quarta-feira, outubro 31, 2018

Terremoto quebra placa tectônica ao meio e faz geólogos “tremerem”


Em 7 de setembro de 2017, um terremoto de 8,2 na escala de magnitude atingiu a região sul do México, matando dezenas e ferindo centenas de pessoas. Embora os terremotos sejam bastante comuns na região, esse impactante acontecimento não foi exatamente um tremor corriqueiro. E o motivo disso é que parte da placa tectônica responsável pelo terremoto, de quase 60 km de espessura, foi totalmente dividida ao meio, conforme revela novo estudo publicado na revista científica Nature Geoscience. Tudo isso aconteceu em questão de segundos, coincidindo com uma colossal liberação de energia. “Se entendida como um imenso bloco de vidro, essa ruptura causou uma enorme fenda exposta”, diz o autor principal Diego Melgar, professor assistente de sismologia de terremotos na Universidade de Oregon. “Todos os indícios apontam que a placa se quebrou em toda a sua espessura.”

Fragmentações de tamanha dimensão foram observadas anteriormente em poucos lugares do mundo, tendo todos esses épicos terremotos algo em comum: ninguém sabe de verdade como acontecem. E essa lacuna de conhecimento é grave, porque enormes populações, desde a costa oeste das Américas até os litorais lestes do Japão, podem estar sob a ameaça desses enigmáticos terremotos.

Uma coisa é certa, esses tremores profundos podem causar forte estremecimento de uma ampla área e destruir diversos prédios de vários andares. Um deles ocorreu na cidade chilena de Chillán, em 1939, por exemplo, e matou pelo menos 30 mil pessoas. E, quando ocorrem em área próxima à linha costeira, o potencial destrutivo pode ser exponencial.

“Minha maior preocupação com esse tipo de acontecimento é o tsunami”, diz Melgar.
As placas tectônicas, também conhecidas como placas litosféricas, são compostas da crosta do planeta e do manto superior, que é quente, embora sólido. Elas se movem constantemente pela superfície terrestre, seja raspando uma na outra, encavalando-se uma na outra e formando montanhas ou descendo para baixo de outra placa, no que se denomina zona de subducção.

Nessas diversas fronteiras entre placas, os terremotos ocorrem quando a fricção gera uma tensão que acaba sendo liberada. Mas também podem acontecer tremores em locais distantes dessas fronteiras, na parte da placa que estiver sendo empurrada através de uma zona de subducção e para dentro do manto inferior. “Ao entortarmos uma régua, pode-se ver a metade superior se estendendo e esticando, enquanto a parte inferior se aperta e se comprime”, observa Melgar. O mesmo vale para essas placas. Esse entortamento pode ativar falhas dentro da placa e ocasionar os chamados terremotos intraplacas.

Os tremores intraplacas acontecem o tempo inteiro, em magnitudes baixas ou médias, normalmente em falhas que envolvam movimentação lateral ou o empurramento ascendente de um bloco. Ocasionalmente, ocorrem alguns incrivelmente fortes nas chamadas falhas normais, quando a movimentação de um pedaço de rocha é conduzido pela gravidade e cai.

Melgar aponta o terremoto de Sanriku, em 1933, no Japão, que ocorreu a uma magnitude de 8,5, como bom exemplo desses tremores normais intraplacas. Outro exemplo seria o terremoto de Tarapaca, no norte do Chile, em 2005, com 7,8 de magnitude. Às vezes, assim como ocorreu no sul do México, a ruptura pode cortar a placa ao meio. Acredita-se que o mesmo aconteceu no subsolo do Irã, em 2013, num tremor de magnitude 7,7.

Apresentando ou não esse nível de gravidade, esses potentes terremotos são, em essência, misteriosos. Os levantamentos sísmicos utilizados para visualizar os movimentos tectônicos não chegam a penetrar em tamanha profundidade. O mapeamento das placas oceânicas também está no início, não havendo muitos dados históricos em alta resolução. Isso significa que os geocientistas estão ávidos por formas de explicar melhor o que acontece. [...]

Bem mais problemático é o inacreditável alcance da ruptura, que chegou a uma profundidade de cerca de 75 quilômetros. Nesse ponto, as temperaturas ultrapassam 1.100 ºC, o que é quente o suficiente para que a placa rochosa se comporte mais como um plástico mole. Um tremor como o de Tehuantepec requer que a rocha esteja mais fria e, portanto, mais dura, para ficar mais quebradiça. [...]

Parte da solução, de acordo com a equipe de Melgar, pode envolver os lençóis freáticos. Movimentando-se para dentro da zona de subducção abaixo da placa norte-americana, a placa de Cocos entorta e quebra. Isso dá origem a falhas normais, que recebem água do mar. Ao passar por dentro da zona de subducção em direção ao manto inferior, a placa se aquece e se desidrata. Essa desidratação cria fraquezas mecânicas e pode causar um fraturamento quebradiço, criando pequenos tremores ou até mesmo um grande terremoto. A mesma teoria vale nos casos dos terremotos de 2013 no Irã e de 2005 no Chile. [...]


Nota: Se um único evento sísmico é capaz de quebrar uma placa inteira, imagine um cenário catastrófico global, com múltiplos terremotos e extensos derrames de lava. Toda a crosta terrestre poderia ser fragmentada em pouco tempo. [MB]

segunda-feira, outubro 29, 2018

A sensação escatológica


Escatologia é uma palavra de origem grega, peculiar ao vocabulário teológico. Ela diz respeito ao estudo dos eventos finais relacionados à história da Terra e do gênero humano. Marcada por forte semântica de sobrenaturalidade, a escatologia, embora negada e combatida pelo racionalismo, faz-se sentir de forma universal como aura misteriosa a circundar o mundo. 

Pressente-se um intenso “clima de fim” envolvendo os sentimentos, os pensamentos e os discursos (políticos, religiosos, científicos, filosóficos, etc.) da sociedade em geral. Estamos tomados por algo que eu chamo de “sensação escatológica”: certa intuição de insegurança, instabilidade e incerteza que se apossou de quase todos. É como se os acontecimentos da vida, na esfera individual e coletiva, rumassem descontroladamente para o precipício, sendo conduzidos até à consumação. O que está acontecendo?

Desde tempos muito remotos, formas de apocalipse sempre se fizeram presentes no inconsciente coletivo da humanidade. A sensação escatológica perpassou crenças, sistemas e ideologias, sem nunca nos abandonar. No mundo mítico, por exemplo, com raras exceções, a consciência era permanentemente lembrada acerca do “fim do mundo”, do Ragnarök ou juízo final em que o céu e a Terra passariam por perturbações catastróficas, a fim de darem lugar a uma nova realidade. Sob eventos cíclicos ou lineares, as coisas, os seres e mesmo os deuses permaneceriam sujeitos à fatalidade, à vontade do cego e inexorável Destino.

