Como o Universo, o planeta Terra com toda a vida exuberante e
os seres humanos vieram à existência? Essa pergunta ancestral é uma das mais
importantes para o ser humano; deve ser feita por qualquer pessoa que tenha o
mínimo de inclinação a indagações metafísicas.
No transcorrer dos séculos, o tema das origens ocupou as
áreas mitológica, filosófica, teológica e científica, tornando-se assunto de
grande interesse para a humanidade. Atualmente, quando vivenciamos um momento
especial da História, a questão das origens assumiu proporções significativas,
a ponto de causar um grande conflito de cosmovisões. No entanto, o problema
central não se encontra em perguntar, mas em responder. A humanidade é unânime
na pergunta, mas discordante na resposta. O questionamento é um só; porém, a
resposta fragmenta-se em, pelo menos, três discursos principais e excludentes
entre si: criação ex materia (da
matéria), criação ex deo (extensão de
um deus) e criação ex nihilo (do
nada).
O primeiro modelo de pensamento traz a visão materialista das
origens ao defender que a matéria (ou energia física) é eterna. A criação ex materia (talvez criação seja um termo inadequado) engloba duas visões: a primeira, Deus
criou (formou, construiu) a partir de matéria eterna e preexistente; a segunda,
não havia Deus para criar, sendo o Universo sua própria causa. Esta última
versão parece satisfazer as mentes ateísta e agnóstica, tendentes ao conceito
de evolução. Reflete a Lei de Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se
perde, tudo se transforma.”
A criação ex deo
não deixa de ser interessante para muitas pessoas inclinadas ao misticismo
panteísta. Tal visão, tão antiga e abrangente quanto a anterior, promove o
conceito de que todo o Cosmos é uma emanação de certo deus, não se fazendo
nenhuma distinção entre o criador e as coisas criadas. Nesse sentido, conforme
Norman Geisler comenta, “o que chamamos de ‘matéria’ é ilusão, como um sonho ou
uma miragem. [...] Há um Criador, mas não há criação. Ou, no mínimo, só podemos
dizer que há uma criação pelo reconhecimento de que a criação vem de deus como
um sonho vem de uma mente. O universo é apenas o que deus pensa”.
Na terceira proposta - criação ex nihilo -, tudo o que existe proveio da palavra poderosa de um
Deus pessoal, eterno e transcendente. Esse Ser não dependeu de matéria
preexistente; Ele não é simplesmente um Formador, Arquiteto ou Construtor, mas
o Originador e Produtor de toda a criação. No tocante a esse pensamento, li
certa vez na internet um texto que eu poderia chamar de absurdo, elaborado por um
anticriacionista. Em flagrante desrespeito às regras elementares de exegese e
hermenêutica bíblicas, o autor ousou reelaborar o texto de Gênesis da seguinte
forma: “E o Espírito de Deus pairava sobre a face do caos.” Na contramão do
sentido explícito da Palavra de Deus (Rom. 4:17; Col. 1:16 e 17; Heb. 11:3), o
autor distorce o segundo versículo do livro de Gênesis (e, por conseguinte, toda
a Bíblia) para criar um subtexto estranho, num pretensioso exercício de superinterpretação. E o pior: tenta
colocar a Bíblia contra si mesma! A conclusão a que o “intérprete” chega? As
águas são “eternas”, não foram criadas e representam o caos primordial. Delas o
próprio Deus poderia ter Se originado! Ou seja, sobrepõe-se a interpretação de
certas culturas pagãs à história da criação bíblica, apenas para se tentar
demonstrar que “aparentemente, nenhum sistema de pensamento mítico jamais
defendeu realmente que o Universo foi criado, ou surgiu, a partir do Nada, nem
mesmo o cristianismo. A dita creatio ex
nihilo que muitos teólogos defendem pode não passar de um inacreditável mal
entendido. [...] Não há creatio ex nihilo
na Bíblia. O Universo foi criado a partir das Águas. A partir do CAOS” [em
maiúsculas].
O objetivo estratégico do autor? Assemelhar o texto bíblico
às narrativas mitológicas pagãs, na tentativa de desmontar a interpretação
clássica, que reconhece a criação do nada pelo poder do Deus transcendente à
matéria. Felizmente, não há endosso exegético para essa equivocada e esdrúxula
interpretação.
