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Escolhas monitoradas |
Trinta
milhões de americanos assistem pornografia regularmente, de acordo com o Wall Street Journal. Esse número é muito
maior do que a quantidade de pornógrafos assumidos, mesmo em pesquisas
anônimas: em 2013, apenas 12% dos entrevistados admitiram
assistir pornografia online. Mas
graças à onipresente vigilância digital e à identificação de navegadores, os
mentirosos dos EUA não poderão controlar o sigilo de seus hábitos
pornográficos. Os consumidores de pornografia de todo o mundo estão sendo
vigiados, e se o engenheiro de software
Brett Thomas estiver certo, seria muito fácil tirá-los do armário, junto com
uma lista extensa de todos os vídeos que eles já assistiram.
Thomas,
que mora em São Francisco, tomou umas cervejas com um membro da indústria de
entretenimento adulto digital. Naturalmente, em algum momento a conversa tomou
um rumo econômico. Embora o profissional tenha insistido que coletar e vender
os dados pessoais dos visitantes de sites eróticos não era uma prática comum no
ramo, Thomas não se convenceu.
A
justificativa de Thomas era mais ou menos esta: seu navegador (Chrome, Safari,
etc.) tem uma configuração única, e transmite informações que podem ser
utilizadas para identificá-lo enquanto você navega pela internet. Você está
basicamente deixando “pegadas”, como Thomas as chama (outros preferem “impressões
digitais”), por todos os sites que visita. Assim, resta apenas ligar uma pegada
a outra – um expert poderia
identificar os mesmos sinais em visitas ao Facebook e ao NYTimes.com quanto ao
Pornhub e ao XVideos.
Thomas
argumenta que “quase todo site tradicional que visitamos salva dados
suficientes para ligar sua conta de usuário à identificação do seu navegador,
seja diretamente ou por terceiros”. Ele está definitivamente certo quando diz
que a
maioria das páginas que você visita (não apenas sites
pornôs, é claro) possuem programas de rastreamento que mandam seus dados para
empresas terceirizadas, muito provavelmente sem sua permissão. Muitas delas,
por exemplo, usam o Google Analytics, utilizado para monitorar o tráfego em
páginas da web. Outras utilizam botões de “compartilhar” e empresas de propaganda
terceirizadas.
Portanto,
se, por exemplo, clicássemos no vídeo [xxx], não estaríamos apenas enviando uma
solicitação para um site pornô. Estaríamos mandando uma solicitação para o
Google, para a empresa AddThis, e também para uma empresa chamada
Pornvertising, mesmo se estivéssemos navegando no modo privado. Também
estaríamos enviando dados que poderiam ser utilizados para identificar nosso
computador, como o endereço IP.
Tudo
isso, somado à ascensão dos ataques de hackers, diz Thomas, significa que um
catálogo completo dos hábitos pornográficos de cada indivíduo está
constantemente em perigo, e pode facilmente vir a público. Thomas acredita que
não é apenas possível, mas sim muito provável que um hacker invada o banco de
dados que abriga o histórico pornô de toda a internet.
Isso,
é claro, tem uma série de implicações perigosas, e que vão muito além da
humilhação de um consumidor de pornografia – se você pensa que apagar seu
histórico da internet deleta todos os rastros daqueles vídeos de fetiche por
pés ou os desenhos de bestialismo, pense de novo. O pior de tudo é que ainda
existem muitos lugares onde as pessoas são perseguidas por suas orientações
sexuais. Se um governo opressor descobrisse que um de seus cidadãos assistiu a
uma série de filmes pornôs gays, essa pessoa estaria correndo um enorme risco.
[...]
“Eu
acredito que essa é uma preocupação completamente justificada”, disse Justin
Brookman, um especialista em privacidade do Centro de Democracia e
Tecnologia. “O modo de navegação privada não cancela os mecanismos de
monitoramento.” Em outras palavras, mudar o seu navegador para o modo privado e
limpar seu histórico não impedem que as empresas de pornografia saibam o que
você está fazendo.