Já no plano filosófico, inaugurando a era da “morte de Deus”, Nietzsche trouxe para a imanência o elemento escatológico do niilismo. Com sua parábola do homem louco no mercado bradando “Deus morreu! Deus permanece morto!”, o filósofo do martelo – um tipo de profeta secular e fenomenólogo certeiro – ao arremessar seu martelo esmiuçador até mesmo nos píncaros da transcendência, pretendera vaticinar o colapso das grandes estruturas da civilização ocidental. Assim, moral cristã, metafísica, ciência e a própria filosofia, na voz nietzscheana, fitaram o abismo cara a cara. “Naturalmente”, pondera George Siegmund em O Ateísmo Moderno – História e Psicanálise, “com o desmoronamento da fé em Deus desaba também todo o chão sobre o qual até então descansavam os valores; o abismo do niilismo que se abre ameaça tragar tudo [...]. O homem viajante perde assim toda a meta, todo o caminho; vê-se cercado pela noite purpúrea da loucura”. 

Ainda em tempos de grande luz no campo do saber, os cientistas descrevem cenários nada promissores, imagens do fim que lançam sombras sobre o nosso planeta e o Universo. Livros e revistas populares de divulgação científica estão cheios de “profecias” acerca da consumação de todas as coisas, a exemplo de O Fim da Terra e do Céu: O apocalipse na ciência e na religião, obra na qual o físico brasileiro Marcelo Gleiser expõe, numa linguagem meio romanceada e quase religiosa, que “o fim está próximo!” e “os céus estão caindo”. Afinal, não foi o grande cientista Stephen Hawking quem declarou: “Apesar de serem baixas as possibilidades de um desastre no planeta Terra em um ano qualquer, isso vai se acumulando com o tempo e se transforma em uma quase certeza para os próximos mil ou dez mil anos”? Seja na concepção científica materialista ou na crença hindu do Bhagavad Gita, ecoa a voz escatológica: “Eu sou o Tempo, o grande destruidor.”

Tratando-se da cosmovisão cristã, a escatologia assume proporções tão grandes que só pode ser apresentada por meio de símbolos, metáforas e representações apocalípticas. Os sinais do Armagedom - “a guerra das guerras” - anunciam o fim de tudo não por causa de colisões cósmicas, morte térmica do Universo ou algo parecido. O eskhaton, no pensamento e profecia bíblicos, acontece em razão da direta interferência divina na História: imperiosa necessidade e única solução para os dramas humanos globais, pois “os ecologistas observam a desintegração de nosso planeta, mas parece que ninguém está disposto a fazer alguma coisa a respeito. Os economistas não conseguem superar seu pessimismo. O desemprego mundial está crescendo. Parte da população do mundo enfrenta o perigo real de morrer de fome. É claro, estamos simplesmente acostumados demais com esses números; eles já não nos incomodam mais. [...] A situação política repousa em solo instável. A paz é de fato um objetivo quando os poderes mundiais se reúnem. Mas as armas continuam debaixo da massa de tratados e organizações. Vivemos à sombra de nuvens atômicas. Não há país que, de alguma forma, não esteja envolvido em algum tipo de conflito. Todas as ações políticas têm repercussão no cenário internacional. Quanto ao estado moral da nossa sociedade, é quase irreconhecível, tão desfigurado se tornou pelo crime, violência, drogas, álcool e doenças. Ninguém é poupado, pois essa condição afeta todos os níveis da sociedade. Simultaneamente, tem surgido uma nova raça de homens e mulheres: os profissionais de sucesso. Quaisquer que tenham sido os nossos ideais artísticos e morais, eles foram substituídos pelo ideal da nossa sociedade, o único pelo qual vale a pena lutar: o dinheiro. A virtude agora é proporcional ao desempenho. A humanidade contemporânea deseja, com todas as forças, se tornar cada vez mais eficaz e cada vez menos humana. Nossa civilização incita os piores desastres, mas ainda assim estamos sãos e salvos. Ainda andamos pelas ruas de nossas cidades. A televisão ainda sussurra as palavras e imagens encorajadoras de nossa prosperidade; e se isso não acontece, não haveria problema, pois seria só um filme mesmo! Nós reciclamos. Fazemos exercícios. Fechamos os olhos e meditamos, recusando enfrentar a lenta putrefação de nossa sociedade decadente e preferindo ignorar os slogans de uns poucos excêntricos. Afinal de contas, todos os nossos líderes falam de uma forma que tranquiliza , e o povo acaba pegando no sono. E as flores do mal germinam por todos os lados. [...] Não há terra, não há ilha, não há tribo remota que possa escapar. É um verdadeiro ‘tempo de angústia’.”

Parece que nos achamos perante o dobre de finados da história; contudo, para o teólogo cristão, “a cortina não desce na tragédia”. Embora o próprio Jesus tenha discursado escatologicamente ao afirmar que “os homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo”, Ele conclui em tom de esperança: “Quando começarem a acontecer estas coisas, levantem-se e ergam a cabeça, porque estará próxima a redenção de vocês” (Lucas 21:26, 28). Em síntese, arrisco afirmar, sob pena de ser considerado supersticiosamente religioso, que somos seres com uma fixação pelo fim. Nossa natureza mortal e o peso da finitude geram e desenvolvem em nós esse sentimento escatológico.

Numa longa entrevista transformada em livro, respondendo à pergunta que lhe fora feita, o filósofo alemão Martin Heidegger asseverou: “A filosofia não pode provocar nenhuma alteração imediata do atual estado do mundo. Isso não é válido apenas em relação à filosofia, mas também a todas as meditações e anseios meramente humanos. Já só um deus nos pode ainda salvar.” Otimistas ou pessimistas, teístas ou não, somos todos escatológicos. Imbuídos de tal sensação, a perspectiva da esperança apoiada em Deus faz toda a diferença.

Frank de Souza Mangabeira

sexta-feira, outubro 26, 2018

Imprinting genético: até o embrião sabe o papel diferente de pai e mãe


Não costumo escrever sobre assuntos biológicos, mas esse me chamou atenção. Há pouco mais de dez dias, vi um artigo com o seguinte título em um site nacional: “Camundongos do mesmo sexo geram filhotes por meio de edição genética”, baseado no artigo “Generation of bimaternal and bipateral mice from hypomethylated haploid ESCs with imprinting region deletions” (Cell Stem Cell). No artigo, os cientistas contam que conseguiram, graças à manipulação genética, fazer um embrião de camundongo se desenvolver a partir de dois conjuntos genômicos provenientes de indivíduos do mesmo sexo; nesse caso duas fêmeas de camundongo. No entanto, isso não poderia ocorrer a não ser com uma edição genética de ponta.

