O Big Bang, a expansão do Universo, e
temas que se propõem explicar em detalhes o cosmo costumam ser muito
abstratos para muitos. É difícil para a maioria das pessoas entender como toda
esta imensidão de estrutura passou a existir e como se desenvolveu. Cientistas
se debruçam sobre esses temas há séculos e procuram entender, com ajuda de
tecnologia de ponta, o que nos cerca em uma realidade com milhares de astros e
infinitas complexidades. Um dos que se ocupa disso é o físico adventista Rafael
Lopes. Ele é formado em Física pela Universidade Federal do Maranhão (2005),
com mestrado em Física (2008) e ênfase em Teoria Quântica de Campos, pela
mesma universidade. Em 2009, passou a atuar como professor efetivo de Física do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão. No ano de
2018, concluiu o doutorado em Física com ênfase em cosmologia na Universidade
de São Paulo (USP). Ele conversou sobre o Universo e seus desdobramentos
com a equipe da Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN).
quarta-feira, dezembro 18, 2019
Físico vê indícios de planejamento inteligente no Universo
quarta-feira, dezembro 18, 2019
cosmologia, física
quarta-feira, dezembro 04, 2019
Recombinação gênica: planejados para a diversidade
quarta-feira, dezembro 04, 2019
biologia, design inteligente, genética, Liziane Conrad Costa
Recentemente,
fui questionada sobre o mecanismo do crossing-over,
em especial o motivo pelo qual esse evento biológico tem sido amplamente
divulgado como uma “prova” de evolucionismo, haja vista seu importante papel na
promoção de variações no
código genético dos seres vivos. Nesse ponto, ao abordarmos “variabilidade genética”, é preciso lembrar
que muitos “ataques” direcionados aos criacionistas ocorrem em virtude de nossa
cosmovisão ter sido respaldada no passado (antes do advento da genética e dos
conhecimentos sobre seleção natural), em uma visão fixista, na qual a vida
criada por Deus era imutável.
Porém, essa
ótica fixista foi sendo repensada e abandonada à medida que descobertas científicas,
especialmente no ramo da genética, foram sendo reveladas. Com isso, a verdade é
que a ideia da recombinação gênica revela um design ainda mais elaborado da criação de Deus, pois esse mecanismo
é fundamental não apenas para permitir a sobrevivência dos seres vivos nos mais
diversos ambientes, mas, especialmente, para garantir relevantes variações que lhes
façam prosperar.
Compreendendo
a biodiversidade
O conceito de
diversidade biológica inicialmente esteve atrelado à quantidade de espécies que
habitavam certo espaço geográfico. Entretanto, com o passar do tempo, a
abundância dessas espécies no ambiente, a variação entre os organismos da mesma
espécie, entre outros fatores, foram se somando ao conceito, promovendo
profundas alterações. Assim, o conceito contemporâneo de biodiversidade visa a referir
e integrar toda a variedade e variabilidade que encontramos em organismos
vivos, nos seus diferentes níveis, e os ambientes nos quais estão inseridos.[1]
A Convenção sobre Diversidade Biológica(CDB) define
a biodiversidade em seu art. 2º, in verbis, como “a variabilidade de organismos vivos de todas
as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos
e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte,
compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de
ecossistemas”. Essa definição
foi incorporada ao nosso ordenamento jurídico pelo Decreto n° 2.519 de 1998, que promulgou a CDB no
Brasil, sendo também integralmente repetida no artigo 2º, III, da Lei n° 9.985 de 2000, que, entre outras providências, institui
o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. O art. 2º, III, da
Lei Brasileira n° 9.985/2000.[1]
Como surgiu
toda essa biodiversidade?
A grande
diversidade de seres vivos reflete-se nas variadas formas de reprodução dos
organismos vivos: a reprodução assexuada e a reprodução sexuada. A reprodução
assexuada é a forma mais simples de reprodução, envolvendo apenas um indivíduo,
geralmente com mobilidade limitada. É uma forma de clonagem natural, pois na
reprodução são gerados indivíduos idênticos ao organismo que os gerou.[2] No
caso de organismos unicelulares, por exemplo, a reprodução é feita a partir da
fissão da célula que se divide em duas, idênticas ao organismo progenitor. Em
organismos pluricelulares também há reprodução assexuada, apesar de não ser a
única forma de reprodução das espécies. Nesse tipo de reprodução, a única fonte
de variabilidade é a mutação, que, por sinal, ocorre em frequências significativamente
baixas.[3]
A reprodução
sexuada, por sua vez, é muito mais complexa e requer um gasto maior de energia.
Nesse modelo de reprodução, são necessários dois indivíduos de cada espécie: um
produz o gameta masculino e o outro o gameta feminino (mesmo no caso de
indivíduos que produzam os dois tipos de gametas, eles por si sós não os
fecundam, havendo necessidade de um segundo indivíduo para que ocorra a
fecundação). A união dos dois gametas dá origem a uma célula ovo que, a partir
de um processo de divisão celular e diferenciação, origina um novo indivíduo.[2]
Embora existam variadas formas de reprodução sexuada, é importante ressaltar
que em todos os casos o indivíduo originado a partir da fusão dos gametas é
diferente de seus progenitores.
