quinta-feira, dezembro 24, 2009

Resoluções de ano novo

A ideia de ano novo é uma ilusão temporal criada pelo ser humano. Tecnicamente, nada muda do dia 31 para o dia 1º, exceto o fato de que a Terra deu mais uma volta em torno de sua estrela. Mas essa "ruptura" tem lá suas vantagens. Uma delas são as resoluções que as pessoas tomam, aproveitando o clima de novidade, de "feliz ano novo, adeus ano velho". Alguns decidem iniciar uma dieta. Outros, economizar dinheiro para fazer algum investimento que valha a pena. Outros ainda resolvem que, desta vez, farão o "ano bíblico" até o fim. Resoluções... Isso é bom, mas é preciso persistência para que elas possam ir além de janeiro. Para incentivá-lo(a) a tomar uma decisão e persistir nela, o blog Criacionismo quer lhe dar uma camiseta personalizada. Escreva um texto de, no máximo, 15 linhas sobre sua resolução para 2010. Os três textos mais interessantes serão submetidos à votação dos leitores. O vencedor(a) receberá a camiseta em casa. Envie o texto até o dia 3 de janeiro, às 17h, para o e-mail blogcriacionismo@gmail.com (lembro que esse e-mail é apenas para as promoções do blog).

Desejo-lhe um feliz Natal e um ano novo muito abençoado!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

O primeiro Natal da minha nova vida

Antes de terminarem as aulas, falei para meus alunos sobre o verdadeiro sentido do Natal e de como devemos ser gratos a Jesus por ter escolhido nascer aqui neste mundo e ser o nosso Salvador. Eles ficaram comovidos e, com a pureza e sinceridade das crianças, prometeram que nunca iriam esquecer disso e que iriam entregar o coraçãozinho a Jesus para sempre. Fiquei ainda mais emocionada ao lembrar que foi em um Natal que eu também abri meu coração para Jesus pela primeira vez. Desde então, Ele entrou em minha vida e me fez trilhar um novo caminho. Por isso eu pude falar do nascimento do Filho de Deus para aqueles pequenos aprendizes.

Aquele poderia ter sido mais um Natal que teria passado praticamente despercebido, envolvido pelo clima de consumismo. Mas meus sentimentos foram impressionantemente arrebatados para pensar no Deus que Se fez homem; no Deus que Se tornou bebê! Eu havia completado 15 anos no dia 23 de dezembro e, como era tradição de adolescente naquela época, fui escrever em um diário que tinha recebido de presente. Como a data inspirou o assunto, me vi completamente absorta tentando compreender por que Jesus viveu neste mundo. Por que Ele morreu daquela maneira?

[Esse texto foi escrito pela mulher que eu mais amo, exatamente hoje, no dia do aniversário dela. Leia o restante aqui.]

terça-feira, dezembro 22, 2009

Avatar e a saudade do Céu

Uma tia da minha esposa veio nos contar que assistiu ao filme Avatar em 3D, no cinema. Toda empolgada, ela nos disse que a produção de James Cameron (Titanic) é um show de efeitos especiais, mas o que mais lhe chamou a atenção foi o mundo idílico em que os seres azuis (os Na'Vi) vivem em perfeita harmonia com a natureza e consigo mesmos. O pano de fundo (asssim me pareceu pela descrição dela) é a ganância e consumismo humanos versus a paz e a harmonia de uma vida simples. E é justamente esse aspecto - mais que os efeitos e recursos visuais - que parece inebriar as plateias formadas por pessoas cansadas do corre-corre estressante da vida real (a tia da minha esposa é professora da rede pública e o marido dela é médico).

À medida que ela nos descrevia o filme, lembrei-me de duas citações de C. S. Lewis:

“Somos criaturas sem entusiasmo, brincando bobos e inconsequentes com bebida, sexo e ambições, quando o que se nos oferece é a alegria infinita. Agimos como uma criança sem noção, que prefere continuar fazendo bolinhos de lama num cortiço porque não consegue imaginar o que significa a dádiva de um fim de semana na praia. Muito facilmente, nós nos contentamos com pouco” (O Peso da Glória).

“As criaturas não nascem com desejos, a menos que exista satisfação para eles. Um bebê sente fome: bem, existe uma coisa chamada comida. Um patinho quer nadar: bem, existe uma coisa chamada água. ... Se eu encontrar em mim mesmo um desejo que nenhuma experiência neste mundo pode satisfazer, a explicação mais provável é que fui feito para outro mundo” (Cristianismo Puro e Simples).

Depois que ela terminou de descrever algumas cenas e suspirou ao dizer como seria bom viver num mundo como aquele do filme, eu lhe disse que um mundo assim nos está prometido, e não se trata de ficção. A Nova Terra, prometida por Deus, será um lar de harmonia plena, em que as pessoas não precisarão matar para comer; lá o leão habitará com o cordeiro; não haverá mais morte, choro ou dor.

Filmes como Avatar e o efeito que causam nas pessoas me mostram que, sem dúvida, fomos criados para outro mundo e que, independentemente de quem sejamos ou do que conheçamos de Deus, todos temos saudades do Céu.[MB]

segunda-feira, dezembro 21, 2009

2012: a ilusão da solução sem Deus

Reflexões sobre o filme 2012, um folheto entregue num posto de gasolina e meus tempos de teologia da libertação

Ontem à tarde eu retornava de Florianópolis para Palhoça com minha esposa. Resolvi seguir por um caminho alternativo e evitar, assim, a congestionada BR 101. De repente, me deparei com um posto de gasolina que oferecia ducha grátis e resolvi abastecer e lavar o carro ali. Quando fui pagar, aproveitei para deixar um folheto com o dono do estabelecimento. Quando ele leu a inscrição na capa – “Jesus voltará” –, fez uma pausa e depois me disse:

– Será que Ele vai voltar mesmo? O mundo está tão cheio de injustiças...

Respondi que é justamente por isso que Jesus vai voltar. O ser humano teve milênios de oportunidade e liberdade, e o que ficou claro é que sozinho não consegue resolver seus problemas.

Conversamos por mais alguns instantes e acabei deixando também um livro com aquele senhor, com o convite para que ele comparasse tudo com a Bíblia e buscasse nela as respostas para os dilemas da vida e a promessa feita por Aquele que não pode mentir: Jesus Cristo.

Ok, mas o que isso tem que ver com o filme 2012? Calma... Antes, quero voltar um pouco no tempo.

Quando eu era católico, em minha adolescência e juventude, alinhava-me e defendia com vigor a teologia da libertação. Sempre ouvia e lia na igreja a frase batida: “Temos que ajudar a implantar o reino de Deus na Terra.” Isso significava que devíamos lutar por justiça social e apoiar a igreja em sua “opção preferencial pelos pobres”. Nada de volta de Jesus. Nada de Nova Terra. A esperança estava em nossas mãos. Vi muitos de meus companheiros de caminhada abandonarem a fé, frustrados por não verem a utopia tornar-se realidade. Outros, sentindo-se vazios espiritualmente, abraçaram o movimento carismático, então visto por nós como algo alienante, uma religião meramente verticalista, sem engajamento nas causas sociais (se pudéssemos, naquela época, dar uma espiada no futuro, ficaríamos espantados com o advento dos padres cantores com discurso adocicado, imitando os trejeitos pentecostais).

O mundo era injusto e tínhamos que fazer alguma coisa – era nossa bandeira, e a desfraldávamos com sinceridade, cantando “somos gente nova vivendo a união, somos povo, semente da nova nação”. Mas o tempo passou. As injustiças só aumentaram. A distribuição de renda polarizou ainda mais a sociedade. Catástrofes, doenças, imoralidade e morte ajudam a compor esse triste quadro. E a utopia do reino? E nossa luta? Os guerreiros ficaram cansados. O discurso foi alterado. Perdeu-se o rumo.

E o filme 2012?

Trata-se de mais uma daquelas superproduções hollywoodianas feitas para arrecadar muito dinheiro nas bilheterias e locadoras. O pano de fundo é a “profecia” maia (já analisada aqui e aqui), segundo a qual uma catástrofe global porá fim à história humana.

Por algum motivo, os neutrinos irradiados pelo Sol começam a interagir com o interior da Terra (na verdade, neutrinos atravessam nosso planeta a todo momento, mas são inertes), superaquecendo o manto e causando atividade sísmica sem precedentes. Terremotos começam a ocorrer em todos os lugares, causando muita destruição. Como os cientistas já sabiam que isso iria acontecer, as nações mais ricas do planeta, lideradas (como sempre) pelos Estados Unidos, desenvolveram um plano de salvação: construir algumas “arcas” (grandes e poderosas embarcações) para nelas salvar animais, obras de arte e parte da humanidade – a parte mais inteligente e rica, evidentemente.

Embora o nome de Deus seja mencionado em vários momentos e até mesmo o presidente dos Estados Unidos seja visto orando na capela da Casa Branca, o que fica mesmo claro no filme é o abandono da humanidade por parte de “Deus”. As cenas que reforçam essa ideia não são nem mesmo sutis: (1) a destruição do Cristo Redentor por um tsunami gigantesco, (2) o desmoronamento da cúpula da Basílica de São Pedro, no Vaticano, que cai sobre fieis que rezam com velas nas mãos (inclusive uma rachadura no teto da Capela Sistina separa as mãos de Deus e do homem na famosa pintura de Michelangelo), e (3) a morte de monges budistas atingidos no alto das montanhas por uma megainundação. Traduzindo: não adianta orar; "Deus" não vai ouvir; a salvação não virá dEle.

No posto de gasolina, nos meus tempos de católico e nesse novo filme arrasa quarteirão, pude notar a mesma propaganda do adversário de Deus: o Criador abandonou a humanidade e se não fizermos alguma coisa, estaremos fadados à extinção. Nada mais terrivelmente errado!

Deus não nos abandonou! O próprio cumprimento detalhado das profecias bíblicas deixa isso bem claro. Nosso Senhor anunciou tudo antes para que não ficássemos perplexos e perdêssemos a fé. Ele disse que não nos deixaria órfãos (João 14:18). Disse também que “sem Mim nada podeis fazer” (João 15:5), quanto mais salvar o mundo – e a nós mesmo do pecado.

A salvação virá não dos esforços humanos, por mais que certos filmes e visões teológicas distorcidas tentem afirmar o contrário. Não virá tampouco dos extraterrestres. A salvação virá dAquele que já pagou nosso resgate com a própria vida, há dois mil anos, e virá para buscar aqueles que livremente aceitarem o oferecimento da vida eterna. Aí, sim, será o fim das injustiças, da dor e da morte!

Michelson Borges

Em tempo: A despeito da balela dos neutrinos, uma coisa interessante o filme mostrou: certas condições catastróficas seriam capazes de fazer com que massas de água invadissem os continentes causando estragos incalculáveis. No mundo antediluviano, em que se crê que as montanhas não eram tão altas quanto as de hoje, haveria condições de a água cobrir toda a Terra, conforme o relato bíblico. Mas quer ver só? No filme, muita gente acredita. Da Bíblia, muita gente duvida...