Para entender melhor, analisemos a fecundação humana. Nela, um conjunto genômico de 23 cromossomos e outro de 23 cromossomos devem se juntar para haver formação de um zigoto e posterior embrião com 46 cromossomos, 46 XX ou 46 XY. Algumas variações são possíveis, naturalmente, e acarretam algumas síndromes de origem genética, como 45,X0 (síndrome de Turner), 47,XXouXY +21 (síndrome de Down), 47, XXY (Kleinefelter), entre outras.

Em relação aos gametas, o espermatozoide carrega 22 cromossomos autossômicos e um sexual podendo ser ele X ou Y. E o óvulo irá carregar 22 cromossomos autossômicos e um sexual, esse sendo sempre X. A combinação de um espermatozoide com um óvulo acarreta na formação de um indivíduo 46 XX ou 46 XY.

Assim, na teoria, poderia se obter o mesmo resultado combinando dois óvulos, tendo uma combinação 46 XX, o que acarretaria em um indivíduo feminino. Ou combinar dentro de um óvulo dois pró-núcleos provenientes de espermatozoides, acarretando indivíduos 46 XX ou 46 XY (46 YY seria inviável).

A questão é: Por que isso não ocorre naturalmente ou em uma fecundação in vitro?

Porque no momento da fecundação em mamíferos placentários, para que o padrão de metilação do DNA seja transmitido aos descendentes, é necessário que ele seja estabelecido nos gametas, durante a gametogênese. Ou seja, o zigoto recém-formado sabe quais conjuntos gênicos foram herdados do pai (sexo masculino) e quais conjuntos gênicos são herdados da mãe, sexo feminino, para assim continuar seu desenvolvimento. É como uma etiqueta ou impressão genômica (imprinting genético). Portanto, o reconhecimento e a manutenção de impressões são muito importantes na reprogramação do genoma. Ao reconhecer que os dois conjuntos genômicos são provenientes do mesmo sexo, o desenvolvimento do embrião é interrompido.

A última etapa do ciclo de vida da impressão é o apagamento das impressões epigenéticas nas células germinativas primordiais, e isso garante o estabelecimento da impressão dependente do sexo em estágios posteriores do desenvolvimento. Ou seja, o embrião descarta as etiquetas de pai e mãe de seus cromossomos e coloca sua etiqueta ou impressão própria. Portanto, os genes “etiquetados” sofrem desmetilação do DNA nas células germinativas primordiais, e o padrão de metilação específico da origem parental volta a ser restabelecido durante a gametogênese, no gameta maduro. Assim funciona a natureza e é como ela foi criada: os sexos sendo determinados biologicamente não somente pela presença dos cromossomos sexuais, mas em todo um conjunto genômico por uma marcação “invisível” reconhecida pelo próprio embrião, no qual também etiquetará seu sexo em seus clusters de genes.

Mas, voltando ao artigo, como os cientistas então conseguiram “ludibriar” o embrião? Os pesquisadores, usando tecnologia de edição genética, excluíram três conjuntos de impressões genéticas de um gameta feminino e juntaram com uma célula-tronco embrionária. Assim, para torná-los compatíveis, os fragmentos de DNA que carregavam os conjuntos gênicos “etiquetados” foram deletados para tornar os filhotes viáveis. No caso de descendentes de ratos fêmeas, dos 210 embriões, 14% sobreviveram e se tornaram adultos normais e até férteis. Já no caso de embriões provenientes exclusivamente de ratos machos, os filhotes nasceram debilitados e toda a ninhada morreu em dois dias.

E assim, mesmo com um resultado longe de ser um sucesso em termos de viabilidade desses indivíduos, com esse artigo são geradas as especulações de testes semelhantes com outras espécies, inclusive a humana. “Mas há uma expectativa grande em torno das possibilidades de levar essas técnicas para outros animais, até um dia chegar aos seres humanos. Essa pesquisa mostra o que é possível”, afirma Wei Li, pesquisador do mesmo instituto.

Outros pesquisadores renomados também falaram sobre essa possibilidade: “O risco de anomalias severas é elevado demais, e levaria anos de pesquisas em vários modelos animais para compreender plenamente como fazê-lo de modo seguro”, afirmou o especialista em células-tronco Dusko Ilic, do King’s College de Londres.

O que se destaca é que, naturalmente, a vida humana é proveniente da junção de um indivíduo masculino e um feminino, sendo que o próprio embrião identifica por meio de mecanismo epigenéticos diferenças funcionais entre os genomas paterno e materno, mas o ser humano não aceita esta condição idealizada há muito tempo: “Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gênesis 2:24).

(Tiago Moreti é biólogo e mestre em Biotecnologia)

O papel das plantas na criação

Não temos nenhuma dúvida de que plantas são seres vivos porque participam de todo o ciclo da vida: nascem, desenvolvem-se, reproduzem-se, envelhecem e morrem. Outras características dos seres vivos incluem a presença de células, a capacidade de reagir a estímulos, como luz e temperatura, e a capacidade de evolução (no sentido correto da palavra). Mas, do ponto de vista bíblico, qual função as plantas desempenhavam na criação? Esta é a terceira e última parte desta série sobre as plantas. Então recomendo a leitura anterior dos textos sobre a criação das plantas e a problemática de elas estarem prontas antes de a luz solar chegar livremente ao nosso planeta.

Quando definimos o que é vida, entramos em uma discussão de larga escala. A princípio, biologicamente falando, ser vivo é qualquer coisa capaz de se reproduzir, evoluir e manter um metabolismo.[1] E aqui não temos dúvidas de que ácaros, bactérias, fungos de queijo gorgonzola, protozoários e algas são seres vivos. O "super ser vivo" tardígrado, que é capaz de sobreviver de -270 ºC até 150 ºC, é um dos mais notáveis nessa imensa lista.

Tardígrado, o super ser vivo

Segundo Mayr, tentativas para definir a “vida” são feitas com frequência. Tais esforços são simplesmente fúteis, pois hoje está perfeitamente claro que não há uma substância especial, um objeto ou uma força que possam ser identificados com a vida. Contudo, os processos da vida podem ser definidos. Não há dúvida de que os organismos vivos possuem certos atributos que não se encontram - ou não se encontram da mesma forma - nos objetos inanimados.[2]

Porém, falando em um sentido bíblico, a definição das Escrituras soa um pouco diferente. Os animais e o ser humano são considerados "almas viventes". As plantas são consideradas “alimento". Para a Bíblia, a planta não morre quando é ingerida. Apenas cumpre seu papel na criação, que é o de alimentar o ser humano e os animais.

Veja o que diz Eclesiastes 3:19, 20: "Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma, porque todos são vaidade. Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó."

O texto de Eclesiastes não inclui as plantas como “seres viventes”. Isso não é um erro científico, pois a intenção do autor não era tratar esses conceitos cientificamente dentro dos padrões de definições que usamos atualmente. A intenção dele é mostrar a função criativa de cada coisa.

