“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-la.” Françoise Voltaire
Era uma vez um garotinho que, sem querer, ficou famoso. Hollywood, de repente, era o lugar que podia chamar de “casa”. Talentoso, não demorou muito para ganhar dinheiro com a fama, e não havia nada ao alcance de sua imaginação que não pudesse alcançar com as mãos. Seus pezinhos logo se acostumaram aos tapetes vermelhos e ao glamour das luxuosas festas das celebridades.
O tempo passou e o garotinho cresceu. Os aplausos e as dezenas de guitarras empoeiradas no quarto não mais preenchiam seu tempo e seu coração. Em casa, seus pais viviam um inferno, e tudo o que ele queira era ficar longe de lá. Tornou-se amigo do álcool. Depois do tabaco. Maconha. E, por fim, cocaína. Na rua, o menino prodígio do show business não era mais reconhecido pelas pessoas. E quando era, preferia que fosse invisível. Percebia a repulsa naqueles olhares, e quase podia ler seus pensamentos: “Como ele chegou a esse ponto?”
Seu nome? Macaulay Culkin. Mas, com as devidas adaptações, esta poderia ser a história de Lindsay (Lohan), Amy (Winehouse), Britney (Spears), Heath (Ledger), Haley (Joel Osment), e tantos outros jovens talentos que não sobreviveram à televisão ou ao cinema.
Acontece que, entre tantos roteiros trágicos e previsíveis, um ator “atrevido”, aos 19 anos, abandonou os scripts tradicionais e resolveu criar seu próprio texto. Antevendo o que o destino lhe reservava, decidiu mudar a rota do show. “Ficou louco! Está sendo manipulado por uma igreja em busca de sua fortuna!”, é o que estão dizendo dele por aí. “Porque, certo mesmo, seria acabar-se como todos os seus iguais e morrer jovem, só para deixar um breve registro biográfico na Wikipedia, que, daqui a alguns dias, ninguém vai ler”, é o que eu vejo nas entrelinhas desse discurso dos “livres da religião”.
É engraçado como a provável (ou possível?) saída de Angus T. Jones do seriado “Two and a Half Men”, motivada por sua crença religiosa, cause tanta polêmica. Mas não faz mais de dois anos que o protagonista da série, o ator veterano Charlie Sheen, notório dependente químico, deixou o programa (inspirado e idealizado nele, diga-se de passagem) em virtude de problemas decorrentes do abuso de álcool, drogas e prostituição. Se Angus deixasse o seriado em circunstâncias semelhantes às de seu colega de trabalho, será que o público aceitaria a decisão com uma atitude menos agressiva? Seria mais aceitável o fim de uma carreira hollywoodiana em virtude da cocaína, em lugar da Bíblia?
A decisão de Jones, para os mais desavisados, pode parecer ilógica ou irracional, mas um olhar mais atento sobre o vídeo em que ele conta seu testemunho será capaz de revelar que sua longa busca espiritual (ele costumava ir a três ou quatro cultos por domingo), à procura de um lugar que preenchesse o vazio em sua alma – que nem a maconha, que ele admite ter usado, foi capaz de suprir – só terminou quando ele entrou em uma igreja adventista do sétimo dia.
Ali, diferentemente do que muitos pensam (talvez por ignorância e desinformação), não houve interesse pela fortuna de Angus. Essa igreja não precisa do dinheiro de seus crentes. Ela já existe há mais de cem anos e se tornou a religião cristã que mais cresce no mundo em número de membros, sem o dízimo de nenhum milionário. Nenhum pastor adventista tornou-se mais rico ou pôde trocar de carro simplesmente porque o “Jake” de “Two and a Half Men” agora faz parte da comunidade. Na verdade, e para ser bem sincera, o único proveito que essa igreja poderá usufruir com a confissão espiritual desse ator é a influência que ele poderá exercer (e já está fazendo) sobre pessoas a quem a maioria de nós nunca teria acesso. A repercussão do discurso desse garoto e a coragem que ele teve de colocar em risco sua carreira e reputação valem muito mais do que seus milhares de dólares.
Por falar nisso, é interessante perceber que a mãe dele esteja, agora, preocupada com a possibilidade de Angus ser explorado por essa igreja. Afinal, utilizar o talento de uma criança a partir dos quatro anos de idade, submetendo-o ao estresse do ritmo da televisão, tolhendo-lhe a infância, a fim de fazer fortuna, não é exploração?
Ao analisar todos esses fatos, percebo como é espantoso o poder do preconceito. A sociedade impõe mudanças culturais e sociais todos os dias, e nos dá, como única opção, aceitá-las, sob o pretexto do fim da discriminação e da afirmação do direito inerente a todos os seres humanos, de exercer livremente suas escolhas, sem ser incomodado ou questionado quanto a elas. Ocorre que, no tocante ao direito à liberdade de crença, não se opera a mesma lógica. Opor-se ao senso comum e acreditar no sobrenatural, esperar pela restauração deste planeta e crer que a esperança para o futuro encontra-se tão somente no homem-Deus Jesus Cristo e na morte dEle na cruz, é ser alienado, “fraco”, manipulado, ou vítima de uma “lavagem cerebral”.
Portanto, se é para ser assim, muito prazer, meu nome é Loucura!
“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte do que a força do homem” (1Co 1:25).
(Bruna Mateus Rabelo dos Reis é advogada especialista em Direito Civil, bacharel em Direito pela Universidade Federal de Goiás; texto escrito com exclusividade para o blog www.criacionismo.com.br)