Desse modo, a
reprodução sexuada origina uma variabilidade maior nos indivíduos, por meio de
combinações entre os caracteres cromossômicos maternos e paternos no processo
chamado crossing-over. Esse mecanismo
permite que os 23 pares de cromossomos paternos e maternos, na espécie humana,
por exemplo, sejam separados em diferentes combinações, refletindo na
possibilidade de mais de oito milhões de gametas diferentes.[3]
Entendendo o crossing-over
Durante o processo de produção de
gametas, mais especificamente durante a meiose (com mais detalhes aqui)
ocorre o que conhecemos como crossing-over. Os cromossomos homólogos trocam pedaços, gerando um
cromossomo distinto daquele presente na célula-mãe.[3]
A importância desse
fenômeno é a possibilidade do surgimento de novas combinações gênicas a
cada indivíduo que nasce, fazendo com que, apesar das diferenças, os indivíduos
e seus familiares possuam algumas semelhanças.
Essa imagem representa
o modelo básico da divisão celular para a formação dos gametas parentais, nos
quais se percebe a presença de recombinação gênica, tendo em vista os
diferentes gametas formados ao final da divisão meiótica. Apesar de o crossing-over parecer ser um mecanismo
simples, no qual os cromossomos simplesmente “cruzam suas perninhas” em pontos específicos
(quiasmas) e trocam informações, é importante lembrar que os cromossomos são
compostos por DNA, que contém vários genes, com sequências nucleotídicas
específicas, perfeitamente posicionadas, e uma pequena alteração em uma dessas
bases nitrogenadas pode levar a mutações muito prejudiciais ao organismo. Esse
processo precisa ser tão perfeitamente guiado a pronto de formar gametas com
código genético funcional.
Nesse contexto, acreditar que
processos aleatórios não guiados possam produzir um genoma funcional parece
contrariar princípios lógicos. Assim, muito mais coerente e lógico é entender
que o genoma deve conter mecanismos biológicos que permitam induzir a variação
a partir de dentro, criteriosamente planejados para promover a variabilidade
genética funcional: a recombinação gênica.[4]
A recombinação gênica não é acidental
No modelo evolucionário padrão o
conceito de alteração não direcionada é fundamental. Logicamente,
alterações acidentais em um sistema complexo devem ser consistentemente
prejudiciais em algum grau. Os criacionistas apontam isso enfatizando a
implausibilidade dos acidentes na explicação da complexidade da vida.[4]
Deus projetou a
meiose de uma forma que naturalmente tende a aumentar a diversidade. O
processo todo é complexo e conduzido por enzimas específicas, como as
endonucleases, por exemplo. Ainda, estudos têm demonstrado que uma variedade de fatores genéticos e epigenéticos influenciam grandemente
esse mecanismo de crossing over.
O ponto aqui é que
a natureza mutagênica da meiose parece fornecer um mecanismo plausível para
induzir esse tipo de variação dentro de um período de criação. A exigência
de enzimas específicas e o padrão não aleatório de mudança na recombinação
meiótica sugere que ela poderia desempenhar um papel significativo na produção
da diversidade genética útil observada.[4]
Conclusão
Biólogos
criacionistas reconhecem que a diversidade biológica observada dentro dos tipos
criados hoje não pode ser adequadamente explicada pelo simples “embaralhamento”
de versões pré-existentes de genes (alelos) e erros “acidentais” que se
acumulam dentro do genoma. Os diversos fatores envolvidos na recombinação
gênica reforçam grandemente os pressupostos criacionistas de que a
variabilidade genética dos seres vivos é mediada por mecanismos complexos e
interativos, resultantes de um planejamento minucioso.
Em Gênesis 1,
Deus instruiu Suas criaturas recém-criadas a “serem fecundas, multiplicarem-se
e preencherem” a terra.
1. Para que eles fossem frutíferos, Deus deu a cada grupo
distinto a capacidade de reproduzir uma nova geração do mesmo tipo.
2. Para que eles se multiplicassem, Deus concedeu às
criaturas a capacidade de produzir mais de um descendente a cada geração.
3. E para que eles preenchessem, Deus os equipou com a
capacidade de expressar variações de traços entre as gerações. Essas
variações ajudam os indivíduos não apenas a sobreviver, mas a prosperar em
diferentes ambientes.
Dessa
forma, os indivíduos de uma geração podem ser menores ou maiores que os de
outra geração. A cor da pelagem ou o tamanho, a forma ou o número de
barbatanas, escamas, chifres, flores ou folhas também podem ser
diferentes. Apesar de todas essas variações, cada geração mantém fielmente
os principais atributos de seu tipo, como o plano corporal e os órgãos vitais
integrados, mesmo depois das inúmeras gerações que surgiram e se foram nos
milhares de anos desde a criação.
Quanto
mais estudo, mais me impressiono com o design
da vida projetado por Deus. Em Sua infinita sabedoria Ele muniu Suas criaturas
com todos os mecanismos biológicos necessários para se adaptar – dentro dos
limites de um tipo criado – de maneiras que lhes permitem ser pioneiras e
preencher os ambientes, mesmo com as constantes mudanças da Terra. Cada
ser vivente fornece inúmeras razões para nos maravilharmos com a genialidade da
engenharia do Criador.
(Liziane Nunes Conrad Costa é formada
em Ciências Biológicas com ênfase em Biotecnologia [UNIPAR], especialista
em Morfofisiologia Animal [UFLA] e mestranda em Biociências e Saúde [UNIOESTE].
É diretora-presidente do Núcleo Cascavelense da SCB [Nuvel-SCB])
Referências:
[1] AMÂNCIO, Mônica Cibele; CALDAS, Ruy de Araujo. Biotecnologia no contexto da Convenção de
Diversidade Biológica: análise da implementação do Art. 19 deste Acordo. Editora
UFPR: Revista Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 125-140, jul./dez.