O autor de Gênesis também faz isso. Ele escreve que tudo o que voa são aves e tudo o que está nos mares é peixe. Sabemos que o morcego, o pterossauro, os golfinhos e as baleias não entram nessa classificação. Porém, o autor não queria fazer uma divisão taxonômica moderna dos seres vivos. Não devemos entender essas passagens com uso de anacronismos, mas, sim, olhar pela ótica do escritor. Qual era a intenção de quem escrevia? 

Em Gênesis a função dos animais é se reproduzir, do homem é se reproduzir e dominar, e das plantas alimentar o homem e o animal. Isso fica claro em Gênesis 9:3, quando Deus diz que a partir da saída da arca, além da erva verde que Deus havia dado anteriormente, os homens poderiam ingerir a carne de certos tipos de animais também.

Essa definição das plantas vai muito além de mera curiosidade. E aqui eu chego ao ponto especulativo do texto. Havia morte antes do pecado de Adão e Eva? Se eles comiam alimentos de origem vegetal, ingeriam alimento. E esse processamento de alimentos gera morte celular? Havia função do sistema excretor?

Biologicamente falando, morte é o cessamento das atividades biológicas necessárias à caracterização e manutenção da vida em um sistema outrora classificado como vivo.

Quando comemos uma fruta, “matamos células” dessa fruta. O material ingerido deve ser devolvido à terra para reciclagem - ciclo biológico. Cada átomo que ingerimos ou é excretado ou é mantido no organismo. Nenhum átomo é desintegrado. Os átomos circulam entre o organismo e o ambiente.[3]
Sistema digestivo humano e sua complexidade

A conclusão desse problema é bem simples. Do ponto de vista biológico, as plantas são seres vivos e a ingestão delas causa "morte" do alimento ingerido. Do ponto de vista das Escrituras, a função das plantas é alimentar os seres vivos (homem e animais), e por isso a ingestão delas não causaria morte no sentido estritamente bíblico. Quando uma planta era ingerida, não era sinal de morte antes do pecado, mas sim de algo natural criado para aquela função.

Alex Kretzschmar

Referências:
[1] Margulis, Lynn, Dorian Sagan. 2002. O Que É Vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
[2] MAYR, Ernst. O desenvolvimento do pensamento biológico: diversidade, evolução e herança. Tradução de Ivo Martinazzo. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1998. 
[3] Rubim, M. A. L. 1995 Ciclo de vida, biomassa, e composição química de duas espécies de arroz silvestre da Amazônia Central. Dissertação de mestrado, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/ Fundação Universidade do Amazonas. Manaus, Amazonas. 126 p.

quinta-feira, outubro 18, 2018

General diz que criacionismo deveria ser ensinado nas escolas


[A matéria a seguir foi escrita pelo jornalista Bruno Boghossian para a Folha de S. Paulo, e publicada no dia 16 de outubro:] “As conspirações sobre a ideologia nas escolas atingiram o insuspeito Charles Darwin [sic]. Um general que elabora propostas na campanha de Jair Bolsonaro diz que a teoria da evolução deve ser ensinada ao lado do criacionismo (a ideia de que Deus criou diretamente o homem). ‘Muito da escola está voltado para orientação ideológica […]. Houve Darwin? Houve, temos de conhecê-lo. Não é para concordar, tem de saber que existiu’, afirmou Aléssio Souto ao jornal O Estado de S. Paulo. As duas visões devem ser mantidas em esferas distintas, mas o militar segue uma linha em que a religião disputa espaço com a ciência. Ele diz que um pai ‘não está errado’ se quiser que o professor ensine teoria da criação no lugar do darwinismo.

“A sugestão causa arrepios em especialistas. ‘Esse debate deve ocorrer no campo da religião, nas aulas de filosofia ou sociologia’, afirma Priscila Cruz, do movimento Todos pela Educação. ‘Na ciência e na biologia, o criacionismo deveria ser banido.’ Ao tratar pontos do ensino científico como desvio ideológico, assessores de Bolsonaro aplicam, eles mesmos, um viés político à educação. ‘Quando você iguala ciência e ideologia, você anda para trás, ignora séculos de aprendizado’, diz Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências. ‘A teoria da evolução não é ideológica. É resultado de percepções científicas e foi testada ao longo do tempo.’”

Nota do blog Desafiando a Nomenklatura Científica: “Davidovich cometeu dois erros:  
 
“1. A teoria da evolução é sim ideológica - quem disse foi Darwin em uma de suas cartas que pelo menos ele tinha dado um chega pra lá no criacionismo. 

“2. A teoria da evolução foi testada em nível microevolutivo; macroevolutivo, não! A descendência com modificação ao longo do tempo, por exemplo. Nunca explicaram a Explosão Cambriana. Quais são os mecanismos evolucionários? De A a Z? Qual a origem da informação genética? Por que do upgrade para a Síntese Evolutiva Ampliada/Estendida com aspectos neolamarckistas porque a Síntese Evolutiva Moderna já era em 1980 uma teoria científica falida que posava de ortodoxia científica somente nos livros-texto?

“Sim, a teoria da evolução deve continuar sendo ensinada em nossas escolas, mas deve ser ensinada objetiva e honestamente considerando as evidências a favor e contra. Do jeito que a teoria da evolução é ensinada no Brasil, não é educação, mas doutrinação ideológica do materialismo filosófico que posa como se fosse ciência!”

Leia aqui a posição da Sociedade Criacionista Brasileira quanto ao ensino do criacionismo em escolas públicas.

Mutações aumentam a informação genética?

Mutação é toda e qualquer alteração do material genético, não importando se estas ocorrem nas células somáticas ou em células germinativas (Junker e Scherer, 2002). Porém, para os processos evolutivos, mutações importantes são apenas as que alteram o material genético de células germinativas e suas células precursoras, isto porque apenas estas são transmitidas hereditariamente à geração seguinte. Mas qual é o papel que ela desempenharia no processo de macroevolução? Uma das premissas evolucionárias é a de que alguns mecanismos evolutivos, tais como a seleção natural agindo sobre mutações aleatórias, recombinação genética e duplicações gênicas produziriam variação alélica e, consequentemente, aumento de informação genética ao longo do tempo. Será que essa ideia ainda se mantém à luz dos atuais dados científicos?
Fato é que desde a “redescoberta” das leis de Mendel, por Hugo de Vries e colaboradores (Moore, 2004), no início do século 20, que então deu origem à síntese evolutiva moderna ou neodarwinismo, o DNA sempre se demonstrou incompatível com essa hipótese que defende que a vida é fruto de causas exclusivamente naturais.
Por outro lado, cientistas tedeístas e criacionistas entendem que a ideia de que mutações genéticas, quando combinadas com o processo de seleção natural, promoveriam a “evolução” – geralmente usada como sinônimo de macroevolução – é um atestado de ignorância em seu sentido literal de, ou desconhecer alguns fatos fundamentais sobre este assunto ou ignorar os dados.

quarta-feira, outubro 17, 2018

Darwin presidente: o fascismo evolucionista (parte 2)

Quais são as origens e as bases dos pensamentos que levaram ao surgimento do fascismo – uma das filosofias de resultados mais funestos já vistos na história da humanidade? Descubra na continuação da nossa série de posts sobre os fundamentos filosóficos das principais correntes políticas e sociais do mundo atual. Hitler era cristão? Judeu? Cético ateísta? Uma das mentes mais perversas e misteriosas da história humana tinha ligações mesmo com o misticismo.[1] Mas, na base de todos os seus sofismas, o fascismo era fundamentado na teoria da evolução.