Leia também: “O fim do mundo na capa de Veja” e conheça o site O Fim do Mundo

sábado, dezembro 19, 2009

Veja natalina: a atualidade da Bíblia

Quase todos os anos as semanais brasileiras aproveitam a época do Natal e a predisposição das pessoas para a espiritualidade e publicam matérias de cunho religioso. As revistas Veja e Época desta semana seguiram a tendência. Leia aqui alguns trechos da reportagem da Veja (noutra postagem comentarei a da Época):

"Várias sumidades da história têm esse médico de origem grega [Lucas] na conta de um dos grandes de sua categoria – um historiador nato, ciente dos detalhes, afeito à precisão e surpreendentemente atento à necessidade de averiguar fatos. A história da qual Lucas faz a crônica está carregada de aspectos místicos: a de como Jesus nasceu de uma virgem, pregou uma mensagem transformadora, realizou milagres que comprovavam estar Ele imbuído do poder de Deus, e então foi perseguido, torturado e crucificado, para no terceiro dia após sua morte ressuscitar e ascender aos céus. Nas mãos desse autor, entretanto, fato e fé se fundem de maneira tão completa que, mesmo para um leitor ateu ou agnóstico, se torna um desafio separá-los.

"O trecho em que o anjo Gabriel anuncia a concepção e o nascimento de Cristo é exemplar de seu estilo. Lucas narra o diálogo entre um anjo enviado por Deus – assunto de fé, portanto – e uma jovem. Mas provê data, lugar e circunstâncias, afere outro evento familiar (a gravidez de Isabel) e relata uma discussão sobre a viabilidade biológica da concepção por uma virgem. Só nessa pequena passagem, tem-se uma síntese de uma questão que está no centro da Bíblia. Como, afinal, esse livro escrito no decorrer de mais de 1.000 anos deve ser lido? Como uma transcrição direta da palavra de Deus, segundo creem tantos? Como a palavra divina inserida em um contexto terreno, o da relação com seu Deus de uma cultura que ia atravessando mudanças geográficas, políticas e sociais? Como um livro histórico, tão somente? Ou, conforme querem outros, como uma ferramenta que grupos diversos podem manejar na busca por poder e supremacia? Seria possível imaginar que, passadas tantas dezenas de séculos do advento desse livro, tais questões não mais teriam lugar no mundo moderno. Sucede exatamente o contrário. A religião nunca deixou de ser força motriz dos rumos da história do homem, tampouco fonte de tensão. E, na última década em especial, ela ressurgiu com efeito redobrado no centro do cenário político global. De onde ler a Bíblia – e entender como ler a Bíblia – não é nem de longe um conhecimento periférico na vida do século XXI. (...)

"Vários ramos religiosos, sobretudo entre os judeus e os evangélicos, acham que sim: pode-se e deve-se viver exatamente como a Bíblia prescreve. No entender dessas correntes, o texto sagrado foi recebido diretamente de Deus e tem, portanto, de ser aceito de forma literal, sem interpretações nem relativizações. (...) [Leia também: "A Bíblia Sagrada é inerrante?"]

"Em seu excelente livro A Arte da Narrativa Bíblica, o pesquisador americano Robert Alter, da Universidade da Califórnia em Berkeley, dedica-se a explicar que muito do que a Bíblia quer comentar está nas suas entrelinhas. Só para começar a conversa, Alter cita o estilo radicalmente contrastante de dois capítulos consecutivos do Gênese. No primeiro, o patriarca Jacó vê a túnica ensanguentada de seu filho José, presume que ele está morto e entrega-se a manifestações hiperbólicas de luto. O capítulo seguinte trata de uma situação similar, mas é de uma secura severa. Relata que outro patriarca, Judá, teve três filhos – Er, Onã e Selá. Sem mais firulas, informa que Er 'desagradou a Deus', e Ele lhe tirou a vida. O mesmo aconteceu com Onã, que, obrigado a tomar o lugar do irmão na cama da cunhada, a fim de gerar um filho, interrompia o coito e 'derramava sua semente no chão' (daí o termo 'onanismo' para a masturbação). Deus tomou a Judá dois filhos, mas o texto não traz menção a nenhuma emoção que o pai porventura tenha sentido. Jacó tão teatral, e Judá tão frio: para Robert Alter, só o fato de a Bíblia justapor duas reações assim diversas já é um juízo sobre esses dois personagens importantes das Escrituras. Mas esse juízo não está no 'pé da letra': está sugerido em um recurso estilístico sutil. [Ou seria a reação de um pai - Judá - espiritualmente maduro que entendeu ter Deus punido corretamente o pecado consciente dos filhos? No caso de Jacó, o que ocorreu com o filho inocente José foi uma fatalidade, daí o choro inconsolável do pai.]

"Muitos outros estudiosos se dedicam a mostrar como a forma, o estilo e a escolha de palavras são decisivos no que a Bíblia diz. E mais essencial ainda é o contexto em que ela diz o que diz. O judaísmo e seu descendente (e dissidente), o cristianismo, são fundamentalmente religiões narrativas – muito mais do que qualquer outra das grandes religiões, monoteístas ou não. Vem daí muito da força e da influência sem paralelo da Bíblia sobre o pensamento de uma parcela grande da humanidade, aquela abrangida no que se costuma chamar de civilização judaico-cristã: sem que se faça aqui nenhum julgamento, de natureza alguma, sobre o papel de cada uma das religiões na história dos homens, é um fato da ciência sociopolítica que o judaísmo e o cristianismo tiveram um impacto ilimitado nos rumos dessa história. Porque contam, entre todas as fés, com o mais extenso, detalhado, profundo e variegado plano jamais disposto para os seguidores de uma divindade, do surgimento do mundo ao seu fim, ou sua transmutação total no reino de Deus: a Bíblia, um conjunto vasto não apenas de ensinamentos, ditames e reflexões, mas de histórias arraigadas em nossa cultura. Para ateus e agnósticos, essa é uma razão para ler a Bíblia: para descobrir por que mesmo quem não crê compartilha a mesma herança que os que creem. É como se a Bíblia e a tradição que ela carrega fossem, enfim, o DNA da civilização ocidental: crer ou não crer corresponde àquela porcentagem infinitesimal de diferenças genéticas que nos separam – todo o resto, ou 99% dos genes, são comuns a todos nós.

"Quase tudo na Bíblia é uma história, um 'caso', um relato, um testemunho. Mesmo naqueles livros do Velho Testamento que são, por assim dizer, manuais de instruções, como Levítico e Números, as injunções vêm na forma de historietas. Os Evangelhos são também isso: relatos sobre a passagem de Jesus sobre a Terra e sobre Sua missão. De imensa relevância ainda é o fato de que – ao contrário, digamos, do Corão – a Bíblia não tem um autor único nem foi escrita em um período de tempo delimitado. Bem longe disso: ela abrange algo como doze séculos de produção e vários idiomas (não bastasse isso, já foi traduzida para 2.400 línguas, entre as quais idiomas indígenas brasileiros). Combina uma miríade de formas narrativas distintas e envolve um sem-número de autores, muitos dos quais nunca virão a ser identificados, mas que se sabe provenientes das origens mais distintas, de profetas a funcionários de governo e pescadores. Com tantos cozinheiros na mesma cozinha, torna-se sobre-humana a tarefa de tentar decifrar a receita.

"Há casos em que a Bíblia de fato se assume como a palavra recebida diretamente de Deus. Por exemplo, nas conclamações divinas ao povo eleito, muito comuns no Antigo Testamento, em que Ele exalta, pune, decide destinos e mostra aquilo que espera de seus seguidores ou o que não vai tolerar neles. Mas, em outros trechos essenciais, como nos Salmos, são já homens comuns (ou, vá lá, nem tanto, já que muitos dos Salmos são atribuídos ao rei Davi) que se dirigem a Deus. São frequentes também os simples registros de eventos, que podem ter certo teor mundano (muito espaço é dedicado a detalhar as linhas genealógicas, de grande relevância numa sociedade arcaica, ainda dividida em clãs) ou vir crivados de misticismo (como nos testemunhos dos milagres de Jesus). Outro caso: as belíssimas cartas do apóstolo Paulo, parte integrante do Novo Testamento, que delineiam os fundamentos da religião cristã na forma como é seguida até hoje, são comunicações de homens para homens [mas a própria Bíblia afirma que esses homens foram inspirados por Deus Espírito Santo, e não falaram por si mesmos]. Há poemas de grande quilate, como o Cântico dos Cânticos, e o caso mais difícil de classificar – o delirante e perturbador Livro das Revelações, em que o apóstolo João descreve o apocalipse. Tudo o que a Bíblia contém trata em algum nível da relação do homem com Deus. Mas nem tudo nela pode ser descrito como a palavra direta de Deus [e não é, com poucas exceções, como os Dez Mandamentos].

"Bíblia, enfim, é um mosaico intrincado no que toca às possibilidades de interpretação. Até porque, surpresa, ela não trata em miúdos de alguns dos temas em que é invocada com grande insistência. Hoje, é comum que as Bíblias evangélicas mais completas contenham um índice temático denominado 'concordância'. Procura-se uma palavra – digamos, 'graça', ou 'pobreza' – e o índice relaciona todas as ocasiões em que ela aparece em todo o imenso volume de texto. Isso porque, como já se disse, seguir a Bíblia à risca é fundamental para muitos dos ramos evangélicos, e a concordância ajuda-os a informar-se sobre o que a Bíblia tem a dizer a respeito de cada aspecto de sua vida e fé (os católicos, por contraste, apoiam-se mais na doutrina moral delineada pela Igreja). Tente-se procurar na concordância, entretanto, o termo 'aborto': ele não constará. A Bíblia não trata de forma explícita ou direta da interrupção deliberada da gestação em nenhum trecho de seus milhares de páginas. Há possíveis alusões, como no capítulo 30 do Deuteronômio, muito usado pelos grupos antiaborto: 'Hoje tomo o céu e a terra como testemunhas contra vós; eu te propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e a tua descendência, amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele.' Mas alguns pesquisadores, inclusive evangélicos, contradizem essa leitura. Segundo eles, o trecho é na verdade uma exortação aos israelitas em fuga do Egito para que não se desviem do caminho do Senhor. Como decidir, então, quem está certo?

"A única resposta segura é que não há como decidir. A Bíblia moldou e amalgamou civilizações e manteve-se um texto obrigatório porque é de fato inesgotável. É uma, mas pode ser infinitas – até no seu aspecto mais concreto, o do sem-número de recortes que o mercado editorial encontra nela. Numa incursão a uma livraria (se for na internet, então, nem se fala), podem-se achar não apenas as edições canônicas de cada uma das religiões que seguem o texto sagrado – judaicas, católicas, luteranas, evangélicas, anglicanas, ortodoxas e assim por diante –, como Bíblias talhadas para virtualmente qualquer gosto. Há Bíblias para quem não conhece a Bíblia, com títulos como Entendendo a Bíblia em 30 Dias e O Guia do Completo Idiota para a Bíblia. Há Bíblias para meninos e para meninas. Para mulheres e para quem quer só lições de vida. No estilo do mangá, o quadrinho japonês, ou na pena do quadrinista underground Robert Crumb. Em gíria cockney da zona leste de Londres (com o selo de aprovação da Igreja Anglicana) ou em linguagem simples, no vozeirão de Cid Moreira.