2010.
[2] GARCIA, Sonia M. Lauer; FERNÁNDEZ, Casimiro
G. Embriologia-3. Artmed
Editora, p.14,15, 2009.
[3] NUSSBAUM, Robert. Thompson & Thompson genética médica. Elsevier Brasil, 2008.
[4]LIGHTNER,
J. K. Meiotic recombination—designed for inducing genomic change. Journal of Creation, v. 27, n. 1, p.
7-10, 2013.
[5] Cole, F., Keeney, S. and Jasin, M., Preaching about the
converted: how meiotic gene conversion influences genomic diversity, Annals
of the New York Academy of Sciences 1267:95–102, 2012
Leia
mais sobre assuntos relacionados à genética:
terça-feira, novembro 26, 2019
Estão vendo insetos em fotos de Marte e isso tem nome: pareidolia
terça-feira, novembro 26, 2019
astronomia
William Romoser, professor emérito de
arbovirologia na Universidade de Ohio, tomou o noticiário da semana passada ao
afirmar ter encontrado “provas” fotográficas de que existiria “vida semelhante
a insetos e répteis” em Marte. Mas, de novo, essas “provas” não provam nada, e
ainda não há qualquer evidência aceita pela comunidade científica como
plausível para se afirmar que há (ou houve) vida em Marte. Romoser fez essas
afirmações após analisar fotografias do terreno marciano tiradas por rovers
da Nasa e, após suas conclusões, afirmou que houve e ainda existe vida em Marte”. Contudo, o professor usa como
base para fazer tal afirmação apenas sua própria interpretação do que viu nessas
fotografias, tiradas de contexto e sem escala para comparação. Ele apresentou
sua “descoberta” em um encontro da Sociedade Entomológica da América, mostrando
imagens que supostamente mostravam criaturas fossilizadas e até mesmo outras
ainda vivas no Planeta Vermelho.
Romoser
sugere que essa seria uma forma de vida marciana, enquanto outros cientistas
refutam essa afirmação (Crédito: William Romoser)
Romoser chegou a dizer que “existe
uma aparente diversidade entre a fauna de insetos marciana, que exibe muitos
recursos semelhantes aos insetos terráqueos que são interpretados como grupos
avançados – por exemplo, a presença de asas, flexão das asas, planagem, voo
ágil e elementos de pernas de várias estruturas”.
Mais
fotos de Marte nas quais Romoser acredita estar vendo seres vivos (Crédito:
William Romoser)
E se você, ao ver essas imagens, está
pensando: “Mas, nossa, realmente parece que as fotos mostram animais”, saiba
que você está passando pelo mesmo que o professor – o fenômeno da pareidolia.
O professor de biologia da
Universidade Estadual do Oregon, David Maddison, levanta essa “prova” de Romoser
como apenas mais um caso de pareidolia, fenômeno no qual as pessoas veem
padrões em dados aleatórios, buscando encontrar algum sentido ali. Um exemplo
muito simples de pareidolia é quando olhamos para nuvens e, de repente,
começamos a enxergar formas conhecidas, como corações e símbolos. [...]
Maddison fala sobre os “falsos positivos”
nesse caso. Falso positivo é quando você tem um resultado ou uma conclusão
positiva para uma suspeita inicial, mas está enganado. No caso da pareidolia,
esse falso positivo é resultado de um mecanismo cerebral, pois a mente humana
evoluiu muito [sic] graças à sua habilidade de reconhecer padrões. Então, a
pareidolia acaba sendo resultado do nosso próprio “instinto” de buscar rostos
ou objetos que reconhecemos em meio a um cenário confuso ou misterioso. A
pareidolia foi essencial para que nossos antepassados aprendessem a identificar
padrões na natureza, bem como avistar predadores e potenciais perigos à
distância, e o recurso também serviu para que o ser humano identificasse e até
nomeasse as constelações do céu, com títulos que usamos até os dias atuais, por
sinal.
“As fotografias contidas no
comunicado [de Romoser] não são convincentes, pois estão dentro do intervalo
esperado em zilhões de objetos não insetos fotografados em resolução baixa numa
paisagem marinha”, afirma Maddison. Ele diz ainda que “é muito mais
parcimonioso presumir que tudo aquilo são simplesmente rochas; como já foi
dito, ‘alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias’, e essas
imagens são muito, muito menos do que extraordinárias”, continua, parafraseando
uma notória declaração de Carl Sagan.
Nina Lanza, cientista planetária do
Laboratório Nacional Los Alamos, concorda. “Acho muito fácil encontrar padrões
em imagens, especialmente quando elas estão fora de contexto. São pequenos
clipes de imagens maiores e não há barras de escala nelas... você pode imaginar
muitas formas diferentes. Não é uma boa maneira de fazer esse tipo de avaliação”,
afirma.
Famoso
exemplo de pareidolia envolvendo Marte: esta foto tirada em 1976 pela Viking 1,
da Nasa, e mostra uma formação rochosa na superfície marciana que lembra um
rosto humano, graças às sombras projetadas que acabam dando a ilusão de que a
rocha teria olhos, nariz e boca (Foto: Nasa)
Para além do óbvio, que é refutar a
afirmação de que imagens fora de contexto e em baixa resolução são “prova” de
que haveria vida em Marte, cientistas como Lanza e Maddison entendem que
afirmações desse tipo são irresponsáveis e podem representar um desserviço à
ciência. Afinal, a pessoa que só está navegando em sites ou nas redes sociais,
sem tempo de ler atentamente o conteúdo, acaba acreditando na manchete
extraordinária de que “cientista mostra provas de que existe vida em Marte” e,
assim, participa de uma campanha de desinformação ao repassar essa informação.