Na última postagem, foi produzida uma breve descrição das principais correntes políticas e sociais que estão influenciando a política mundial na atualidade. Falou-se sobre a influência do evolucionismo no marxismo social e político do fim do século 19, e como Marx foi admirador de Darwin e promotor do que Engels chamou de “evolucionismo sociológico”. Neste post, você verá como a teoria da evolução embasou o fascismo italiano e o nazismo, e como se percebe essa influência na política atual.

O evolucionismo como fundamento do sofisma da superioridade racial

Derivada da ideia da seleção natural de Darwin, Herbert Spencer desenvolveu a ideia do Darwinismo Social.[3] De acordo com esse pensador, assim como teria acontecido com os organismos na biologia [sic], as sociedades também teriam evoluído por meio da luta que produziria a seleção natural. O próprio termo “sobrevivência do mais apto” (survival of the fittest) foi cunhado por Spencer e não por Darwin.[3] De acordo com o site History Hits, o darwinismo social teve seu trágico ápice com o desenvolvimento da política genocida nazista nos anos 1930 e 40. Na visão do movimento nazista, a raça ariana seria um subgrupo da raça caucasiana, de origem indoeuropeia, sendo que os arianos (povos alemães) representariam o que haveria de mais puro (e evoluído) dentre os povos caucasianos e, por conseguinte, do mundo todo.[4]

Os teóricos raciais Arthur de Gobineau e Houston Stewart Chamberlain foram alguns dos principais proponentes das teorias arianas de supremacia racial vastamente utilizadas pelos nazistas[5] para justificar o massacre de povos não arianos, em especial os judeus (semitas, mas classificados por Hans Günther e outros como Armenóides) e os negróides. Além desses dois teóricos racistas, Hans Günther teria identificado a emergência de cinco subtipos raciais na Europa: nórdicos, mediterrâneos, dináricos, aplinos e leste-bálticos. Não surpreendentemente, Günther identificou os nórdicos como ranqueados na mais alta posição da cadeia evolutiva.[6]

Hitler teria lido a obra de Günther, Rassenkunde des Deutchen Volkes, o que acabaria por influenciar o ditador na sua relação com os povos circunvizinhos e daria ao teórico racial um lugar assegurado no departamento de antropologia da Universidade de Jena, em 1932, onde Hitler teria assistido à aula inaugural do professor Günther.[7] Günther havia usado diversas fotografias para classificar diferentes variações dos povos europeus, e suas classificações foram embasadas em medidas corporais e habilidades mentais e traços de personalidade, incluindo a religiosidade. Os judeus foram vistos por Günther como possuindo habilidades comerciais e, segundo ele, com fortes habilidades de manipulação psicológica que os auxiliavam no comércio. De acordo com esse teórico, os habitantes do Oriente Médio teriam habilidades natas não para a conquista da natureza, mas para a conquista e exploração das pessoas.[8]

Hitler considerava perigosas as influências dos povos semitas mesmo em outras etnias caucasianas, fato é que o Führer alemão classificou mesmo os eslavos como “subumanos” (untermenschen), por entender que sofreram, em maior ou menor grau, influência dos povos armenóides ao longo da sua história.[4] Os eslavos, de acordo com Hitler, eram uma raça nascida inerentemente escrava e carente de um mestre.[9] Surpreendentemente, como o ditador considerou esse povo “subumano”, entendeu que a convenção de Genebra não se aplicava a eles.[10] Essa ideia logo se espalhou para outras etnias consideradas subumanas, e as ordens do ditador e de seus oficiais eram de aniquilar, remover ou escravizar os conquistados que não fossem considerados arianos. Joseph Goebblels, ministro da propaganda de Hitler, comparou os povos eslavos a uma família de coelhos, no sentido de serem preguiçosos e desorganizados, e referiu-se a eles, em um certo pronunciamento na mídia alemã, como uma raça primitiva de animas advindos da tundra siberinana, que pareciam “uma onda negra de imundície”.[11]

O fascismo italiano, apesar de ter surgido antes do fascismo alemão (nazismo), é explorado nesse ponto pelo fato de que incorpora, essencialmente, os mesmos preceitos do nazismo, mas com diferenças que podem ser mais bem explanadas depois de compreendidas as premissas que se tornaram notoriamente manifestas no nazismo. Distinções se destacam pelo fato de que o fascismo italiano incorporava à raça ariana a etnia mediterrânea, como não poderia deixar de ser.[14] Mas, talvez, a mais destacada dessemelhança entre o fascismo italiano e o nazismo seja a de que Mussolini considerava como elemento racial superior os aspectos culturais e espirituais associados à etnia em questão. É reportado que Mussolini rejeitou a ideia de superioridade genética per se, embora o fator biológico não tenha sido eliminado por completo do racismo fascista.[15] Mussolini via o nordicismo – aspecto fascista alemão que apregoava o arianismo como manifesto sobretudo em cabelos loiros e olhos azuis – como um complexo de inferioridade que havia sido imposto aos povos mediterrâneos, inerentemente alijados dessas características, e desejava que esse sentimento de baixa autoestima não retornasse aos corações italianos.[14] No entanto, parece que beber do próprio veneno não impediu que Mussolini participasse, em grande medida, das ideias racistas que ceifariam a vida de milhões de vidas inocentes durante as campanhas do eixo na segunda guerra mundial.

Hitler judeu?