"Há uma Bíblia, inclusive, que desempenhou papel de imensa relevância no que viria a se tornar a língua franca do mundo moderno, o inglês. Trata-se da versão conhecida como Bíblia do Rei James, encomendada por James I a um grupo de estudiosos em 1604, meses após sua ascensão ao trono, e concluída em 1611. Conciliar as tensões de seu tempo e consolidar a Igreja Anglicana como a fé da nação eram os requisitos a que a tradução pedida a seus sábios deveria atender. Eles, contudo, foram além: produziram um dos mais consumados exemplos de prosa poética que se conhece – uma prosa que arrebata pela beleza, inspira pelo calor e se coloca à disposição de quem a ouve pela clareza (diz a lenda que William Shakespeare deu uma mãozinha ao colegiado de estudiosos). Lida dos púlpitos para os fiéis, ou em casa por quem aprendera a fazê-lo (pouca gente, naquele tempo), a Bíblia do Rei James fez toda uma nação tomar contato com a escrita bela e benfeita. Não admira, assim, que tenha a reputação de transparecer uma inspiração divina.

"Não importa qual seja a versão, duas coisas são cristalinas e constantes na Bíblia. A primeira é que cada uma das partes desse texto sagrado, sejam elas as aceitas pelos cristãos ou pelos judeus, é como que um tijolo no edifício que se pode chamar de o plano de Deus para os homens. E a segunda é que cada um desses tijolos traz alguma marca, mais ou menos profunda, do tempo em que foi moldado: a Bíblia é singular entre os textos sagrados também por ser uma crônica extensa e detalhada da civilização à qual ia dando forma. É, em certo sentido, uma reportagem. Uma reportagem colorida pelas crenças típicas da época em que cada trecho foi escrito (como na ideia de que um patriarca como Matusalém possa ter chegado aos 969 anos de idade, como está dito no Gênese), ou moldada para inculcar esta ou aquela impressão no leitor. Mas até nesses ornamentos, por assim dizer, é uma crônica dos povos que a escreveram e da maneira como viviam e pensavam.

"Um exemplo comezinho: o Velho Testamento diz que não se devem consumir a carne de porco ou os crustáceos, por serem impuros. Assim, os judeus ortodoxos mantêm deles a distância preconizada pelo texto. Vários estudiosos, entretanto, veem em interditos como esse uma tentativa de organizar o cotidiano das pessoas comuns. Dezenas de séculos atrás, quando as condições de obtenção e conservação das proteínas animais eram precaríssimas, carnes como a suína e a dos frutos do mar, que se deterioram com grande velocidade, constituíam um problema grave de saúde. Que maneira mais eficaz teriam os líderes de uma comunidade de evitar os envenenamentos alimentares, especulam [ainda bem que a autora usou esse verbo] esses estudiosos, do que proibi-los com um veto divino? [Na verdade, pesquisas modernas mostram que há outros motivos. Confira aqui.] (...)

"À medida que o Ocidente se torna cada vez mais secular, mais também vem à tona esse caráter factual na leitura que se faz da Bíblia. Em que medida se aceita ou não seu caráter de crônica, porém, é talvez o impasse mais candente que a Bíblia provoca. Duas questões importantíssimas se imiscuem nessa tentativa de enxergar o simples em algo que é tão complexo. A primeira, que acompanha qualquer texto sagrado desde sua gestação, é que tudo nele que pode ser ligado a um dado da realidade tem também (ou principalmente, para muitos) um componente divino. Um judeu dos dias de hoje que segue sua fé de forma mais livre pode decidir que, na era das normas sanitárias e da refrigeração, comer camarões em nada fere os princípios espirituais e morais que lhe foram legados. Um casal cristão moderno pode raciocinar que, se Deus é a bondade suprema, como os Evangelhos ensinam, Ele jamais condenaria seu bebê à danação caso ele morresse sem ser batizado [e se pensar assim, na verdade terá mostrado que não conhece a Bíblia]. Outros judeus e outros cristãos de persuasões mais rigorosas argumentariam que não é possível escolher, da religião, o que convém e o que não convém, já que a palavra de Deus é una e não deve ser fragmentada; para estes, as regras alimentares ou os sacramentos existem dentro de um contínuo que é indivisível e deve ser respeitado na íntegra, por mais duras que pareçam as regras. Assim, transgredir à mesa ou postergar um pouco determinadas cerimônias não seriam meros pecadilhos. Constituiriam ofensas a Deus, e toda ofensa a Deus, ainda que pareça irracional ao olhar moderno, seria igualmente irredimível. [O fato de parecer "irracional" ao "olhar moderno" não significa que a orientação divina seja, de fato, "irracional". Neste blog, tenho me esforçado para demonstrar que seguir os preceitos bíblicos se constitui, na verdade, na pura aplicação da lei da causa e efeito: se obedecemos a Deus, somos mais saudáveis e felizes - física, mental, social e espiritualmente.]

"Essa tensão entre o certo e o herético é tão antiga quanto as mais antigas palavras da Bíblia. Um texto sagrado se define como a verdade absoluta. E um texto sagrado que transporta tantas contradições e imprecisões [?], que é ora tão minucioso, ora tão alusivo e alegórico, e que carrega tanta história vivida – de um povo que acreditou ter sido escolhido e então foi escravizado, que perdeu sua terra, recuperou-a e então suportou uma ocupação estrangeira, que construiu um templo e duas vezes o viu tombado, e por fim enfrentou um cisma de proporções colossais, quando um dos seus fundou uma nova religião a partir da sua –, é um texto crivado de oportunidades para a tensão. Deslindar o que a Bíblia diz, afinal, é traduzir Deus. Mas nunca se soube de dois tradutores que coincidissem em suas respectivas versões de um texto. E essa volatilidade da Bíblia, esse seu poder de ser ao mesmo tempo tão clara e tão fugidia, movimentou convulsões na história dos povos que a seguem. A decisão dos judeus de renovar até as últimas consequências sua aliança com Deus e assim se configurar como um povo separado dos demais, o fogo ateado à insatisfação geral que foi o nascimento do cristianismo, a irrupção da Reforma Protestante e sua perseguição selvagem pela Inquisição, os rios de sangue que, no século XX, ainda corriam na Irlanda dividida entre católicos e protestantes, a tentativa brutal de supressão da fé por aquela outra doutrina deífica, o comunismo – milhões de homens e mulheres foram mortos ou se sacrificaram por essa verdade que, não há como ignorar, está sempre em transformação.

"Para quem acha que a Bíblia é uma coleção de histórias da carochinha escritas por pessoas talvez meio instáveis, com uma queda para o fantástico e a violência (e o Velho Testamento é repleto de casos de arrepiar os cabelos), um alerta: a disputa pela posse dessa verdade completa e absoluta continua a fazer estremecer a história. No Brasil, o crescimento vertiginoso do evangelismo muda não só costumes entre as parcelas da população que aderem a ele como pode, no limite, vir a alterar um dos epítetos pelos quais o país é conhecido – o de a maior nação católica do mundo. Nos Estados Unidos, onde a liberalização da moral e da legislação, a partir dos anos 1960, criou tensões imensas com a populosa faixa dos americanos que acham que toda lei e todo código devem emanar da Bíblia, surgiram paradoxos incompreensíveis. Por exemplo, os grupos contra o aborto que, na defesa intransigente da vida, matam médicos e enfermeiras de clínicas que realizam a prática. Até o mais explosivo ingrediente da política global, o conflito no Oriente Médio entre árabes e judeus e suas infinitas ramificações, tem um componente bíblico – o estabelecimento do estado de Israel, em 1948, na região que, no Gênese, consta como a terra prometida dos judeus. Não é preciso crer, enfim, para entender que a Bíblia não é apenas 'a maior história de todos os tempos', como se costuma dizer. Mais de 3.000 anos depois de ter começado a ser escrita, ela é ainda a maior história deste tempo."

Nota: Isabela Boscov, autora da matéria de capa da Veja desta semana e mais conhecida por suas boas críticas de cinema, merece parabéns pelo texto relativamente neutro que conseguiu produzir. Embora tenha havido algumas deficiências de entendimento hermenêutico que poderiam facilmente ser sanadas por teólogos sérios, o texto se mostra respeitoso e jornalístico. Uma lufada de bons ventos analíticos desapaixonados nesta época de tornados de críticas virulentas vazias e raivosas a la Dawkins.[MB]

Aquecimento global e darwinismo

O ex-senador dos EUA Rick Santorum tem um artigo que vale a pena ler no Philadelphia Inquirer. Santorum compara as tácticas de repressão utilizadas no debate sobre o aquecimento global às tácticas similares utilizadas no debate sobre o darwinismo: "Questionar o consenso científico em busca da verdade é uma parte importante de como a ciência tem avançado ao longo dos séculos. Mas o que acontece quando o consenso científico se torna uma ideologia que ultrapassa a busca da verdade? Resposta: Esses questionamentos legítimos são ostracizados, as carreiras dos dissidentes são destruídas, e o debate é sufocado.

"Infelizmente, não estou me referindo apenas aos atuais proponentes da teoria do aquecimento global causado pelo homem. Em 2001, ofereci uma alteração legislativa sobre o ensino do tema da evolução. Recebi mais críticas para essa simples alteração do que para quase qualquer outra coisa que eu defendi no Senado."

(Design Inteligente)

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Um "deus" chamado acaso

A matéria “O cérebro não é uma máquina”, publicada na revista Scientific American deste mês, é um bom exemplo de dissonância cognitiva por parte do autor, o francês Rémy Lestienne, já que aborda um tema que aponta claramente para o design inteligente, mas se nega a admitir isso e tenta insistentemente argumentar a favor do acaso cego. A matéria começa assim: “A evolução animal conduziu seu desenvolvimento, e os acasos que teceram nosso meio ambiente formatam nosso cérebro individualmente. Nele, o inato e o adquirido se entrelaçam, mas deve bem mais ao acaso do que gostaríamos de admitir.”

O texto segue descrevendo a absurda complexidade do órgão mais complexo conhecido: o cérebro humano. Até que Lestienne, que é especialista em física de altas energias e neurociência teórica, menciona os prolongamentos filiformes que saem dos neurônios e se conectam a outras células, formando uma rede tão extraordinariamente complexa que podem chegar a 100 mil bilhões o número de contatos de sinapses entre neurônios no sistema nervoso central. E pergunta: “Como esses prolongamentos filiformes se dirigem, no processo de crescimento, em direção às células-alvo?” E prossegue, admitindo que, “apesar de algum progresso alcançado nesses últimos anos para explicar como os axônios são pilotados pelas substâncias químicas, os detalhes desses mecanismos permanecem ainda grandemente desconhecidos. Não sabemos quais mecanismos a Natureza [sim, ele usa natureza com letra maiúscula...] utiliza para reproduzir os mesmos núcleos de comunicação e os cabos transmissores equivalentes de um indivíduo a outro: a embriologia do sistema nervoso central é ainda objeto de ativas pesquisas.”