“Quando temos esse tipo de manchete
sensacionalista, é realmente difícil para o público saber se isso é verdade.
Parece legítimo, é da Universidade de Ohio, são instituições reais, mas, quando
encontrarmos algo em Marte e além, se fizermos isso, terá menos impacto, pois
as pessoas continuam ouvindo ‘já descobrimos vida em Marte’. Isso tira a emoção
das nossas verdadeiras descobertas”, lamenta Lanza.
NASA
responde às afirmações de Romoser
Em declaração oficial enviada a
veículos de imprensa, a Nasa falou sobre o trabalho de Romoser e sobre sua
afirmação de que há prova de vida em Marte:
“A opinião geral coletiva da maioria
da comunidade científica é que as condições atuais na superfície de Marte não
são adequadas para água líquida ou vida complexa. Como parte de seus objetivos
de astrobiologia, um dos principais objetivos da Nasa é a busca pela vida em
Marte, e o veículo espacial Mars 2020, que será lançado no próximo ano, é nosso
próximo estágio na exploração do potencial de vidas passadas no Planeta
Vermelho.
“Embora ainda não tenhamos encontrado
sinais de vida extraterrestre, a Nasa está explorando o Sistema Solar e além
para nos ajudar a responder perguntas fundamentais, incluindo se estamos
sozinhos no Universo. Ao estudar a água em Marte, sondar mundos oceânicos
promissores, como [as luas] Encélado, Europa e Titã, e procurando bioassinaturas
nas atmosferas de planetas fora do nosso sistema solar, as missões científicas
da Nasa estão trabalhando juntas com o objetivo de encontrar sinais
inconfundíveis de vida além da Terra.”
Depois da repercussão negativa que as
afirmações de Romoser causaram na comunidade científica, a Universidade de
Ohio apagou de seu site o artigo com o estudo do professor, e o estudo
também foi removido do banco de dados do Eureka Alert!, “a pedido do remetente”.
segunda-feira, novembro 25, 2019
Professor refuta palestra apresentada na FlatCon
segunda-feira, novembro 25, 2019
astronomia
O professor de História e estudante de Física Dino César Manzuti, criador do canal DinoCast, no YouTube, provou de maneira irrefutável que a espinha dorsal da palestra de um dos organizadores da FlatCon está irremediavelmente quebrada. Como se não bastasse a enorme polêmica que rachou o "universo terraplanista" (a realização do primeiro encontro de terraplanistas no auditório de uma das mais importantes lojas maçônicas do Brasil; justo no território de uma sociedade que eles vivem criticando), agora fica claro que informações apresentadas no evento estão totalmente erradas. Assista ao vídeo abaixo e confira por si mesmo o nível das "pesquisas" praticadas pelos defensores da Terra pizza com o Sol e a Lua dentro do domo. [MB]
domingo, novembro 24, 2019
Homossexualidade: não devemos olhar só para os genes
domingo, novembro 24, 2019
genética, sexualidade
Novas pesquisas sobre homossexualidade e genética precisam ser analisadas a partir de um olhar técnico. O que realmente há de sólido neste assunto?
Sempre que surge um novo estudo sobre o tema da homossexualidade associado à genética, muita especulação e notícias sensacionalistas são veiculadas. Muitas delas adotam, por vezes, um claro viés ideológico. Não foi diferente com o estudo Large-scale GWAS reveals insights into the genetic architecture of same-sex sexual behavior. O material foi publicado no prestigiado periódico Science no dia 29 de agosto desse ano. O estudo foi liderado pela cientista Andrea Ganna, e contou com a colaboração de pesquisadores das principais universidades do mundo (por exemplo Harvard, MIT e Cambridge). É uma pesquisa que demonstra metodologia robusta e um grupo amostral respeitável de quase 500 mil pessoas. É considerado, ainda, o maior estudo já realizado que se propôs a investigar a base genética da sexualidade humana.
[Continue lendo.]
Sempre que surge um novo estudo sobre o tema da homossexualidade associado à genética, muita especulação e notícias sensacionalistas são veiculadas. Muitas delas adotam, por vezes, um claro viés ideológico. Não foi diferente com o estudo Large-scale GWAS reveals insights into the genetic architecture of same-sex sexual behavior. O material foi publicado no prestigiado periódico Science no dia 29 de agosto desse ano. O estudo foi liderado pela cientista Andrea Ganna, e contou com a colaboração de pesquisadores das principais universidades do mundo (por exemplo Harvard, MIT e Cambridge). É uma pesquisa que demonstra metodologia robusta e um grupo amostral respeitável de quase 500 mil pessoas. É considerado, ainda, o maior estudo já realizado que se propôs a investigar a base genética da sexualidade humana.
[Continue lendo.]
quarta-feira, novembro 20, 2019
O dia em que entrevistei nosso primeiro astronauta
quarta-feira, novembro 20, 2019
astronomia, testemunho
Formado em Engenharia pelo Instituto Tecnológico de
Aeronáutica e com Mestrado pela Naval Postgraduate School, em Monterey,
Califórnia, o astronauta Marcos César Pontes é casado com Fátima e tem dois
filhos. Com a suspensão temporária dos voos norte-americanos ao espaço, Pontes
teve que se mudar para a Rússia em 2006, a fim de participar de sua primeira
missão científica espacial brasileira, a bordo de uma nave Soyuz.