Muita discussão foi realizada em torno dos critérios para a classificação de povos e indivíduos como arianos mas, de maneira geral, bastava que um cidadão tivesse apenas um dos avós identificado como judeu para perder sua classificação “ariana”. Curiosamente, Hitler nunca teria conseguido provar a “arianidade” de todos os seus avós, dos quais acredita-se que o avô paterno possa ter tido origem judaica, embora esse fato venha a ser contestado por outros historiadores.[12] Todavia, em 2010 um artigo do jornal britânico The Daily Telegraph publicou um estudo no qual foram coletadas amostras de saliva de 39 parentes de Hitler e não chegou à conclusão definitiva sobre a questão da ancestralidade judaica do ditador alemão. Um cromossomo, chamado Haplogroup E1b1b1, encontrado nas amostras de Hitler, é considerado raro nos povos da Europa ocidental, mas é comumente encontrado nos povos bérberos do Marrocos, Algéria, Tunísia e nos judeus Asquenazi e Sefárdicos. Esse cromossomo está presente em cerca de 20% dos cromossomos Y dos judeus Asquenazi e até 30% dos cromossomos Y dos judeus Sefárdicos. No entanto, a conclusão geral é a de que não se pode dizer se Hitler era judeu, embora não seja possível descartar completamente a hipótese de alguma influência na ancestralidade.[13]

Os evolucionistas contra-atacam

Muito embora vários defensores do evolucionismo tenham iniciado uma espécie de guerra santa para tentar desvincular o darwinismo dos fundamentos do nazismo, é notável que o pressuposto da superioridade racial, que fundamentou atrocidades vistas durante a tentativa de construção do Terceiro Reich na Alemanha hitlerista, se constrói sobre um pressuposto evolucionista. Richard Weikart, no seu livro Hitler’s Religion: The twisted beliefs that drove the Third Reich,[2] afirma que uma suposta perseguição do evolucionismo darwinista pelos nazistas foi, na verdade, limitada e bastante pontual, e, na realidade, não poderia ser chamada de perseguição. Livros darwinistas teriam sido queimados em fogueiras alemãs, mas isso ocorreu com centenas de outros títulos, de teor inclusive oposto ao evolucionismo. O autor diz que altos oficiais da SS (organização paramilitar nazista, responsável por grandes crimes de guerra), professores, políticos e filósofos empregados pelo partido eram darwinistas declarados e proeminentes. A evolução humana e biológica era tema do currículo escolar e universitário na Alemanha de Hitler. Na verdade, segundo Weikart, a real motivação para a afirmação de que o darwinismo fora banido da Alemanha nazista foi um artigo de um jornal para bibliotecários de 1935 que orientava as bibliotecas alemãs a banirem o darwinismo ultrapassado, citando Haeckel e Ostwald, mas não Darwin. De fato, tratou-se de uma orientação menor, realizada por um oficial de baixo escalão, para eliminar algumas obras de um evolucionismo muito embrionário e que jamais teve efeitos de coibir ou desincentivar o ensino do evolucionismo na Alemanha nazista.[2]

Conclusão

É possível, e mesmo provável, que o fascismo tivesse surgido mesmo sem a construção da teoria da evolução por Darwin ou por qualquer outro autor. Hitler não era um ser cético e desprovido de espiritualidade,[1] razão pela qual se pode supor que não foi, evidentemente, a razão que moveu não apenas Hitler, mas também Mussolini e outros a produzirem tal estado de coisas que culminaram com uma das maiores matanças da raça humana em vários séculos.

O fascismo não dependeria vitalmente do darwinismo para existir, mas pode-se concluir, com bastante segurança, que o darwinismo proveu uma justificativa, ainda que, na melhor das hipóteses, distorcida para que tais opositores do bem pudessem fazer prosperar seus desejos mais sórdidos de conquista e poder total. Opositores do cristianismo e diversos defensores do evolucionismo têm se reunido para dizer que Hitler era cristão e perseguiu o evolucionismo, o que dificilmente se faria em uma análise mais aprofundada e honesta.[2] Hitler e seus comparsas buscaram no misticismo qualquer centelha de esperança de obter vantagem no projeto de dominação global pelas vias mais obscuras que pudessem conceber.[1] Nem a mais abjeta interpretação das Escrituras permitiria tais comportamentos sob a alcunha de “cristianismo”.

Surpreendentemente, porém, levado em seus extremos, o pensamento evolucionista apregoa justamente isto: a sobrevivência do mais apto. Mais apto significa ser mais astuto e sagaz? Significa ser o mais fortemente armado? O mais inteligente e forte no objetivo de destruir os competidores pelos recursos escassos da natureza? Pode-se racionalizar que, assim como nos enxames de animais que vivem em coletividade, que a sobrevivência do companheiro de espécie é estratégica. No entanto, essa justificativa não é suficiente, não apenas para explicar o verdadeiro altruísmo, mas também para eliminar a possibilidade da destruição gerada pela competição pelo alimento escasso e pela reprodução dos melhores espécimes.

Em oposição à morte, à destruição e frustração que são resultado certo das filosofias humanas alijadas de Deus, Cristo certa vez disse: “Eu vim para que tenham vida, e vida em abundância” (João 10:10). A Bíblia não somente oferece uma resposta adequada para os conflitos humanos, mas também a melhor resposta e a única saída completamente e mais do que satisfatória para a angústia humana.

Alexsander Silva

Referências:
[1] Knowles, C. (2008). Nossos deuses são super-heróis. Ed. Cultrix.
[2] Weikart, R. (2016). Hitler's Religion: the twisted beliefs that drove the Third Reich. Regnery History.
[3] Browne, A. (2018, august 7). Social darwinism in nazy Germany. Disponível em: https://www.historyhit.com/social-darwinism-in-nazi-germany/
[4] Longerich (2010). Holocaust: The Nazi Persecution and Murder of the Jews. Oxford; New York: Oxford University Press. 
[5] Yenne, Bill (2010). Hitler's Master of the Dark Arts: Himmler's Black Knights and the Occult Origins of the SS. Minneapolis: Zenith.
[6] Bruce David Baum. The Rise and Fall of the Caucasian Race: A Political History of Racial [7] Identity. New York, New York, USA; London, England, UK: New York University Press, 2006. P. 156.
ohn Cornwell. Hitler's Scientists: Science, War, and the Devil's Pact. Penguin, Sep 28, 2004. [1], p. 68 
[8] Alan E Steinweis. Studying the Jew: Scholarly Antisemitism in Nazi Germany. Harvard University Press, 2008. P. 28. 
[9] Marvin Perry. Western Civilization: A Brief History. Cengage Learning, 2012. P. 468. 
[10] Anne Nelson. Red Orchestra: The Story of the Berlin Underground and the Circle of Friends Who Resisted Hitler. Random House Digital, Inc., 2009. P. 212. 
[11] Richard C. Frucht (31 December 2004). Eastern Europe: An Introduction to the People, Lands, and Culture. ABC-CLIO. pp. 259 
[12] Toland, John (1992) [1976]. Adolf Hitler. New York: Anchor Books. 
(Algumas referências foram retiradas da Wikipedia) 
[13] Adolf Hitler: Was Hitler jewish? Disponível em: https://www.jewishvirtuallibrary.org/was-hitler-jewish. 
[14] Aaron Gillette. Racial Theories in Fascist Italy. London, England, UK; New York, New York, USA: Routledge, 2001. Pp. 39. 
[15] Glenda Sluga. The Problem of Trieste and the Italo-Yugoslav Border: Difference, Identity, and Sovereignty in Twentieth-Century. SUNY 

De onde veio tanta água para um dilúvio?