O texto diz mais: “Não podemos fugir da conclusão de que o sistema nervoso constrói um sistema lógico de uma precisão incomparável, a partir de elementos imprecisos ou mesmo puramente aleatórios. O sistema nervoso tem uma precisão inacreditável, considerando-se a duração das impulsões nervosas, ainda denominadas potenciais de ação.”

Depois que Michael Behe e outros ajudaram a escancarar a caixa preta de Darwin (a complexidade da vida em nível microbiológico), ficou difícil argumentar na base do acaso cego. Mesmo a mais “simples” forma de vida revela complexidades quase inacreditáveis e informação genética que ocuparia milhares de volumes em uma biblioteca. Mas há ateus que vão muito mais longe e tentam se e nos convencer de que a “máquina” ultracomplexa chamada cérebro teria sido fruto do acaso. Desculpe-me, mas, por essas e outras, não tenho fé suficiente para ser ateu.[MB]

A volta da mordaça insensível

No dia de Natal deste ano, o jornal O Estado de S. Paulo, o Estadão, completará 147 dias de amordaçamento pela censura. O jornal publicaria uma investigação contra Fernando Sarney, ligado ao senador José Sarney, mas foi proibido pela Justiça. O que se esperava era que o jornal publicasse e, caso houvesse informações falsas e caluniosas, ele fosse punido pela Código Civil e Penal por difamação. Isso não aconteceu, porém, houve censura prévia, o Estadão foi proibido de publicar suas investigações e o dia 25 será o 147º em que o jornal está amordaçado.

É lamentável saber que muitos jornais pequenos já foram amordaçados por prefeitos e políticos corruptos que conseguiram controlar juízes, mas, considerando a grande influência do Estadão e a magnitude do conflito, esperava-se que o amordaçamento da imprensa fosse desfeito em grande estilo no STF. Só que, infelizmente, foi confirmado!

A Lei de Imprensa foi revogada, vivemos sob um regime democrático e podemos assistir na TV ou no cinema a documentários recordando os sofrimentos de heróis anônimos que perderam posses, posições e até a vida para que chegássemos até aqui. Lembrando as manifestações da Cinelândia no Rio de Janeiro (onde se dizia: mataram um menino de 15 anos, amanhã podem matar seu filho), o movimento Diretas Já, a emenda Dante de Oliveira (do voto livre) e as lutas para que ela se tornasse uma realidade, as manifestações ousadas dos estudantes de Direito do Largo São Francisco e da PUC de São Paulo; é inacreditável mas a MORDAÇA sobre a livre imprensa tenha voltado. Acredite: ELA VOLTOU!

O caso chegou ao STF, mas, no dia 9 de dezembro, o Estadão foi derrotado pelo placar de 6 x 3. A mordaça imposta ao jornal pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF) permanece.

O STF já derrubou a Lei de Imprensa, mas os seis juízes (Cezar Peluso, Ellen Gracie, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Eros Grau e José Dias Toffoli) acham que a proibição do jornal O Estado de S. Paulo de publicar fatos comprovados de desvio de dinheiro público não tem nada a ver com isso e deve ser mantida (?).

Os Magistrados Carmen Lúcia, Carlos Ayres Britto e Celso de Mello protestaram e lamentaram a decisão dos colegas de tribunal. Extremamente lúcida, histórica e, acima de tudo, extremamente de acordo com a Constituição brasileira foram os argumentos do experiente e decano Celso de Mello, o mais antigo membro da corte. Transcrevemos alguns trechos abaixo, extraídos de O Estado de S. Paulo de 10/12/2009:

“Ao proferir o seu voto, o decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello, remontou ao período do Império, se referiu a convenções internacionais e lembrou decisões dos próprios colegas para repudiar, do começo ao fim de sua fala, a proibição imposta ao Estado. ‘A censura traduz a ideia mesma da perversão das instituições democráticas, em um regime político onde a liberdade deve prevalecer’, disse. Para ele, a mordaça é um ‘retrocesso político-jurídico’, que devolve o País ‘ao período colonial’.

“O ministro recordou a apreensão do Estado na madrugada de 13 de dezembro de 1968, com a entrada em vigor do Ato Institucional nº 5 (AI-5), e citou o editorial ‘Instituições em Frangalhos’, mantido pelo diretor e proprietário do jornal, apesar das pressões dos militares. ‘Julio de Mesquita Filho publicou um editorial, eu mesmo tive acesso a ele. A edição foi apreendida pelos órgãos de repressão.’

“Mello destacou que a decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF) só impede o Estado de exercer a sua função, enquanto os demais veículos trabalham normalmente. ‘Outros órgão s de comunicação social continuam divulgando e não sofreram essa interdição. Portanto, essa interdição é também, além de arbitrária, além de inconstitucional, uma decisão discriminatória. E incide sobre um órgão da imprensa que, já no final do Segundo Reinado, então A Província de São Paulo, fez da causa da República um de seus grandes projetos.’

“Ao traçar um paralelo com os anos de chumbo, Mello fez um alerta: ‘Entendo particularmente grave e profundamente preocupante que ainda remanesçam, sim, no aparelho de Estado, determinadas visões autoritárias que buscar justificar, pelo exercício arbitrário do poder geral de cautela, a prática ilegítima da censura.’

“Ainda de acordo com o ministro, ‘quase todas as Constituições do Brasil expressamente repudiaram a censura’. ‘Contavam com uma cláusula de veto explícito’, completou.

“Mello começou o seu voto dizendo que ontem se celebrava uma data histórica – ‘61º aniversário da promulgação, em Paris, pelas Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana’.

“‘O artigo 19 do estatuto contempla direito à liberdade de opinião e expressão. Inclusive a prerrogativa de procurar, de receber e de transmitir informações e ideias’, acrescentou.

“O decano do tribunal referiu-se, depois, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, aprovado em 1966, ‘sob a égide das Nações Unidas’. Fez, por fim, referência ao Pacto de São José da Costa Rica, firmado em 1969, ‘tão temido pelo regime militar’, que ‘proclama, em seu artigo 13, que toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão’.

“Segundo o ministro, todos esses tratados foram endossados pelos colegas de Supremo no julgamento que derrubou a Lei de Imprensa, em 30 de abril. Em seguida, ele lembrou o escritor inglês John Milton. Em discurso pela liberdade de imprensa, no Parlamento da Inglaterra, após destacar a absoluta inutilidade da censura, salienta: ‘A censura obstrui e retarda a importação da nossa mais rica mercadoria, que é a verdade’.”

“A liberdade de informação, portanto, tem um aspecto nuclear em nosso sistema jurídico”, insistiu Mello, na leitura do voto. “O cidadão tem a prerrogativa de receber informações sem qualquer obstrução, sem qualquer interferência por qualquer órgão de poder público, seja do Poder Executivo, seja do Poder Legislativo, seja do Poder Judiciário.”

Depois de argumentos contundentes e brilhantes como esses do Ministro Celso de Mello serem rejeitados pelos outros seis magistrados, resta perguntar: Por que o Judiciário teme lutar contra a mordaça? Por que será que neste caso e em outros, como o quesito de liberdade religiosa em favor dos sabatistas no Enem, o Judiciário brasileiro abdicou do seu posto de guardião da Constituição? Até quando o Brasil será amesquinhado por leis e tribunais parciais e exclusivistas? A que interessa ao Brasil combater a liberdade de opinião, informação ou religião?

A única esperança é que a mordaça, como outras correias da tirania do passado, possa e seja arrebentada. Resta-nos saber como e através de que lutas os guerreiros conseguirão fazer tal grande proeza. Quem serão esses guerreiros?

(Silvio Motta Costa, professor da rede pública em Campinas, SP)

Meninos estupradores

Dois meninos de 10 anos de idade estão sendo julgados na Grã-Bretanha sob acusação de terem estuprado uma menina de 8 anos. A polícia começou a investigação depois que a menina contou à mãe que havia sido atacada quando foi deixada brincando com os meninos em um parque perto de casa, no oeste de Londres, sem a supervisão de um adulto, em outubro. A menina então prestou depoimento a investigadores especializados em casos de violência sexual, que recomendaram o julgamento. A primeira audiência [estava] marcada para esta quinta-feira. Pela lei britânica, crianças com menos de 10 anos não são consideradas em uma idade em que possam ser responsabilizados por seus crimes.

Segundo a polícia, acusações de estupro contra crianças desta idade são raras, mas já houve casos semelhantes nos últimos anos.

Em março, um menino de 8 anos se tornou a pessoa mais jovem do país a ser interrogada por suspeita de estupro. Mesmo contando com a acusação da vítima, uma menina de menos de 10 anos, o garoto não pode ser preso ou indiciado por causa da sua idade.

Em 2004, um menino de 12 anos se tornou o mais jovem estuprador conhecido na Grã-Bretanha após ter sido condenado por atacar uma garota de 9 anos, durante uma brincadeira de esconde-esconde na casa dele.

No ano passado, outro garoto da mesma idade também foi condenado após ter confessado o estupro de uma menina de 7 anos.

(BBC Brasil)

Nota: Tudo bem que nasci em 1972, em plena ditadura militar e censura à imprensa, mas no meu tempo de criança os interesses da meninada eram bem outros. O despertar para a sexualidade se dava mais tarde e não era tão alimentado pela mídia, com novelas cujas cenas poderiam ser consideradas pornográficas, campanhas publicitárias centralizadas no nudismo e até mesmo videogames com simulação de estupro(!). Possivelmente seja esse o resultado de tanta exposição de erotismo na mídia, o que revela a hiprocrisia de uma sociedade que mostra a isca e depois se assusta quando o peixe a abocanha. Ademais, por que se espantar com o comportamento desses meninos, se a moralidade é apenas fruto de uma evolução casual e afinalista?[MB]

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Computadores com software de autorreparação

O software ClearView foi construído para operar sobre outros computadores que executam o mesmo software. O ClearView monitora o comportamento de programas e estabelece uma sequência de regras e parâmetros para aquilo que são consideradas operações normais. Quando os engenheiros descobrem uma vulnerabilidade prejudicial num software, eles demoram em média um mês para descobrir uma aplicação que restaure os sistemas afetados. (...) O ClearView funciona sem assistência humana e sem acesso ao código-fonte dos programas (o código-fonte é uma sequência de instruções que determina o comportamento do software). Em vez disso, o programa monitora o comportamento de um binário: a forma que o programa assume de modo a executar instruções no hardware de um computador.

Quando o ClearView detecta um software intruso no sistema, ele determina que regra operacional o programa-alvo está violando. O ClearView aplica então um “software-remendo” (em inglês “patch”), que está focado num problema particular, e depois testa o aparato para ver se a solução já está em funcionamento.

O mais impressionante disso tudo é que o ClearView aplica então o software-remendo em todas as outras instâncias do software a ser executado em máquinas distintas, “inoculando-as” contra as intrusões.

