixa-preta de Darwin.

Michelson Borges

O Código Da Vinci

Constantino inventou a divindade de Cristo no Concílio de Nicéia. Foi esse concílio que determinou que livros deviam ser incluídos no Novo Testamento. Jesus casou com Maria Madalena e teve uma filha. Uma organização secreta foi encarregada de preservar esse “segredo do Jesus verdadeiro”. Calma, calma! Antes de achar que estou defendendo heresias, deixe-me dizer que esses absurdos são o pano de fundo de um romance policial que tem conquistado legiões de leitores em todo mundo. E não é todo dia que um livro alcança a cifra de 15 milhões de exemplares vendidos. Trata-se de O Código Da Vinci, de Dan Brown.

A história, que logo deve chegar ao cinema, com Tom Hanks como protagonista, é a seguinte: tudo começa com a morte misteriosa do curador do Museu do Louvre. Robert Langdon, professor em Harvard e especialista em símbolos esotéricos, está em Paris a negócios e a polícia lhe pede para decifrar um código deixado próximo ao cadáver. E é esse código que guia toda a trama e leva Langdon e a criptóloga Sophie Neveu em busca do Santo Graal. Os personagens penetram em um mundo secreto de mistério e conspiração, com o objetivo de desmascarar “séculos de engano”, valendo-se de códigos secretos e manuscritos que a igreja supostamente tem tentado esconder do público, mas que o historiador Leigh Teabing quer divulgar a todo custo. (É bom que se saiba que a trama central desse livro já existe há séculos e pode ser encontrada na literatura esotérica e da Nova Era, como em O Santo Graal e a Linhagem Sagrada, de Michael Baigent, que serviu de referência para o romance de Brown.)

Seria apenas mais um livro de ficção, como tantos outros, não fosse a alegação de que se fundamenta em fatos. Brown, baseado em livros apócrifos gnósticos, sustenta que, após a crucifixão de Jesus, Maria e a filha deles, Sara, partiram para a Gália (França), onde teriam fundado a linhagem dos reis merovíngios. O autor diz ainda que essa dinastia perdura até hoje na misteriosa organização conhecida como Priorado de Sião, entidade secreta que tinha os Templários como braço militar. Há até a suposição de que Leonardo da Vinci, Isaac Newton e Victor Hugo tenham figurado entre os membros dessa organização.

Segundo Erwin Lutzer, autor do livro A Fraude do Código Da Vinci (Vida), “esse livro [de Brown] é um ataque direto contra Jesus Cristo, a igreja e aqueles de nós que O seguem e O chamam Salvador e Senhor. De acordo com o romance de Dan Brown, o cristianismo foi inventado para reprimir as mulheres e afastar as pessoas do ‘sagrado feminino’”. Brown chega a afirmar que os judeus, no Antigo Testamento, adoravam tanto o Deus masculino, Jeová, como Sua “correspondente feminina”, Shekinah. Séculos depois, afirma o autor, a igreja, “que odeia o sexo e a mulher”, teria reprimido essa adoração à deusa.

Carlos Alberto di Franco lembrou, em julho de 2004, no jornal O Estado de S. Paulo, algumas críticas de respeitáveis jornais estrangeiros a respeito do livro de Brown: El Mundo chama-o de “um livro oportunista e pueril”; The New York Times, de “um insulto à inteligência”; Weekly Standard, de uma “mixórdia de narrativas inimagináveis”; The New York Daily News declara que o livro contém “erros crassos, que só não chocam um leitor muito ingênuo”. O problema é que há muitos leitores ingênuos. Milhões deles.

O Jornal do Brasil, do dia 16 de dezembro de 2004, publicou um artigo de Ives Gandra Martins. A certa altura, ele declara: “No mundo da informação comprovada e dos acessos às fontes, como admitir que se consiga desvendar um segredo não revelado – de 2 mil anos! – de que Cristo teve uma filha? Ou que nas vidas altamente investigadas de Boticelli, Leonardo da Vinci, Boyle, Newton, Victor Hugo, Debussy e Cocteau seus investigadores não descobriram que eles eram grandes mestres de uma fantástica sociedade secreta denominada Priorado de Sião, cuja função era guardar o segredo da filha de Jesus? Todos os historiadores do mundo não descobriram o que o oportunista Dan Brown descobriu em investigações cujas fontes é incapaz de citar. A história é pisoteada por alguém que, sem escrúpulos, mente deslavadamente, sobre tudo.”

** "EVANGELHOS" GNÓSTICOS

Um dos trechos mais polêmicos de O Código da Vinci é este: “E a companheira do Salvador é Maria Madalena. Cristo amava-a mais do que a todos os discípulos e costumava beijá-la com freqüência na boca.” Essa citação provavelmente tenha se originado no Evangelho de Filipe, um dos livros apócrifos gnósticos encontrados em Nag Hammadi, no Egito, em 1945, e escondidos ali no século IV, por um egípcio anônimo. De acordo com Darrell L. Bock, autor de Quebrando o Código da Vinci, o original tem lacunas e só traz a inicial (no alfabeto copta) da palavra “boca”. “O texto está fragmentado e diz: ‘E a companheira de (...) Maria Madalena, (...) a ela mais do que a (...) os discípulos e (...) beijá-la (...) na b(...).’” Portanto, o que Brown faz é um tremendo exercício de imaginação.