"O planeta Terra faz sua própria água a partir do zero no fundo do manto", foi a manchete do artigo de 27 de janeiro de 2017 da New Scientist's Daily News.[1] É irônico que os cientistas secularistas ainda procurem explicar de onde veio a água da Terra. Por muitos anos eles têm se empenhado em preencher as “lacunas” de sua “história” sobre como a nossa terra natal “surgiu” e tornou-se tão habitável para a vida ao longo de sua suposta história de bilhões de anos. Os secularistas acreditam que a Terra se condensou da matéria acumulada da nebulosa solar 4,56 bilhões de anos atrás. Inicialmente era uma bolha quente fundida que esfriava. Eles costumavam sugerir que a maior parte da água vinha de dentro dessa Terra que esfriava lentamente, mas não o suficiente para encher os oceanos que temos hoje na superfície da Terra. Uma teoria outrora popular era a de que os cometas (que são essencialmente grandes e sujas bolas de gelo) colidiam com a Terra e depositavam sua água em nossa superfície. 

Enquanto isso, esses mesmos secularistas e céticos da Bíblia têm exigido que nós, crentes na Bíblia, expliquemos de onde vieram as águas para inundar a Terra durante o cataclísmico dilúvio de Gênesis. Nossa resposta não mudou desde que o livro de Gênesis foi escrito por revelação especial de Deus: “Todas as fontes do grande abismo foram quebradas” (Gênesis 7:11). Em outras palavras, algumas das águas para o dilúvio vieram de dentro da Terra, adicionando às águas que já cobriam a Terra desde o princípio, no “dia um” da Semana da Criação (Gênesis 1:2); no terceiro dia, Deus reuniu as águas em um lugar e as chamou de mares (Gênesis 1:9, 10). Naturalmente, esses mesmos secularistas e céticos da Bíblia dizem, como previsto em 2 Pedro 3:3-6, que nunca houve um dilúvio global na Terra, embora ainda esteja 70% coberta por água. Mas, ironicamente, eles também dizem que, devido às muitas evidências da maciça erosão da água em Marte, houve uma inundação aquosa de proporções bíblicas no planeta no passado, mesmo que a superfície desse planeta esteja seca hoje! 

Então o que é essa nova evidência que os secularistas descobriram que confirma o que a Bíblia sempre disse? O enorme estoque de água da Terra pode ter se originado por meio de reações químicas no manto, ao invés de chegar do espaço graças a colisões com cometas ricos em gelo. Esse é o resultado de uma simulação computacional de reações no manto superior da Terra entre o hidrogênio líquido e o quartzo, a forma mais comum e estável de sílica nessa parte do planeta. A reação simples ocorre a cerca de 1.400 °C e pressões 20 mil vezes mais altas que a pressão atmosférica, uma vez que a sílica, ou dióxido de silício, reage com o hidrogênio líquido para formar água líquida e hidreto de silício.[2] Os resultados dessas simulações de computador acabam de ser relatados por Zdenek Futera na University College Dublin, na Irlanda, e seus colaboradores.[3] Esse último trabalho simula essa reação sob várias temperaturas e pressões típicas do manto superior entre 40 e 400 quilômetros de profundidade. Ele faz o backup de trabalhos anteriores de pesquisadores japoneses que realizaram e relataram a reação em si em 2014.[4] 

Nesse estudo anterior, Ayako Shinozaki da Universidade de Tóquio e seus colaboradores conduziram experimentos com quartzo natural (SiO2) em uma minúscula câmara colocada sob altas pressões em uma célula de bigorna de diamante na qual o hidrogênio puro (H2) foi introduzido como um fluido supercrítico. A câmara foi então também aquecida. Suas investigações da reação química nesses experimentos determinaram que o quartzo se dissolveu no fluido de hidrogênio, e água (H2O) e hidreto de silício (SiH4) se formaram. 
Eles concluíram que o hidrogênio poderia potencialmente ser oxidado para formar água no manto da Terra, quando a sílica (SiO2 componentes de minerais do manto) se dissolve no fluido de hidrogênio, ambos presentes no manto superior. Então, o que há de novo nesse último estudo? 

O membro da equipe John Tse, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, comentou: “Montamos uma simulação de computador muito próxima de suas condições experimentais e simulamos a trajetória da reação.”[5] Mas, surpreendentemente, eles descobriram que “o fluido de hidrogênio se difunde através da camada de quartzo, formando água não na superfície, mas na maior parte do mineral”. De acordo com Tse: “Analisamos a densidade e a estrutura da água aprisionada e descobrimos que ela é altamente pressurizada.”[6] Os autores também descobriram que a pressão pode chegar a 200.000 atm. 

A equipe de pesquisa, portanto, sugeriu que essa nova água pode estar sob tanta pressão que pode provocar terremotos a centenas de quilômetros abaixo da superfície da Terra, tremores cujas origens até agora permaneceram inexplicadas. “Observamos que a água está sob alta pressão, o que pode levar à possibilidade de terremotos induzidos”, diz Tse.[7] Os terremotos podem ser desencadeados quando a água finalmente escapa dos cristais. A ocorrência de terremotos profundos na litosfera do manto superior sob crátons estáveis (os núcleos fundamentais dos continentes) é conhecida, mas permanece enigmática em sua origem.[8] 

Por exemplo, o terremoto de 2013 no Rio Wind (Wyoming) ocorreu a 7,5 ± 8 quilômetros, bem abaixo da base da crosta, sugerindo que ele representava falhas frágeis em altas temperaturas em rocha próximas ao manto. No entanto, o mecanismo desencadeador de tal falha frágil próxima ao manto estável permaneceu um mistério. Essas novas simulações feitas por computador por essa equipe de pesquisadores mostraram agora que a água pressurizada da reação entre sílica e hidrogênio poderia ser um possível gatilho para iniciar terremotos profundos na litosfera, próximo ao manto, abaixo dos continentes. 

Outros pesquisadores concordam, como John Ludden, diretor executivo da British Geological Survey.[9] Mas, obviamente, mais pesquisas são necessárias para quantificar a quantidade de água liberada que seria necessária para desencadear terremotos tão profundos. 