De acordo com a MIT’s Technology Review, para testar o sistema, os pesquisadores instalaram o ClearView num grupo de computadores que usam o Firefox e depois contrataram uma equipe independente para os atacar. A equipe hostil usou dez métodos distintos de ataque, todos eles envolvendo a inserção de código malicioso no Firefox. O ClearView bloqueou com sucesso todas as tentativas de ataque ao detectar o mau comportamento, e ao terminar a aplicação antes de o ataque poder ter o efeito pretendido.

Mal o ClearView detecta uma anomalia, ele fecha o programa e começa a analisar o binário procurando por um software-remendo que poderia ter parado o erro.

Para sete das táticas da equipe de ataque, o ClearView criou “remendos” que corrigiram os erros. Em todos os casos, o ClearView descartou correções que tinham efeitos secundários negativos.

Em média, o ClearView construiu um “remendo” eficiente no espaço de cinco minutos após estar exposto ao ataque.

Conclusão: Se alguém nos disser que esse sistema de autorreparação é o resultado de milhões de anos de mutações aleatórias não inteligentes, filtradas pela seleção natural, alguém vai acreditar? Acho que não, e isso não se deve ao fato de sabermos a sua origem, mas sim ao fato de conhecermos as propriedades que o dito sistema possui.

Mas, quando observam sistemas biológicos que fazem exatamente isso (autorreparação), por que é que os ateus acreditam que esses sistemas vieram a existir sem uma mente criativa por trás?

O poder de Deus está manifesto em muitas áreas da existência humana, sendo o sistema imunológico um deles. Até há quem aprenda com o que Deus fez para desenvolver melhores programas de computador, mas os ateus afirmam que “não há evidências” que suportem o criacionismo bíblico...

Para nós, cristãos, aquilo que o artigo da LiveScience mostra não só é um testemunho do poder criativo do ser humano (feito à imagem de Deus – Gn 1:26), mas, acima disso, é um testemunho óbvio do poder criativo dAquele que deu ao homem o poder de ser criativo.

Existem muitas evidências para o criacionismo, mas o ateu não as quer ver porque isso acarreta consequências (mudar de vida, conformar sua moralidade com aquilo que o Criador quer, reconhecer que é pecador, etc.).

Mal sabe ele que ao rejeitar a Bíblia e os dados da ciência, quem perde com isso é ele.

(Darwinismo)

Conexão JA janeiro-março de 2010

Conexão JA é uma revista trimestral produzida pela Casa Publicadora Brasileira em parceria com o departamento de jovens da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Acabou de ser impressa a edição do primeiro trimestre de 2010. Confira aqui os destaques desta edição (cuja matéria de capa "Você à venda" trata do consumismo, um mal que afeta todas as áreas da vida, inclusive a espiritual) e faça já a sua assinatura por apenas R$ 17,40.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Saudades do tempo que não vivi

Já ouvi muitas pessoas dizerem algo como: "Que saudades eu tenho de Jesus." Isso embora nunca O tenham visto pessoalmente. Um dia desses, após o culto do pôr do sol de sexta-feira, coloquei um CD antigo dos Arautos do Rei e disse para minha esposa: "Interessante... de repente, senti saudades de um tempo que não vivi."

Enquanto ouvia aquelas músicas tradicionais, comecei a pensar nas histórias de pioneirismo, fé e coragem que levantei para escrever o livro A Chegada do Adventismo ao Brasil (também disponível numa versão compacta aqui). Difíceis viagens missionárias, reuniões campais cujo centro era a pregação da Palavra de Deus, estudos bíblicos nos lares (alguns varando a noite), reverência e senso de urgência - tudo isso era coisa comum naqueles idos.

Não posso dizer que foi mero saudosismo (até porque não tenho idade suficiente para ter vivido naqueles tempos e fui batizado em 1991) e nem estou, com essas palavras, deixando de reconhecer o crescimento e os avanços pelos quais a Igreja Adventista do Sétimo Dia passou nas últimas décadas. Em muitos sentidos, o preconceito que havia contra os "sabatistas" diminuiu bastante, graças ao maior (e respeitoso) diálogo que a igreja vem promovendo com as demais denominações e à ênfase equilibrada no assunto justificação pela fé. No entanto, fazendo um paralelo entre a igreja atual e a de "ontem", vejo que há aspectos dos quais talvez tenhamos nos esquecido ou relegado a segundo plano e que poderíamos resgatar. [Leia mais]

Atos falhos de um ateu

A linguagem pode dizer mais do que queremos, ou o contrário do que gostaríamos. Não temos controle absoluto sobre o que falamos e escrevemos. Aliás, não temos controle absoluto sobre nada. Vamos administrando nossas palavras dentro das possibilidades. Ler bem consiste em superar a "leitura deslizante ou horizontal", como explicava o filósofo espanhol Ortega y Gasset, substituindo-a pela "leitura vertical, a imersão no pequeno abismo que é cada palavra, fértil mergulho sem escafandro". Tudo o que lemos pode e deve passar por esse crivo. É preciso ter fôlego, manter a mente alerta e aberta, tornar-se leitor das entrelinhas, intérprete, para que as informações não se tornem "enformações" (aprisionamento em fôrmas) e as opiniões e crenças dos que têm acesso a espaços da mídia sejam ocasião para pensarmos por conta própria (como se fosse legítimo pensar um pensar "por conta alheia"!).

Um dos desafios do físico Marcelo Gleiser, articulista da Folha de S.Paulo, tem sido traduzir em linguagem compreensível para o leitor comum (e vem realizando esta tarefa de divulgação com maestria), princípios e conceitos científicos. O risco está em desdizer com o texto, por força da simplificação didática, aquilo em que pensa.

Embora não seja cientista ateu radical (aquele tipo de ateu que se torna tão ou mais intolerante do que os mais intolerantes religiosos), Marcelo Gleiser se posiciona como não crente em Deus, conforme revelou em sabatina promovida pela Folha em 26/06/2005:

"Eu não acredito em Deus. Acredito que coisas maravilhosas podem ser criadas com base apenas nas leis da natureza."

Somemos estas palavras a uma passagem de seu mais recente artigo "A vida e as rochas" (Folha, 13/12/2009):

"Se os seres unicelulares deram origem, ao mesmo tempo, tanto à complexidade da vida quanto à complexidade dos minerais, a hipótese de que a Terra, como um todo, é, de certa forma, uma criatura viva, ganha força."

"Criar" e "criatura" destoam deste contexto. São termos impregnados de ideias religiosas: a rigor, criatura pressupõe Criador, ou não faz sentido chamar-se "criatura". E se os seres unicelulares criaram... quem os teria criado?

O advérbio "apenas" denuncia, na declaração da sabatina, uma redução que é fruto de crença. O autor afirma não acreditar em Deus, mas usa o mesmo verbo "acreditar" em relação às leis da natureza. Crê, portanto, mas crença não se explica cientificamente...

(Gabriel Perissé, Observatório da Imprensa)

Nota: Quando li (dez anos atrás) o livro A Dança do Universo, do judeu ateu Marcelo Gleiser, ele ainda não era o físico midiático que acabaria se tornando (especialmente depois do quadro "Poeira das Estrelas", apresentado no programa de TV Fantástico). No livro, Gleiser se mostra até respeitoso com a visão religiosa, discutindo ciência sem deixar vir à tona ostensivamente sua visão ateísta. Tempos depois, esse mesmo físico a quem julguei equilibrado e respeitoso diria à Folha de S. Paulo que ensinar criacionismo é "crime" e que "à medida que você considera um criacionista um cientista, está dando uma credibilidade que ele não merece" (confira aqui). Gleiser parece ignorar deliberadamente homens como Isaac Newton e depois dele um panteão de verdadeiros cientistas crentes que fizeram ciência de ponta e foram responsáveis pela ciência moderna. Talvez o "físico pop" tenha se deixado levar pela onda promovida por alguns ateus ultradarwinistas incensados pela mídia secular de achincalhar o criacionismo e a crença alheia.[MB]

Leia também: "O verdadeiro Senhor do Universo"

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Cura pela esperança

A universitária Rose Mendes foi internada às pressas para uma bateria de exames. Dias depois recebeu a terrível notícia de que estava com câncer em estágio terminal e tinha poucos meses de vida. Os tratamentos quimioterápicos foram iniciados na esperança de retardar o avanço da doença. Dias depois, os médicos ficaram surpresos ao constatar que o câncer não só estava contido, mas retrocedia. O médico que acompanhava o caso conta que várias vezes, ao entrar no quarto de Rose, esperava ver uma pessoa arrasada e deprimida. Mas, ao contrário, via uma moça sorridente e esperançosa. [Leia mais]

Poesia de Natal (Blog da Gi)

Natal, Natal no Natal vou comer torta com sal.

No Natal é muito bom pra gente, pois a gente ganha presente.

Mas não se esqueça que o mais importante não é presente, é o nascimento de Jesus entre a gente.

Ai, ai, Natal é demais, tem gente que até ganha animais. [Leia mais]

“Não existe aquecimento global”

Com 40 anos de experiência em estudos do clima no planeta, o meteorologista da Universidade Federal de Alagoas Luiz Carlos Molion apresenta ao mundo o discurso inverso ao apresentado pela maioria dos climatologistas. Representante dos países da América do Sul na Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Molion assegura que o homem e suas emissões na atmosfera são incapazes de causar um aquecimento global. Ele também diz que há manipulação dos dados da temperatura terrestre e garante: a Terra vai esfriar nos próximos 22 anos.

Em entrevista ao UOL, Molion foi irônico ao ser questionado sobre uma possível ida a Copenhague: “Perder meu tempo?” Segundo ele, somente o Brasil, dentre os países emergentes, dá importância à conferência da ONU. O metereologista defende que a discussão deixou de ser científica para se tornar política e econômica [só faltou dizer religiosa], e que as potências mundiais estariam preocupadas em frear a evolução dos países em desenvolvimento.

Enquanto todos os países discutem formas de reduzir a emissão de gases na atmosfera para conter o aquecimento global, o senhor afirma que a Terra está esfriando. Por quê?

Essas variações não são cíclicas, mas são repetitivas. O certo é que quem comanda o clima global não é o CO2. Pelo contrário! Ele é uma resposta. Isso já foi mostrado por vários experimentos. Se não é o CO2, o que controla o clima? O Sol, que é a fonte principal de energia para todo sistema climático. E há um período de 90 anos, aproximadamente, em que ele passa de atividade máxima para mínima. Registros de atividade solar, da época de Galileu, mostram que, por exemplo, o Sol esteve em baixa atividade em 1820, no final do século 19 e no inicio do século 20. Agora o Sol deve repetir esse pico, passando os próximos 22, 24 anos, com baixa atividade.

Isso vai diminuir a temperatura da Terra?

Vai diminuir a radiação que chega e isso vai contribuir para diminuir a temperatura global. Mas tem outro fator interno que vai reduzir o clima global: os oceanos e a grande quantidade de calor armazenada neles. Hoje em dia, existem boias que têm a capacidade de mergulhar até 2.000 metros de profundidade e se deslocar com as correntes. Elas vão registrando temperatura, salinidade, e fazem uma amostragem. Essas boias indicam que os oceanos estão perdendo calor. Como eles constituem 71% da superfície terrestre, claro que têm um papel importante no clima da Terra. O [oceano] Pacífico representa 35% da superfície, e ele tem dado mostras de que está se resfriando desde 1999, 2000. Da última vez que ele ficou frio na região tropical foi entre 1947 e 1976. Portanto, permaneceu 30 anos resfriado.