Pontes foi o primeiro astronauta brasileiro, sul-americano e lusófono a
ir ao espaço, na missão batizada de “Missão Centenário”, em referência à
comemoração dos cem anos do voo de Santos Dumont no avião 14 Bis. Em
30 de março de 2006, Pontes partiu para a Estação Espacial Internacional (ISS)
a bordo da nave russa Soyuz TMA-8, com oito experimentos científicos
brasileiros para execução em ambiente de microgravidade. Retornou no dia 8
de abril, a bordo da nave Soyuz TMA-7.
De 2011 a 2018, ele atuou como embaixador da ONU para
o Desenvolvimento Industrial. Em 31 de outubro de 2018, Marcos Pontes
aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro para ser ministro
da Ciência e Tecnologia em seu governo.
Enquanto ainda estava na Cidade das Estrelas, próximo
a Moscou, o astronauta concedeu esta entrevista ao jornalista Michelson Borges, originalmente publicada na revista História da Vida, da Casa Publicadora Brasileira/Educação Adventista.
O senhor sempre dá
valor à família. Por quê?
Meus pais, meus mestres! Gosto sempre de dizer que,
apesar de ter estudado praticamente minha vida toda para atingir os “graus” da
formação acadêmica, todas as coisas mais importantes que aprendi, até hoje,
foram ensinadas por eles.
A família sempre foi para mim algo de extrema
importância. Acredito ser a estabilidade familiar o primeiro passo fundamental
para o crescimento do indivíduo em todos os aspectos. Agradeço muito a Deus a
oportunidade de conviver com pessoas tão maravilhosas.
De onde veio seu gosto
por voar?
Quando criança, foram inúmeras as visitas ao Aeroclube
de Bauru, para ver a Esquadrilha da Fumaça, e à Academia da Força Aérea (AFA),
onde meu tio sargento servia como membro da equipe de manutenção de aeronaves.
Decolava ali, entre a poeira levantada pelos motores dos T/6 no estacionamento
do aeroclube e o cheiro de combustível de aviação nos hangares da AFA, o sonho
de voar que me sustenta nessa jornada até hoje. Em fevereiro de 1981, iniciei o
curso da AFA. Ainda nesse primeiro ano, durante um dos meus fins de semana em
Bauru (onde nasci), tive o meu primeiro vôo a bordo do Uirapuru PP-KBS. Foi uma
incrível experiência e a confirmação pessoal de que estava no caminho certo.
Como o senhor recebeu a
notícia de que participaria de uma seleção de astronautas da Agência Espacial
Brasileira?
Soube que haveria uma seleção através de um e-mail do
meu irmão. Eu estava iniciando meu doutorado nos Estados Unidos. A princípio
achei um tanto difícil que eu pudesse ser selecionado entre tantos excelentes
candidatos disponíveis, porém estava ali um caminho para tornar realidade algo
que até então era apenas um “sonho distante”. Portanto, mandei minhas fichas de
inscrição. Seleções preliminares, exames médicos e a entrevista se seguiram.
Imagine como se sentiu aquele garoto simples do interior, só pelo fato de estar
participando dessa seleção!
Como foi sua aprovação
para treinamento na Agência Espacial Norte-americana (NASA)?
Após selecionado pela Agência Espacial Brasileira
(AEB), em junho de 1998, como parte dos seus direitos de participação na
Estação Espacial Internacional (EEI), o Brasil me enviou para treinamento na
NASA. A seleção foi feita pela AEB, com a assessoria da NASA e de vários
setores técnico-científicos brasileiros como, por exemplo, a Academia
Brasileira de Ciências. Após dois anos de curso, concluí a fase essencial de
treinamento, sendo declarado “astronauta” pela NASA em dezembro de 2000.
Tornei-me, assim, o único astronauta profissional formado e treinado
completamente pela NASA, em atividade e pronto para voo espacial, com
nacionalidade oficial de um país do hemisfério sul do planeta.
O que é preciso para
ser astronauta?
Existem requisitos de saúde e de formação acadêmica.
Então, primeiro, cuide muito bem de sua saúde. Fique longe de drogas, cigarros,
bebidas, etc. Faça esportes. Relaxe de vez em quando. Sorria muito! Estude
muito também. O estudo nos dá condições de ser o que quisermos na
vida. Acredite nos seus sonhos. Lembre-se que você é que é responsável por
fazer com que eles se tornem realidade. Mais ninguém. Assim, ouça primeiro a
voz do seu coração. Depois as pessoas que sempre estarão do seu lado: os seus
pais. Depois os amigos de verdade. Finalmente, ouça o que as pessoas que não
gostam de você têm a dizer, aprenda com isso a se defender e a se tornar cada
vez melhor. Depois de tudo isso, tenha MUITA persistência.
Em termos de formação, ela pode ser bastante diversificada.
Engenharia, física, medicina, química são algumas das possibilidades. Áreas
como letras, direito, administração, etc., estão fora da lista das possíveis
opções para a carreira de astronauta. Cursos de pós-graduação, mergulho,
pilotagem, paraquedismo e outras atividades ligadas à profissão contam pontos
para a seleção. Além disso, é necessário ser qualificado no exame médico, no
exame físico, psicológico, bom senso de relacionamento e gostar de trabalho em
equipe.
Que desafios enfrentou
em sua mudança para a Rússia?