Para
se ter uma ideia do que é, de fato, esse monitoramento, eu usei um app chamado
Ghostery, que identifica e bloqueia programas de monitoramento instalados em
páginas da internet, para investigar os cinco maiores sites pornôs da internet [...].
([Um deles] é o 43º site mais visitado do mundo. Para se ter uma ideia, o Gmail
é o 66º. O Netflix, o 53º.)
O
Ghostery revelou que todos esses sites possuem programas de monitoramento, e
portanto repassam informações para uma série de empresas, incluindo o Google, o
Tumblr e serviços de propaganda voltados para a indústria pornô, como o
Pornvertising e o DoublePimp. Além disso, a maioria dos grandes sites pornôs
expõem com precisão o tema dos vídeos acessados já nas URLs [...].
“A
URL é uma das informações básicas de todas as solicitações HTTP”, afirma Tim
Libert, um pesquisador de privacidade, “então quem tem acesso ao código [o
Google, ou o Tumblr] dessa página consegue essa informação por tabela.
Sequências puramente numéricas [por exemplo, ‘?id=123’] podem não revelar as
preferências sexuais de ninguém, mas é possível identificar se uma URL vem de
um site pornô. URLs muito descritivas, por sua vez, podem revelar os gostos de
cada um, e se ela diz algo muito pervertido, bem, isso não é mais um segredo”.
Outro
ponto importante, segundo ele, é que o modo privado não faz “absolutamente nada
para impedir esse monitoramento; no máximo a sua barra de endereços não irá
completar o que você escreve lá com sites vergonhosos, mas os publicitários e
os corretores de dados ainda conseguem todas as suas informações. Eu não faço
ideia do que eles fazem – ou se eles fazem algo – com esses dados, mas está
tudo guardado em algum ligar”.
Isso
não é muito surpreendente. Na internet, quase tudo o que fazemos é monitorado.
Nem sempre por motivações maléficas, mas sim porque os programadores, e isso
inclui os programadores de sites pornôs, dependem dessas ferramentas de
monitoramento, muitas das quais “gratuitas”, para aumentar a usabilidade e a
popularidade de seus sites. Pesquisas recentes revelaram que 91% dos sites
de saúde – que deveriam ser o recanto mais seguro e privado da internet –
estão compartilhando nossas pesquisas médicas para empresas terceirizadas. É
claro que os sites pornôs estão seguindo o mesmo caminho: Libert fez um teste a
meu pedido, e descobriu que 88% dos 500 maiores sites pornôs utilizam programas
de monitoramento. [...]
“Creio
que é assim que o governo encontra as pessoas que veem e compartilham
pornografia infantil”, acrescentou Brookman. Também é provável que o NSA use
essas ferramentas para espionar os interesses eróticos de muçulmanos – a agência chegou a
considerar um plano estapafúrdio que envolvia deslegitimar possíveis “terroristas”
ao revelar seus interesses por pornografia, ferindo, assim, sua credibilidade
como adeptos fervorosos do Islã. [...]
Nota:
Se seu histórico de navegação fosse revelado, o que você sentiria? Alguém
poderia usar esses dados para “ferir sua credibilidade” como adepto do
cristianismo? Que rastro você tem deixado em sua vida digital? Que testemunho
você tem dado ao seu provedor de internet? Se é cristão, sua crença deve afetar
cada área de sua vida, inclusive a online.
Além disso, devemos nos lembrar de que não apenas nosso histórico de navegação
pode se tornar público, mas que nossos pensamentos e atividades ocultos são
totalmente abertos para Deus, e um dia também poderão se tornar evidentes para
todo o Universo, no desfecho do juízo. A única solução para isso tudo é
mantermos uma vida íntegra, transparente, coerente e santa. Aí não teremos nada
a temer – nem de Deus nem de qualquer agência de espionagem ou hacker. [MB]