Esse resfriamento vai se repetir, então, nos próximos anos?

Naquela época houve redução de temperatura, e houve a coincidência da segunda Guerra Mundial, quando a globalização começou pra valer. Para produzir, os países tinham que consumir mais petróleo e carvão, e as emissões de carbono se intensificaram. Mas durante 30 anos houve resfriamento e se falava até em uma nova era glacial. Depois, por coincidência, na metade de 1976 o oceano ficou quente e houve um aquecimento da temperatura global. Surgiram então umas pessoas – algumas das que falavam da nova era glacial – que disseram que estava ocorrendo um aquecimento e que o homem era responsável por isso.

O senhor diz que o Pacífico esfriou, mas as temperaturas médias da Terra estão maiores, segundo a maioria dos estudos apresentados.

Depende de como se mede.

Mede-se errado hoje?

Não é um problema de medir, em si, mas as estações estão sendo utilizadas, infelizmente, com um viés de que há aquecimento.

O senhor está afirmando que há direcionamento?

Há. Há umas seis semanas, hackers entraram nos computadores da East Anglia, na Inglaterra, que é um braço direto do IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática], e eles baixaram mais de mil e-mails. Alguns deles são comprometedores. Manipularam uma série para que, ao invés de mostrar um resfriamento, mostrassem um aquecimento.

Então o senhor garante existir uma manipulação?

Se você não quiser usar um termo tão forte, digamos que eles são ajustados para mostrar um aquecimento, que não é verdadeiro.

Se há tantos dados técnicos, por que essa discussão de aquecimento global? Os governos têm conhecimento disso ou eles também são enganados?

Essa é a grande dúvida. Na verdade, o aquecimento não é mais um assunto científico, embora alguns cientistas se engajem nisso. Ele passou a ser uma plataforma política e econômica. Da maneira como vejo, reduzir as emissões é reduzir a geração da energia elétrica, que é a base do desenvolvimento em qualquer lugar do mundo. Como existem países que têm a sua matriz calcada nos combustíveis fósseis, não há como diminuir a geração de energia elétrica sem reduzir a produção.

Isso traria um reflexo maior aos países ricos ou pobres?

O efeito maior seria aos países em desenvolvimento, certamente. Os desenvolvidos já têm uma estabilidade e podem reduzir marginalmente, por exemplo, melhorando o consumo dos aparelhos elétricos. Mas o aumento populacional vai exigir maior consumo. Se minha visão estiver correta, os países fora dos trópicos vão sofrer um resfriamento global. E vão ter que consumir mais energia para não morrer de frio. E isso atinge todos os países desenvolvidos.

O senhor, então, contesta qualquer influência do homem na mudança de temperatura da Terra?

Os fluxos naturais dos oceanos, pólos, vulcões e vegetação somam 200 bilhões de emissões por ano. A incerteza que temos desse número é de 40 bilhões para cima ou para baixo. O homem coloca apenas 6 bilhões, portanto as emissões humanas representam 3%. Se nessa conferência conseguirem reduzir a emissão pela metade, o que são 3 bilhões de toneladas em meio a 200 bilhões? Não vai mudar absolutamente nada no clima.

O senhor defende, então, que o Brasil não deveria assinar esse novo protocolo?

Dos quatro do bloco do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o único que aceita as coisas, que “abana o rabo” para essas questões. A Rússia não está nem aí, a China vai assinar por aparência. No Brasil, a maior parte das nossas emissões vem das queimadas, que significa a destruição das florestas. Tomara que nessa conferência saia alguma coisa boa para reduzir a destruição das florestas.

Mas a redução de emissões não traria nenhum benefício à humanidade?

A mídia coloca o CO2 como vilão, como um poluente, e não é. Ele é o gás da vida. Está provado que quando você dobra o CO2, a produção das plantas aumenta. Eu concordo que combustíveis fósseis sejam poluentes. Mas não por conta do CO2, e sim por causa dos outros constituintes, como o enxofre, por exemplo. Quando liberado, ele se combina com a umidade do ar e se transforma em gotícula de ácido sulfúrico e as pessoas inalam isso. Aí vêm os problemas pulmonares.

Se não há mecanismos capazes de medir a temperatura média da Terra, como o senhor prova que a temperatura está baixando?

A gente vê o resfriamento com invernos mais frios, geadas mais fortes, tardias e antecipadas. Veja o que aconteceu este ano no Canadá. Eles plantaram em abril, como sempre, e em 10 de junho houve uma geada severa que matou tudo e eles tiveram que replantar. Mas era fim da primavera, início de verão, e deveria ser quente. O Brasil sofre a mesma coisa. Em 1947, última vez que passamos por uma situação dessas, a frequência de geadas foi tão grande que acabou com a plantação de café no Paraná.

E quanto ao derretimento das geleiras?

Essa afirmação é fantasiosa. Na realidade, o que derrete é o gelo flutuante. E ele não aumenta o nível do mar.

Mas o mar não está avançando?

Não está. Há uma foto feita por desbravadores da Austrália em 1841 de uma marca onde estava o nível do mar, e hoje ela está no mesmo nível. Existem os lugares onde o mar avança e outros onde ele retrocede, mas não tem relação com a temperatura global.

O senhor viu algum avanço com o Protoclo de Kyoto?

Nenhum. Entre 2002 e 2008, se propunham a reduzir em 5,2% as emissões e até agora as emissões continuam aumentando. Na Europa não houve redução nenhuma. Virou discursos de políticos que querem ser amigos do ambiente e ao mesmo tempo fazer crer que países subdesenvolvidos ou emergentes vão contribuir com um aquecimento. Considero como uma atitude neocolonialista.

O que a convenção de Copenhague poderia discutir de útil para o meio ambiente?

Certamente não seriam as emissões. Carbono não controla o clima. O que poderia ser discutido seria: melhorar as condições de prever os eventos, como grandes tempestades, furacões, secas; e buscar produzir adaptações do ser humano a isso, como produções de plantas que se adaptassem ao sertão nordestino, com menor necessidade de água. E com isso, reduzir as desigualdades sociais do mundo.

O senhor se sente uma voz solitária nesse discurso contra o aquecimento global?

Aqui no Brasil há algumas, e é crescente o número de pessoas contra o aquecimento global. O que posso dizer é que sou pioneiro. Um problema é que quem não é a favor do aquecimento global sofre retaliações, têm seus projetos reprovados e seus artigos não são aceitos para publicação. E eles [governos] estão prejudicando a Nação, a sociedade, e não a minha pessoa. [Interessante: quando há consenso científico numa direção, ainda que a opinião não seja consensual e os fatos mostrem outra coisa, os discordantes sempre são hostilizados. Ocorre o mesmo com os teóricos do design inteligente e os criacionistas. – MB]

(UOL)

Nota: Pode ser realmente que não exista aquecimento global (ou pode ser que o papel antropogênico esteja sendo bem exagerado), mas uma coisa é certa: existe interesse global político/religioso nessa bandeira. Clique no marcador “ECOmenismo”, abaixo, e saiba mais sobre isso.[MB]

domingo, dezembro 13, 2009

Palestra "Deus Se Revela"


Clique aqui para fazer o download da palestra em PowerPoint.

Evolucionista ou criacionista, qual a sua posição?

De acordo com o que tenho observado, a escolha entre uma ou outra visão quanto à origem do Universo e da própria vida tem muito mais que ver com o tipo de experiência que cada um enfrenta na vida, do que com as informações a que foram expostos. Ninguém questiona a importância de peças fundamentais como o meio em que alguém cresceu, a educação que recebeu, os modelos de pessoa que se lhe apresentaram, o afeto (ou o desprezo) e o cuidado (ou a negligência) que recebeu, etc. No fim das contas, no entanto, parece que a ideia de origem que uma pessoa sustentará está essencialmente ligada à sua experiência com a religião, notadamente nos anos de sua infância e adolescência.

Nesse período crucial da vida, muitos fatores são capazes de iniciar o processo que resultará na negação do indivíduo de qualquer simpatia pela religião (ainda que inconscientemente e de maneira não declarada).

Destaco, por exemplo, a rigidez religiosa, que cultua muito mais a forma da religião do que o seu objetivo central de religar o homem ao seu Criador; a incoerência entre o discurso e as atitudes práticas de pais, professores e líderes religiosos; as explicações simplistas, ignorantes e irrazoáveis para os questionamentos simples e inteligentes [como ocorreu com Dan Brown]; a secularização da prática religiosa, reduzindo-a a um mero e antiquado fenômeno social; enfim, a própria ausência de religiosidade no lar - provavelmente resultante desses mesmos fatores.

Diante de realidades como essas, que resposta alguém fatalmente dará às inexoráveis perguntas com que nascemos, como: "De onde vim?", “Para onde vou?”, etc.

Não é preciso ser gênio para entender o ponto que estou abordando aqui. A ideia fundamental por detrás da criação e da evolução consiste, na verdade, em declarar quem ou o que acreditamos estar guiando nossa existência até aqui, e a quem ou a que “escolhemos” prestar contas um dia: a um ser superior ou ao acaso.

A questão, portanto, não é se você aceita uma ou outra ideia científica sobre o começo de tudo, mas, sim, se você aceita ou rejeita a pessoa de Deus. E é precisamente neste ponto que se destaca a resposta desenvolvida na infância e adolescência para a pergunta: "Quem é Deus?"

Quanto pior for a imagem que alguém tiver da pessoa de Deus, maior será a probabilidade de que virá a rejeitá-Lo e colocar outro em Seu lugar (e candidatos para isso não faltam). O acaso, o big-bang, a seleção natural, os alienígenas, e até a própria natureza têm sido colocados no trono da vida de milhões de pessoas. Em última análise, nesta questão reside o berço do evolucionismo.

Raciocinando como o Dr. Mário de Pinna, evolucionista da USP (veja vídeo aqui), nenhum desses deuses alternativos exige qualquer tipo de comportamento moral de nossa parte. Assim, somos livres e muito mais felizes! (Note que tipo de “deus” foi transmitido para essa pessoa.)

A você que pensa como o Dr. Mário, quero dizer que também não creio no deus que você rejeita. Ele, de fato, não existe! Não creio no deus que os iluministas se esforçaram por "matar". Chutar cachorro morto é para tolos. Não creio no deus que Darwin veio a negar por meio de sua teoria. Abomino o deus que freou a ciência por mais de um milênio e deteve o mundo inteiro estagnado nas masmorras da Idade Média. Anatematizo, finalmente, o deus em nome de quem tantos fizeram sofrer a bilhões nesta vida!

O Deus da Bíblia, a quem eu conheço e em quem eu creio, você ainda não teve o privilégio de conhecer! Se O conhecesse, desejaria ser seu melhor amigo, seu mais amoroso filho, Seu mais fiel e devotado servo!

Se desejar conhecê-Lo, conte comigo para ajudá-lo!

“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor; como a alva, a Sua vinda é certa; e Ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Oseias 6:3).