Acho que a adaptação ao clima exige um pouco. A
quantidade de exames e testes iniciais também. Quando cheguei a Star City, no
dia 13 de outubro de 2005, o treinamento não parou. A razão da pressão na
agenda foi devido ao tempo disponível. O treinamento usual para uma missão
espacial numa espaçonave Russa (Soyuz) sempre foi realizado num período de 8 a
13 meses. No meu caso, devido à data de decolagem prevista, 22 de março, o
mesmo treinamento teve que ser comprimido e completado com sucesso em cinco
meses! Foi uma situação nova. Um treinamento em tempo recorde, nunca antes
realizado. A Agência Espacial Russa concordou em encarar esse desafio devido à
minha experiência de sete anos de treinos anteriores na NASA. A rotina
diária iniciava às 6 horas da manhã e se encerrava às 23 horas. O dia a dia era
composto de aulas, treinamento em simuladores, testes e exames, preparação
física e estudo. Além disso, havia treinamentos específicos de sobrevivência,
testes de equipamentos, execução de experimentos científicos, etc., realizados
em momentos oportunos fora do Centro. Os fins de semana e feriados eram usados
para “colocar os atrasos em dia”.
Em termos comparativos com o programa na NASA, a
diferença básica era a língua. Ambos são parceiros do Brasil no Projeto da
Estação Espacial Internacional. A espaçonave Soyuz russa é o veículo
de abandono de emergência da Estação Espacial Internacional (EEI). Portanto, eu
já conhecia de forma resumida seus sistemas, além, logicamente, do conhecimento
sobre os sistemas da EEI. Contudo, precisava também conhecer a fundo seus
procedimentos desde a decolagem, fase de voo não prevista em situação de
emergência na EEI. Logicamente, a filosofia e metodologia do treinamento
seguiram o mesmo padrão, velho conhecido meu na NASA, durante sete anos. Mas o
detalhamento dos sistemas, as sobrevivências específicas para o veículo, e
muitas outras áreas de estudo e treinamento eram voltados para o Soyuz e
ministrados em russo, o idioma que tive que dominar, pelo menos o suficiente
para a operação dos sistemas e check-lists.
Em termos de relacionamento, não houve qualquer
dificuldade, pois tanto a NASA quanto o Roskosmos (Agência Espacial Russa) são
lugares onde as pessoas trabalham motivadas por um objetivo comum e, em se
tratando de uma tripulação (comigo irão um russo e um americano), não importa a
nacionalidade do companheiro: a vida de cada um de nós está na competência e
dedicação dos outros membros. Assim, somos considerados irmãos nesse momento.
A nave Soyuz o levará
até a EEI. Qual sua missão lá?
Na Soyuz, temos espaço para três tripulantes. A
tripulação será, em princípio, composta por um russo, um americano e eu
(brasileiro). Em termos de funções, sou um astronauta treinado como
“especialista de missão”, cujas tarefas no espaço envolvem todas as atividades,
excluindo a pilotagem do veículo em situações nominais, o que é função do
comandante, sempre da nacionalidade do veículo. Assim, no caso dos ônibus
espaciais, são sempre americanos; e no caso do Soyuz, são sempre russos. Além
de todas as atividades técnicas de manutenção e montagem de equipamentos a
bordo da EEI, obviamente teremos a parte científica. Nessa primeira missão brasileira
estarei levando e executando experimentos científicos de instituições de
pesquisa e universidades brasileiras. Esses experimentos ainda estão sendo
selecionados pela gerência técnica do projeto da EEI da AEB, que está a cargo
do Dr. Raimundo Mussi. A comunicação com o Brasil será feita por meio de
sistemas de transmissão e recepção de voz, imagem e dados do setor russo e dos
outros países. Esses sinais são recebidos pelos links de solo e retransmitidos pelos centros de controle na Rússia
e nos Estados Unidos para os pesquisadores, rádios e TVs no Brasil.
Nesse aspecto, especificamente sobre essa missão
científico-espacial, é necessário deixar claro que me foi confiada a
missão de ir ao espaço e levar, além de experimentos científicos e a nossa
bandeira, muitos sonhos, ideais, esperanças, orgulho e tantos outros
sentimentos de uma nação inteira. Logicamente a missão foi criada pela
administração oficial, o governo. Contudo, depois de ser impregnada nos desejos
do povo brasileiro, essa missão deixa de ser um compromisso institucional com o
governo, mas uma responsabilidade com o Brasil, com os brasileiros. Assim, não
é uma missão para a minha satisfação pessoal, ou feita apenas para mandar um
astronauta ao espaço, cumprindo a ordem de uma autoridade. Portanto, na
execução operacional, cabe a mim cumpri-la até o final, custe o que custar,
contra todos os obstáculos, mesmo com o meu sacrifício, se necessário. Esse é o
meu compromisso com meu país. Esse é o espírito que eu gostaria que o meu país
tivesse por mim.
No momento do voo, estarei fisicamente sozinho, mas
levando a bandeira brasileira, que tanto me orgulha; estarei levando comigo
toda uma nação. Pelas centenas de e-mails e outras mensagens de muito carinho e
apoio que recebo diariamente, tenho plena certeza de que essa missão irá
representar para cada brasileiro algo especial. Um momento que ficará para
sempre como uma lembrança viva, nos momentos de maior dificuldade, de que o
nosso país é um país que tem capacidade de sobra; que devemos nos orgulhar pelo
que é nosso e pelo que somos: uma nação forte, com tecnologia, empresas e
pessoas capazes, que fazem a cada dia uma história cotidiana de sucesso, a ser
contada por gerações. Uma história de raça, garra, pioneirismo e amor ao
Brasil.