No entanto, o que é ainda mais significativo é que essa equipe de pesquisa sugere que suas descobertas também podem nos informar sobre como nosso planeta conseguiu sua água no princípio. "Enquanto o fornecimento de hidrogênio puder ser sustentado, pode-se especular que a água formada a partir desse processo poderia ser um contribuinte para a origem da água durante a acreção inicial da Terra", diz Tse. “A água formada no manto pode alcançar a superfície através de múltiplas formas, por exemplo, carregadas pelo magma em atividades vulcânicas.”[10] E também é possível que a água ainda esteja sendo formada no interior da Terra hoje. Esse “estudo destaca como os minerais que compõem o manto da Terra podem incorporar grandes quantidades de água, e como a Terra é provavelmente 'molhada' de certo modo até o seu centro”, diz Lydia Hallis, da Universidade de Glasgow, Reino Unido.[11] 

No entanto, esse último anúncio não é novo, considerando que numerosos estudos publicados ao longo de mais de duas décadas e meia encontraram evidências de vários oceanos de águas confinadas em rochas e minerais do manto. Mesmo recentemente, em novembro de 2016, houve notícias sobre a descoberta de água em uma inclusão dentro de um diamante que teria chegado à superfície da Terra a partir de mil quilômetros de distância no manto.[12] Uma equipe internacional havia estudado um diamante encontrado no sistema do rio São Luís, em Juína, Brasil, e encontrou uma inclusão mineral selada que ficou aprisionada durante a formação do diamante.[13] Quando os pesquisadores examinaram mais de perto essa inclusão com microscopia de infravermelho, viram a presença inconfundível de íons de hidroxila (OH-), que normalmente vêm da água. Eles identificaram o mineral como ferropericlase, que consiste em óxido de ferro e magnésio e também pode absorver outros metais, como cromo, alumínio e titânio, à temperaturas e pressões ultra-altas do manto inferior. 

De acordo com o membro da equipe Steve Jacobsen, da Universidade Northwestern, em Evanston, Illinois, o argumento decisivo foi que, uma vez que a inclusão foi aprisionada no diamante durante todo o tempo, a assinatura de água só pode ter vindo do lugar de formação do diamante no manto inferior.[14] “Essa é a mais profunda evidência para a reciclagem de água no planeta”, disse Jacobsen. “A grande mensagem para levar para casa é que o ciclo da água na Terra é maior do que jamais imaginamos, estendendo-se para o manto profundo. A água claramente tem um papel na tectônica de placas, e nós não sabíamos antes qual o efeito dela no processo. Isso tem implicações para a origem da água no planeta.”[15] 

Em 2014, reportamos outro estudo similar.[16] Nesse caso, foi encontrada água em um mineral conhecido como ringwoodita, descoberta como uma inclusão em outro diamante brasileiro.[17] Em uma reportagem, baseada em um estudo relacionado relevante,[18] foi até sugerido que um reservatório de água três vezes o volume de todos os oceanos havia sido descoberto a 700 quilômetros abaixo da superfície da Terra, o que é uma boa evidência de que pelo menos parte da água da Terra veio de dentro.[19] Além disso, todos esses estudos publicados recentemente resultam de uma longa história de investigações de amostras de rochas do manto e minerais trazidos para a superfície da Terra pelo vulcanismo, juntamente com estudos de terremotos profundos.[20] A conclusão coletiva é que existem grandes quantidades de água armazenadas no manto da Terra dentro de seus minerais. E essa água não apenas auxilia na convecção do manto, nos movimentos das placas e no vulcanismo, como também pode ser liberada na superfície da Terra por meio de atividade vulcânica. “Na verdade, a mais de 400 quilômetros dentro da Terra pode haver água suficiente para substituir os oceanos superficiais mais de dez vezes!”[21] 

No entanto, Raymond Jeanloz, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, não consegue entender “um súbito derramamento de água, no modelo de Noé... mesmo que a balança incline para uma saída maior”.[22] Assim, é apenas seu viés evolucionário que o impede de aceitar que uma explosão catastrófica de água sob pressão no manto poderia ter ocorrido como no “modelo de Noé ”, assim como a Bíblia descreve. Portanto, é óbvio que a declaração do relato de Gênesis de que o cataclísmico dilúvio global começou com “as fontes do grande abismo” sendo quebradas (Gênesis 7:11). É uma descrição vívida de uma explosão catastrófica de água na superfície da Terra. 

Também é óbvio que a água foi armazenada sob alta pressão no manto durante a era pré-diluviana. Tal explosão de água teria acompanhado um afloramento de plumas de materiais do manto que se fundiam à medida que subiam para entrar em erupção e produzir um vulcanismo catastrófico. Sob os oceanos, as lavas em erupção produziram um novo fundo oceânico. Nos continentes, as explosões de fluxos de lava e explosões de camadas de cinzas vulcânicas foram depositadas entre camadas sedimentares que rapidamente se acumulavam e enterravam fósseis. A água extra que escorria das fontes aumentava o nível do mar por causa do impulso ascendente do novo e quente leito oceânico, de modo que a água do oceano era capaz de inundar os continentes. Além disso, as explosões de água do manto através de uma vasta rede global de fraturas dividiram o supercontinente pré-diluviano original em “placas tectônicas”.[23] 

A água dentro do manto reduziu a viscosidade do material do manto (tornou o material menos “espesso”) de modo que ajudou a mover as placas tectônicas pela superfície da Terra, produzindo a tectônica de placas de movimento rápido, evento Flood.[24] 

Assim, as águas que vieram de dentro da Terra, combinadas com as águas do original, criaram oceanos para produzir o dilúvio de Gênesis. A descrição da Bíblia desse evento explosivo é meramente confirmada pelas últimas descobertas dos cientistas seculares. 

Podemos sempre confiar totalmente na veracidade do relato do Gênesis sobre o cataclísmico dilúvio global do tempo de Noé e sua história de volta à criação em seu primeiro verso. Assim, a maior parte das águas oceânicas da Terra não veio originalmente do manto, mas foram criadas por Deus já no lugar “no princípio”. 

(Texto original: Dr. Andrew A. Snelling [Answers in Genesis]. Tradução e adaptação: Hérlon S. Costa)

domingo, outubro 14, 2018

Encontrados ovos de dinossauro com embriões no sul da Argentina

Foram encontrados ovos de dinossauro com embriões dentro com 70 milhões de anos [segundo a cronologia evolucionista]. O lugar em que foi descoberto fica na província patagônica de Neuquén, na Argentina, por pessoas locais, informou a mídia argentina. Os ovos foram encontrados por um criador de ovelhas na área chamada Auca Mahuevo, perto da Aguada San Roque, 160 quilômetros a noroeste da cidade de Neuquén. Eles são semelhantes aos encontrados em 1997 em outro ponto da província do sul, disse a diretora provincial do Patrimônio Cultural de Neuquén, Claudia Della Negra, à agência estatal Télam.

“Auca Mahuevo é um lugar onde os ovos de dinossauros aparecem em ninhos, por sua vez associados a esses restos aparece a fauna, animais que eram aqueles que comiam os ovos”, disse o funcionário. [...]

A pesquisa recebeu contribuições da National Geographic, do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET) e da província espanhola de Zaragoza.


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