(Tomaz A. de Jesus, evangelista auxiliar da sede paulista central da Igreja Adventista)

Projeto Atlanta: Colômbia (parte 7)

Estava muito feliz por ter alcançado a cidade de Turbo. A euforia era resultado de ter concluído a travessia de um país muito difícil. No entanto, por falta de alguns dólares, não tive condições de tomar uma lancha de Turbo até Puerto Obaldia, a primeira cidade pertencente ao território panamenho, e fui obrigado a seguir mais um trecho por estradas colombianas antes de passar ao Panamá: Unguia a Acandi.

Após a programação maravilhosa em Unguia (leia em Colômbia, parte 6), deixei a casa do irmão Jairo um tanto preocupado depois de ouvir suas orientações e advertências. Ele foi bem claro em afirmar que eu corria perigo de vida ou de ficar perdido dentro da selva nas trilhas entre Unguia e Acandi. Entretanto, é óbvio que após ter enfrentado tantos perigos em caminhos anteriores, não iria deixar de avançar em busca de mais um passo na direção do meu sonho: Atlanta.

Por isso apertei o ritmo e fui logo deixando para trás a casa que me abrigou em Unguia. Antes de fazer a primeira curva, olhei e vi braços estendidos acenando um adeus. Respondi também agitando ao vento e para o alto minha mão esquerda.

Gostaria que este fosse o último adeus desta viagem, mas estou certo de que não será. Pensando nisso, não sei dizer o número de vezes que precisei me despedir de familiares, amigos e irmãos nestas andanças missionárias pelos países que já percorri na América do Sul. Se incluir a Colômbia, que já estou terminando, dá um total de seis países e mais de 35.000 km. Até Atlanta tenho mais nove nações a visitar. Terei que passar por Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador, Belize, Guatemala, México e Estados Unidos. Faltam aproximadamente 10.000 km. Ou seja, ainda terei muitas chegadas e partidas.

Abraços, alegria, sorrisos e satisfação nas chegadas. Porém, ao ter que ir embora, após conquistar corações sinceros, às vezes correm lágrimas pela face. Se não, quase sempre a voz fica silente e o olhar se perde rapidamente na busca de um novo horizonte.

Assim, descobri que não preciso ter apenas músculos, ossos, nervos e mente à prova de fortes emoções. Mas, e principalmente, um coração resistente às intempéries dos sentimentos humanos.

Mas não vejo o choro como uma fraqueza do homem. Há momentos em que o melhor remédio para aliviar a angústia da alma é derramar lágrimas. Exemplo disso foi o choro de Cristo por ocasião da morte do amigo Lázaro.

Assim fui percorrendo os caminhos entre Unguia e Acandi. Comecei por uma estrada de terra, pedregosa e com areia e poças de lama em algumas partes. Também vez ou outra cruzava um rio de pedras com água cristalina. A estrada é estreita. Em suas margens há florestas e alguns sítios e fazendas. Nas partes com selva é que reside o maior perigo, pois pode haver algum acampamento dos guerrilheiros das Farcs.

Estava tão apreensivo que tomei a decisão de esconder meu passaporte e identidade. Enrolei-os em um plástico e os coloquei dentro da cueca. Com isso, pensava que, caso fosse abordado por membros desta força revolucionária, talvez pudesse ocultar minha real identidade, haja vista que meu espanhol, no momento, assemelha-se muito ao falado por aqui. Se conseguisse apenas ser tomado por um colombiano, poderia dar-se o caso de apenas me roubarem. Assim, evitaria o sequestro, o qual traria consequências terríveis para o ministério do Atleta da fé e para toda a família adventista que tem me acompanhado.

Com essas preocupações esquentando a mente, avançava pela estradinha deserta ponteada de buracos, lama e pedras soltas, as quais quase me levaram ao chão em algumas descidas. Toda vez que me aproximava de alguma pessoa, estando a cavalo, a pé ou moto, orava rogando ao Senhor livramento das mãos do maligno.

Com dificuldade, fazendo o dobro do esforço que usaria por uma estrada asfaltada, fui engolindo os quilômetros com a “gorducha” (bike): 5, 10, 15, 20 km. Depois de vencer essa distância, cheguei a um povoado chamado Santa Maria. Passei direto, apenas fazendo aceno com a cabeça para alguns moradores que me olhavam curiosos e sempre rogando a Deus que ninguém tivesse um amor à primeira vista pela “gorducha” e seus equipamentos.

Adiante encontrei uma patrulha do exército colombiano, cercada por uma barricada feita de sacos de areia. Essa preocupação em dificultar a ação da artilharia inimiga mostra o quanto eles temem as forças do exército paramilitar.

Após passar Santa Maria, o caminho voltou a ficar inteiramente deserto. Essa solidão não traz desespero à alma porque me encanta o verde das florestas, a canção melodiosa dos pássaros, o sussurrar do vento nas folhas das palmeiras e o penetrar da vista nas fontes cristalinas, buscando a colorida e exótica vida aquática.

Em realidade, não fosse esse compromisso com Deus, eu certamente iria me embrenhar nestas matas, em busca de cachoeiras e paisagens paradisíacas. Seria capaz de passar dias em total integração com a fauna e flora desta região. Somente o que me preocupa é que há outros habitantes na selva que não nasceram aqui na natureza. São os intrusos guerrilheiros das Farcs, que tem utilizado a mata como esconderijo para reter pessoas que não têm nada a ver com a luta pela tomada do poder na Colômbia.

Por enquanto, só tenho me deparado neste caminho com cavalos, burros, touros e vacas. Até aproveito para de vez em quando “bater um papo” com eles. Todos falam um pouquinho, porém as que mais gostam de “conversar” são as vacas, especialmente no fim da tarde, quando já terminaram de pastar e estão deitadas junto a alguma árvore frondosa. A boca abre e fecha o tempo todo, num tagarelar sem fim (ruminando)...

Marcando 24 quilômetros no velocímetro da “gorducha”, alcanço mais um vilarejo. Chama-se Ricardi. Novamente encontro uma milícia do exército da Colômbia. Sua presença traz segurança, mas, por outro lado, mostra o quanto a região é perigosa e necessita de força militar para proteger os cidadãos. Também passo direto por esse povoado, sem perguntar nada ou mesmo comprar algo para comer. O temor é de que alguma palavra pronunciada com sotaque português me entregue. Isso seria algo nada confortável por estas bandas. Ou seja, uma “zona vermelha” onde em cada esquina pode ter um informante do exército paralelo. Por aqui, toda cautela é bem vinda.

Depois que deixei para trás a pequena cidade de Ricardi, voltei a ficar só e, olhando à frente, vi dois motoqueiros lado a lado fechando o caminho. Havia entre eles um pequeno espaço por onde passar com a “gorducha”. Senti o perigo e clamei a Deus que me deixasse atravessar sem ser interpelado por eles. Assim ocorreu. Disse-lhes: “Bom dia!” E obtive resposta igual. Segui tranquilo por uns dois quilômetros, porém um dos motoqueiros me perseguiu. Rapidamente chegou ao meu lado e pediu-me que parasse. Senti sua presença antes mesmo de ele chegar e já estava em oração. Sabia que seria presa fácil e tudo dependia de minhas respostas às indagações dele.

– Olá, amigo! O que faz por aqui? De onde vens?

Esse “Olá, amigo” trouxe alívio ao meu coração assustado. Senti que uma boa resposta dirigida pelo Espírito Santo me permitiria um salvo conduto.

– Sou um missionário. Pertenço à Igreja Adventista do Sétimo Dia e ando evangelizando estes povoados. Já estive em Unguia e sigo para Balboa, e depois Acandi. Tenho irmãos que moram lá.

Certo de que meus lábios pronunciaram a melhor resposta, esperei em silêncio. O jovem da moto passou um olhar investigativo. Primeiro pela “gorducha”, depois pela mochila traseira e dianteira. Depois para mim.

– Quer dizer que você é missionário da Igreja Adventista? Está evangelizando os povoados? Muito bem. Que Deus o acompanhe, siga em paz.

Dito isso, o motoqueiro fez meia volta e desapareceu na primeira curva da trilha.

Após passar por esse susto e livramento, segui mais tranquilo e até retirei os documentos da cueca e os coloquei de volta na mochila dianteira. Continuei a forçar as pedaladas para chegar ao próximo povoado antes de Acandi, por nome Balboa. Precisava tomar água e comer um pedaço de pão.

Mas, de repente, a estradinha sumiu. Acabou-se o caminho e dei de cara com uma porteira. Fiquei sem saber para onde seguir. Para a direita? Para a esquerda? Em frente após a porteira? Estava em dúvida. Precisava de orientação e não via a quem pedir ajuda.

Logo minha mente me fez recordar as palavras do irmão Jairo, quando nos despedimos em Unguia pela manhã: “Irmão George, creio que você vai se perder nessas trilhas antes de chegar a Acandi.” Aquelas palavras estavam se cumprindo. Há três caminhos e somente um segue em direção do meu destino. Essa situação somou-se a que já tenho arquivada na memória: 600 dólares para poder ingressar em terras panamenhas. Disponho de somente 12 e ainda terei que viajar mais dois dias em barco ou lancha para alcançar uma cidade do Panamá com estradas que me permitam chegar à Rodovia Interamericana, a qual me dará condições de viajar pelos outros países da América Central e do Norte.

São problemas grandes como montanhas. Talvez altos como as Cordilheiras da Colômbia. Mas tenho um Deus que me diz assim: “Eleve os seus olhos para os montes. De lá virá o seu socorro. Quem o socorre fez os céus e a Terra, e não cochila nem dorme Aquele que o guarda. Ele não vai permitir que o seu pé vacile.”

Por isso, olhando para minhas fraquezas e condições, não vejo como prosseguir. Por outro lado, fixando pela fé o olhar em Jesus, não vejo como perder esta batalha.

Estou seguindo para a cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, montado sobre uma “gorducha” de aço, alumínio, borracha e plástico. Um destino longínquo que está perto porque o meu sonho voa sobre as asas dos anjos das Cortes Celestiais.

Venha comigo porque Deus está aqui. Atlanta nos espera! Até breve...

(George Silva de Souza, atleta e autor livro Conquistando o Brasil)

Nota: O Atleta da Fé, George Silva, está enfrentando grandes dificuldades financeiras para prosseguir nessa missão esportivo-evangelística e precisa urgentemente fazer uma revisão na bicicleta. Ele não me pediu isso, mas eu convido: se você puder colaborar de alguma maneira, escreva para ele: georgepalestras@yahoo.com.br

sábado, dezembro 12, 2009

Sinead O'Connor exige renúncia de papa Bento 16

A cantora Sinead O'Connor pediu na sexta-feira que o papa Bento 16 renuncie por causa de um relatório do governo irlandês acusando os líderes da Igreja de acobertarem o abuso sexual de crianças por 30 anos. O Vaticano divulgou um comunicado na sexta-feira dizendo que o papa se sentiu "traído, envergonhado e ultrajado" por causa do escândalo e iria escrever ao povo irlandês sobre o abuso sexual. Mas Sinead, que certa vez irritou católicos ao rasgar uma foto de João Paulo 2º ao vivo na televisão, disse em uma carta publicada em um jornal britânico que o papa se manteve em silêncio por tempo demais sobre o abuso sexual infantil.