Filosoficamente, a criação ex nihilo é a mais coerente das três propostas. Além disso, está
solidamente estabelecida na Bíblia. E para os contestadores desse pensamento Norman
Geisler explica mais uma vez: “O ditado ‘nada vem do nada’ não é absoluto.
Significa que algo não pode ser causado por nada, não que nada não pode vir
depois do nada. Isto é, algo pode ser criado do nada, mas não por nada. Deus
fez o universo existir a partir da inexistência. Ex nihilo simplesmente denota movimento de um estado de nada para
um estado de algo. Não implica que o nada é um estado de existência do qual
Deus formou algo. Nada (além de Deus) é um estado de inexistência que precedeu
o surgimento do Universo. Quando ateus e panteístas usam a preposição ex, eles querem dizer ‘de’ no sentido de
uma causa material. Com ex um teísta
quer dizer uma causa eficiente. O meio-dia vem ‘da manhã’, depois da manhã, mas
não literalmente dela.” Criar do nada, portanto, é produzir, originar – concepção
que só o teísmo judaico-cristão defende ao reconhecer, singularmente, o Deus
revelado nas Escrituras.
Da criação ex materia
só posso extrair o secularismo, o relativismo, as filosofias do desespero, a
ética situacional, a eliminação da metafísica e a ausência de Deus: tudo me
leva ao vazio existencial e desemboca na morte. Da criação ex deo aparece um deus impessoal, deus-energia, sem personalidade,
do qual procedem o bem e o mal presentes no mundo. Nessa visão, eu, a criatura,
sou apenas uma ilusão ou, quando muito, um ser que se dissolverá no Todo. Não,
não fico satisfeito com isso, pois “nenhum princípio intangível, nenhuma
essência impessoal ou simples abstração poderia satisfazer às necessidades e
anelos dos seres humanos nesta vida de lutas com o pecado, tristeza e dor. Não
basta crermos na lei e na força, em coisas que não têm piedade ou nunca ouvem o
brado por auxílio. Precisamos saber acerca de um braço todo-poderoso que nos
manterá, e de um Amigo infinito que tem piedade de nós. Necessitamos de nos
agarrar à mão aquecida pelo amor, confiar em um coração cheio de ternura. E
efetivamente assim Deus Se revelou em sua Palavra” – é a conclusão a que chega
certa autora cristã. É também a minha, ao rejeitar a criação ex deo.
Por que prefiro a criação ex
nihilo? Simplesmente porque ela me proporciona a melhor explicação não só
para o problema das origens, mas também para a lei de causalidade e para o
dilema da nossa existência neste mundo de dor e pecado. Indica-me um futuro
esperançoso ao apontar para os prometidos “novos céus e nova terra”. Além do
mais, a visão de Deus embutida nesse conceito é a única a satisfazer os anseios
das pessoas que lutam tanto contra o mal externo quanto contra o mal intrínseco
à sua natureza. E se, do nada, Deus foi capaz de criar o Universo inteiro e de
formar um planeta tão lindo e maravilhoso, é do nada também que Ele cria em nós
um novo coração, um novo mundo interior. O rei Davi, sabedor dessa verdade,
passou pela experiência da recriação quando pediu a Deus: “Cria em mim, ó Deus
um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Sal. 51:10).
Davi havia pecado gravemente e sabia que seu mundo interior estava um caos.
Todavia, esse homem “segundo o coração de Deus” conhecia também o poder da
palavra do Senhor. A seu pedido, Deus o refez nova criatura. Ex nihilo foi-lhe gerado um novo ser
espiritual, conforme a imagem do Criador.
Há milhões de vidas caóticas neste planeta. Deus deseja pôr
ordem e beleza em todas elas, começando do zero, se preciso for. Muitas pessoas
se sentem como se fossem nada, vagando pela vida sem razão ou propósito, sem
amor. A você apresento uma verdade tão segura quanto a origem dos céus e da
Terra pela palavra divina; verdade consoladora que me chegou num momento muito
difícil: “Quando a sua vida parecer estar cheia do nada, lembre-se de Deus;
pois é do nada que tudo começa.”
(Frank de Souza
Mangabeira, membro da Igreja Adventista do Bairro Siqueira Campos, Aracaju, SE; servidor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe; com exclusividade para o
blog Criacionismo.com.br)