[Os três astronautas decolaram no dia 29 de março de
2006, às 23h30min (horário de Brasília), no Centro de Lançamento de
Baikonur, no Cazaquistão. Eles seguiram, na nave Soyuz TMA-8, para
a Estação Espacial Internacional, levando 15 quilos de carga da Agência
Espacial Brasileira, incluindo oito experimentos científicos criados por
universidades e centros de pesquisas brasileiros. A missão, realizada com
sucesso, teve duração de dez dias, sendo dois dias a bordo da Soyuz e oito na
ISS.]
Quando olha para a
vastidão do espaço, o que lhe vem à mente?
O quão pequenos e frágeis nós somos perante Deus.
Contudo, da mesma forma, penso no quanto somos importantes, cada um de nós,
para Ele como partes preciosas de Sua criação.
Consegue ver a mão de
Deus nas obras da criação, especialmente nos planetas, nas estrelas e nas
galáxias?
Sem dúvida! Algumas pessoas me perguntam como convivo
com a ciência e a religião dentro de mim. Não existe nenhum conflito entre
religião e ciência. A fé é como a luz de um farol a nos guiar durante a noite
de nosso conhecimento. Nos momentos mais críticos de nossas vidas, normalmente,
de uma forma ou de outra, estamos sozinhos. Mas se temos dentro de cada um de
nós a confiança em Deus, teremos a direção e a força necessárias para enfrentar
qualquer situação.
segunda-feira, novembro 18, 2019
A batalha solitária de um cosmólogo contra a teoria do Big Bang
segunda-feira, novembro 18, 2019
astronomia, Eduardo Lütz, física
O portal G1 publicou uma matéria curta,
porém interessante, sobre desabafos feitos por James Peebles. Esses comentários
feitos pelo Nobel de Física de 2019 vêm como um bálsamo para quem conhece de
perto o modelo do Big Bang, que consiste em um sistema de equações que descreve
o desenvolvimento do espaço-tempo desde pouco depois de sua criação. Essas
equações são uma consequência de leis físicas conhecidas. O título da matéria é sensacionalista e enganoso, mas os
comentários do cientista são lúcidos e ao ponto. Peebles não combate a “Teoria
do Big Bang”, mas esse nome popular por passar uma ideia completamente falsa do
modelo ao qual deveria se referir.
Quase tudo o que as pessoas costumam
dizer sobre Big Bang baseia-se em boatos que passam bem longe de refletir o que
o modelo realmente diz. O próprio nome popular do modelo ajuda a aumentar a
confusão ao transmitir a ideia de que se trata de uma explosão de material que
alguma vez esteve concentrado em um ponto do espaço. Além disso, muitos vão
além nesse telefone sem fio e imaginam que, de acordo com a “teoria” do Big
Bang, essa grande explosão teria criado estrelas, galáxias, planetas e até
seres vivos. Nada mais longe da verdade. Apenas alimento para argumentos do
espantalho, uma das falácias mais comuns em comentários sobre ciência.
Peebles comenta que lutou contra essa
“nomenklatura” mas acabou desistindo. Todos continuam chamando o modelo de
“Teoria do Big Bang” e não parece ser possível reverter essa tendência.
Aproveitamos essa oportunidade para,
mais uma vez, desmentir conceitos enganosos nessa área. É útil fazer diferença
entre modelo e teoria, entre o que o modelo diz e o que ele não diz, bem como
alguns prerrequisitos gerais, como a diferença entre uma teoria científica e
uma não científica, e ainda o conceito de Matemática usado no processo. Faremos
apenas um resumo relâmpago dessas coisas.
Matemática
Impossível definir por ser muito
fundamental, mas, de um ponto de vista de consistência lógica, ela
necessariamente transcende o mundo natural, inclusive o tempo. Todas as leis da
realidade estão contidas na Matemática. Nós inventamos linguagens para lidar
com pequenas porções da Matemática, porém, mesmo fazendo isso, percebemos que
apenas estamos observamos partes minúsculas de algo infinito.
Ciência
O conceito de ciência proposto na
“revolução” científica tem muito pouco a ver com a noção que predomina
atualmente. Há uma tendência de chamar de ciência tudo o que se faz na pesquisa
em universidades, bem como o conjunto de pessoas que trabalha em qualquer área
da pesquisa, assim como as áreas em si. Apesar da irracionalidade de um
conceito inconsistente assim, esse tipo de noção subsiste por várias razões,
tais como:
- Seu papel em elevar o status de alguém ou de uma ideia.
- Controle político, isto é, a
autoridade que confere a um grupo de pessoas para afirmar o que é verdade
ou não com base em uma lista mais ou menos arbitrária, ao invés de regras
fundamentais.
- Vícios de linguagem.
- Facilidade de promover
qualquer especulação ao status
de “teoria científica”.
- Facilidade de negar o status de “teoria científica” a
qualquer ideia que não seja aceita em determinado meio social.
O conceito original corresponde mais ou
menos ao que hoje chamamos de “hard
science” (ciência dura). Trata-se de um conjunto infinito de métodos
matemáticos (alguns dos quais a humanidade já conhece) que podem ser aplicados
de maneira fundamental, sistemática e coerente a qualquer área da pesquisa. Não
que cada método se aplique a tudo, mas existem muitos métodos aplicáveis a cada
área do conhecimento.
Estruturas matemáticas
São regiões do conhecimento delimitadas
por axiomas bem definidos. Nesse contexto, axiomas são itens de uma definição,
nunca verdades autoevidentes, óbvias, fundamentais ou universais.