Embora Brown sustente que seria estranho e até desonroso um judeu na época de Jesus ser solteiro, Amy Welborn, autora de Decodificando Da Vinci e mestre em História da Igreja pela Universidade Vanderbilt, escreve que no século I muitos homens devotados a Deus eram solteiros. Os exemplos, do profeta Jeremias ao apóstolo Paulo, são muitos. Em uma de suas cartas aos coríntios, Paulo se refere às mulheres de outros apóstolos, mas não de Jesus.

Todo o problema vem dos chamados “evangelhos” gnósticos. Eles retratam Jesus como um espírito superior, mas afirmam que Ele era um homem como qualquer outro. E se Jesus foi um homem qualquer, qual o problema de ter-Se casado e ter tido filhos?
Uma rápida comparação entre os quatro evangelhos bíblicos e os apócrifos gnósticos mostra que entre eles há um abismo intransponível. O Evangelho de Tomé – outro dos livros gnósticos – afirma, por exemplo, que “quem não conheceu a si mesmo não conhece nada, mas quem se conheceu veio a conhecer simultaneamente a profundidade de todas as coisas”. E assegura que a salvação vem por meio do autoconhecimento, ou pela sabedoria, não pela fé. Confundindo a importância do autoconhecimento – num contexto freudiano – com salvação, mais e mais pessoas têm adotado esses livros não canônicos como sua Bíblia. Mas o conhecimento salvífico do qual fala a verdadeira Palavra de Deus consiste em conhecer a Deus e a Jesus Cristo (ver João 17:3).

Há outro aspecto dos apócrifos gnósticos que salta à vista dos que conhecem a Bíblia e sua mensagem. Os “evangelhos” de Tomé, Filipe e Maria Madalena não contêm uma linha sequer sobre o significado do julgamento e da morte de Jesus na cruz. Ou seja, o evento central, no que diz respeito à história da redenção, é totalmente ausente nesses livros que reivindicam a posição de evangelhos. Eles trazem apenas charadas que convidam seus leitores a reflexões espirituais, não ao arrependimento – uma vez que, neles, o pecado não existe.

Pretender que os chamados “evangelhos” apócrifos tenham o mesmo peso e confiabilidade dos Evangelhos canônicos é desconhecer a história bíblica. Além de os apócrifos gnósticos terem sido escritos depois dos quatro evangelhos, Mateus, Marcos, Lucas e João são os únicos relatos que foram, ou escritos por testemunhas oculares da vida de Jesus, ou corroborados por elas. Lucas não conviveu com Jesus, mas fez seu relato sob a supervisão do apóstolo Paulo e contou com a aprovação de Pedro. “O Espírito Santo primeiro guiou Mateus, depois Paulo e seu companheiro Lucas, a seguir Pedro e seu companheiro Marcos e, por último, João, o apóstolo, para entregar à igreja, durante sua vida, o Evangelho que lhes foi entregue por Jesus”, escreve David Alan Black, no instrutivo Por Que 4 Evangelhos (Vida), na página 10. Além disso, “as fontes mais aceitas sobre a trajetória de Jesus – os evangelhos sinópticos, de Mateus, Lucas* e Marcos – são consistentes com o que se sabe sobre a Palestina do século I, de forma que a chance de serem fruto da imaginação de seus autores é desprezível”, escreveu Isabela Boscov, na revista Veja do dia 15 de dezembro de 2004. E é bom deixar claro que a igreja primitiva já aceitava a inspiração divina dos quatro evangelhos muito tempo antes de Constantino convocar o Concílio de Nicéia. Graças ao historiador Eusébio, sabe-se que 20 decretos foram promulgados em Nicéia. Nem um único diz respeito ao cânon.

“Os evangelhos apócrifos, assim como os canônicos, foram, escritos por pessoas inquietas, numa época conturbada e difícil, em que as antigas respostas já não davam conta de acalmar os espíritos”, sustenta Érica Montenegro, no artigo “Um outro Jesus”, publicado na revista Superinteressante de dezembro de 2004. “É claro que os tempos, hoje, são muito diferentes. Mas, de novo, boa parte da humanidade está inquieta e insatisfeita com as respostas que existem. Tem muita gente em busca de alguma coisa que torne nossa existência mais transcendente, mais valiosa. E esses textos escritos por outros homens, numa busca parecida, podem nos dar uma dica de onde começar a procurar.”

Sem o saber, Érica chegou perto da descrição que o apóstolo Paulo faz de nossos dias: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” II Tim. 4:3 e 4.

(*) Sir William Ramsey, célebre historiador e arqueólogo do século 19, esforçou-se por demonstrar que a história de Lucas estava cheia de erros. Após toda uma vida de trabalho e estudos, porém, ele escreveu: “A história de Lucas é insuperável quanto a sua fidedignidade.” – The Bearing of Recent Discoveries on the Trustworthiness of the New Testament (Grand Rapids: Baker), pág. 81.

Michelson Borges