"Eu exijo que o papa renuncie por seu silêncio desprezível sobre a questão e seus atos de não cooperação com o inquérito", escreveu O'Connor em uma carta ao jornal The Independent, publicada antes de uma reunião entre líderes da igreja irlandesa e o papa no Vaticano.

"Os papas não tiveram problemas em dar suas opiniões quando quisemos pílulas anticoncepcionais ou o divórcio", disse Sinead.

"Não tiveram problema em criticar o Código Da Vinci. Nenhum problema em criticar Naomi Campbell por usar uma cruz adornada com joias. Mas quando se trata dos males feitos por pedófilos vestidos de padres, eles ficam em silêncio. É grotesco, inacreditável, bizarro e inédito. Eles não defendem nada além do mau."

A Igreja da Irlanda, país de maioria católica, foi abalada por dois relatórios este ano sobre abusos sexuais. O Relatório da Comissão Murphy, divulgado em 26 de novembro, revelou que a Igreja havia escondido o abuso sexual "obsessivamente" de 1975 a 2004.

Sinead, cuja canção de 1990 "Nothing Compares 2 U" foi sucesso no mundo todo, provocou polêmica na Irlanda quando um grupo católico dissidente ordenou-a sacerdotisa em uma cerimônia em Lourdes há 10 anos.

(Yahoo Notícias)

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Dissonância cognitiva: um obstáculo à verdade

Os judeus Gershon Robinson e Mordechai Steinman escreveram um livro bastante interessante, intitulado A Prova Evidente (São Paulo: Editora Colel, 1996). Recebi-o de presente do amigo e leitor Jackson Leal, de Salvador, BA. Li-o de uma assentada e gostei do conteúdo. Os autores trabalham com aquilo que os psicólogos chamam de dissonância cognitiva – típico bloqueio que acomete pessoas que investiram muito em suas convicções e que muitas vezes as impede de aceitar facilmente ideias novas.

Eles começam explicando: “Estar certo provoca uma sensação de superioridade, ao passo que estar errado ocasiona uma sensação de inferioridade. Portanto, qualquer coisa que sugira que estamos errados é irritante e ocasiona mal-estar; é uma ameaça à nossa autoestima. Quando reconhecemos que estávamos errados e aceitamos a nova informação, é inevitável que nosso ego saia machucado. ... A dissonância cognitiva e algum tipo de reação física sempre ocorrem toda vez que alguém é criticado por algo a que se sente ligado ou é desafiado sobre o que considera verdadeiro. ... Sempre que surge algo que não se enquadra, logo surge a dissonância cognitiva no subconsciente humano. ... A dissonância consegue anular completamente o desejo humano de verdade. Se alguém ‘investiu tudo numa compra’, se fez um grande investimento em certo produto, crença ou ideia, então qualquer sugestão de que o investimento foi ruim tem grande probabilidade de ser ignorada, mesmo se for verdadeira” (p. 15, 16, 17).

Os autores citam alguns exemplos, entre os quais o de Einstein. Tudo indicava, para o físico, que o Universo estava em expansão, embora essa ideia fosse considerada por ele como “irritante” e “insensata”. Por quê? Porque “o homem [até o mais inteligente] parece ter uma necessidade subconsciente de ‘proteger’ seus investimentos, até mesmo da verdade. ... Justificada ou não, a irritação pode impedir que uma pessoa tenha qualquer percepção da verdade” (p. 30, 37). Para Einstein, o Universo era estático, e pronto.

A partir da página 39, Robinson e Steinman apresentam cinco motivos pelos quais algumas pessoas rejeitam a Deus, devido à dissociação cognitiva:

1. As pessoas suspeitam que, se Deus de fato existe, então enquanto seres humanos não poderíamos ser tão livres quanto gostaríamos. Como as pessoas são muito apegadas à ideia de liberdade, em um nível subconsciente os indícios de Deus incomodam, pois a ideia de Deus é percebida como ameaça à liberdade. Uma pessoa poderia, subconscientemente, tender a preferir que Deus não existisse por causa da ameaça à sua própria “soberania pessoal” [aqui foi inevitável não pensar em Richard Dawkins que, apesar do título de seu livro Deus, Um Delírio, afirma que vive na “predisposição de que Deus não exista”]. Em resumo, os indícios de Deus são emocionalmente irritantes, pois fazem o homem parecer pequeno; implicam que o homem talvez seja limitado em sua liberdade pessoal (p. 38).

2. As pessoas também abrigam o temor de descobrir que não passam do fruto da imaginação de um criador. O homem é uma força expressiva e criativa no Universo, e orgulha-se disso. Nada abala mais um ser humano que a ideia de que todo o seu ser é, na realidade, produto de outra força criativa e expressiva do Universo, de um Ser muito mais elevado e poderoso (p. 39).

3. Se Deus existe e é, de fato, um Pai espiritual para nós, por que Ele permanece tão distante e obscuro? Os indícios de Deus também podem ocasionar um sentimento de impotência e desimportância porque tal ideia provoca um sentimento de abandono e rejeição. Assim como temem a ideia de perder a liberdade pessoal, as pessoas temem a ideia de serem rejeitadas e abandonadas (p. 40).

4. Se uma pessoa aceita a existência de Deus, deve também admitir uma falta de compreensão. Em vez de aceitar uma ideia nova abstrata que parece conflitar com o óbvio, e assim admitir nossa falta de compreensão, nossa propensão é a ideia subconscientemente e nos livrarmos do incômodo (p. 41).

5. Quanto mais uma pessoa vive de acordo com a ideia de que Deus não existe, mais dissonância haverá como resultado da prova em contrário; pois esta faz com que a pessoa se sinta muito “menor”. Por causa da dissonância, tais indícios [de Deus] são automaticamente rejeitados no subconsciente antes mesmo que o intelecto consciente os examine (p. 41).

O capítulo 3, que dá nome ao livro – A Prova Evidente – procura demonstrar que existem evidências bastante sólidas de um projeto inteligente que aponta para o Criador, e que, portanto, a rejeição desses fatos e de Deus se deve mais à dissonância cognitiva do que a qualquer outra coisa.

Fazendo alusão aos monólitos alienígenas presentes no livro/filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, os autores perguntam: “Que nível de complexidade é necessário para que se considere intuitivamente que algo foi criado de maneira proposital? É necessário achar um computador na Lua? Não. Um carro? Não. Um relógio? Não! Basta uma simples rocha negra” (p. 58).

E então arrematam o pensamento: “Se o projeto do Universo é superior ao encontrado na rocha [monólito], se é maior do que o mínimo, seremos forçados a concluir que há indícios suficientes de um Mestre Autor. E, se não fosse por preconceito pessoal, social e outros, ou em uma palavra, pela dissonância, as pessoas reconheceriam isso intuitivamente... a dúvida seria baseada no irracional e no ‘não consigo suportar isso’ subconsciente” (p. 59).

A argumentação avança pelo fino ajuste das constantes universais, pela complexidade da vida em nível genético, embriológico e neurológico, cita cientistas de peso que admitem o design inteligente, e tenta justificar por que, a despeito de tanta complexidade específica observada no Universo, a negação de Deus e a sobrevivência da ideia do acaso cego ainda persistem:

“A impressionante longevidade do darwinismo, apesar de suas muitas falhas, é uma extraordinária confirmação da tese deste livro. Sem a evolução, o homem está ‘condenado’ a Deus. De maneira subconsciente e consciente, cientistas, jornalistas e outros se agarram à evolução com todas as suas forças. Como a ideia da evolução permite que as pessoas imaginem um universo sem Deus, a teoria evolucionária sobrevive e floresce em muitas versões, e todas as objeções a ela são descartadas com desprezo” (p. 93).

De fato, em Evolution From Space, o mais eminente astrônomo britânico, sir Fred Hoyle, aponta problemas gritantes na teoria da evolução e conclui que a sobrevivência desse paradigma se deve apenas ao fato de ele ser considerado “socialmente desejável e mesmo essencial para a paz mental das pessoas” (Fred Hoyle e Chandra Wickramasinghe. Evolution From Space. Londres: Hutchinson and Co., 1969, p. 66 – citado por Robinson e Steinman, p. 94).

Aliás, é de Hoyle que vem outra análise interessante sobre a probabilidade de surgimento da vida na “sopa química”. Ele lembra que há cerca de duas mil enzimas [um tipo de proteína essencial à vida] diferentes, e cada uma tem estrutura própria. Segundo ele, a probabilidade de se obter todas as duas mil enzimas ao acaso é de uma em dez elevado a 40 mil, “quase a mesma probabilidade de se obter uma sequência ininterrupta de 50 mil números 6 com um dado não viciado”, compara. Esses cálculos não chegam nem perto da probabilidade de se produzir ao acaso os “programas” pelos quais as células se dividem e se organizam. Hoyle conclui: “Para a vida ter surgido na Terra seria necessário que instruções bem explícitas tivessem sido fornecidas para sua formação” (Ibidem, p. 109).

Então, por que essa ideia persiste? Em seu livro Origins, Robert Shapiro afirma que o motivo pelo qual os cientistas alimentam o público com a ideia da “sopa química” por tanto tempo é que ela serve para preencher aquele “vácuo” horrível. Os cientistas e a mídia querem, de qualquer maneira, que a hipótese da sopa seja verdadeira. Em vez de aceitar a ideia “religiosa” sobre a origem da vida, empenham-se em vestir um mito e fazê-lo parecer científico (Robert Shapiro. Origins: A Skeptic’s Guide to the Creation of Life on Earth. Nova York: Bantam Books, 1986 – citado por Robinson e Steinman, p. 107).

No capítulo “O Judaísmo e a crença em Deus”, os autores escreveram: “De acordo com o rei Salomão [Ec 8:17; 3:11], muitos dos enigmas que hoje confrontam a ciência permanecerão enigmas até o fim dos tempos, porque a Sabedoria Suprema por trás deles está muito além da sabedoria e do alcance da humanidade. ... A abordagem mais saudável, e mais conectada com a realidade, é a proposta pelos cientistas da Escola de Pensamento Antrópica. Estes cientistas reconhecem Deus, admitem que certos enigmas nunca serão resolvidos, e ainda assim continuam a aplicar o método científico à natureza, tentando decifrar o que for possível” (p. 134, 135).

O antigo filósofo grego Alexandre Afrodísio relaciona três diferentes fatores que funcionam como “obstáculos” para que alguém enxergue a verdade: a arrogância, a presunção e o amor à liberdade; a sutileza, profundidade e dificuldade do assunto; a ignorância humana, a insuficiência da capacidade intelectual. Crentes ou não, todos estamos sujeitos a esbarrar num ou mais desses obstáculos, mas não nos esqueçamos de que “o maior obstáculo entre uma pessoa e a verdade pode ser ela mesma” (p. 141), e sua dissonância cognitiva.

(Michelson Borges, jornalista e mestrando em Teologia pelo Unasp)