Um bom exemplo são os axiomas de
Euclides na Geometria. Eles delimitam uma parte da Geometria que chamamos de
Geometria Euclidiana Bidimensional.
Como os axiomas que definem algo são
válidos para o que definem, podemos provar com segurança suas consequências
naquele contexto. As afirmações que podem ser provadas como consequência de
axiomas chamam-se teoremas.
Podemos combinar diferentes axiomas para
definir diferentes estruturas matemáticas. Podemos adicionar axiomas a
estruturas existentes para definir estruturas mais específicas, aproveitando
todos os teoremas da estrutura original, o que representa grande economia de
esforço para os pesquisadores.
Se os axiomas escolhidos forem
incompatíveis entre si, a estrutura matemática resultante corresponde ao
conjunto vazio, isto é, nada se encaixa em sua definição.
É importante não confundir a natureza
da Matemática com o processo humano dinâmico de brincar de montar estruturas
matemáticas pela combinação de axiomas. Esse processo é apenas uma estratégia
para explorar o infinito território matemático.
Teorias e modelos científicos
São a associação entre uma estrutura
matemática e um objeto de estudo. Não precisam referir-se a algo do mundo
físico.
Como é possível fazer essa associação?
Ao escolher um assunto a ser estudado, precisamos defini-lo. Isso é feito por
uma série de cláusulas, isto é, itens de uma definição. Cada cláusula
corresponde a um axioma. O conjunto de axiomas corresponde a uma estrutura
matemática.
Colocando-se dessa forma, parece fácil
e até inevitável construir teorias científicas. Mas, para ser científica, uma
teoria deve fazer essa associação explicitamente, de maneira a permitir
conferir sua consistência (se não há axiomas conflitantes), sua precisão, sua
exatidão, aproveitamento de teoremas da estrutura matemática e assim por
diante.
Um grande bônus gerado pelo uso de
teorias e modelos científicos consiste em que, uma vez feita a associação entre
uma estrutura matemática e um objeto de estudo, teoremas da estrutura
matemática frequentemente nos revelam aspectos não imaginados do objeto de
estudo, muitas vezes contrários a crenças e expectativas dos pesquisadores. Essas
são as descobertas teóricas.
Muitas descobertas teóricas têm
ocorrido quando se aplica essa metodologia científica. Exemplos: spin,
antimatéria, regras de seleção de orbitais eletrônicos, “princípio” da
incerteza, “princípio” da exclusão, buracos negros, ondas gravitacionais,
entrelaçamento quântico, tunelamento quântico, curvatura do espaço-tempo,
quarks, dilatação do tempo, contração do espaço, big bang e muitas outras
coisas. O interessante é que essas descobertas teóricas vão sendo confirmadas
uma a uma com o tempo, mesmo em seus detalhes finos.
No caso do spin e das regras de
seleção, por exemplo, já havia evidência experimental, mas nenhuma explicação
para sua existência até a descoberta da associação de uma estrutura matemática
com o mundo quântico que revelou que essas coisas decorrem de teoremas
relativamente simples. Em muitos outros casos, ninguém suspeitava de certo
fenômeno, até alguém se deparar com um teorema e perceber seu significado
físico.
Essa é a forma mais profunda de
conhecimento intelectual que existe.
Teoria científica jamais deve ser
confundida com uma especulação ou conjectura.
Teoria científica
Consiste em um conjunto de leis,
geralmente expressas como equações diferenciais. Essas leis servem de axiomas
para a associação entre uma área de estudo e uma estrutura matemática.
Exemplos:
- Teoria da Mecânica de Newton
(três equações diferenciais)
- Teoria Eletromagnética de Maxwell
(quatro equações diferenciais)
- Teoria Especial da Relatividade
(três leis de Newton e mais duas)
- Teoria Geral da Relatividade
(cinco leis da Relatividade Especial e mais uma equação diferencial
tensorial)
Modelo científico
Trata-se da aplicação de uma teoria
científica a um caso particular. Por
exemplo, podemos utilizar a Teoria Eletromagnética de Maxwell para modelar e
construir um circuito eletrônico.
Big Bang
Nome enganoso inventado por Fred Hoyle
para ridicularizar a ideia de que o Universo foi criado.
Podemos aplicar a Relatividade Geral ao
Universo como um todo, o que resulta em um sistema de equações diferenciais
que, combinadas com equações da Termodinâmica, dizem que o tempo teve um início
e que o espaço vem se expandindo desde então. Esse sistema de equações é que
recebeu o nome enganoso de “Teoria do Big Bang”.
Big Bang é um modelo científico que
descreve a expansão do espaço ao longo do tempo. Esse
modelo não fala em explosão, nem em origem da matéria, nem em origem e evolução
de estrelas, nem galáxias e muito menos vida. Por
outro lado, esse modelo fornece informações valiosas que precisam ser levadas
em conta por outros modelos, como o de nucleossíntese.
Embora não seja o caso de Peebles,
existem muitas pessoas que argumentam contra a “Teoria do Big Bang”. Quando
observamos esses protestos, entretanto, vemos que o que essas pessoas combatem
é um espantalho, uma versão completamente falsa do que seria o Big Bang.
Se você deseja argumentar contra o Big
Bang, evite passar vergonha expondo sua ignorância sobre o assunto. Procure
antes se informar sobre o modelo com quem sabe deduzir, usar e interpretar suas
equações diferenciais, ao invés de repetir boatos que circulam entre leigos.
Eduardo
Lütz